por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 12 de setembro de 2015

Onde fica o texto?

Ao ouvir Mauro Senise junto a Gilzon Peranzzetta, ao som da música “Choro, porque não”, expresso-me no verbo correto. Mesmo que a comunicação entre nós e os músicos ocorra além e aquém da cóclea ou do nervo auditivo.

No vídeo em que tocam juntos os músicos se corrigem e fica nítido que a centralidade da linguagem na audição.

Mas o texto fica em quais sentidos?

Algo indefinido. Ele é como uma fala interior. Uma história relembrada ou inventada, um discurso, uma narrativa, uma expressão.

Especialmente interior.

O texto não é apenas visão, oralidade, audição ou tato.


Por analogia ele é sabor. Pode ter um odor. Mas sobretudo é o nosso encontro silencioso. Quase uma telepatia.  

"RATINGS" INFLADOS E... SUSPEITOS - José Nilton Mariano Saraiva

Sem que haja ainda um necessário e desejado modelo alternativo, que de forma honesta e imparcial privilegie o “contraditório” e faça uso de equações mais adequadas e consistentes (a China começa a esboçar um), o mundo hoje se fia cegamente, para o bem ou para o mal, no que é produzido e incessantemente divulgado pelos norte-americanos, mesmo que às vezes falte a devida comprovação (só para ilustrar, lembremo-nos da presumida “morte” do saudita Osama Bin Laden, sem que absolutamente ninguém haja visto o corpo ???).

Por isso mesmo, o escarcéu provocado por pusilânimes e desonestos segmentos da mídia econômica brasileira, em razão do tal “rebaixamento” do rating do Brasil por parte da agência de classificação de risco americana Standard & Poor's, é por demais questionável. E por uma razão simplória: comprovadamente, foi uma decisão de cunho “político”, porquanto levou em conta o momento difícil que atravessa a economia brasileira (perfeitamente suplantável), mas deixou de considerar, como deveria e honesto seria, as imensas potencialidades que temos a médio e longo prazo, bem como o robusto e confortável “colchão” de 400 bilhões de dólares das nossas reservas, além do “imedível” mar de petróleo que possuímos (um “ativo” acima de qualquer suspeita e que os próprios americanos estão de olho já há bastante tempo).

Há que se considerar, ainda, que não só a Standard & Poor's, mas igualmente suas congêneres, as também americanas Moody's e Fitch, faz tempo que “pisam na bola”, ou “escorregam na maionese”, ao produzirem relatórios inconsistentes e mesmo desonestos (como o atual sobre o Brasil), porquanto estruturados num modelo questionado por economistas do mundo todo, mas que têm o poder (dada a inexistência de uma outra versão), de momentaneamente espalhar o “terrorismo” e destruir reputações mundo afora.

Tanto é que, 10 anos atrás, quando as três agências encimadas avaliaram o “rating” ou nota de crédito dos títulos hipotecários norte-americanos como AAA (grau máximo de confiabilidade), investidores de todo o mundo “aceitaram o pepino” como crível e quebraram a cara ao adquirir tais papéis, porquanto baseados em empréstimos garantidos por propriedades sobrevalorizadas.

Naquela oportunidade, como a “avaliação” das tais agências mostrou-se sem a menor consistência, porquanto assentada em “títulos podres” emitidos irresponsavelmente, não demorou muito (2008) para que a tal bolha do mercado imobiliário americano “estourasse”, levando o mercado de capitais a uma crise financeira mundial sem precedentes, resultando na quebra do (teoricamente) inabalável e sólido banco de investimentos americano Lehman Brothers, possuidor de uma robusta e alentada carteira de títulos hipotecários (que viraram pó, de uma hora pra outra). 

Assim, face a repercussão mundial da “quebra generalizada” das bolsas de valores mundo afora e do pandemônio causado internamente, o governo americano literalmente se viu obrigado a injetar na economia astronômicos 850 BILHÕES DE DÓLARES para “amansar o mercado”, ao tempo em que oficialmente considerou a agência de classificação de risco Standard & Poor's como inidônea e responsável pela crise na economia mundial. Processou-a na Justiça americana, assim como impingiu-lhe pesada multa face o ocorrido. De sua parte o austero diário Wall Street Journal acusou-a de má-fé e má conduta.

Como resultado, a Standard & Poor's virou “RÉ” em um processo movido pelo Departamento de Justiça dos EUA, que acusou-a de ter “mascarado” o grau de risco de investimentos nos chamados papéis subprime (vilões da crise financeira desencadeada em 2008). Segundo a acusação, a empresa teria sido desonesta ao, propositadamente, ter ocultado chances reais de prejuízos a quem embarcasse naquela canoa furada (como de fato aconteceu).

Sem saída ou argumentos, a Standard Poor's houve por bem reconhecer tal acusação (que errou, sim, e grosseiramente), ao firmar um compromisso extrajudicial concordando em pagar ao Tesouro americano uma multa equivalente a quase US$ 1,4 bilhão (R$ 5,4 bilhões na cotação atual). O episódio reacendeu o debate sobre a credibilidade das agências de classificação de risco e os possíveis conflitos de interesse envolvendo suas atividades (já que contratadas por “agentes do mercado”).

