por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Gabriela Mistral


Poetisa chilena (7/4/1889-10/1/1957). Foi a primeira escritora latino-americana a receber o Prémio Nobel de Literatura, em 1945. Sua poesia única e repleta de imagens singulares não mostra influências do modernismo nem das vanguardas. Descendente de espanhóis, bascos e índios, Lucila Godoy Alcayaga nasceu em Vicuña, uma vila do norte do Chile.
Com apenas 15 anos começou a dar aulas. Seu noivo cometeu suicídio em 1907, fato que marcou a obra e vida de Gabriela Mistral, nunca se casou e se dedicou somente ao trabalho. Venceu um concurso literário chileno em 1914 com Sonetos de la Muerte, assinados com o pseudónimo Gabriela Mistral, formado a partir do nome de dois poetas que admirava o italiano Gabriele D’Annunzio e o francês Frédéric Mistral.
Seu primeiro livro de poesias, Desolación (1922), inclui o poema Dolor, no qual fala da perda do amado. O sentimento de maternidade frustrada aparece nos trabalhos seguintes, Ternura (1924) e Tala (1938). Colaborou na reforma educacional do México e do Chile. Representou seu país como consulesa em Nápoles, Madrid, Lisboa e Rio de Janeiro. Em 1954 publica Lagar.
Leccionou literatura espanhola na Universidade de Colômbia. Morreu em Hempstead, no estado de Nova York.


AUSÊNCIA

Se vai de ti meu corpo gota a gota.
Se vai minha cara no óleo surdo;
Se vão minhas mãos em mercúrio solto;
Se vão meus pés em dois tempos de pó.
.
Se vai minha voz, que te fazia sino
fechada a quanto não somos nós.
Se vão meus gestos, que se enovelam,
em lanças, diante de teus olhos.
.
E se te vai o olhar que entrega,
quando te olha, o zimbro e o olmo.
Vou-me de ti com teus mesmos alentos:
como humidade de teu corpo evaporo.
.
Vou-me de ti com vigília e com sono,
e em tua recordação mais fiel já me apago.
e em tua memória volto como esses
que não nasceram nem em planos nem em bosques
.
Sangue seria e me fosse nas palmas
de teu trabalho e em tua boca de sumo.
Tua entranha fosse e seria queimada
em marchas tuas que nunca mais ouço,
e em tua paixão que retumba na noite,
como demência de mares sós.
Se nos vai tudo, se nos vai tudo!

Nenhum comentário: