por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Língua de Papagaio por José do Vale Pinheiro Feitosa



Língua de papagaio é seca. É a metáfora da seca. Como o Rio Batateira é a metáfora do Cariri. Sem ele, Cariri não há mais, assim como nem os cariris sobreviveram. Teu ser exangue retornará ao pó sem metáfora do vieste do pó, pois o pó a que retornarás não é o mesmo do qual vieste. O pó do qual vieste é o pó que cria, gera, organiza, torna-se vida. Neste pó há o Verbo, o devir da transformação sendo o mesmo mas nunca igual. Este pó em que o Batateira deixa de ser a metáfora do Cariri, é um pó inerte, sem desejo, nele nada para ouvir-se, algo para estimular o olhar, nada, nele não há nada. É esquecimento em estado bruto.
A água é do povo como ar é do Condor. A água é pública, coletiva, andarilha ao encontro de todos, a água de jusante a montante, a água é quase tudo de cada um, somos nós, os humanos, a umidade da terra. E de onde vêm as águas? De todos os lugares, dos céus e da terra, a água circula, troca lugar no vai e vem dos líquidos, sólidos e vapores. A água troca de lugar em todos sentidos de seus estados e deixa de assim ser quando o distribuidor natural muda de natureza.
Desmataram o alto o Urubu, o Alto do Cochos e o riacho dos cochos, afluente do Batateira secou. Desmataram as encostas de mata atlântica do Araripe e a fonte reduziu-se. A indústria vil, este galpão da renúncia fiscal projetou-se sobre as matas que naturalizavam as nascentes de pequenas levadas. O Sítio do Fundão foi lancetado e o poço do Jatobá, uma lembrança de areia saudosa da umidade, acumula os rejeitos de alguma bebedeira com latas de cerveja. Desmataram nossas vida e nem demos conta que não era o progresso mas a trilha torta para nossas almas desérticas.
A lenda do Padre Cícero foi revesitada. Ou melhor, foi confirmada. Afinal a Pedra da Batateira caiu sobre o Crato e o esmagou.



por José do Vale Pinheiro Feitosa



Nenhum comentário: