por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 1 de setembro de 2013

Casa Grande & Senzala



Dr. Umberto Hernandez ficará na história do Cariri como um dos primeiros  Neurocirurgiões a se radicar  na nossa região com um continuado e profícuo exercício que salvou incontáveis vidas. Numa época em que já proliferavam as motos como meio popular de transporte  e sua consequência inevitável, os politraumatismos,  a Neurocirurgia  , estrategicamente, postava-se na fronteira entre a Vida e a Morte.  Dr. Umberto vinha de Cuba, já maduro, com uma larga experiência no seu ofício e trouxe consigo  outras louváveis virtudes:  uma profunda visão social da Medicina; uma ética acima de qualquer mácula; uma enorme aversão a qualquer tentativa de exploração da sua digna atividade; o desprendimento e a humildade de formar outros profissionais qualificados. Consta que depois de um trabalho  diuturno e benéfico, por longos anos, terminou sendo denunciado por alguns de seus pares e precisou retornar ao seu país.
                               Lembrei-me dele nos dias atuais  quando  se gera enorme polêmica com a vinda de outros profissionais  estrangeiros  no Programa Governamental  Mais Médicos.  Gostaria de dar minha visão, um pouco na contra corrente do pensamento médio institucional, no que tange à questão. Temos enormes disparidades na distribuição de profissionais num Brasil,  onde ¾ dos médicos se alojam estrategicamente, e não por mero acaso, nas regiões Sul e Sudeste.  A tônica da Medicina  desde o Século XX tem sido, claramente, uma atenção direta com a forma Terapêutica e um afastamento da sua face Preventiva. Formamo-nos médicos para tratar as pessoas e não para prevenir os males que por acaso podem ser evitados. Por trás disso tudo, claro, existe um grande e forte movimento empresarial   clínico- hospitalar e toda indústria farmacêutica, para quem a Doença é sempre  um vultoso negócio.  Durante todo o Século XX,  a lógica eminentemente capitalista relegou a prevenção ao subsolo e nomes como Osvaldo Cruz, Adolfo Lutz,  Carlos Chagas, passaram a fazer parte de um passado heroico e ultrapassado. A distribuição dos médicos, formados para tratar quem pode pagar, fixou-se, prioritariamente, nas regiões mais ricas e litorâneas.  Os poucos que se aventuraram a , como bandeirantes, adentrar o interior pobre do país, foram sempre vistos de forma preconceituosa por seus colegas dos locais mais abastados: com poucas condições,  estariam praticando uma Medicina atrasada, própria de séculos anteriores. Por sua vez, a forte e importante onda tecnicista que envolveu a atividade médica durante todo o Século XX, com avanços importantíssimos  e indiscutíveis , não só aumentou a distância entre o praticado na capital e  no interior, mas fez , também, com que os médicos se tornassem cada vez mais técnicos e menos missionários.  E o técnico é bem mais cartesiano, não lhe passa pela cabeça a possibilidade de dois mais dois não serem exatamente quatro.
                                               O SUS, no final dos anos 80, tentou dar uma reviravolta nesta ordem de priorização do terapêutico ,em detrimento do profilático. Nasceu, no entanto, dentro destas dicotomias inevitáveis : um sistema de viés socialista tentando ser instalado num país de forte tendência neoliberal;  necessitando de médicos e profissionais com ampla visão generalista e formando médicos especialistas e com forte formação terapêutica;  buscando profissionais  hipocráticos e se defrontando com médicos de boa formação técnica , mas pragmáticos e amplamente antenados com o Mercado.  O sonho igualitário de trazer Saúde para todos os brasileiros topou na exiguidade de recursos de um país em desenvolvimento. Verba pouca foi destinada prioritariamente para a Atenção Básica, levando ao colapso da Atenção Secundária. Mesmo assim, com todos os percalços, conseguimos, com ações mínimas , abater drasticamente a Mortalidade Infantil , a Desnutrição, as Doenças de Controle Vacinal, levando a um invejável aumento na Esperança de Vida.
