por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 11 de junho de 2012

Os Românticos- por Artur da Távola






Um repórter de TV foi entrevistar aquelas cantoras que participaram de um especial com o Roberto Carlos, há poucos dias. Microfone em punho, abordou a Hebe Camargo.
Quis saber:
– Por que Roberto Carlos é o Rei?
A Hebe, depois de uma miada:
– Porque ele é romântico...

Uma grave injustiça conosco, os demais homens, presumíveis súditos de RC. Pelo seguinte: pense em todas as músicas que existem no mundo, milhões delas, talvez bilhões. Em toda a poesia e a literatura. Os filmes. Do que tratam os filmes, a poesia e a música alguma vez já compostos sobre a Terra?
Do amor.
Amor, amor. Noventa por cento das músicas, dos filmes e dos poemas são sobre o amor.
Por que isso? Por nossa causa, nós homens. Porque somos românticos.
As mulheres acham que não. Acham que elas são as românticas. Estão erradas, e a prova disso é o dia de hoje, o Dia dos Namorados. Para quem o Dia dos Namorados foi criado? Obviamente, para as mulheres. Alguém há de dizer que se trata de uma efeméride urdida para satisfazer o romantismo feminino. Mas não. Porque o romantismo não pode estar assinalado no calendário. O romantismo é o que exsuda de um peito dolorido. Quando o Chico Buarque escreveu:

Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão

Quando o Chico escreveu esses versos, ele não os escreveu porque quis. Escreveu porque tinha de escrever. Porque sentia. Porque via aquela estátua de carne desfilando ali ao lado e precisava gritar o que sentia. E Paulinho da Viola, no dia em que ele cantou:

Ela declarou recentemente
Que ao meu lado não tem mais prazer

No dia em que Paulinho cantou esses versos, ele não os cantou; chorou. Os versos rasgavam seu coração – ela não sentia mais prazer ao lado dele.
E Lupicínio! Todas as músicas de Lupicínio, absolutamente todas, contam uma história de sofrimento. Se não sofresse, Lupicínio não escreveria:

Nunca, nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar, nem mesmo assim
A teus braços eu não voltarei!

Eis aí. Nós homens sofremos. Somos autênticos em nosso romantismo, e o romantismo só é autêntico se temperado pela dor. Um romantismo que flui todos os dias e se transforma em filmes, música e poemas, quase sempre compostos por atormentadas almas masculinas. Por isso é injusto quando as mulheres dizem que RC é rei por ser romântico. Não pode alguém se destacar por uma característica que todos os seus congêneres possuem. Todos os homens somos românticos. Todos, de caminhoneiros que lacrimejam ao ouvir versos de duplas goianas no asfalto escaldante da estrada a empresários que mergulham o diamante da amada numa taça de Dom Perignon. Todos! As mulheres? As mulheres precisam de datas, porque datas são símbolos. Símbolos de compromisso, que é o que lhes importa, afinal. O compromisso! Elas são práticas, elas marcam dias, elas planejam cerimônias. E nós aqui sofremos, nós homens, os verdadeiros românticos, que não precisamos de datas para sentir.
David Coimbra
(A POESIA)
Quem não tem namoradoé alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.Difícil por que namorado de verdade é muito raro.Necessita de adivinhação, de pele, de saliva,lágrimas, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil .
Mas namorado é mesmo difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito,mas ser aquele a quem quer se protegere quando se chega ao lado dele a gente treme,sua frio e quase desmaia, pedindo proteção.A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira,basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor,é quem não sabe o gosto de namorar.Se você tem três pretendentes , dois paqueras,um envolvimento e dois amantes,mesmo assim pode não ter um namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva,cinema sessão das duas, medo do pai,sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho,quem se acaricia sem vontade de virar sorveteou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade.
Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida,escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas,do carinho escondido na hora em que passa o filme,de flor catada no muro e entregue de repente,de poesia de Fernando Pessoa,Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar,de gargalhadas quando fala junto ou descobre a meia rasgada,de ânsia enorme de viajar junto para a Escóciaou mesmo metrô, nuvem, cavalo alado,tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado,fazer sesta abraçado, fazer compras junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor,nem ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele,abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e do amado e sai com ela para parques, fliperama,beira d´agua, show de Milton Nascimento,bosques enluarados, ruas de sonho ou musical do metrô.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele,quem não dedica livros, quem não recorta artigos,quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado.
Não tem namorado quem ama sem gostar,quem gosta sem curtir, quem curte sem se aprofundar.Não tem namorado quem nunca sentiu o gostode ser lembrado de repente no fim de semana,de madrugada ou no meio dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar,quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações,quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem não fala sozinho,não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre
e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos,ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar.Enfeite-se com margaridas e ternuras
escove a alma com leves fricções de esperança.De alma escovada e coração estouvado,saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.Acorde com gosto de caquie sorria lírios para quem passar debaixo de sua janela.Ponha intenções de quermesse em seus olhose beba licor de conto de fadas.Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta
e do céu descesse uma névoa de borboletas,cada qual trazendo uma pérola falante
a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu
aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar
e de repente começar a fazer sentido."

Artur da Távola

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