por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 23 de abril de 2011

Conversando com Abel Silva - por José do Vale Pinheiro Feitosa





Coração sem perdão,

Diga fale por mim,

Quem roubou,

toda a minha alegria.


Um das mais gratas tecnologias dos tempos atuais foi a digitalização das antigas e novas gravações da discografia mundial. Com elas tivemos a realização da vontade, a satisfação de ouvir qualquer canção que desejássemos. Sem aquele sentimento de raridade, sem aquelas portas por aonde as canções iam ao tempo e só de raro novamente a ouvíamos.


O amor me pegou,

Me pegou,

Prá valer,

Ai que a dor do querer,

Muda o tempo e a maré

Vendaval sobre o mar azul.


Assim foi que comprei um CD que era uma coletânea de 15 belíssimas canções na voz, mais bela ainda que as canções, a de Naná Caymmi. Aqueles apanhados da EMI chamados de “Meus Momentos”. E na faixa 11 uma canção intitulada “Neste Mesmo Lugar”, composição de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas.


Tantas vezes chorei,

Quase desesperei,

E jurei, nunca mais

Seus carinhos.


Acontece que por isso mesmo comprei um CD “O Essencial de João Bosco” e na faixa 7 estava lá “Quando o Amor Acontece”, composição de João Bosco e Abel Silva. O João é do conhecimento geral e, dos entendidos, também o Abel Silva. Poeta, letrista de grandes compositores dos anos 80 e 90, ele acreano e profundamente carioca.


Ninguém tira do amor,

Ninguém tira,

Pois é,

Nem Doutor,

Nem Pajé,

O que queima e seduz,

Enlouquece,

O veneno da Mulher.


E estávamos numa mesa na mais duradoura e hoje inexistente casa noturna da Lagoa Rodrigo de Freitas. Era o Mistura Fina cujo terreno se transformou num edifício para a alta classe média. Um aniversário com metade da casa ocupada pelos convidados. Na mesa em que me encontrava, entre outros o Abel Silva e a sua companheira.


O amor quando acontece,

A gente esquece logo que sofreu um dia,

Ilusão,

O meu coração marcado,

Tinha um nome tatuado,

Que ainda doía.


Conversa sobre o geral e o particular. Até que entre um dado e outro da vida perguntei ao Abel sobre a dúvida que havia da capa dos dois discos. Afinal a composição era ou não dele e do João Bosco?


Pulsava só,

A solidão,

O amor quando acontece,

A gente esquece logo que sofreu um dia,

Esquece sim,

Quem mandou chegar tão perto,

Se era certo outro engano,

Coração cigano.

Agora eu choro,

Assim.


Ele tomou-se de brios pela sua composição. Queria saber do disco da Naná. Abel Silva, na altura em que se encontrava, não era diferente de qualquer artista na mais remota e esquecida região. Era como todos nós, ciente da sua propriedade. Agora coletiva, além e muito depois daquele momento em que a realizamos.

Um comentário:

chagas disse...

João Bosco, um dos muitos mestres da nossa música. A rapaziada de hoje não fala muito dele. Digo isso pelas meninas daqui de casa. Interessante como o gosto das pessoas é montado pelos meios de comunicação. Que coisa, heim!