por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 9 de março de 2014

Postagem antiga, mas... atual - José Nilton Mariano Saraiva

UMA “ODISSÉIA NO ESPAÇO” – José Nilton Mariano Saraiva.

Nos confins do universo, navegando a uma velocidade supersônica na imensidão infinita do cosmos, no interior daquele insignificante artefato construído pela raça humana desenrolava-se um drama inimaginável: é que, através do recurso conhecido como leitura labial, “HAL” houvera descoberto que os até então fiéis companheiros de viagem tencionavam eliminá-lo da missão, silenciá-lo de vez, descartá-lo como um dos responsáveis pelo sucesso da empreitada, seguindo viagem sozinhos. A partir daí, então, depois de infrutíferas tentativas, ciente de que não poderia dissuadi-los a desistir de uma viagem que considerava inviável, “HAL” arquitetou e pôs em prática, paulatinamente, seu fulminante contra-ataque, que culminou por levar o homem (um único sobrevivente) a romper sua dimensão temporal, transportando-o a uma outra galáxia, uma outra dimensão, onde ele, homem, morre e, paradoxalmente, renasce para a vida, começando tudo de novo, só que longe do seu habitat natural.

Sem qualquer pretensão literária, este é um resumo enxuto de uma das maiores obras de ficção científica já produzidas pelo homem, o filme “2001-Uma Odisséia no Espaço”, narrativa premonitória das dificuldades que, no futuro, o homem (tripulantes de aviões ou uma nave espacial) teriam que enfrentar quando tivessem que “bater de frente” com sua própria criação: a máquina inteligente, o computador “HAL”. Enfim, o célebre conflito criador X criatura.

Produzido numa época em que ainda não existiam os famosos “efeitos especiais”, onde o aparato e instrumental tecnológico era uma brincadeira de criança em comparação ao existente nos dias atuais, onde a limitação orçamentária era uma realidade, e sem contar em seu “cast” com nenhum ator famoso capaz de chamar bilheteria, “2001-Uma Odisséia no Espaço” nos mostrava, lá atrás, no hoje distante 1968, a tenebrosa perspectiva de que um dia a “criatura” enfim se rebelasse contra o “criador”, quer que por mero “ciúme” ou, então, pela não aceitação de manter-se “subjugado” a uma “mente inferior”.

A reflexão acima vem a propósito da recente tragédia aérea com a portentosa máquina voadora Airbus, da Air France, dotada com o que há de mais moderno em termos tecnológicos, e em duplicidade (numa tentativa de prevenir qualquer surpresa desagradável), mas que, desaparecida misteriosamente de uma hora para outra, quando empreendia a corriqueira travessia (considerando-se os padrões atuais), do Oceano Atlântico, na ligação entre o continente sul-americano e a Europa.

Estupefatos com a ocorrência e a real perspectiva só agora confirmada da morte dos seus 228 ocupantes, especialistas do mundo inteiro se debruçaram sobre pranchetas, mapas e a vasta literatura pertinente e se puseram, num primeiro momento, a aventar as mais diversas versões na tentativa de justificar a tragédia: turbulência pesada no interior de uma nuvem “cumulus nimbus, de extensão e resistência invulgares, trazendo por conseqüência descargas elétricas assustadoras, ventos com velocidade inimagináveis e capazes de desestabilizar a máquina, congelamento de sensores vitais da aeronave e por aí vai. 

Refeitos do impacto, descobriu-se que a própria máquina, teoricamente preparada para “agüentar o tranco”, sem que houvesse qualquer interferência humana houvera emitido mensagens diversas ao centro de controle, dando conta da ocorrência de uma possível “pane” em um dos seus três principais computadores centrais, gerando conflito de dados e informações e fazendo com que o sistema elétrico entrasse em absoluto processo de falência, comprometendo a navegação automática; como os painéis de orientação simplesmente “pifaram (ou se apagaram), o comando manual tornou-se impraticável, já que sem saberem da velocidade, altura, temperatura externa e outras varáveis absolutamente necessárias, piloto e co-piloto se viram diante da tétrica e assustadora realidade de um vôo absolutamente cego, na escuridão da noite cósmica e tendo abaixo a imensidão do Oceano Atlântico. Algo simplesmente apavorante, de arrepiar.

Agora, ante a perspectiva real de a aeronave ter se desintegrado (por “EXCESSO” de velocidade, que comprometeria sua estrutura) ou simplesmente ter despencado lá de cima de encontro ao oceano (por “INSUFICIÊNCIA” de velocidade, que a desestabilizaria em termos de sustentação), o fato é que talvez nunca venhamos a saber realmente o que aconteceu naqueles momentos aterrorizantes vivenciados por nossos irmãos de mais de trinta nacionalidades, já que as famosas “caixas pretas” (de aproximadamente 50 centímetros de comprimento) dificilmente serão localizadas no fundo do mar.

As perguntas que se impõem são: se, lá atrás (1968), já se ventilava, embora por mera ficção, a perspectiva de falha ou “rebeldia” do computador e, agora, existe a quase certeza que a ficção tornou-se uma dolorida e cruel realidade (um dos computadores “discordou” dos demais e forneceu dados que “baratinaram” todo o sistema de navegação), será que viajar de avião ainda é mesmo o meio mais seguro ???

Quantos “vôos cegos” são realizados, diuturnamente, sem que saibamos se as empresas proprietárias guardam algum sigilo sobre uma possível iminente catástrofe, em razão do componente econômico, como se está a duvidar que a Air France disponha de tais (informações) e jamais as divulgará por mera conveniência mercadológica ???

Post Scriptum

Postagem de meses atrás. Fato é que comprovado restou, depois de surpreendentemente encontrarem a “caixa-preta” no fundo do mar, que o congelamento de um simplório “sensor” externo impossibilitou a tripulação de informações básicas; mesmo assim, houve erro dos tripulantes ao “subirem”, ao invés de “descerem”, na tentativa de se livrar da tormenta.

