por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 11 de março de 2011

A Rocha e o Poeta: Dois Signos que se Abraçam – Por: Telma de Figueiredo Brilhante


A pedra é um símbolo que ainda não consolidou o seu destino. Anuncia o mítico, o não-dito enclausurado. Através da linguagem, transforma-se em belas imagens criadas pelo espírito inquieto dos poetas. Circunspecta, austera, em suas cavidades ofereceu abrigo, quando o homem buscava proteger-se das intempéries e dos animais selvagens. Ele partiu e a pedra continuou sendo pedra, a mudez revelando o sincretismo das coisas, testemunha eterna das mutações. A pedra é viva. Tem um coração que se espalha fragmentado nos abismos do mundo. Tratada metaforicamente reveste-se de beleza e mistério. O poeta, com os olhos da alma, vê a pedra-poema, a pedra-fortaleza, a pedra-mistério e a pedra-permanência. A pedra-poema é a alma do poeta. A pedra-fortaleza simboliza a segurança. A pedra-mistério reveste-se de misticismo, das coisas que moram além da imaginação. A pedra-permanência é o símbolo da eternidade, que o poeta imprime nos versos que compõe e que deixará à posteridade, como herança e marca da passagem. Todos os seres passarão, mas a pedra continuará no topo da montanha a vigiar o tempo. Ou no meio do caminho de Drummond, a pedra-obstáculo que estimula o caminhante a seguir em busca da realização do sonho. Antoine de Saint Exupéry, em sua obra Terra dos Homens diz: “O coração batendo com força, abaixei-me para apanhar o meu achado: um pedaço de pedra dura, negra, do tamanho de um punho, pesada como metal, em forma de uma lágrima.” Somente um poeta enxergaria a forma de uma lágrima numa pedra. O surgimento mítico do poeta está na busca da origem, da essência das coisas. O poema se constrói numa linguagem conotativa onde predomina a emoção. É um mundo ideal que se contrapõe á visão materialista. A alternância do gesto, o arremesso do verso nas paredes do mistério, a alma do poeta dissolvendo-se de paixão, extenuado, feito a cigarra, que explode e fenece num estridente grito de amor. A pedra, na sua imobilidade, parece não escutar as vozes dos ventos e das ondas do mar. Ledo engano. Ela é um organismo vivo que acompanhou as mudanças do tempo e do homem na sua condição de andarilho em vida transitória. Escutou os lamentos e os gemidos das dores do mundo. Intuiu a alegria, a felicidade em instantes efêmeros, passageiros.

A rocha faz um caminho de transformação. Dos elementos da natureza sofre erosão e se fragmenta. Os grãos de areia se aglutinam e à forma de pedra retornam. Com o fogo, a rocha se decompõe e se transforma em lava incandescente, magma que desce a montanha. Quando esfria, se solidifica, formando uma nova rocha. As coisas sobre a terra poderão sumir, mas na paisagem desolada, solitária, a pedra continuará. Não desaparece: se faz eterna. Acompanha o homem desde o nascimento até a morte. Vejamos alguns dos diversos significados com que se reveste:

. Pedra angular ou fundamental – que marca o início.
. Pedra de ara ou pedra de altar – a religiosidade.
. Pedra filosofal – substância procurada pelos alquimistas da Idade Média, que acreditavam que ela poderia transformar em ouro metais vis, curar e rejuvenescer o corpo humano.
. Pedra lascada, pedra polida – épocas pré-históricas em que os instrumentos usados eram feitos de pedra,
. Pedra sepulcral, lápide que cobre o túmulo.
Como constatamos, o poeta e a pedra estão intrinsecamente ligados em perfeita simbiose.

Na Bíblia Sagrada encontrei esse belo fragmento poético quando se refere ao apóstolo Pedro:

“ Achegai-vos a ele, pedra viva que os homens rejeitaram, mas preciosa e preferida aos olhos de Deus. Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa, e quem nela crer não será confundido.”

A Pedro, disse Deus:
Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja. E a Deus, falou o poeta: Dá-me tempo, Senhor, para que eu construa o sonho do condor no ápice da montanha.

Por: Telma Brilhante

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