por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Meu Cunhado Maurílo - por João Marni

Meu Cunhado Maurílo

A “menina dos olhos” de papai, como a considerava, encontrava-se numa tristeza de fazer dó! Vovó Olga, devagar e cuidadosa como quem caça onça, sussurrou muito próximo às lágrimas da neta Lôra: _ Chore não, minha filha, o namoro acabou, mas acho que você tem é sorte, pois êle, não lhe merece; parece um pirata velho, tal qual o Barba Azul! Depois de alguns meses o namoro reatou. E vovó: _ É isso! Não sei como você não notou direito nesse rapaz maravilhoso, maduro, já feito na vida! Voltou Maurílo para ficar. Casou-se por amor, até porque à época, o sogro não era mais da moda na gangorra social, a ponto do futuro casal relacionar os convidados à luz de velas, na casa da noiva. Poucos dias depois, veio a cerimônia, e ouvi, num breve discurso, nosso pai dizer: _ Maurílo, cuida bem de Lôra, pois ela é a “menina dos meus olhos”!
Como tudo que é sensato, providencial e bonito vem mesmo é de Deus, ganhamos, a partir de então, mais um luzeiro em nossas vidas. Embora parecesse irascível, Maurílo foi um apaixonado, dedicado à esposa e aos filhos. Homem livre, bem sucedido, mostrava-se genuinamente irreverente, às vezes contundente; dono de humor fino, inteligente, com tiradas incomuns, hilariantes. Simpático, sempre verdadeiro, amealhou amigos, raros não simpatizantes, mas nenhum inimigo. Foi doce e brincalhão tal uma criança e, enquanto adulto, nos fez desejar sempre a sua presença, pois era estimulante, justo e, sobretudo, fiel às suas paixões: família e amigos. Acho que posso transcrever um aforismo do poeta escocês David Hume que cai como uma premonição antiga sobre o homem Maurílo: “Nós somos livres quando não estamos impedidos de fazer o que queremos, e quando não somos compelidos a fazer algo que não desejamos”.
Agora, na velhice jovem da terceira idade, voltou à doçura da infância, brincando muito com a sobrinha neta Maria Alice e passou a buscar a companhia de Jesus, sem saber-se doente, retornando a frequentar seus altares, inclusive convencendo e estimulando a seus amigos mais próximos que assim também procedessem, semanalmente fazendo passear entre suas mãos as pérolas de Nossa Senhora, no Terço dos Homens.
Corajoso, amante da vida, bagunçou a sequencia da reação humana diante da inexorabilidade do fim da carne ante o veredicto médico, não negando sua condição de doente, não barganhando histericamente, aceitando este peso com uma serenidade admirável e entregando-se ao Criador, cheio de confiança!
Atitudes que desmoralizam a muitos de nós, afeitos que somos a coisas do chão! Não é bom o apego a sonhos e projetos difíceis de execução. Todos são escritos na praia e a maré sempre vem... A dor é mesmo um território santo, onde pisam apenas os que amam de verdade. Creiam, Lôra, Maria Fernanda, Rodrigo e Maria Teresa, que todos nós do círculo familiar e demais amigos à nossa volta, comungamos do sofrimento da perda, mas nos encontramos unidos na fé, o que nos alegra muito. Não é que a vida seja breve. Maurílo viveu o suficiente, o seu momento, e marcou a todos nós de forma positiva. É que Deus ora espera, espera, e outras vezes revela-Se apressado em recolher o que é D’êle.

João Marni de Figueiredo
Crato, 10.09.2011

Um comentário:

socorro moreira disse...

Lindo e comovente!
Você falou pelo nosso coração.

Abraços