"777" - José Nilton Mariano Saraiva

O “777-200” não é um aviãozinho qualquer. Com capacidade para 400 passageiros e pesando milhares de toneladas, atinge a estupenda velocidade de 950 km horários e é dotado do que há de mais moderno e revolucionário em termos tecnológicos. Difícil imaginar, pois, que uma máquina tão portentosa desapareça assim, sem mais nem menos, no trajeto “Malásia-China”, com 239 pessoas a bordo.

E, no entanto, a infausta notícia oriunda da Ásia é de que essa maravilha tecnológica, depois de apenas duas horas de vôo e, evidentemente, já em velocidade de cruzeiro, simplesmente haja desaparecido dos radares e, provavelmente, despencado lá de cima e mergulhado nas profundezas do Oceano.

O que teria acontecido: falha humana, defeito técnico ou atentado terrorista ??? Afinal, essas são as únicas opções de um acidente aéreo e, somente se encontrarem a “caixa-preta” da aeronave no fundo do Oceano se terá ciência do ocorrido (lembremo-nos do acidente do voo Rio-Paris, meses atrás, quando conseguiram resgatar a “caixa-preta” do fundo do mar, possibilitando a constatação de que, além da falha técnica, houve erro grotesco do piloto e co-piloto ao levarem o avião para o centro de uma tormenta meteorológica de proporções alarmantes).   
  
Fato é que, embora o transporte aéreo ainda se nos apresente como o que oferece mais segurança, comodidade e rapidez, quando uma tragédia de tamanha proporção acontece, ceifando a vida de tanta gente, é que entendemos da nossa insignificância.

Pessoalmente, já passamos por uma experiência um tanto quanto desagradável e traumática, no tocante a viagens aéreas, quando o avião que faz a rota Fortaleza-Juazeiro, depois de tocar o solo, “arremeteu” de forma abrupta e violenta. E, durante aproximadamente cinco minutos, depois de um silêncio sepulcral, onde só se ouvia o chororô de alguns e as preces de outros, finalmente o pouso se fez. Na saída, como ninguém se manifestou, indagamos dos “simpáticos” componentes da tripulação, postados à porta, o que houvera ocorrido. A resposta: “uma lufada de vento muito forte, daí o comandante preferir arremeter”. Como não “deglutimos” aquele argumento, dia seguinte ligamos para o “0800” da empresa Avianca e, para nossa surpresa, a desculpa foi a mesma.


Agora, aqui pra nós: vento no interior do Ceará, em dia de sol brabo, sem nuvens,  capaz de desestabilizar uma aeronave pesando toneladas ??? Claro que o comandante jamais colocaria em seu relatório que falhou feio, colocando a vida de dezenas de pessoas em perigo. Mas foi isso o que aconteceu. 

sábado, 8 de março de 2014

"SE..." - José Nilton Mariano Saraiva

“Hilária” (mas se alguém optar por considerá-la “patética”, sinta-se à vontade), a manifestação de um adepto de Cícero Romão Batista quando, inconformado em razão da Infraero haver suspendido a liberação de determinada verba para a ampliação do aeroporto da cidade, saiu-se com essa pérola (realmente digna de um almanaque humorístico) num dos blogs do Cariri:  (ipsis litteris) “...se Padre Cícero ainda fosse o prefeito de Juazeiro esta cidade teria sido escolhida como sede de jogos da Copa, ganharia um novo e luxuoso Romeirão e o nosso aeroporto seria internacional e já estaria concluído. Ah, Como Padre Cícero faz falta”. Como se vê, autentico supra-sumo do “fanatismo” puro e desbragado, beirando às raias da insanidade e da estupidez.
Sim, porque a verdade é que se aquele “mitômano” (Cícero Romão Batista) vivesse na atualidade e adotasse o mesmo “modus operandi” de sua época, de uma coisa tenhamos certeza: teria de enfrentar um Ministério Público Federal e uma Polícia Federal atuantes e expeditos, que decerto o deteriam por improbidade administrativa, enriquecimento ilícito, corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha e outras irregularidades (e não precisaria nem ser julgado sob a égide da teoria  “domínio do fato”).
Aliás, o próprio “testamento” do referido o põe a nu, incriminando-o, porquanto nos expõe um patrimônio generoso e exuberante, incompatível com o seu “statu quo” (fontes de renda ou origem dos recursos).
Há que se atentar, ainda, que quando usou e abusou da coitada da Maria de Araújo, debilitada e assustadoramente doente (expelia sangue pela boca recorrentemente), “obrigando-a” a participar na capela do Socorro da encenação que ficou conhecida como o “milagre da hóstia” (foram 93 “apresentações” no espaço de 02 anos, ou 04 vezes por mês, ou mais precisamente, 01 vez por semana – vide jornal O POVO, de 19.01.14, página 38), outro não era seu objetivo senão beneficiar-se pessoalmente (na tentativa de cristalização de uma farsa grotesca). Só que, em assim procedendo, implicitamente assumiu a responsabilidade de levá-la a óbito prematuro, como de fato aconteceu, aos 51 anos de idade.

Sugestão para reflexão no próximo seminário sobre o dito-cujo: deixar de lengalenga e conversa fiada, examinando, à luz do Direito, se teria havido “dolo eventual” em tal procedimento. 

terça-feira, 4 de março de 2014

FUCK U.E* (Vitória Nuland - Subsecretária de Estado Americana) - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Não os temais, pois não há nada encoberto que não venha a ser revelado e nem oculto que não venha a ser conhecido. Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meu discípulo, e a verdade vos libertará.”
Evangelho de São Mateus e São João.
“Em um mundo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário.”
George Orwell.
Cada pequena vela acende um canto do escuro.
Roger Waters

O momento é muito grave. O que acontece na Ucrânia, na Síria, na Venezuela, no Egito e em muitos outros lugares acontecidos, em acontecimento e por ainda acontecer tem um denominador comum: a mão dos Estados Unidos da América. E, principalmente, os Estados Unidos não atendem mais aos interesses do seu povo: são apenas as marionetes das grandes transnacionais, bancos e corporações.
Quando Snowden revelou toda a trama de espionagem daquela máquina de estratégias, sabotagens e perseguições estava marcado um poder antipopular que atende aos interesses somente de uma minoria (os famosos 1%). Logo o território mais livre que se conseguiu em termos de debate se mostrou um grande embuste manipulado e vigiado por forças que desejam dominar a liberdade de todos.