                                               É com essa visão particular e mais ampla que , como médico há mais de trinta anos trabalhando no interior do Brasil, que vejo como inequívoca a necessidade de contratação de médicos , seja lá de onde for, para trabalhar nos grotões desse país. Vi luminares da Medicina Uspeana , dizendo que o médico não iria, por nenhum dinheiro desse mundo, trabalhar nos locais mais miseráveis, porque lá, sem nenhum recurso, não teria o que fazer e se desesperaria. Discordo completamente dessa visão de Avenida Paulista. Estão querendo passar para todos que os profissionais no interior desse Brasil nada estão fazendo, pois não têm às mãos um Pet Scan ou uma Ressonância Magnética. Querem me convencer que Dr. Leão Sampaio em Barbalha, nada representou; que Dr. Cícero em Campos Sales teria sido dispensável;   que Dr. Gouveia em Iguatu foi uma excrescência; que Dr. Montalverne  Guarany em Sobral era perfeitamente descartável.  Permitam-me discordar dessa visão estreita e tosca. Cabe-nos lutar para que um dia , todos os rincões desse país tenham as mesmas condições de acesso à Saúde , mas não é justo que até lá profissionais médicos sejam impedidos de fazer o pouco que estiver ao seu alcance para minimizar a dor, o sofrimento, mesmo cientes que poderiam, sim, fazer muito mais, se assim condições existissem. Se se reparar bem,  não temos no Cariri os mesmo recursos de Forteleza, Fortaleza não tem os mesmos de São Paulo e São Paulo, por sua vez , perde para os dos EUA. Tudo é perfeitamente relativo.  Jogar no lixo a  vocação missionária hipocrática é o mesmo que  arrancar a sagrada túnica de sacerdote  que historicamente  vestimos e nos imantou de  um poder mágico e encantado.
                                               Acredito que, no presente momento – mesmo sujeito à cara trombuda dos meus pares-- a contratação  médicos estrangeiros é uma necessidade  imperiosa e, mais, é preferível os cubanos pela forte formação em Medicina Social. Aprenderam a , com medidas simples,  combater a miséria. Seus achaques são bem mais próximos das nossas centenárias chagas. Sempre é bom lembrar que os Indicadores de Saúde do seu país são os melhores das Américas todas. Pasmem, ganham do Canadá ! Muitos dirão que  estas conclusões são perfeitamente ideológicas, mas todas as que se contrapõem a elas também o são. Os opositores babam de fúria, não contra os profissionais, mas contra Fidel. Se os médicos que aqui desembarcaram viessem dos EUA ou da Inglaterra seriam recebidos com flores e fogos de artifício.
                                               As vaias que irromperam em Fortaleza contra os médicos cubanos denotam , totalmente, a nossa falta de foco.  Almofadinhas, não somos acostumados às manifestações públicas, coisa de proletários. Os colegas aqui chegaram num projeto governamental. Não têm nenhuma culpa das nossas desavenças. Éticamente devem ser tratados com educação e lhaneza. Os gritos de  “Escravos!”  “Escravos!” que ecoaram na Escola de Saúde Pública vieram dos amplificadores da “Casa Grande” . A Senzala não merece atendimento de médicos, já tem seus rezadores e meizinheiros.  Já não basta ?