No mais, há que se atentar que o governo norte-americano não é o primeiro a processar a Standard & Poor's pelas equivocadas e grosseiras avaliações; também um tribunal lá do outro lado do mundo (da Austrália) condenou a agência ao pagamento de uma indenização milionária por ter confundido e induzido os investidores locais com suas “falsas avaliações”. Em Nova York, outro tanto de enganados investidores moveram ação similar.

No momento, como economistas de escol (inclusive lá fora) já se manifestaram sobre o equívoco grotesco da avaliação da Standard & Poor's sobre a nossa economia, não seria o caso do governo brasileiro partir para a ofensiva, contestando publicamente o método adotado e mostrando ao mundo as “mancadas-homéricas” por ela patrocinadas, via “ratings" inflados e sob suspeita, que objetivam prioritariamente elevar suas receitas e obter maior participação no mercado ???





quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Essa tal "DESONERAÇÃO" - José Nilton Mariano Saraiva

Em termos fiscais, “desoneração” é uma espécie de ferramenta-instrumento de politica econômica, eventualmente utilizada pelos diversos governos, que consiste da “renúncia voluntária”, por um determinado período, da arrecadação de certo tipo de imposto que lhe é devido pelo setor produtivo (o IPI, por exemplo), objetivando debelar uma crise momentânea, via manutenção do mercado aquecido, e cujos benéficos reflexos serão extensivos à própria população.

No entanto, embora normalmente tenha a “nobre” finalidade de manter a produção das fábricas e, consequentemente, a garantia de milhares e milhares de empregos (em tempos de vacas magras ou períodos recessivos), facilitando a vida do consumidor final, o uso de tal ferramenta-instrumento oferece o sério risco de dificultar a imagem do próprio governo, se não for aplicado na dosagem correta e num tempo determinado (nem mais nem menos).

Exemplos: a) quantos brasileiros, nos últimos anos, em função da adoção de tal medida, conseguiram adquirir o sonhado “carro zero” (estalando de novo), ao tempo em que ajudaram seus semelhantes a continuar empregado, bem como as indústrias produzindo, mesmo com a crise braba que se abateu sobre todos os países, inclusive os “top de linha” do primeiro mundo ??? b) quantos patrícios, nos últimos anos, adquiriram TVs de última geração, artigos luxuosos da “linha branca” (geladeiras, fogões, máquina de lavar), computadores sofisticados e por aí vai, em razão dos preços atrativos (via desoneração) e do novo “poder de compra” propiciado por um aumento real do salário mínimo, acima do índice inflacionário (que catapultou milhões de trabalhadores da miséria) ???

Acontece que a persistência de tal beneplácito (“desoneração”) por um tempo considerado além do razoável (por injustificável descuido ou falta de atenção), tende a impingir ao seu mentor consequências nefastas e perigosas, porquanto no “caixa” do governo (Brasil) os “reais” necessários ao pagamento das suas despesas e manutenção da máquina rarearão e se fará presente no dia-a-dia, comprometendo a louvável iniciativa original (manter o emprego e as fábricas produzindo, lembremo-nos). E foi exatamente aí onde o governo patinou, pecou e cometeu uma falha clamorosa, que hoje se faz sentir. Basta atentar para os números: em 2014 a renúncia fiscal do governo atingiu assombrosos R$ 100,6 bilhões e para 2015 nada menos que estratosféricos R$ 104,7 bilhões estão previstos.

Há que se atentar, ainda, para um “pequeno-grande” detalhe: como o Brasil não é uma ilha e, pois, depende da boa saúde dos seus parceiros comerciais, ao fim da “desonerações” somou-se a atual crise econômico-financeira que se abateu sobre alguns dos seus potenciais compradores (a poderosa China e a claudicante Argentina, por exemplo) que, atingidos pela recessão, diminuíram sensivelmente suas compras do Brasil, daí a crise braba na área automotiva nacional e, consequentemente, o desemprego e o aumento dos estoques, por falta de adquirentes de tal setor.

Afinal, como tal segmento representa cerca de 5% do PIB nacional (a soma de todas as riquezas produzidas) e 23% do industrial, a queda foi de 12% nas vendas e de 30,4% nas exportações, em relação ao ano anterior (dados de 2014, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores-Anfavea), daí o aumento progressivo na nossa “taxa de desemprego”, desde então.

Resta torcer para que, de par com os amargos (mas, excessivos, convenhamos) ajustes que se processam, os solavancos na economia mundial refluam, o comércio internacional volte à normalidade e o Brasil encontre uma maneira de driblar os percalços ora vigentes.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

AMARRANDO OS CADARÇOS DOS SAPATOS

Alguns indicadores de como andamos “aos trancos e barrancos” como dizia Darcy Ribeiro. Nós aí como o momento histórico.

O papa tenta engajar a igreja no acolhimento humanitário dos refugiados do Oriente Médio e pede que igrejas, conventos, mosteiros, entre outras instituições, recebam pelo menos uma família de refugiados. Um bispo da Hungria diz que não são refugiados, mas invasores. Não importa o contra-argumento do bispo se antes ou após o pedido do papa.

Desde 1980 os EUA invadiram, atacaram ou bombardearam pelo menos 14 países de predomínio islâmico, segundo estudo de João Fernando Finazzi e Reginaldo Nasser. Em 2014 apurou-se que 59,5 milhões de pessoas deixaram suas casas por perseguição e violência generalizada.