Esta contradição permanente entre o livre pensar e o controle totalitário (ao estilo big brother) é um móvel dramático do início desse século XXI e é uma longa herança do século passado. Acontece que os grandes e universais meios como os livros, o teatro, o rádio, a televisão, o cinema e agora a internet (que é uma telecomunicação) são instrumentos que facilitam a promoção de controles, manipulações e poderes centrais totalitários.

Esses meios atingem muito rapidamente grandes massas populares usando técnicas de psicologia social, levantando mitos culturais, estimulando ódios antigos e trazendo para o presente aberrações anacrônicas qual o antissemitismo, a perseguição de africanos na Europa, o ódio dos ucraniano aos russos como é o último rastro de ódio e sangue.

Organizações políticas de direita se multiplicam pela Europa, em grave crise econômica, desemprego e quebra dos direitos sociais. O denominador comum destas organizações é o nacionalismo com forte ação de xenofobia. A xenofobia é o denominador comum da direita europeia em seus vários matizes.

Acontece que temos desde uma direita democrática que aceita o jogo das contradições até a extrema direita, violenta, do tipo fascista, que não tem limites para a ação de causar danos ao que consideram o inimigo. Em situações de descontentamento popular em relação aos governos esta direita violenta se impõe sobre a maioria. Afasta os lideres moderados e ocupa a cena principal.

Na Ucrânia quem venceu foi a extrema direita manipulada por agentes estrangeiros e certamente pelo papel financiador e estimulador dos EUA que pretendem causar prejuízos à Rússia. Criar uma inquietação na fronteira da sua velha inimiga. A única nação que ainda se contrapõe ao jogo da política externa americana, como no caso da Síria. Este é o jogo político internacional de extrema gravidade.

Muita gente não sabe. Mas quem venceu a segunda guerra mundial foram os Russos. Os americanos fizeram corpo mole sem entrarem na Europa até quando o grande exército russo estava na fronteira da Alemanha. Eles apostaram no desgaste humano e de materiais da União Soviética para que restasse aos EUA, ao final da guerra, uma hegemonia inquestionável.


Não foi o que aconteceu até os anos 90. Mas adveio a crise econômica, a União Soviética destroçada, a União Europeia se compondo e a China crescendo. Esse é o quadro que desemboca nesse ano de 2014, com uma farsa de guerra fria e uma tragédia de terceira guerra mundial que ninguém mais imaginava. 

* Tradução: FODA-SE UNIÃO EUROPEIA

domingo, 2 de março de 2014

Revista "VEJA!"

‘Preferiria não’: a resposta da socióloga Silvia Viana ao pedido de entrevista da Revista Veja


Veja a resposta da socióloga Silvia Viana, autora de “Rituais de sofrimento” à revista Veja.

Ao final ela conclui ao estilo do personagem de  Bartleby (o Escrivão), do escritor Herman Melville: “prefiriria não”.

Procurada pela segunda vez pela revista semanal ‘Veja’ para uma entrevista sobre o BBB14, a socióloga Silvia Viana, disse ao jornalista:

“Respondo  ao seu e-mail pelo respeito que tenho por sua profissão, bem como pela compreensão das condições precárias às quais o trabalho do jornalista está submetido. Contudo, considero a ‘VEJA’ uma revista muito mais que tendenciosa, considero-a torpe. Trata-se de uma publicação que estimula o reacionarismo ressentido, paranóico e feroz que temos visto se alastrar pela sociedade; uma revista que aplaude o estado de exceção permanente, cada vez mais escancarado em nossa “democracia”; uma revista que mente, distorce, inverte, omite, acusa, julga, condena e pune quem não compartilha de suas infâmias – e faz tudo isso descaradamente; por fim, uma revista que desestimula o próprio pensamento ao ignorar a argumentação, baseando suas suposições delirantes em meras ofensas.

Sendo assim, qualquer forma de participação nessa publicação significa a eliminação do debate (nesse caso, nem se poderia falar em empobrecimento do debate, pois na ‘VEJA’ a linguagem nasce morta) – e isso ainda que a revista respeitasse a integridade das palavras de seus entrevistados e opositores, coisa que não faz, exceto quando tais palavras já tem a forma do vírus.
Dito isso, minha resposta é: Preferiria não”.

Atenciosamente, Silvia Viana

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O PODER REAL E O PODER FORMAL