J. Flávio Vieira

"Catherine" - José Nilton Mariano Saraiva

Os que hoje se situam na faixa dos 60 anos certamente hão de recordar do bom ator “yanque” Kirk Douglas, fichinha carimbada em grandes filmes sobre o velho oeste americano, com seus índios e mocinhos se engalfinhando em batalhas tão cruentas como memoráveis. Mas, como a marcha inexorável do tempo não perdoa quem quer que seja, rico ou pobretão, famoso ou não, Kirk Douglas teve que, paulatinamente, ceder seu lugar a uma nova geração de atores.
E ai todos tivemos (inclusive o próprio) o grato prazer de conhecer e constatar que seu filho, Michael Douglas, houvera se tornado um “artista” de mão-cheia (muito mais competente que o pai) porquanto, além do talento hereditário, eclético no atuar e com mais presença em cena devido ao porte físico avantajado (quase 2 metros) e um bem delineado corpo nas academias da vida; assim, logo logo estabeleceu-se.
Para o mulherio, então, foi um autentico achado, uma descoberta de outro mundo, daí a “caça” permanente, obstinada e diuturna visando “laçar a fera”, de qualquer jeito; e como o cara mostrou-se um garanhão insaciável, um autêntico atleta sexual, muitas e muitas mulheres (e que mulheres) privaram da sua alcova. O exemplo emblemático da “qualidade” pode ser visualizado na atual esposa, a escultural atriz britânica Catherine Zeta-Jones (nascida em Swansea, País de Gales, em 25.09.69), um autêntico “supersônico”.
Pois bem, rico, belo e disputado (apesar de casado), eis que a o destino lhe reservou uma surpresa nada agradável: numa rotineira consulta médica, à procura de debelar uma “coceira” na garganta, Michael Douglas (fumante inveterado), recebeu a infausta notícia de ser portador de um “câncer” na região.
Transparente e corajoso fez questão de, pessoalmente, dividir com gregos e troianos a sua situação, botando a boca no trombone; e, como não poderia deixar de ser, a partir do “velho”, da esposa e da família, a solidariedade fez-se presente das quatro esquinas do planeta Terra; comoção generalizada.
Mas... o Michael Douglas é um ser humano e, como tal, tem seus momentos de “apagão”, seus pecados, suas fraquezas, suas idiossincrasias e, assim, sua pessoal e desabrida explicação para o que ocorrera provocou um baita estrago: segundo ele, seu câncer na garganta, na verdade, teria sido provocado pelo costumaz exercício do “sexo oral”, com uma mulher portadora do temível vírus HPV (detectável via “papanicolau”); sim, senhores, o nosso ídolo era adepto e praticante habitual de tal “esporte”.
Se tal declaração foi recebida por muitos como “corajosa”, por revelar ao mundo uma sua faceta não conhecida (e nada edificante), para a bela esposa, Catherine Zeta-Jones, representou uma afronta pessoal, desrespeito intraduzível, uma espécie de acusação descabida: afinal, em sendo ela a esposa daquele autentico “deus” grego, já há bastante tempo, teoricamente, dela, ele teria contraído o tal vírus em suas relações heterodoxas.
O resultado é que o pedido de divórcio (anunciado nesta última quarta-feira, 28.08.13) já foi por ela formalizado e, se conseguir vencer a doença, Michael Douglas vai ter que “lambuzar-se” em outra fonte.

Fato é que, agora, doente e sem asas (já que desprovido do “supersônico”), Michel Douglas ainda terá que conviver com uma cobrança inevitável: “ô, cara, por que fizestes tamanha maldade com a bela e doce Catherine” ???  

sábado, 31 de agosto de 2013

O fenomenal Ângelo Monteiro. Parte 1.


"FLORES RARAS" - José Nilton Mariano Saraiva

“Flores Raras” (baseado em fatos reais) é a tal prova cabal de que nós, brasileiros, já conseguimos, sim, produzir com extrema competência, filmes adultos, sérios e - mais importante - de qualidade indiscutível.

Produzido e dirigido pelo consagrado Luiz Carlos Barreto (em parceria com a esposa) e tendo no papel principal uma Glória Pires madura e simplesmente exuberante, trata da intensa e sofrida relação homossexual entre a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares (Glória Pires), uma das responsáveis pela construção do Aterro do Flamengo, no Rio, e a poetisa americana Elisabeth Bishop.
 
É que esta, buscando fugir do estresse do dia-a-dia de Nova Iorque, decide aceitar o convite de uma contemporânea de faculdade (que se mudara para o Brasil), para conhecer o Rio de Janeiro. Extremamente tímida, introvertida e recatada, em aqui chegando se surpreende ao notar que a ex-colega “vivia” com uma outra mulher, Lota Macedo.

