por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Qual a distância entre você e você mesmo? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Parece óbvia a resposta sobre qual seja a distância entre a Bessarábia e a Bessarábia. Entre você e você mesmo. Parece óbvia a nulidade, mas não é nula esta distância.

Ela é como a distância entre Crato e Campos Salles. Tantos campos existem entre um quarto e outro. Entre a Bessarábia, você e tudo novamente repetido.

Elevar-se. Ninguém chegará a Campos Salles sem subir. Ampliar a visão e os horizontes. Desdobrar os verdes, as cidades e a humanidade individualizada e coletiva ao mesmo tempo.

O pé de Visqueiro. Todos, por comestível, pensa na alma sendo o piqui. Mas não o é. O Visgueiro tem a leveza florida, assim como um bordado. Tem suas vagens, suas folhas de abrigo e uma copa de tornar referência. A referência da Chapada.

As retas de infinito. As rotas linheiras, margeadas pelo carrasco, a vegetação de serrado, de araticum e maracujá peroba. Casas perdidas supridas por barreiros. Entre a colheita e os sacos de venda, na beira da estrada, aos centos de piquis.

Os cânions. Na face para Nova Olinda. Tem pontes de pedras. Taludes de arenito. Uma paisagem dos sertões e do alto a marca de volume, a Chapada para que na volta o viajante reencontre o destino.

O açude do Latão. Que se tornou uma inclusão através da torre plena de morcegos. Se a implodiram, basta olhar com o canto do olho que a silhueta tênue persiste como toda certeza prevista e demonstrada nunca acontecida.

No Morro Dourado. Há mais que uma posse. Além de uma herança. De uma produção agropecuária. Há um agregado nominativo que enche o olhar de brilho, de ouro, de dourado do sol se pondo. E o Morro, dourado feito um estado d´alma.

Baixio do Facundo. Morena Libório sobre as sombras de cajaraneiras e umbuzeiros. Montada num cavalo majestoso, como majestade é Morena depois Brito, depois pernambucana dos canais de Recife.

Xique-Xique. Potengi já levou seu nome. Os lajedos, o mandacaru do fruto sedutor, o rabo de raposa crescido nas locas, os bodes nas beiradas da lasca de pedra. Dizem que hoje o canto dos ferreiros ecoa na madrugada. Tão maleável quanto meu coração qual o ferro rubro no calor da forja.

A BR. Isolou o Araripe. Suas famílias tradicionais. A igreja onde num domingo seguimos desde a origem para destinar o vigário que lhe faltava. Padre Limaverde. No almoço de agradecimento lembrando os ensopados de cobra.

Campos Salles. A distância entre a Bessarábia e a Bessarábia, entre você e você. Existe por ser um ente e como tal tecedura do viver.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Amigo,
Vc esclarece a minha alma;pòe óculos na minha visão míope...Me faz entender a beleza do novo, que é muito antigo...
Continuo nas estradas, entre Crato e Crato
Entre mim e mim
Entre nós, uma tênue ponte, sustentada por fios inabaláveis.
Como conhece Geografia, este doutor!
Quem será que lhe ensinou?
Texto lindo demais.Lindo pra gente reler, e se encantar, nas estradas que podem ser sempre novas, sem sair da Chapada.
Achei lindo o Araripe.É a mocinha deste novo caminho.