Aquela velha estória de manda quem pode obedece quem tem juízo continua valendo, apenas não fica claro qual poder o mandante ou o obediente dispõe. Às vezes o poder aparente de uma arma de fogo é neutralizado pela coragem do desarmado ou pelo preço a pagar se realmente o feito for realizado. Como por exemplo, no fato ocorrido ao final de uma festa nos anos 60 do século passado em frente ao Clube Internacional do Recife. Em disputa por uma bela moça, um dos pretendentes sacou um revólver, o outro imediatamente se aproximou e gritou: Eu compro! Revólver que atira sozinho eu compro! O valentão armado não atirou, desmoralizado foi tirado dali pelos amigos. (não vou citar nomes).  Nos macros acontecimentos da história, talvez sem o humor, algo parecido acontece. Do ponto de vista estritamente militar, fica claro que os vietnamitas não eram páreo para os Estados Unidos, no entanto, os vietnamitas ganharam a guerra. Que houve então? Os norte-americanos perderam a guerra politicamente. Os vietnamitas, cientes de suas carências militares, apelaram para a guerra de guerrilhas, de cansaço e desgaste. Para começar, inverteram o conceito de tempo nas guerras. Quase sempre, premidos pelos ministérios da economia de seus países, os generais contam com a pressa para a conquista da vitória. No caso vietnamita, eles de fato dispunham de tempo. Até a saída do último norte-americano em 1976, os vietnamitas já tinham experiência de quase mil anos de guerras. Guerras contra vizinhos e invasores. Os invasores mais perigosos e famosos foram os japoneses, franceses e norte americanos. Com tempo à disposição, os vietnamitas iniciaram a longa campanha internacional de divulgação dos horrores da guerra,  principalmente  denúncia dos crimes praticados em seu território. O número oficial de 58.000 norte-americanos mortos podia ser maior, pois existia por parte do comando de guerra vietnamita uma diretriz que orientava seus combatentes a não matar o inimigo e sim feri-los. De forma que foram cerca de 150.000 feridos levados de volta para casa. Foram mais de 200.000 famílias com alguma vítima direta do conflito. Era questão de tempo o início do questionamento da necessidade da guerra. Os vietnamitas praticamente ganharam a guerra dentro do território americano. A partir daí os americanos impuseram feroz censura em todos os conflitos que participam. Nem a solenidade da volta dos mortos é divulgada, como era antes. No caso das regiões produtoras de petróleo, a partir do final da 2ª segunda guerra mundial  todos os ditadores, reis etc. foram entronizados pelas grandes potências, o poder estava firme nas mãos das grandes refinarias de petróleo, estas quase sempre longe das fontes produtoras. Precisavam de representantes locais para fazer o serviço sujo. Com o passar do tempo, os antigos amigos começam a questionar a obediência cega às matrizes, tornam-se inconvenientes, precisam ser substituídos. A fonte de poder (petróleo) continua dentro desses países, daí a necessidade de armas e guerras para controlar a situação. No caso do Brasil, a situação é semelhante, como nos tornamos grandes produtores de commodities e matérias primas (algumas perecíveis) quase que unicamente para exportação, a fonte de poder está longe daqui, está no controle das bolsas de valores dessas commodities (açúcar – Londres; cereais – Chicago; ferro – Nova Iorque etc). É suficiente uma pequena alteração (artificial ou não) nas cotações dos preços para desestabilizar economicamente qualquer país que não esteja preparado para esses contratempos. Um dos motivos da onda de golpes militares no mundo patrocinados pelos EUA nos anos 50 e posteriores do século passado era exatamente montar a política de dependência econômica desses países, o máximo permitido seria um desenvolvimento industrial secundário. No Brasil a meta foi alcançada no final dos anos 70 do século passado, não havia mais necessidade da presença de militares amigos no governo.  O Brasil passa por um momento de afirmação, com a produção do pré-sal, o jogo do poder pode mudar, a fonte de poder voltando, pelo menos em parte, para dentro das nossas fronteiras. Do ponto de vista dos EUA, isso seria muito desagradável. Daí talvez, toda essa campanha mundial de desestabilização, não só no Brasil como de governos potencialmente capazes de pensar um pouco diferente e procurar caminhos próprios. Afinal colocar vassalos para tagarelar contra o governo e financiar desordens é barato e fácil de operar, nisso a CIA têm muita experiência e parece que está aplicando no momento.
Escrito por José Almino A. A. Pinheiro

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Recuerdos de Ypacarai - José do Vale Pinheiro Feitosa

A narrativa da composição de Recuerdos de Ypacarai foi retirada do Portal Guarani a partir da qual veio o texto, a música e a montagem. Aumentar a tela ajuda a ler. Aproveitem.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

SÓ EXISTIREMOS SE TIVERMOS TERRA - José do Vale Pinheiro Feitosa

O parque Nacional Indígena do Xingu foi criado em 1961 pelo Presidente Jânio Quadros. Tem 27 mil quilômetros quadrados, na área de influência dos rios formadores da bacia do Xingu, fica na região norte de Mato Grosso numa zona de transição entre o Planalto Central e a Amazônia. O parque foi o resultado da luta dos irmãos Villas Boas (Orlando e Claudio) que viajavam para a região desde os anos 40. Quem redigiu o projeto foi Darcy Ribeiro, então funcionário do Serviço de Proteção ao Índio. E recebeu o apoio de figuras de uma grandeza humana que são ricas pela narrativa e um espelho para estimular a juventude a ser ousada e humana muito além desse individualismo consumista. Falo do Marechal Rondon e do Noel Nutels.

O Marechal Rondon é herói na acepção da palavra. Um herói da transformação e ocupação humana e econômica do vastíssimo território do oeste brasileiro. Até então o Brasil era tão somente uma tripa litorânea que ia de Belém a Porto Alegre (sei não são bem à beira mar). Existe uma vastíssima literatura sobre Rondon. Noel Nutels, o chamado índio Cor de Rosa (Orígenes Lessa escreveu um livro com este nome evocando Noel.)

Quero dizer que tenho histórias fantásticas do Noel Nutels. Trabalhei num setor do Ministério da Saúde junto com a equipe do Noel. Mas vou apresentar breves traços de sua história: nasceu na Ucrânia, membro de uma família judia que migrou para Recife. Lá ele completa a infância, forma-se em medicina e vai morar em São Paulo e é o médico da primeira expedição Roncador-Xingu em 1943. Enfim: aproveita a expansão do Correio Nacional (serviço da aeronáutica para transporte de postagens) o dirige para as selvas, onde em clareiras era deixado com uma equipe e passava meses cuidando dos índios que eram dizimados por doenças de brancos.  

Terra quando pela primeira vez examinou as fotografias daquela, agora, pequena bola azul,
tão solitária no infinito e o poeta saudoso do seu exílio então atrás das grades de uma prisão

O que restou do povo Juruna (no século XIX eram dois mil) vive em sete aldeias, próximas à Br-80 no baixo Xingu. Em 2001 o que haviam sido se reduzira a 241 pessoas mas isso já era uma recuperação demográfica (no final da década de 60 eles eram 50 membros, a maioria jovens). A língua deles pertence ao tronco tupi e existe uma denominação que a chama de yudjá (significa dono do rio) mas é dada por outros povos. A palavra juruna é um termo nheengatu dada ao povo há vários séculos, que se traduz como “boca preta” que era uma tatuagem perene na face. Essa tatuagem foi registrada há 150 anos, mas deixou de ser usada e o povo juruna desconhece que existiu um dia.  