Despachada, autoritária e mandona, Lota Macedo não fazia nenhuma questão em esconder sua atração por pessoas do mesmo sexo. E a paixão por Elisabeth foi instantânea, como que a adivinhar que por detrás daquela timidez, introversão e recato excessivos se escondia um autentico “vulcão”. E não deu outra: na primeira saída a sós (por ela provocada) e num recanto paradisíaco (Teresópolis), um inesperado beijo na boca e... deu-se a erupção, fiat lux.

Daí pra frente a paixão só cresceu, ao ponto do ciúme da ex-amante ter que ser debelado com a adoção de uma criança e a abertura definitiva e sem rodeios do jogo: sim, a bola da vez, agora, era Elisabeth (que com ela passou a dividir a cama).

Viveram intensamente a paixão e cresceram profissionalmente em suas respectivas atividades (Elisabeth chegou a ganhar o concorrido prêmio Pulitzer, por um poema que lá atrás houvera dedicado a Lota) até que deu-se a “fadiga do material”: convidada para lecionar numa faculdade americana, Elisabeth resolve aceitar, mesmo com a não concordância e o protesto veemente da companheira (que chega a lhe oferecer mundos e fundos, tal o medo de perde-la).

Acostumada a mandar, desmandar e jamais ser questionada, com a viagem da companheira à sua revelia, Lota Macedo acusa o golpe: entra em um penoso processo depressivo, alimentado pela saudade, daí o consumo excessivo de álcool. Suas cartas não têm resposta, simplesmente porque a ex, que fora rejeitada, não as encaminha. A degradação é visível e impressionante (que maquiador fabuloso).

Após certo tempo, ao tomar conhecimento, por acaso, do estado crítico da ex, Elisabeth (já com outra amante, uma aluna bem mais nova) se manda de lá pra cá, a fim de socorrê-la; e aí, novamente juntas, as duas descobrem que “não dá mais liga”, alguma coisa se perdera pelo caminho, o sonho acabara, esvaíra-se, escafedera-se.

Alfim, por não admitir o fracasso, e visando livrar-se daquele calvário que já lhe atormentara excessivamente, Lota Macedo põe fim à própria vida ao ingerir um generoso coquetel de medicamentos com whisky. Mesmo condoída e consciente de ter sido responsável por aquele ato extremo, Elisabeth volta para os braços da amante americana.


Resumindo: independentemente dos preconceitos que decerto hão de surgir, um filme adulto, sério e que merece ser visto com extremada atenção. E com um adendo: é brasileiro, sim, com locação na sua maior parte em Teresópolis, contando com uma atipicidade: os diálogos em inglês e legendado em português.   

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"Xepa" indigesta" (II) - José Nilton Mariano Saraiva



Nessa questão que trata da negativa de cassação do mandato do Deputado Federal Natan Donadon, por parte dos seus pares, é necessário que se saiba o seguinte:

513 parlamentares compõem a Câmara dos Deputados, em Brasília. Regimentalmente, para que um deles tenha o mandato cassado, necessário que metade (256) mais 01 (257) concordem com a penalidade. Como 141 não compareceram em plenário, evidentemente que influíram de forma decisiva para que tal não ocorresse.

Isso porque, como 233 votaram favoravelmente, faltaram 24 votos para atingir os 257, sacramentando a cassação. Desses 24 votos que faltaram, a bancada cearense contribuiu com 07 votos (ou 29%). A razão de não comparecerem, ninguém sabe, mas o certo é que tinham conhecimento da matéria e da importância das respectivas presenças.
  
É necessário, pois, que o eleitor cearense saiba o nome dos “distintos”, a saber: Antonio Balhmann (PSB), Artur Bruno (PT), Genecias Noronha (PMDB), José Linhares (PP), Manoel Salviano (PSD), Mário Feitoza (PMDB) e Vicente Arruda (PR).