Estes mesmos sírios de crianças mortas na praia sofreram as consequências da ajuda militar de 16 bilhões de dólares. Dinheiro para todas as facções em luta. Doze nações, seis europeus, dois norte-americanas e quatro do oriente médio financiaram a carnificina na Síria e por tabela no Iraque e Curdistão.

A medalha de ouro dos recursos aplicados vai para os EUA com 7,7 bilhões (48%), seguidos pela Rússia e o Qatar cada um com 3 bilhões, unilateralmente pelo Canadá (718 milhões), cinco países da União Europeia (818 milhões) e o restante com os demais países do Oriente Médio. A conta do horror: ninguém quer receber refugiados.

Algo se desmorona de fato. O dinheiro é um meio de troca de mercadoria. Como explicar, como estima Stiglitz, que de 2009 a 2012 de todo o crescimento da economia mundial, 91% foi apropriado por apenas 1% da população. 99% não viu nem a cor dos benefícios que este crescimento deveria ter trazido.

Amarremos os cadarços do sapato. Como dizia Mário Ciarlini, um cearense descendente de italianos, quando perguntaram porque tinha apenas um par de sapatos e ele respondeu que só tinha dois pés. Ou seja, se estes tais 1% são mesmo de carne o osso como pensamos que sejam, nem Imelda Marcos, em seu delírio de centopeia, teria como usar tanto sapato em uso próprio.


Seria este crescimento apenas fumaça? E os ricos apenas brincam feito tio Patinhas sobre uma montanha de moedas? Ou apenas serve para financiar destruição e desgraça? 

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

NA LAGOA

Lagoa Rodrigo de Freitas, Sacopenapã ou Piraguá. Água, peixinhos, mangue, galhos e biguás. Num ouvido a coleção lacustre. No outro a feroz explosão dos motores sobre rodas.

Tudo em volta é presença humana. Até na lagoa. Nos céus e nos morros.

Na orla, uma faixa compartilhada. Bicicletas pedalando gente. Executivos, empregados, atletas para a academia, encontros em silenciosos ciclistas movidos a energia elétrica.

E uma mulher com rosto de pássaro passa correndo em sentido contrário. E tem uma regra média: cenhos angustiados, suados, pálidos e sufocados. Tudo isso pela vida. A vida igual à posição social e econômica: corrida.

E todos se movem na órbita de sete quilômetros e meio. Um homem de cabelos de nuvem vem por cima da mureta à beira lago num passo ágil como uma espécie de prevenção do Mal de Alzheimer.

Eis que alguém por trás se aproxima confessando que Daniela não fala mais com ela. E quanta gente mais não fala com ela. Na Lagoa apenas a sua companhia. Mas o afastamento de Daniela é a dor da proximidade.

E os prédios na margem da Lagoa. Há que nomear-se em alguma língua, como francês ou inglês, jamais português. Isso faz parte da escalação social. Há que negar sua origem. Agora é outra coisa. Mora na Lagoa.

E estudiosos da epidemia de suicídios em indígenas do Amazonas identificaram origens na perda da língua materna. E andamos na lagoa pensando que é imensa a população bilíngue do mundo e nem por isso suicida-se. Como os prédios dos moradores da Lagoa.

Mas a questão não são as duas línguas. É a extorsão de sua língua e imposição de novos valores na língua que matou a sua. É o português rasgando cada folhelho do fruto do coração.

E a mulher com rosto de pássaro passa novamente, já fez a órbita inteira. Não porei neste cesto as inúmeras obras, visões e cenas da Lagoa. Mas é impossível, ao passar em frente a Ipanema, olvidar um cantinho, o violão, o Corcovado, o Redentor que lindo.

São varandões escancarados para toda a visão da Lagoa e dos morros. Corcovado, Sumaré, Vista Chinesa e tudo que no largo do mundo exista. Porém todas varadas estão fechadas. No máximo uma pequena brecha.

Embaixo do arvoredo das margens o vendedor de coco despeja doçura e sedução sobre a cadela da madame. Despeja em tal volume que transborda para as delícias seduzidas que a madame não tem em casa.

A mulher com rosto de pássaro completa outra volta na Lagoa e eu nem a metade. E o alemão, aposentado de uma multinacional gentílica, a família desapareceu, hoje a Fonte da Saudade é o seu lar e a Lagoa sua caminhada. Todos os dias à mesma hora. Falando o tempo todo segue na companhia de um senhor com feições e corpo de general cearense aposentado.

A Lagoa é, agora, um sítio permanente de atletas trocando ideias com as consequências da Torre Babel. Tais visitantes, com suas mochilas, certamente pertencem à economia das Olimpíadas. Mas não é isso mesmo que se precisa, movimentar-se para sair da crise?

Sei. A caminhada é longa. Especialmente para o Facebook e ainda faltam mais de duzentos metros para completar a volta. E uma mulher passa dizendo que os helicópteros de passeio não mais voam por causa da crise.

Eu logo imagino. Silêncio nos céus do Corcovado.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Dia de festa- por socorro moreira

Só um sentimento muito forte de saudades, me faria postar, agora,uma canção interpretada por Altemar Dutra...
É que hoje é dia da Padroeira do Crato.Na nossa juventude e infância era a festa mais popular e linda da nossa cidade.Afora o lado religioso( hoje até mais fervoroso...), existia a magia de tanta coisa...: Parque Maia, amplificadora, flertes inocentes e avassaladores, amores despontando, como diria Dajavan..." no meio de tanta gente".Hoje, eu tenho um doce daquele tempo, que o tempo nunca deixou estragar, nem ficar amargo.
Para o meu amor antigo/atual, e todos os meus amigos e até conhecidos da minha geração( dos anos 40 aos anos 60)...Chegou o dia primeiro de setembro.Setembro chegou.Um mês quente, mas florido de ipês.Recolham as cores dos nossos ipês cratenses, aonde estiverem...!