Antes de seguir adiante: o nheengatu foi a segunda língua geral criada no Brasil e era mais amazônica, a outra foi a paulista. Quando os europeus penetraram o interior e foram criando uma economia sedentária, foi-se criando a partir do tupi-guarani uma língua que pelo isolamento em relação à Europa foi tomando corpo e se tornando a língua nacional (como vivos foram duas). O Marquês de Pombal recriando as estruturas coloniais obrigou o ensino do português. Mas era pelas línguas gerais que as diversas etnias se comunicavam.

No anos 70 um índio da etnia Xavante se denominando Mário Juruna, assim como o menino que disse que o rei estava nu, expôs as ditadura e seus líderes. E foi de uma simplicidade fantástica. Com um gravador. Dos primeiros gravadores portáteis e à pilha. Juruna desmentiu todas as falsidades dos membros do governo apenas usando como instrumento o gravador.

Ele ia a Brasília para reivindicar coisas para o seu povo. Chegava ao gabinete e gravava a conversa com a autoridade. Então falava com os repórteres sobre o que haviam prometido e dito. Resultado o gravador do Juruna passou a ser o desmascaramento da mentira oficial.  Os jornalista para provocarem, perguntavam a razão do gravador e ele respondia: “Para registrar tudo o que o homem branco diz.” A repercussão foi tal que o jornal O Pasquim chegou a entrevista-lo. E foi uma boa entrevista ele era muito inteligente, com respostas rápidas e de muito bom humor.
Um Índio - música de Caetano Veloso aqui cantada por Milton Nascimento

Em próximas postagens pretendo falar mais do que ouvi sobre Noel Nutels e relatar um dia inteiro em que passeie com Juruna pelo Rio, com direito a almoço aqui em casa. Mas antes vou deixar mais uma frase do Juruna para adoçar a amargura desses deslumbrados com o Agronegócio.


ANTES DE TUDO, O ÍNDIO PRECISA DE TERRAS. ÍNDIO É O DONO DA TERRA. ENTÃO, O BRANCO DEVE RESPEITAR A TERRA DO ÍNDIO”.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

De "plantões" e "prendas" - José Nilton Mariano Saraiva

A notícia, inserta no jornal O POVO, de 23.02.14, apenas confirma publicamente aquilo que todo mundo sabe, mas tem medo de exteriorizar: no Poder Judiciário, que deveria constituir-se um poder acima de qualquer suspeita, a corrupção também se faz presente. E em seus escalões superiores, usando expedientes suspeitos.

É que determinadas bancas de renomados advogados de Fortaleza espertamente optam por impetrar “habeas corpus” junto ao Tribunal de Justiça do Estado, em favor de bandidos de alta periculosidade (já presos), só e exclusivamente só, quando dos plantões judiciários de finais de semana (no fim do ano passado, houve a tentativa de liberar pelo menos três criminosos de uma quadrilha especializada em assaltos, seqüestro e tráfico de drogas, reincidentes no mundo do crime e que já haviam sido condenados em pelo menos um processo).
E tem mais:  01) na busca para tentar evitar a liberação “legal”, os advogados dos bandidos apresentaram mais de um pedido de habeas corpus para o mesmo criminoso numa tentativa de confundir o sistema de distribuição eletrônica e chegar ao “desembargador do acerto”; 02) em um dos casos, três advogados diferentes (contratados pelo mesmo escritório) repetem a solicitação em datas distintas; 03) apurou-se também que alguns escritórios de advocacia esperam por plantões específicos de determinados desembargadores - a lista dos escalados para cada plantão passou a ser pública, por determinação do Conselho Nacional de Justiça.
Para tanto, sabem quanto era a “prenda” de Sua Excelência o Desembargador de plantão ??? De apenas e tão somente "irrisórios" R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) por cada “habeas corpus” deferido (em um mesmo plantão do TJCE, nada menos que 64 recursos foram apresentados).


Descoberta a maracutaia,  pelo menos duas investigações estão em curso no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e outras para serem encaminhadas. O desembargador Gerardo Brígido, presidente do TJCE não quis comentar o assunto. Limitou-se apenas a dizer que os fatos estão no CNJ.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

"Cunhado generoso" - José Nilton Mariano Saraiva

      Lembram de Patrícia Saboya Gomes, ex-mulher de Ciro Gomes e cunhada do Governador Cid Gomes ??? Pois bem, sem nenhuma experiência na área, foi nomeada recentemente “reitora” da Universidade do Parlamento (deve ter alguma remuneração);
      Mesmo desprovida do “douto saber”, necessário e exigido, será nomeada (na próxima semana) pelo cunhado, governador Cid Gomes, conselheira do Tribunal de Contas do Estado, cargo vitalício e que paga algo em torno de R$ 25 mil mensais; para tanto, os “cordeirinhos” da Assembléia Legislativa (deputados aliados) já garantiram a aprovação da mensagem governamental.
      Não esquecer que, quando Senadora da República, notabilizou-se porque fez tanta traquinagem num voo internacional (junto com uma amiga) que o comandante da aeronave, lá de cima, pediu à policia de Roma, aqui embaixo, para recepcioná-las quando pousasse. Ficou retida até que a diplomacia resolvesse o problema.
      Com relação à sua vida parlamentar, como vereadora, deputada e senadora, sempre foi de uma nulidade a toda prova, autentico zero à esquerda. Tentou a prefeitura de Fortaleza em mais de uma oportunidade, mas o povo não permitiu.

      Dedução disso tudo: nada mais legal do que ter um cunhado generoso. Né não ???

Ação entre amigos - José do Vale Pinheiro Feitosa

Estamos lendo, por meio de uma grande revista, a condenação de uma prática. Aquela porta giratória em que o sujeito e o predicado trocam de lugar o tempo todo. Terminam pelo que se chama de ação entre amigos. Um grupo se organiza para dominar uma área do Estado e dele extrair vantagens financeiras. Este fenômeno foi largamente identificado pelos americanos quando criaram as Agências Reguladoras. O nome técnico foi de captura do agente regulador. É isso que se encontra há muitos anos no corpo da burocracia estatal, seus programas e atividades (ouvi longos relatos sobre Sebastião Camargo e contratos com a Aeronáutica ainda no princípio do anos 50 do século passado).  