"Xepa" indigesta - José Nilton Mariano Saraiva

Condenado em última instância pelo Supremo Tribunal Federal a 13 anos de prisão, por ROUBO QUALIFICADO, e já recolhido há dois meses à penitenciária da Papuda, em Brasília, o Deputado Federal, por Rondonia, Natan Donadon, foi julgado ontem por seus pares da Câmara dos Deputados, em atendimento ao parecer da Comissão de Constituição e Justiça daquela corte, favorável à cassação do seu mandato.

Só que, escudados e protegidos pela abjeta e imoral “votação secreta” (onde o parlamentar-votante não precisa se identificar), prevaleceu o corporativismo criminoso, e o bandido acabou não tendo o mandato cassado, como era de se esperar. Para tanto, contribuíram a ausência de 108 deputados e a abstenção de 41 outros, a fim que o quórum regimental de 257 votos fosse atingido.

Composta por 513 parlamentares, a Câmara Federal é uma das instituições líderes no repúdio da população, por conta da comprovada desonestidade da maioria dos seus membros (se muito, e olhe lá, uns 10% encaram a atividade parlamentar com seriedade) enquanto os demais estão atolados até o pescoço em negócios escusos, maracutaias e prevaricação, daí o “rabo-preso” e o conseqüente apoio a colegas mafiosos.

E a falta de seriedade e o sarcasmo são tão grandes que, apesar de ter chegado ao recinto algemado e saído idem, o bandido Natan Donadon gozou com a cara de todos nós ao reclamar, na tribuna (rindo), que a “xepa” (comida) servida no presídio precisava ser melhorada.


É ou não um tremendo cara-de-pau ???




Claudia Leitão – A dimensão econômica da cultura precisa avançar


A ex-secretária de Cultura do Estado do Ceará, a  pesquisadora e gestora cultural, Claudia Leitão foi uma das principais formuladoras e incentivadoras da Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura. A professora acredita que é avalia que o Brasil avançou na dimensão simbólica e cidadã nos últimos anos, mas ressalta que é preciso avançar no campo econômico da cultura.  

Alexandre Lucas - Quem é Claudia Leitão?

Claudia Leitão - Uma professora e pesquisadora brasileira, uma gestora cultural apaixonada pela reflexão sobre as políticas públicas de cultura, especialmente, sobre as conexões entre a cultura e o desenvolvimento. 

Alexandre Lucas -  Como se deu sua inserção no campo das Políticas Públicas para Cultura?

Claudia Leitão - Eu me graduei em Direito e, em seguida, em Música. A cultura e o conhecimento científico sempre atravessaram a minha vida. De início, através dos estudos da flauta, no Conservatório Alberto Nepomuceno, em Fortaleza. Depois, graças ao meu  doutorado em Sociologia na Sorbonne, em Paris. A descoberta da cultura, na perspectiva das políticas públicas, acontece dentro da minha trajetória acadêmica na Universidade Estadual no Ceará, quando coordenei a primeira especialização em Gestão Cultural. Mas, certamente, meu grande "mergulho" no universo das políticas públicas da cultura se deu quando fui secretária de cultura do Ceará, entre 2003 e 2006. Esses quatro anos mudaram meu olhar sobre meu Estado mas, também, sobre minha vida acadêmica. E esse "divisor  de águas" se dá quando, no início da minha gestão, inicio com minha equipe o  planejamento da Secult. O Plano, produto desse processo, tornou-se um documento fundador de nossa gestão, uma declaração política da nossa decisão de trazermos para o Estado a tarefa de liderança na formulação, implantação, monitoramento e avaliação de políticas públicas (e não governamentais,!) de cultura. O mais interessante foi a coincidência de termos, naquele momento, chegando ao MinC, o ministro Gilberto Gil. Esse "encontro" foi muito inspirador e resultou em muita cumplicidade entre o Ceará e Brasília durante quatro anos.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:

Claudia Leitão -  Minha graduação em Direito me levou a fazer mestrado em Sociologia Juríica na USP. Minha licenciatura em Educação Artística me instigou a fazer  doutorado em Sociologia na Sorbonne. Penso que essas formações que parecem díspares, são absolutamente necessárias e afins quando falamos em políticas públicas e gestão cultural.