UM DOS PRIMEIROS SUCESSO NO INICIO DOS ANOS 60 COM COMPOSIÇÃO DE EVALDO GOUVEIA E JAIR AMORIM.
YOUTUBE.COM

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

  Para ler em 2050

Tentativa de resumo de um texto do pensador português Boaventura de Sousa Santos. Texto que explica nosso tempo e como o avaliaremos daqui a 35 anos. Usarei outras ordens e resumirei as sentenças. Vamos lá.

Esta é uma época que imaginou excessivamente o futuro e terminou por se refugiar apenas no passado. E nesta época operam simultaneamente três poderes não democrático: capitalismo (trocas desiguais entre seres humanos supostamente iguais), colonialismo (naturalização da discriminação invertendo a equação tornando provocadores às vítimas) e patriarcado (estigmatização das mulheres e das orientações não heterossexuais) servindo-se de três outros sub-poderes, religiosos, mediáticos, geracionais, étnico-culturais, regionais. Nenhum sendo democrático se tornaram a base da democracia possível (democracia-realmente-existente).  

Nesta esteira, no estilo invertido daqueles paradigmas de linguagem do livro 1984 acontece o seguinte: substituição da causalidade pela simultaneidade, da história pela notícia, da memória pelo silêncio, o futuro pelo passado, o problema pela solução. Isso levou a: atrocidades sendo atribuídas às vítimas, agressores vangloriados na coragem da luta contra agressões, ladrões são juízes, as nefastas consequências das decisões de quem decide os reduziu a uma moral minúscula.

Vivemos numa época onde excessos são vividos como carência: a velocidade nunca chega a ser suficiente; destrói-se com justificativa na urgência do construir; o ouro é o coração da vida, mas com a forma de uma nuvem; todos são empreendedores e as provas em contrário são proibidas pelas provas a favor; a adaptação é tão fluida que não se distinguem adaptados de inadaptados; criaram-se campos de concentrações da heterodoxia (pela cidade, bares, discotecas, drogas, Facebook).

A realidade transformada em embalagem de venda. Paisagens são pacotes turísticos; fontes e nascentes são engarrafadas; desigualdade é mérito; miséria é austeridade; hipocrisia, direitos humanos; guerra civil descontrolada, intervenção humanitária; guerra civil mitigada, democracia; a guerra é a paz infinita; Guernika é apenas um quadro e catástrofes são apenas entretenimentos.

Assim as virtudes são cultivadas como vícios e vícios como virtudes; não se enaltece qualidade morais e éticas, apenas se degrada, avilta e nega a qualidade e virtudes do outro; acredita-se que a escuridão ilumina a luz; a opinião pública é igual à privada de quem tem poder para publicar e “o insulto tornou-se o meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente igual a um sábio”.

Uma civilização assim tende a ver gente demais e em nome de que nada contribuem para o bem-estar e, assim, começarem a descarta-las: velhos, imigrantes, jovens das periferias, dependentes químicos etc. E mais ainda o radicalismo que surge é de natureza estagnada e imobilista, movidos pelo tempo e falta de tempo, tornou a esperança exigente e cansativa; optando pela resignação.

Conquistou-se a simultaneidade dos deuses com os humanos, comercializando-os nos três mercados celestiais existentes, o do futuro para além da morte, o da caridade e o da guerra. Muitas religiões surgiram, cada qual parecida aos defeitos atribuídos às rivais, mas todas sendo o que dizem não ser: mercado de emoções.   


E conclui: a época criou um campo de plantas ruins como a última realidade da história, tentando esquecer o mais poderoso herbicida que existe para tal: a utopia.  

A nefasta "POLITIZAÇÃO" do Judiciário - José Nílton Mariano Saraiva

Apadrinhado por FHC, o juiz mato-grossense Gilmar Mendes, mais cedo do que ele próprio imaginava, porquanto queimando etapas e atropelando a hierarquia funcional, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal-STF. E talvez por isso mesmo, desde que empossado não guardou nenhuma sutileza ou pudor de que ali se encontrava para defender com unhas e dentes o seu “patrão” e respectivo partido (PSDB). Definitivamente, e sem amarras, a indesejada “politização” do Judiciário e, principalmente, sua “partidarização” se fez presente a partir da sua assunção.

É que, arrogante, bocão, prepotente e mau educado, Gilmar Mendes aproveitou-se da educação, fino trato e civilidade dos seus pares para exercer uma certa influência sobre eles, principalmente ao imiscuir em suas falas e decisões questões eminentemente tendenciosas e que causam estupor (a concessão, durante um plantão de final de semana, de dois “habeas corpus” em favor do bandido Daniel Dantas, que houvera sido preso pelo Juiz Federal Fausto de Sanctis em razão de crimes comprovados, é emblemática de como não respeitava os colegas e o rito processual).