Existe uma proteção fenomenal da prática. Ela acontece dentro de partidos políticos que permeiam vários governos e pela alternância de poder podem ter acesso à famosa caneta que assina. Um dos parafusos desta prática é o financiamento privado de campanhas eleitorais (que estão cada vez mais caras. Um vereador de município com menos de 40 mil habitantes do interior do Ceará pode gastar até duzentos mil reais para se eleger.

E no campo da sociedade a prática adquire um valor simbólico, que a legitima de alguma maneira, pela denúncia que estimula a alternância. A denúncia é uma das medidas mais adequadas justamente para o sistema funcionar sempre, mesmo com outros atores. Salvo denúncias surgidas das áreas de controle externo ou dos tribunais de conta, o que funciona mesmo é quando um agente privado se sente prejudicado nesse jogo, usa a imprensa para gerar o escândalo. Que tem repercussão política sobre candidaturas, mas nem sempre contra o partido, força as peças para que o jogo continue a funcionar. Continuar com os negócios proveitosos com o Estado.

Esse caso mesmo que Carta Capital tão bem demonstra, que irá gerar acusações contra o PSDB, inclusive com o viés de revanche, dado que este partido se tornou uma UDN a denunciar nos outros as práticas que o movem. Mas movem também grandes partidos e inclusive o PT que se dizia tão diferente. O PT usou tanto o expediente que Darcy Ribeiro chegou a denominá-lo de "UDN de macacão." E agora o que estamos falando?

Que a "ação entre amigos" é comum em todos os governos, em obras públicas, serviços de manutenção, serviços de propaganda e marketing (que na verdade é a chamada comunicação), serviços de informática, serviços terceirizados de toda ordem e nas ONGs e OS. Estas duas últimas modalidades chegam a ser fatiadas entre aliados para que gerem recursos para a continuidade do "partido" a ocupar o poder.

É nessa questão que a política, a verdadeira política, deveria agir. Encontrar mecanismos que economizem recursos e com os quais os ralos sejam vedados. E, claramente, isso não é pós-fato, a vociferação de tribunais, o denuncismo, a escaramuça para tirar vantagens e gerar manchetes. A revisão da lei de licitações é uma grande questão. Não só a transparência é necessária, como a participação no processo mesmo é necessário. Há que se reduzir a burocracia que serve para esconder os malfeitos. Entre outras medidas que reduzam a "captura da verbas públicas" pela "ação organizada entre amigos". Acrescentando evidentemente o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais. 

Vejamos um paralelo com o que citado sobre os governos do PSDB e o desperdício da água. Quando o atual Ministro da Saúde foi nomeado, setores do PSDB denunciaram esta porta giratória entre ele com agente público e sua empresa privada de consultoria. Qual a resposta principal do Ministro? Transferir a empresa para a esposa. Nada mais cínico. Mesmo que ele não receba grandes volumes de dinheiro pelas consultorias que presta aos governos, que sejam migalhas frente a essas denunciadas pela Carta Capital, o que se verifica é a universalidade da prática nos agentes públicos dos governos de muitos partidos. 


Inclusive do PSDB e do PT, mas não só deles. Apenas se destacam por serem os principais partidos em disputa no país. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Chá Chá Chá da vida - José do Vale Pinheiro Feitosa

Que importam as eras. Uma criança sempre chega à sua por memórias que se condensam em símbolos. Em símbolos que se misturam ao ser, que dão sentido a ele ao dispô-lo num plano, nem sempre uma linha de tempo, mas meteoros que riscam o céu.

O velho Cine Moderno. A porta que dava para os banheiros vazava luz nas sessões matinais e a plateia gritava: feche aí. Lembro como se fosse uma extensão de mim. Aquela plateia da sessão de uma hora, muito chegada a uma série, a um cowboy preto e branco. Aos gritos, vaias e piadas.

E de repente uma cena no meio de um tumulto sem fim. Todas a gafes de doer a barriga de tanto riso.  E aconteceu destas raras sessões, que abriam o universo do século XX para o menino que vivia num tempo de passagem entre o século XVII e XIX. Se bem que com inúmeros símbolos a lhes rodear a vida: máquina a vapor do engenho, o trator, os automóveis e caminhões e até os restos do que fora no passado uma iluminação elétrica.

O cena era uma tumulto qualquer, de filme que marcou-se como Mexicano, mas poderia ser de qualquer outro país e a música devia ser Chá Chá Chá de La Segretaria. Ou então não foi no cinema foi no rádio. Mas o símbolo que se marcou foram as sessões das 10 e 13 horas no Cine Moderna.


Fui a muito poucas. Assim era a vida de um menino de sítio. Mas foram suficientes para serem muitas. E o Chá Chá cuja cena lembro com muito riso é uma canção de Renato Carosone.

Chá Chá Chá de la Segretaria - Renzo Arbore - composição Renato Carosone.

Renato Carosone é o encontro entre as culturas pela divulgação do disco e rádios. Renato Carosone compõe um cha cha. Ele um napolitano típico. Um dos mais reconhecidos músicos italianos na metade do século XX. Formado em Conservatório de Música, Carosone viveu a migração italiana que foi para o chifre da África. Especialmente com aventura de Mussolini na Etiópia. E Carosone ficou por lá. Só voltou à Itália após o fim da guerra. Formou grupos musicais de grande sucesso.

Um dos sucessos mundiais de Renato Carosone foi este que segue abaixo:

Tu vuo fa L´Americano - Renato Carosone com vemos uma letra em puro dialeto.


Aqui a mesma canção num filme americano em que aparece Sofia Loren.

O chá-chá-chá é uma variação do Mambo. É cubana da gema. Como é típico daquela cultura é uma música e uma dança. Assim como o mambo, o merengue e outros ritmos cubanos. Quem a lançou foi o músico cubano Enrique Jorrin. A música fundadora do ritmo seria La Engañadora.

