por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Viagem sem volta - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Tempos doidos. Aqueles. Quando muita gente “viajou” e desta “viagem” jamais voltou. Em que pese todas as explicações causais ou coadjuvantes, se torna uma questão mais larga sobre a própria condição humana.

Migrar, se espalhar, ocupar novos territórios, sempre esteve no horizonte tanto das sociedades coletoras por natureza, como até mesmo naquelas estruturas sedentárias. Isso ocorria quando um contingente sobrepunha-se em quantidade de pessoas à capacidade da agricultura do local.

O Renascimento e seu prolongamento nos Séculos das Luzes inauguram a maior dinâmica jamais vista de migrações intercontinentais. Aqui contemplamos o curto intervalo de tempo, pois a humanidade naquela altura já ocupava todos os territórios do planeta, à exceção da Antártida.

Na disputada hegemonia dos anos da pós-segunda guerra, a corrida espacial deixou a cultura repleta da mais sublime viagem: ao espaço sideral. Quantos filmes, músicas, imagens, poemas, romances, ensaios, novelas não foram elaborados em medida desta corrida? Até que veio a gravidade, as grandes distâncias e o inóspito da vida fora da terra foram reduzindo os horizontes, mas deixando uma estrutura que conectou todo o planeta numa viagem intramuros.

Hoje as telecomunicações fazem a geografia planetária. A informação reconstrói o outro e a nós mesmos. O processamento em alta velocidade cria novas visões da vida. A agenda local se respinga das considerações globais. Enfim, os Cariris completam a leitura do catecismo em língua própria.

Tenho um amigo que parece ter feito uma viagem ao Japão e nesta ida e vinda, ficou aprisionado do fuso horário de lá. Parece, pois na verdade não a fez fisicamente, a fez tão somente na dobradiça da própria porta do seu apartamento. Nele troca o dia pela noite.

À sua diária não se pode atribuir uma jornada. Agora é uma noitada de leituras, computadores, música e uma vida corrida entre tragadas constantes de nicotina, café forte e frio com adoçante artificial e litros e litros de água. Entre a micção e o assento da poltrona, a vida corre.

Quando é lá pelas cinco horas, ele come a refeição principal. Pode ser uma rabada, uma feijoada ou outro alimento menos lipídico, não importa, eis que a única refeição do dia é feita. Quando a Globo já deu seu Bom Dia Brasil ele se deita e dorme induzido pela química dos psicofármacos.

Meu amigo fez uma viagem ao Japão e no pleno de uma Rua de Copacabana ainda vive doze horas adiantadas.
por José do Vale Pinheiro Feitosa

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