Não há como olvidar, ainda, que, proprietário do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), Gilmar Mendes mantém sob sua tutela boa parte dos ministros do STF, porquanto professores contratados do dito-cujo, o que pressupõe uma subordinação tanto formal quanto suspeita, porquanto remunerados pelo próprio (afinal, querendo ou não, ir de encontro ao “patrão” certamente lhes causaria constrangimentos outros).

Hoje, numa prova inconteste de que privilegia sobremaneira o “padrinho-político” e está pouco se importando com seus atos, Gilmar Mendes trava uma arraigada batalha junto ao Supremo Tribunal Federal-STF e Tribunal Superior Eleitoral-TSE, a fim de tentar viabilizar o insano desejo de FHC que, sub-repticiamente, tenta desfechar um “golpe-paraguaio” teoricamente capaz de destituir uma Presidenta da República eleita por quase 55 milhões de votos, a fim de colocar em seu lugar o derrotado, vingativo, despreparado e fanfarrão “playboy do Leblon”, Aécio Neves.

Só que essa sua tentativa de encontrar “pêlo em casca ovo” ou “chifre em cabeça de cavalo” ao impetrar uma “pedido-de-investigação” nas contas da campanha de Dilma Rousseff, visando possivelmente encontrar alguma situação que alimente sua pretensão de anular o resultado das eleições, literalmente escafedeu-se quando a Procuradoria Geral da República houve por bem arquivar referida ação, tendo em vista que as razões elencadas “não apresentam consistência suficiente para autorizar, com justa causa, a adoção das sempre gravosas providências investigativas criminais”

Alfim, e para sepultar de vez a descabida e ilegal manobra encetada por Gilmar Mendes, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, de forma contundente houve por bem pedir o arquivamento da tal investigação, ao demonstrar as aberrações ali presentes, a saber:

01) “A inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral, protagonistas —exagerados— do espetáculo da democracia, para os quais a Constituição trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores”;

02) Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm, os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”, e

03) A questão de fundo é que a pacificação social e estabilização das relações jurídicas é um das funções mais importantes de todo o Poder Judiciário, assumindo contornos de maior expressão na Justiça Eleitoral, que lida com a escolha de representantes para mandatos temporários”.

Se Gilmar Mendes refluirá ou não do seu exótico e desonesto desiderato de patrocinar um “terceiro turno” anômalo, pouco importa; o substantivo é que, finalmente, alguém com cacife suficiente se fez ouvir e bateu de frente com o prolixo e falastrão afilhado de FHC, mostrando-lhe que num regime democrático existem procedimentos e regras a serem cumpridas, independentemente de padrinhos e agremiações que ofereçam sustentação a quem quer que seja.

Portanto, não vingará o tão desejado objeto de desejo de FHC e do “playboy do Leblon” Aécio Neves; assim, o “impeachment” não passou de um sonho de verão de uma cambada de golpistas desqualificados.  

domingo, 30 de agosto de 2015

Saiba quem são os vilões

De primeira.
O outro.
Aquele que, aparentemente, lhe expulsaria da posição em que se encontra, criaria barreiras ao seu caminhar, prometeria um futuro diferente do desejado, que irritaria com o som alto, o gosto estético, o ideário alternante, a fé desviante e assim por diante.
Sobretudo aqueles que, na falta de explicação melhor, estariam na raiz da sentença prometida pelo sistema econômico de que ficará mais rico e mais moralista.
E isso não se cumprirá para a quase totalidade das pessoas. Este mal-estar generalizado de que não se chegará ao pódio do sucesso e da posição de "primus inter pares" como semideuses de um Olimpo do lixão.
Os liberais são os que mais vilões temem. A santificação da individualidade foi aprisionada ao pódio do lixão de modo que nunca se tem um valor moral sem que a medalha de ouro lhe seja dada.
Aos perdedores, as favas.
Não existe razão no jogo em que o objetivo é um obstáculo. Um paredão intransponível o qual ninguém escalará e nem derrubará. Apenas os que já estão do outro lado na ocupação prévia do pódio.
Como apenas se olha para o Olimpo do lixão, é na cata dos despejos que toda a história se dará. E cada mão que, junto à garrafa pet vazia, tentar chegar, será o vilão.
O menor. O mendigo, aos que vão a pé para aqueles que se movem em rodas. Os que dependem dos perdedores dependentes. Os filhos. O outro no casal. O vizinho aparentemente mais bem-sucedidos. Os que parecem ter mais sucesso.
E claro os torcedores e partidários adversários.
Os vilões brotam diariamente como vocábulos da sentença do sucesso impossível. Seriam necessárias outras sentenças que não geram vilões.


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

VIDA-DE-VÍDEO-GAME

No cinema, nos jornais, telejornais e nos jogos eletrônicos há uma única narrativa dramática. O que numa piada com um soldado Pernambuco chamou-se de “vida de vídeo game”.

A vida que se vai abatendo em estágios sucessivos de destruição e pontos ganhos. Quando uma disputa assassina entre profissionais de mídia passa a ser filmada pelo próprio matador eis aís a estética da “vida-de-vídeo-game”.

E onde se encontra a fonte desta narrativa dramática? Nas oportunidades de decisão de produção, de distribuição e apropriação dos bens produzidos. Ou seja, na ordem das classes sociais. Classes que controlam (ou não) as decisões de produção e assim a distribuição e apropriação.