La Engañadora - Orquestra Americana - Enrique Jorrin.

O nome chá-chá-chá vem do ruído do reco-reco que em Cuba chama-se güiro juntando-se ao ruído do dançarino arrastando os pés no chão.

Renzo Arbore é um artista multi-disciplinar. Conduziu grandes programas na televisão, especialmente humorísticos, que lançou grandes nomes da cultura italiana, incluindo Isabela Rosselini. Um showman de primeira. Domina o palco como poucos. Diretor de cinema. Músico. Cantor. E fundou a orquestra italiana com 15 músicos para divulgar a canção napolitana. Aqui novamente a abertura musical do povo italiano, com uma melodia que um samba brasileiro sem defeito algum. Além do mais bem humorado pondo o som da sílaba final da cacau em todas as palavras.

Cacao Meravigliao - Renzo Arbore

As chancas de Alphonsus



                                       
J. FLÁVIO VIEIRA

                                               Alphonsus Publius Catarinus Maximus !  Esse nome, carregado de um latinório trava-línguas, poderia fazer parte da Mitologia Romana. Como diabos teria aterrissado em Matozinho ? Primeiro, é importante lembrar que o nosso Alphonsus  não trouxe esse epíteto da pia batismal. Nascera, sem sangue azul, molhando fraldas esfarrapadas, como muitos dos seus conterrâneos. Ainda adolescente,  enfurnara-se num Seminário, na capital,  e por muito pouco escapou da ordenação. Fora aluno exemplar e seus superiores vaticinavam-lhe uma brilhante carreira religiosa, coisa para arcebispo ou cardeal. Apaixonou-se, no entanto,  por um rabo de saia , filha de uma das copeiras do Seminário , e ela terminou arrancando-lhe a batina e  ele, em compensação, assungou-lhe  a saia . Partiu, então, nosso Catarinus para a dura vida de chefe de família, como comerciário. Nunca, no entanto, abandonou aquela mania de  sacristia, falava  apenas em latim vulgar e irritava-se por não ter interlocutores fora das hostes sacerdotais. Foi aí que resolveu, num penoso processo, mudar, em cartório,  o nome de matuto, Afonso Possidônio , de Catarina ( sua mãe) ,  para o pomposo : Alphonsus Publius Catarinus Maximus. E foi de posse desse novo registro civil que um dia aportou em Matozinho, carregando já uma récua de filhos. Com o dinheiro juntado, por muitos anos, estabeleceu-se por lá com um pequeno Armarinho e, já madurão, mudou-se para uma fazendola que adquiriu  e renomeou-a  de “Parnaso”.
                                   Em Matozinho,  teve que abandonar o latinório,  pois ninguém ali estava à altura da sua  sapiência lingüística. No Seminário versara-se em autores clássicos portugueses como Herculano e Castilho e sabia todo o “Eu” do nosso Augusto dos Anjos de cor. Negava-se, assim, terminantemente,  a falar em linguajar reles, fugia dos galicismos e anglicismos como o capeta de água benta. Erros de português, se legislasse, seriam punidos com prisão perpétua, salvo os de concordância verbal onde deveria se aplicar, sem remorso,  a pena capital. Publius mostrava-se, ainda, totalmente a favor da redução da maioridade penal: a partir de 12 anos, se desferir golpe de morte no vernáculo: galés perpétuas ! Ademais , nada de se resumir a uma centena de verbetes apenas, num idioma tão rico como o português:
                                   -- O  ” Caldas  Aulete” tem trezentos mil verbetes é pra se usar ! --- Costumava dizer  Catarinus .
                                   Até na emissão quase que automática de palavrões , nosso  vernaculista se policiava. “Filho da Puta” , virava  “Rebento de uma deusa de lupanar” ; “Maricas” , dizia “Pederasta sub-reperício “; “Vá para PQP !”  tornava-se nos lábios de Catarinus : “Diriga-se à Messalina que vos concebeu!” . Personagens famosos de Matozinho, também, ganharam denominações menos rasteiras : “Jojó Fubuia” terminou rebatizado por Johann Etanol; Janjão da Botica transformou-se em Jonh Pseudo- Esculápio.
                                   Dias atrás correu por toda Matozinho o ocorrido na Barbearia de Barba de Gato. Alphonsus lá chegou tentando encomendar um corte de cabelo. Dirigiu-se para nosso barbeiro, semi-analfabeto, com o seguinte palavreado :
                                   --- Ó Fígaro ! Quanto queres de remuneração pecuniária para desbastar estas excrescências córneas que se avolumam por sobre minha calota craniana ?
                                   Barba de Gato, mais perdido que cachorro em noite de São João, diante de tamanha catilinária, interrogou-o:
                                   --- Kumas ? Oxente , O homem  endoidou ou veio das estranjas !
                                   Contrariado, Alphonsus, raivoso, ameaçou :
                                   --- Se dizes por insipiência, perdoar-to-ei ! Se,  no entanto,  pretendes zombar da minha alta prosopopéia, desferir-te-ei um golpe com  este instrumento perfuro-contuso que o vulgo o denomina “bengala” , no frontispício da tua caixa craniana,  com tamanha impetuosidade, que ela  há de metamoforsear-se , em iníquos instantes, em meras cinzas cadavéricas !
                                   Registra ainda o folclore de Matozinho  uma outra epopéia  do nosso vernaculista. Pela manhã , ele despertou o filho caçula ,Dioclecianus Tertius, pedindo-o para ir até ao mercado público a fim de comprar uns cuscuzes  para o café da manhã. Convocou-o com este petardo:
                                   -- Tertius, prólio meu ! Levanta-te deste leito adormecente e caminha até àquele aglomerado humano que o povo denomina de mercado e compra-me massas côncavas a que o vulgo rotula de cuscuz, para que possamos saborear no nosso jantar matinal !
                                   Semana passada, a praça da matriz parou diante de uma cena inusitada. Alphonsus  buscou um engraxate, no intuito dar um trato nos seus pisantes. O problema é  que se tratava de uma figura popularíssima em Matozinho e que carregava um apelido  hilário : “Cu de Apito” . Imaginaram todos a dificuldade que teria nosso emérito vernaculista em tipificar o engraxate de forma mais erudita. Em alto e bom som, Publius aproximou-se  e , com sua inconfundível voz tonitruante, encomendou o serviço:
                                    --- Insigne polidor de pantufas ! Poderias genufletir-te ante mim e tornar luzidias estas minhas pré-históricas chancas !  Vinde,  ó Óstio anal chilreador !