Alexandre Lucas – Um dos focos da sua área de pesquisa é o desenvolvimento sustentável.  Qual a relação entre cultura e desenvolvimento?

Claudia Leitão - As relações entre cultura e desenvolvimento são antigas, mas a sua compreensão vem se transformando, especialmente, ao longo do século 20. De início, a cultura foi considerada uma variável determinista do desenvolvimento e, por isso, tornou-se praticamente um "fatalismo" a favor ou contra o chamado "desenvolvimento" de povos e civilizações. Essa visão foi responsável por inúmeras intervenções ou projetos equivocados de desenvolvimento, quase sempre "exógenos" e, por isso, distantes dos desejos das populações para quem foram destinados. Nas últimas décadas do século 20 e início do século 21, inicia-se uma etapa mais alvissareira nas relações entre cultura e desenvolvimento. Ela vai dar lugar a uma visão "endógena" do desenvolvimento, ou seja, a um "desenvolvimento com envolvimento" das comunidades e populações. Nesse momento, a cultura deixa de ser uma "condenação" mas passa a ser um a priori para o empoderamento e o protagonismo dos indivíduos. E mais. A cultura passa a ser considerada pela Convenção da Diversdade Cultural, produzida pela Unesco, como o quarto pilar do desenvolvimento, ou seja, a cultura passa a qualificar os modelos de desenvolvimento no novo século.

Alexandre Lucas – Como você avalia a políticas públicas para cultura no Ceará?

Claudia Leitão - Um dos problemas relativos às políticas públicas no Ceará, mas também em todo o pais, sejam essas políticas culturais ou não, é o relativo à continuidade ou à perenidade das mesmas. Políticas de Governo no Brasil ainda são compreendidas e tomadas como políticas de Estado. O resultado é que muitas políticas, programas e ações sofrem com sua descontinuidade. No plano federal, estadual e municipal essa problemática acontece e é danosa para o Brasil.
 
Alexandre Lucas - O que é a Economia Criativa?

Claudia Leitão - O conceito de economia criativa está em construção, especialmente no Brasil, um país que poderá liderar, na próxima década, a construção de um modelo de desenvolvimento local e regional para o mundo, a partir da formulação de políticas públicas para a criação, produção, circulação, difusão, consumo e fruição de bens e serviços culturais e criativos. A dinâmica econômica dos bens intangíveis não é a mesma da indústria tradicional. E, por isso, carece de estudos e pesquisas, para que sejam produzidos diagnósticos dos setores culturais, em suas especificidades, além da necessidade de se mapear as vocações regionais. Mas, não tenho dúvida que a diversidade cultural brasileira poderá se tornar um ativo econômico importante para a inclusão produtiva em nosso país.

Alexandre Lucas -   Uma das críticas a Economia Criativa é sobre risco de mercantilização da produção artística. Como Você ver essa questão?

Claudia Leitão - A ausência de políticas públicas que intervenham e estabeleçam regras para os mercados, acaba permitindo  que essas mercantilização se dê da forma radical e excludente. Por isso, é tarefa do Estado enfrentar as assimetrias produzidas pelo sistema capitalista, estabelecendo as " regras do jogo" para a economia,especialmente, para a economia da cultura, garantindo, enfim, sua sustentabilidade.

Alexandre Lucas -  A partir da gestão do primeiro Governo Lula o país vive uma nova conjuntura no campo das Políticas Públicas para Cultura, o que gerou um novo protagonismo dos movimentos culturais da cultura. Qual a sua percepção em relação a essa questão?