Israel aprisiona levas de Sudaneses e Eritreus que penetram seu território em busca do “shangri lá” europeu ou quem sabe no próprio estado judaico. Ficaram meses presos e depois foram soltos no deserto onde arrastam malas tentando ultrapassar barreiras policiais.

Isso é a maldade de Israel? Não. É a mesma narrativa globalizada da “vida-de-vídeo-game”. E o mais importante é uma narrativa audiovisual o mais amplo meio de emissão desta mensagem. Esta aqui é uma mistura de signos gráficos utilizados pela visão ao mesmo tempo carregando o aparelho fonador.

A narrativa dramática atual (audiovisual) é tão universal que toda a medicina andou neste sentido. E continua dramática: a regurgitação da mitral, o espeçamos de paredes, a infiltração gordurosa no fígado têm a mesma sintaxe da “vida-de-vídeo-game”.  


Elas não são iguais nem ao técnico que as interpreta. A seguir prossegue a cadeia de oportunidades de classes. 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

CIRCULANDO NO PRESENTE DO INDICATIVO

Pisamos as calçadas das ruas do Rio de Janeiro no presente do indicativo. E tropeçamos como se pisássemos os becos do século XIX.

Correndo como as memórias de Um Sargento de Milícia. A memória arquitetônica com retalhos de anúncios de oficinas mecânicas e estreitas calçadas esburacadas, interrompidas por anchos postes de eletricidade, canos para dificultar o assédio de automóveis, jardineiras de plantas murchas e cacarecos espalhados como o lixo espacial.

As ruas foram tomadas, com de surpresa, por uma correnteza caudalosa de veículos motorizados, barulhentos e fumegantes. Aquele bucólico passar de carruagens, cavalos e bondes, mais do que denunciam, revelam nas páginas amareladas um presente condicionado.

Efetivamente as ruas do Rio de Janeiro têm um enorme problema de conteúdo e continente. As calçadas do século XIX são as mesmas apenas houve uma mudança na posição do X e do I na contagem do século.

E aí um drama humano, entre tantos desta urbanidade desvairada, abre a narrativa todos os dias entre as calçadas impróprias e as ruas apropriadas. Os novos proprietários deste espaço vital continuam atropelando pessoas tangenciado obstáculos no seu livre ir e vir.

No início dos anos 80 as grandes vítimas eram as crianças com mais de sete anos indo e vindo da escola. Agora são pessoas idosas, perdendo anos vida, ocupando leitos hospitalares e a solidão nas camas que formam escaras.


E a polícia expulsa dos ônibus jovens da zona norte com desejo do espaço aberto da praia. E o trânsito atropela, invalida e mata. Na avenida Atlântica gritaram toda a insatisfação e retornaram pelas ruas do Rio, pisando no presente do indicativo.       

"TUNGA" DESPROPOSITADA - José Nilton Mariano Saraiva

Em sendo um país de dimensão continental, naturalmente que o Brasil se nos apresenta bastante heterogêneo no que concerne às suas diversas regiões, em termos mercadológico, cultural, climático, meteorológico e por aí vai.

Nos restringindo apenas a duas dessas regiões, porquanto emblemáticas da diferenciação, enquanto no “Sul-Sudeste” vige um clima ameno e propício às mais diversas culturas, no “Nordeste” desde sempre a inclemência do sol, aliada à falta de chuvas, resulta em imensas dificuldades para sua população, daí a necessidade de um atendimento prioritário governamental para com esta parte do Brasil, sintetizado lá atrás na fala do Imperador-bufão Dom Pedro, que teria garantido que, se necessário fosse, venderia a até a última joia da coroa a fim de atenuar o sofrimento do povo nordestino.

Se verdadeira ou não tão demagógica intenção, fato é que, de lá até cá a idéia de um tratamento diferenciado para a Região Nordeste ganhou destaque, até que durante a Assembleia Nacional Constituinte (1988), restou reconhecida a urgente necessidade da criação de um “fundo-financeiro” específico que propiciasse a obtenção e alocação de recursos estáveis para Região. Estava criado o FNE, com recursos advindos da “renúncia fiscal” do Imposto de Renda, por parte de pessoas físicas e jurídicas. Para geri-lo e administrá-lo uma instituição especialista em Nordeste, porquanto criada com essa precípua finalidade pelo presidente Getúlio Vargas nos primórdios da década de 1950: o Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB).

E, em sã consciência, ninguém pode negar que essa parceria foi pra lá de eficiente e eficaz, porquanto a partir de então a Região Nordeste deu um salto qualitativo imenso, por conta de ações planejadas e executadas tanto no campo (agricultura) quanto na zona urbana (via industrialização).

Assim, hoje temos um moderno e multifacetado segmento industrial, dos mais heterogêneos e qualificados, que nada fica a dever aos grandes parques industriais do mundo, cidades modernas e acolhedoras, de par com uma agricultura diversificada e não mais sazonal, que, graças a um processo irrigatório ainda incipiente (daí a necessidade comprovada de que a transposição do Rio São Francisco seja concluída o mais breve) produz alimentos e cereais outros de primeira qualidade, inclusive para exportação.

Mas, eis que agora, o real “inimigo íntimo” da Presidenta Dilma Rousseff (que equivocadamente lhe concedeu carta branca para agir), ministro ”tucano” Joaquim Levy, no bojo do saco de maldades apresentado à população sob a denominação de “ajuste fiscal”, já anunciou a intenção de irresponsavelmente “tungar” em cerca de 30% (trinta por cento) os recursos destinados ao Nordeste, via FNE-BNB.