Crato, 21/02/14

ANTOLHOS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Antolhos. Aquele anteparo que cega a visão lateral. Pode ser este o sentimento de alguém que leu a notícia da apreensão policial de um menor de idade, tentando roubar um casal de turistas em Copacabana.

Acontece que o caso ainda arde na chapa quente do noticiário. Este mesmo menor foi alvo de intenso debate nacional. Ele fora espancado e acorrentado a um poste por um grupo de vingadores que circulam pelas ruas do Bairro do Flamengo.

Em primeiro lugar a repercussão no Rio foi imediata. Yvone Bezerra, que se tornou uma referência em defesa das crianças assassinadas na Candelária no anos 90, foi quem desacorrentou o menor e denunciou o ato.

Depois uma apresentadora do SBT cometeu a burrice de, usando um serviço concedido, estimular o ato de espancamento e tripudiar em torno do menor. Aí o debate virou nacional. Muita gente não aceita este tipo de estímulo à violência com o uso de serviços públicos.

Agora o menor foi apreendido numa tentativa de roubo e foi encaminhado para um desses órgãos formais de recuperação por meio da justiça. Aí vem a história dos antolhos. Quem não consegue visualizar a lateralidade do mundo, imediatamente vai vociferar contra quem defendeu o direito humano.

Vai usar a reincidência ou comprovar que o menor era ladrão e merecedor do que sofreu. Efetivamente justificando a justiça pelas próprias mãos. As mãos mais fortes que inclusive podem ser pagas como os pistoleiros.  

A apresentadora do SBT se não der a notícia por satisfação, irá dar um jeito de mostrar que ela tinha razão. Afinal o debate é público. E a vingança é uma das mais antigas ações do drama humano.

Mas aí vamos para a lateralidade. Um mesmo ator (o menor) recebendo dois tratamentos distintos. No primeiro ele foi agredido em seu direito humano (escrito na lei). E no segundo ele vai se submeter à normas sociais em razão do seu ato.


Isso faz toda a diferença. 

Por que é golpe? - José do Vale Pinheiro Feitosa

A instabilidade social e as manifestações populares, aliadas a grupos políticos organizados militarmente, deixam no ar a ação de ruptura dos regimes que hoje funcionam baseados no sufrágio de candidatos. A questão está mais ou menos assim: um grupo deseja romper as políticas de renda, falta de proteção social, desemprego, despejo por dívidas e se manifesta. Grupos distintos, com outros propósitos políticos, aproveitam a ocupação das ruas e vão para o confronto militar franco.

Na Síria, na Ucrânia isso é bem visto. (Claro que por fora, acirrando posições países fortes tomam partido financiando um lado ou outro e até os dois). A Ucrânia é mais grave porque há um problema crônico básico de setores étnicos em relação à Rússia (imperial ou soviética). Estes setores ocuparam o campo da extrema direita política, são organizados, perduram há muitos anos de tal modo que aderiram ao Exército Nazista durante a invasão da União Soviética na Segunda Guerra. 
  
A situação na Ucrânia é de tal modo um retorno ao nazi-fascismo original que judeus já são perseguidos por lá. Este Jam Koum, um dos bilionários do WhatsSpp vendido para o Facebook, migrou há alguns anos para os EUA em razão das perseguições feitas contra judeus. E isso foi no final da União Soviética, em 1989, e no ano de 2004 aconteceu na Ucrânia a tal Revolução Laranja que foi comemorada como um grande ato político pela mídia ocidental.

A revolução laranja, dez anos atrás, se deu com uma revolta popular em razão de uma fraude eleitoral em que o segundo lugar Viktor Yanucovych (esse mesmo atual presidente) foi confirmado no lugar do que teria sido o primeiro colocado que é Viktor Yushchenko. A eleição foi anulada, Yushchenko disputou e venceu. Acontece que o paraíso não chegou e Yuschenko se desgastou e quem está no poder é o outro Viktor.

Mais do que uma insurgência contra o Governo, o que se tem por trás é a ruptura do processo em que a maioria vence a eleição. No caso da Venezuela isso é nítido e mesmo quem torce contra Maduro, deve imaginar que no mínimo o país tem uma grande divisão e que por eleições vão fazendo projetos de seguir adiante. O mesmo processo que elegeu Maduro, poderá eleger Capriles nas próximas eleições.

O que deseja esse López? Provocar ruptura para ele mesmo ser o autor e aí Capriles e companhia vai para o espaço. A oposição na Venezuela nunca se uniu e por isso perde tantas eleições. É preciso compreender um pouco a formação social da Venezuela. Por muitos anos uma parcela da população foi privilegiada com o Petróleo do país. Tinha uma vida de classe média até superior a de outros países latino-americanos.

Essa parcela educava os filhos nos EUA, tratava a família e tinha casas por lá onde passava as férias. Essa parcela se alienou do seu próprio país e do seu povo. O Leopoldo López fez a maior parte de seu ensino básico e de sua formação universitária nos EUA. Isso significa que parte da identidade e das ligações dele são com aquele país.

O que ele propõe nas ruas é a ruptura dos resultados das eleições no curso do mandato do eleito. Além do mais ele tem usado táticas de movimentação que recordam o ocorrido em 2002 no golpe contra Chávez. Por exemplo o aparecimento de mortes por balas perdidas em manifestações para depois gerar mais tensão social.


Leopoldo López não só participou do golpe de 2002 como, nesse momento, se diz orgulhoso do fato. Ou seja defende abertamente um golpe. A BBC Brasil o classifica assim: popular, carismático, imprevisível, arrogante e sedento de poder.