Claudia Leitão - Penso que a partir do Governo Lula, o Ministério da Cultura alçou novos patamares na formulação de políticas públicas para a cultura. O programa "Cultura Viva" é o exemplo de uma política cultural que privilegia e reconhece a ação dos pequenos, ou seja, daqueles que produzem cultura nos territórios mais longínquos do país. Mas, se o MinC avançou nas dimensões simbólica e cidadã da cultura, considero que a dimensão econômica necessita ainda avançar. Os desafios da Secretaria da Economia Criativa são grandiosos: produzir dados confiáveis sobre o campo cultural e criativo brasileiros, formar profissionais qualificados, oferecer fomento aos empreendedores criativos e definir marcos legais que permitam o florescimento da economia criativa brasileira.

Alexandre Lucas -  Um dos grandes  desafios para as políticas públicas para a cultura  é a criação de um marco legal que garanta a sustentabilidade financeira. Como é o caso da PEC 150 que prevê a garantia de 2% do orçamento da União, 1,5% dos Estados e 1% dos Municípios para a Cultura.  O que representa isso para o desenvolvimento do país?

Claudia Leitão - Aos poucos, o campo cultural vai conquistando garantias jurídicas. Os "direitos culturais", direitos de terceira geração, hoje são considerados direitos humanos fundamentais. A legislação recém aprovada do Sistema Nacional de Cultura é estratégica para o avanço da políticas públicas de cultura no pais. Mas, não acredito que a PEC 150 seja aprovada a curto prazo. De qualquer forma, outros marcos legais precisam ser criados, e talvez sejam mais viáveis a curto ou médio prazos. São marcos trabalhistas, previdenciários, tributários, civis, administrativos, entre outros. Precisamos de uma Frente Parlamentar da Economia Criativa Brasileira, antes que os chineses inviabilizem as dinâmicas econômicas dos nossps bens e serviços culturais.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Música pra adormecer saudades.


Disque "M", para matar - José Nilton Mariano Saraiva

Reconhecidos, aqui no Brasil, como um bando de arruaceiros irresponsáveis, meses atrás eles se mandaram para a Bolívia (quem financiou ???) e em pleno estádio adversário, durante um jogo de futebol, literalmente armados até os dentes para a guerra, estupidamente assassinaram um jovem adolescente boliviano (Kevin Spada, de 15 anos) que nem os conhecia.

Na oportunidade, doze dos integrantes da torcida organizada “Gaviões da Fiel” foram detidos e trancafiados pela polícia boliviana, por suspeita de homicídio (que deveria ser doloso e não culposo) e aí, sim, vimos quão covardes eram: choravam e miavam ante as câmeras de TV, alegando inocência (muito embora a imagem mostrasse claramente que o “sinalizador de navio” (???) houvesse sido disparado exatamente de onde se encontravam, na arquibancada, em direção à torcida adversária.

Contando com o beneplácito da imprensa paulista, a direção do Corinthians tratou de arranjar um menor de idade (já que inimputável) para assumir a responsabilidade pelo crime perpetrado, tese que não foi aceita de imediato pelas autoridades bolivianas.

Fato é que o auê foi tanto, a rasgação de seda tão intensa, que até o Governo Federal foi acionado para tentar a liberação dos marginais e, após poucos meses de idas e vindas, todos estavam livres, leves e soltos, prometendo bom comportamento, a partir de então.

Eis que no jogo Vasco X Corinthians, realizado em Brasília no dia 25 do corrente, os arruaceiros da Gaviões da Fiel partiram com tudo para cima da torcida do Vasco da Gama, confrontando, inclusive, a própria polícia. E aí – suprema ironia - as câmeras da TV “encontraram” um dos marginais que tinha estado preso na Bolívia dias atrás e que, após liberado, jurara se comportar.

A pena (???) proposta é que seja proibido de entrar nos estádios da vida durante certo tempo e, enquanto isso, os “Gaviões da Fiel” continuarão a afrontar e desrespeitar quem encontre pela frente.


Fato é que, ao liberar (por pressão do governo brasileiro) os responsáveis por um covarde assassinato, a justiça boliviana concedeu-lhe uma espécie de “senha”: assim, entre eles, basta que se  disque “M”, para matar. Até quando ???

