por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A confiança

Confiar em estranhos? Quem haveria de assim proceder nos tempos atuais? Seria de pronto classificado como uma pessoa ingênua. Temos a impressão de que esse mundo está completamente perdido. Será mesmo? Eu, pelo menos, acredito nas pessoas. Às vezes, todos acreditam. Quem de nós não aceita como certa a informação de um estranho ao indagarmos um endereço em alguma cidade ou bairro desconhecido?

No último fim de semana que eu passei no Crato, esqueci de colocar gasolina no carro e a caminho do aeroporto, onde fora esperar uma sobrinha da minha nora, como era previsível acontecer, o veículo parou. Isto é: eu fiquei “no prego” de motorista. Como não havia nenhum posto de gasolina nas imediações, não tive dúvidas: ao primeiro moto-taxista que passou, resolvi lhe entregar uma cédula de cinqüenta reais, para que ele me trouxesse gasolina suficiente para me tirar daquela situação desagradável. Na aflição em que eu me achava, esqueci de perguntar pelo nome daquele salvador e de anotar o número da placa da sua motocicleta. Um risco: concordarão todos. Mas menos de dez minutos depois, o motociclista chegou com a gasolina, tendo prestado conta bem direitinho do dinheiro que eu lhe havia confiado. E ainda me ajudou a repor o carro em funcionamento, desobstruindo a alimentação do carburador, que como era natural, ficara entupido.

Já vai longe o tempo em que confiar nas pessoas era uma virtude natural e espontânea. Homens e mulheres carregavam dentro de si uma áurea de honestidade e de confiança mútua.

O historiador cearense Raimundo Girão, em seu livro de memórias “Palestina, uma agulha e as saudades”, nos revela que seu tio Luis Eduardo Girão, mais conhecido por Lulu, era um homem que confiava cegamente na honestidade dos outros. E sempre era correspondido.

Lulu era um misto de delegado, comerciante, fazendeiro e entendido em medicina na Morada Nova do final do século XIX e início do século XX. Espirituoso, excelente papo, possuía um coração que mal cabia dentro dele. Por mais de trinta anos, Lulu foi Delegado de Polícia de Morada Nova e graças ao seu bom humor e confiança no ser humano possuía um elevado grau de persuasão, obtendo assim os acordos mais improváveis possíveis. Sua casa era cheia de amigos e de pessoas necessitadas que enchiam a sua mesa na hora do almoço ou jantar.

Certa vez, no inicio de uma tarde quente de outubro, debaixo de um sol escaldante, Lulu viu passar pela estrada defronte da sua casa um homem solitário, com uma pequena maca às costas. Perguntou: “Amigo, de onde você vem e para onde vai debaixo desse sol de rachar?” “Venho de Canindé e vou para o Rio Grande do Norte.” Respondeu o andarilho. “Venha descansar um pouco e almoçar conosco. Vou lhe emprestar um cavalo para o senhor não seguir essa viagem tão longa, a pé.” Insistiu Lulu. E assim procedeu. Alguns amigos duvidaram se ele algum dia viria novamente aquele cavalo. Porém, dias depois, uma caravana de romeiros do Rio Grande do Norte, devotos de São Francisco, trazia de volta o cavalo de Lulu e os arreios.

Ah, que bons tempos aqueles!... E como o mundo seria bem melhor se a gente pudesse restabelecer esse grau de confiança no ser humano! Se tentarmos, será possível.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

4 comentários:

socorro moreira disse...

A gente confia cegamente, até que nos provam o contrário.
Mas a experiência do desencanto, mesmo dolorosa é uma rica aprendizagem.
Quando perdemos a confiança em alguém , reforçamos a confiança nos outros, e em nós mesmos.
Sei que é maravilhoso poder confiar, e nunca se decepcionar.
O nunca é utópico. O ser confiável é realizável.
Eu confio em você e Magali, e continuo confiando na humanidade. Se alguem me prova o contrário tomo sustos, porque fui ingênua até àquela data, mas reabilito-me quando aprendo a valorizar mais ainda , pessoas leais...

Um grande texto para refletir, neste novo dia : 28 de janeiro/2011.

Abraços

Liduina Belchior disse...

Carlos,

Excelente texto para se refletir o final de semana inteiro.Quiça por todo o tempo terreno.
Penso como Socorro: "Se alguém me prova o contrário tomo sustos, mas me reabilito e aprendo a valorizar mais as pessoas leais".

Abraços afetuosos para você e Magali: Liduina.

tatiana disse...

Realmente texto maravilhoso este do meu querido cunhado. Na verdade ele e Magali sempre dão votos de confiança. E vivem muito felizes. Parabens. Bjs

Stela disse...

"Confiar nas pessoas era uma virtude natural e espontânea."

Infelizmente os valores mudaram muito, ou pior, não existem. É muito duro constatar isso, parece sempre que estamos dizendo que o tempo presente não presta, tudo é supérfluo,imediato, sem ética, sem respeito. É, mas tem exceções.

Eu sempre acredito no lado bom das pessoas, quem quiser que me chame de "romântica, ingênua, fora do tempo". É que pra mim, pensar de forma positiva é o melhor caminho para construir um mundo melhor, onde reine um pouco de harmonia e de confiança no futuro.
A vida no planeta tá cheia de mazelas e desequilíbrios? Tá sim.
Mas um jeito de minorar a feiura, é pensar que existe beleza escondida por aí, e que existe bondade, e que podemos plantar confiança no coração das pessoas.

Gostei muito do texto de Carlos.
Valeu, amigo.

Abraços
stela