Tal medida, se efetivada, representará sério e indesejável entrave na política de debelar as “desigualdades regionais” (que deveria ser permanente e contínua), porquanto obstará os planos da Região Nordeste do Brasil de se livrar de vez das amarras do subdesenvolvimento, além de configurar uma despropositada volta ao passado, com tudo de maléfico que perdurou por longos anos; e ainda atingirá em cheio o BNB, esvaziando-o e transformando-o, porquanto retirando da sua alçada a chancela lhe atribuída lá atrás no governo Vargas, de instituição “indutora do desenvolvimento” nessa carente região do país.


Urge, pois, que desde já haja uma manifestação-convocação urgente por parte dos diversos segmentos sociais da região, visando “obrigar” a classe política a formar um “pool multipartidário” objetivando tomar uma atitude drástica de objeção ao pretendido pelo “ministro tucano”, fazendo-o demover um receituário que só interessa ao não conhecedores das agruras nordestinas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

HOJE HÁ 61 ANOS

No horário desta postagem, há 61 anos, fazia mais de 12 horas que o país vivia uma convulsão. Até a noite do dia anterior - 23 de agosto - o povo estava calado. Era a vez da gritaria na mídia, os discursos e textos de Lacerda, oficiais da Aeronáutica usurpando as instituições do Estado.

A cortina de fumaça golpista era tão densa de denúncias e desgraças que o povo estava sem fôlego. Esperando, que alguma brisa, que fosse, permitisse o livre correr de suas observações e sentimentos.

Getúlio Vargas não previu tudo o que daquele estampido em diante ocorreria. Ele entendeu o sufocamento político e antes de ser um cadáver político, transcendeu a arapuca inimiga e acordou o povo para a realidade.

O povo começou a quebrar todas as fontes da mídia que eram a sede da cortina de fumaça. Eles se acovardaram. Tiraram o Presidente, mas não conquistaram o governo. Tiveram que engolir as vozes do povo e os partidos que os representava.

Há 61 anos aquele corpo voltaria à sua terra natal. E hoje começamos a manhã aqui no Brasil recebendo a dura realidade da crise ampla da economia mundial. Especialmente nos polos dinâmicos que ainda restavam. O polo asiático e da Oceania.  

Mais do que nunca estaremos diante da necessidade de um projeto nacional para suportar os estragos que destes fatos virão. Precisamos pactuar soluções e compreender que é na dinâmica dos direitos sociais e do consumo do brasileiro que parte do problema se resolverá.


E que orientemos nossos espíritos para símbolos de nossa história, abandonemos as ideias de salvadores da pátria, fortaleçamos quadros e lideranças lúcidas, mas sobretudo tomemos vantagem da organização social, de todas as dimensões para que internalizemos o nosso próprio futuro. 

domingo, 23 de agosto de 2015

"CONTUNDÊNCIA" - José Nilton Mariano Saraiva

“Vazada” ao público por alguns sites, a robusta e primorosa “peça-denúncia” (85 páginas) produzida pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, contra o atual Presidente da Câmara Federal, senhor Eduardo Cunha, em razão do recebimento de “propinas” no assalto à Petrobras,  é de uma contundência tal que acaba por colocar os integrantes do Supremo Tribunal Federal numa imensa “saia-justa” (e bote “justa” nisso).

 É que os “detalhes” são tantos, tão pormenorizados e tão consistentes (tem até “doação” pra Igreja Evangélica), que fica difícil imaginar que algum membro daquela egrégia corte tenha condição de encontrar algum “atalho” ou “brecha” que possibilite qualquer manifestação contrária à penalização do meliante (COMO É PRAXE NAQUELA CASA,  MORMENTE QUANDO PODEROSOS SÃO ACUSADOS – vide o caso Daniel Dantas).

Assim, a expectativa é que o demagogo e corrupto Deputado Eduardo Cunha seja não só afastado sumariamente da Presidência da Câmara, assim como obrigado a ressarcir o dinheiro roubado, bem como banido da vida pública.

É o mínimo que o Supremo Tribunal Federal pode e deve decidir (se houver seriedade no trato da coisa pública) em respeito à nação.


,

sexta-feira, 21 de agosto de 2015



A prova de que vivemos a era do FEBEAPÁ de Stanilaw Ponte Preta. Ninguém em espírito democrata quer fuzilar quem quer que seja (mas tem um povo aí, hein!). Acontece que existe, existiu e continuará a existir uma disputa política. E o centro dela é o que merece o povo brasileiro e qual o projeto de nação que garante este merecimento. Mas veja as razões do Bolsonaro: muita gente adversária do PSDB e do FHC tem amplas críticas do mesmo teor.
UM CESTO CHEIO DE “VEJA” E “CARAS”

No salão destes enormes centros de exames: análises clínicas e imagens. A espera de alguém que faz exame de hora marcada, presente em ponto, mas a ordem é de chegada. E tome paciência.

Algo a fazer?

Uma estante, qual “as nossas roupas velhas dependuras”, expunha revistas amarfanhadas e gordurosas de tantos dedos virando páginas. Títulos como Veja, Caras, Época e por aí vai.

É Copacabana e os leitores se adequam aos títulos. E pensei, da menos datada passearei os olhos na vaidade de artistas, semi e celebridades do eixo Rio-São Paulo.