"Deseducados" - José Nilton Mariano Saraiva

Independentemente do mérito (e há, sim) da medida adotada pelo Governo brasileiro em contratar médicos estrangeiros para atuar nos inóspitos rincões do país (lá naquele “interiozão” brabo), em razão da expressa “má vontade” dos profissionais formados aqui no Brasil em para lá se deslocarem (701 cidades foram recusadas, na fase primeira do programa “Mais Médicos”), afigura-se-nos esdrúxula e fora de propósito a atitude de dezenas de “doutores” que, em Fortaleza, apopléticos e deseducados, xingaram aos gritos de “incompetentes” e “escravos”, os médicos cubanos que aportaram por aqui, quando saiam de uma reunião de boas-vindas patrocinada pelo Ministério da Saúde.

Afinal, humanistas e sensíveis como o são (ou deveriam ser, até por exigência da própria profissão escolhida), nossos “doutores” (aqueles que participaram da manifestação) perderam uma boa oportunidade de mostrar à sociedade seu espírito desprendido e generoso, recebendo os colegas cubanos com fidalguia e companheirismo e, se possível, incentivando-os pela iniciativa.

Só que, ao partidarizarem a questão (o “cabeça” do movimento é um reconhecido inimigo dos governos Lula/Dilma) de forma inoportuna e apressada, objetivando atrapalhar uma ação governamental que tem por objetivo preencher lacunas em um setor reconhecidamente deficiente, esqueceram que os cubanos aqui chegaram para atuar não em procedimentos complexos e avançados e, sim, unicamente na atenção básica à saúde; não se constituem, pois, nenhuma ameaça de “concorrência” aos nativo-acomodados.


Torçamos, portanto, para que, assentada a poeira e desarmado os espíritos, se instale um clima de harmonia e colaboração entre os “doutores” brasileiros e cubanos. A população pobre e carente antecipadamente agradece. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A "novidade" - José Nilton Mariano Saraiva

Por paradoxal que pareça, a “novidade” aqui em Fortaleza já não é tão novidade assim, porquanto recorrente: mais um  escândalo nas hostes dos Ferreira Gomes.

É que, depois da compra milionária de centenas dos caríssimos carros Hiluxs, privilegiando uma determinada concessionária (que também se encarrega da manutenção dos mesmos); depois de construir o faraônico Centro de Eventos que custou R$ 400 milhões e de pagar mais de R$ 3 milhões ao tenor espanhol Plácido Domingos pra cantar durante meia hora na festa de inauguração; depois de refazer o Estádio Castelão, ao preço de R$ 530,0 milhões; depois de contratar por R$ 650 mil a cantora Ivete Sangalo, pra divertir a matutada na festa de entrega de um hospital em Sobral; depois de contratar um “buffet” pra servir comidas exóticas para uns poucos, ao preço de quase R$ 3,5 milhões durante um ano; depois de deixar de aplicar nas áreas caóticas da educação, segurança e saúde do Estado, preferindo construir um brinquedinho pra inglês se divertir (um tal de Aquarius) ao preço de R$ 350 milhões e cuja manutenção será caríssima; pois bem, depois de tudo isso, agora o senhor Cid Gomes, Governador do Estado, resolveu adquirir da empresa alemã MLW, sem a competente licitação, três potentes helicópteros (para seus deslocamentos e de agregados) ao preço de R$ 78,0 milhões, mesmo o Estado já possuindo alguns disponíveis. E o mais instigante e intrigante nisso tudo é que nos últimos 18 meses o Governo do Ceará, mesmo já tendo sua frota de helicópteros, gastou R$ 18,0 milhões em vôos comerciais, além de R$ 22,4 milhões com vôos fretados.

Enquanto isso - é bom não esquecer - das 184 cidades que formam o Estado do Ceará, em 180 foi decretado o estado de calamidade pública, em função da seca inclemente que castiga o homem interiorano (que pena com a falta d’agua e de comida).


E o suado dinheirinho do contribuinte escorrendo pelo ralo...