Todo mundo interpretando algum bom estilo de ilhas e continentes, taças e comidas, além de álbuns imensos de reuniões, casamentos, batizados, aniversários e tanta desrazões mais para apenas um clic digital.

Em verdade se trata de roupa velha mesmo. O que os esperançosos da próxima chamada do laboratório se distraem mesmo são com o “face”, instagram, whatsap e outras telas luminosas mais que houver.

Mas aí minha atenção viajou mesmo nas caras do vai-e-vem nos balcões, tomadas e saídas de elevadores e à espera nas cadeiras acolchoadas. Isso sem contar a indefectível programação matutina da nossa querida TV aberta apresentando vendedores de saúde e outras normas fundamentais que logo se esgotam na próxima edição.

Aquele bem vestido corpo esguio, de bolsa pendurada no antebraço (todas as mulheres a carregam), cabelos mechados de louro, escovado, unhas luminosas e na ponta dos dedos um digitar na tela com a força simbólica de uma executiva empresarial. Conversava com uma mais jovem, embevecida diante da oportunidade, anotando freneticamente em sua tela o que a outra lhe diz.

Bermuda. Cabelos brancos. Peso acima das tabelas e a cintura nos últimos furos do cinto. É uma verdadeira coorte de aposentados, meio expediente ou que mais tempo houver para um jejum, uma picada na veia e um café com um pacotinho de biscoito cream cracker.

A mulher do cafezinho ausentou-se. Alguns começaram a operar a máquina por conta própria. Chega um senhor, pouco mais do que sessenta anos, com algum problema neurológico e, vendo os outros, também entra no balcão para acionar a máquina do café. No seu modo lento começa a operação.

Sua acompanhante, uma senhora afrodescendente, diz: não faça isso senão a moça-do-café briga com você. Alguém explica que todo mundo está a fazer o mesmo. Aceita, mas daí em diante quem dirige todas as suas iniciativas é ela. Que fica a busca de soluções até meia hora após saírem em busca de um táxi. Ele, obediente, a segue.

Senhas para receber exames. Envelopes carregados. Braços dobrados para estancar a picada da agulha. Um estalo de lábios no sabor do café. Passos como um passarinho fugindo da gaiola. A satisfação do dever cumprido.


O médico, no seu consultório com cestos cheios de Revistas Caras e da Veja, continua a expedir as idas àquele salão onde a expressão é o fluxo de um ramo da economia. 

"BARRIGA DE ALUGUEL" - José Nilton Mariano Saraiva

Quem algum dia imaginaria que o tradicional e glorioso PDT, de Getúlio Vargas e Leonel Brizola, se prestaria a servir como “barriga de aluguel” a fim de saciar a sede de poder de pessoas que vivem a usar a atividade política como um rentável meio-de-vida, daí não se importarem de trocar recorrentemente de partido, por mera conveniência ???

Como entender que uma agremiação de tantas batalhas e glórias, porquanto forjada na luta pelos direitos dos trabalhadores e dos mais necessitados, não mais que de repente se permita servir de hermético “bunker-protetor” de indivíduos sem identificação nenhuma com o ideário programático da sigla getulista ???

Afinal, ao aceitar o ingresso dos Ferreira Gomes em seus quadros, o PDT nada mais faz do que relegar o belo legado de fidelidade e coerência dos seus dois encimados líderes, porquanto o histórico dos novos integrantes da agremiação não deixa dúvidas: já se serviram, unicamente para o atendimento de demandas pessoais, de uma miscelânea de agremiações tão díspares quanto diametralmente heterogêneas ideológico-programaticamente, dentre as quais a antiga ARENA (Ditadura), PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS.

Além do que, ao aceitar sujeitar-se aos Ferreira Gomes, o PDT  trairá vergonhosamente um quadro histórico e da estirpe de um Heitor Ferrer, este, sim, um político digno, leal e merecedor do respeito de todos nós, mercê de uma atuação cuja característica maior é a coerência e o respeito à agremiação e aos seus eleitores,  daí o”caminhão” de votos que consegue carrear em cada eleição.

Ou alguém tem alguma dúvida que a principal “imposição” (dentre muitas que se seguirão) dos neo-integrantes que o PDT irá recepcionar, será servir de “rampa” para que o senhor Ciro Gomes tente decolar como candidato à Presidência da República e, em termos locais, garantir que a vaga para concorrer à Prefeitura de Fortaleza no próximo ano seja antecipadamente reservada para o atual detentor do cargo, um mero “soldado” dos Ferreira Gomes ??? (“rifando” o Heitor Ferrer).

No mais, lembremos do “estrago” que os Ferreira Gomes causaram à família “Novaes” (irmãos Sérgio e Eliana), aqui de Fortaleza, que, de dirigentes estaduais do PSB, literalmente foram “obrigados” a de lá se mandar após a chegada dos sobralenses, só retornando e retomando o comando da sigla após o falecido presidente nacional da agremiação, Eduardo Campos, negar-se peremptoriamente a ceder a Ciro Gomes a vaga de representante do PSB na corrida presidencial a ele (Eduardo) reservada.


Enfim, a realidade é que, por falta de seriedade e respeito aos seus eleitores e simpatizantes, o “atestado de óbito” do PDT já haja sido devidamente lavrado no cartório competente, e que na sua “laje-sepulcral” constará o vergonhoso epíteto de “barriga de aluguel”.