por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 10 de junho de 2014

ACABOU ??? - José Nilton Mariano Saraiva

Nesses dias, o compreensível envolvimento “full time” do povo brasileiro com a Copa do Mundo de Futebol acabou por obscurecer a atuação dos nossos craques num outro esporte que de há muito tornou-se, também, “paixão nacional”, tanto que hoje é a segunda modalidade esportiva preferida do brasileiro: o “vôlei”.

Como se sabe nossas seleções, masculina e feminina de vôlei, mercê de campanhas memoráveis, já abiscoitaram campeonatos mundiais, ligas mundiais, olimpíadas e o que pintou pela frente. Daí o respeito e a admiração que conseguiram granjear aqui e alhures, acolá e mais adiante (tem gente que treme quando nos enfrenta).

Em razão disso, desde já intimamente alimentamos a quase certeza de que nas próximas Olimpíadas, que também teremos a honra de patrocinar (com brilho), essas duas medalhas de ouro já estão “no papo” (ninguém nos tira).

Pois bem, como dito no primeiro parágrafo, coincidindo com a realização da Copa do Mundo de Futebol em nosso país, já há cerca de duas semanas a nossa seleção brasileira masculina de vôlei participa de mais uma Liga Mundial da modalidade, sob o comando do mesmo surrado, batido e abusado técnico Bernardinho.

Mas, aqui pra nós, a coisa tá “ruça” e nos deixa com uma pulga atrás da orelha. É que nos 06 (seis) primeiros jogos realizados (aqui na “terra brasilis”), a nossa outrora imbatível seleção ganhou apenas duas (02) e fracassou feio quatro (04) vezes, a saber: Brasil 1 x 3 Itália, Brasil 1 x 3 Itália, Brasil 3 x 0 Polônia, Brasil 0 x 3 Polônia, Brasil 3 x 2 Irã e Brasil 0 x 3 Irã.

A preocupação é maior quando se constata que conseguimos a “proeza” (acreditem porque é vero) de perder para a inexistente seleção iraniana por 3 x 0. Alguém aí do outro lado da telinha por acaso sabia que no Irã eles jogam vôlei ???

Além do que, deu pra notar que os nossos jogadores não têm mais a mesma alegria, a mesma garra, a mesma disposição, disputando o jogo de forma burocrática e, até, irresponsável (parecem ter abusado e não mais ligar para as caretas e exigências do ranzinza Bernardinho).

Agora, vamos saír pra cumprir a segunda volta, lá fora: no Irã, na Polônia e na Itália, nos três próximos finais de semana. E aí vamos poder constatar se o que aconteceu aqui foi só uma “nuvem passageira” ou se o “encanto” se desfez, acabou, emudeceu.

Com a “panela de pressão” em sua “temperatura máxima” em termos futebolísticos, vamos ter de encontrar uma "nesguinha' de tempo pra torcer por uma reação do nosso vôlei.   

sexta-feira, 6 de junho de 2014

"Snowden" - José Nilton Mariano Saraiva

Independentemente da manifestação de “juízos de valor” dispares que há de gerar sobre, a verdade é que a decisão do jovem, tímido e discreto americano Edward Snowden (31 anos) em “vazar” segredos de Estado e conseqüentes abusos cometidos pelos governos americano e britânico no tocante à invasão da privacidade (via controle irrestrito da Internet, inclusive telefone), acabou por prestar um relevante serviço à humanidade.

Fato é que, gênio da computação (e até por isso mesmo), mesmo sem possuir curso superior Snowden conseguiu ascender à condição de graduado “espião-senior” da NSA (Agência de Segurança Nacional, dos Estados Unidos, que atuava conjuntamente com a britânica GCHQ), tendo acesso, pois, a informações ultra-secretas e de largo poder de destruição.

No entanto, a partir de um certo instante, ao constatar que os superiores (inclusive o presidente Barack Obama) mentiam desbragadamente sobre o que ali se passava, visando obter do Legislativo americano e inglês facilidades, e possuído por uma repentina conscientização sobre os malefícios que estaria a provocar à humanidade (na constatação que a “coisa” era bem maior do que imaginava, mesmo que para um espião), surpreendentemente acabou por “virar a casaca”.

E aí se deu o ato metamorfósico: após copiar e abrigar em pen-drives fortemente criptografados milhões e milhões de documentos e informações ultra-secretas resolveu fugir para Hong Kong, na China, onde, valendo-se de jornalistas do britânico The Guardian (devidamente selecionados), “botou a boca no mundo”.

Foi um Deus nos acuda, principalmente porque até aquela data as duas agências governamentais não tinham a menor idéia de quem teria tido acesso e houvera vazado aquilo que até então se considerava ultra-secreto. E aí mais uma prova de destemor de Snowden: mesmo sabendo que estava a assinar o próprio “atestado de óbito”, resolveu mostrar a cara publicamente, gravando uma entrevista esclarecedora a respeito do “porque” ter agido daquela forma. 

Para se ter idéia da ESTRATOSFÉRICA E ABSURDA DIMENSÃO da “coisa”, basta um só dado: num dia apenas, as informações obtidas pela NSA e GCHQ, via grampeamento dos cabos de fibra ótica que perpassam EUA e Inglaterra, chegaram a 39 BILHÕES de dados coletados - isso mesmo, com “B”, de bola - contemplando não só o cidadão-comum, mas, principalmente, líderes de todo o mundo (o próprio Barack Obama,  David Cameron, Angela Merkel, Dilma Roussef, e os presidentes da França e da Indonésia, dentre outros, tiveram suas conversas e e-mail gravadas e copiadas).

Sem poder contestar as bombásticas revelações, em razão de a farta documentação ter sido exposta nos jornais e TV, os governos americano e britânico tiveram que admitir a ilegalidade do modus operandi utilizado, ao tempo em que usaram a justificativa de tratar-se de uma preocupação permanente com o terrorismo, após o atentado às “tôrres gêmeas”, em 2001.

Hoje, após um período recluso, sabe-se que Snowden se acha exilado na Rússia, com visto de permanência provisório (que expirará em agosto/2014). Voltar ao seio da família nos Estados Unidos jamais, já que no mínimo pegaria uma prisão perpétua, porquanto considerado um “traidor”. Daí a busca desesperada por algum país que aceite conceder-lhe asilo. O Brasil foi sondado.


Você, aí do outro lado da telinha, o que acha disso: o Brasil deve abrigá-lo permanentemente ??? Ou isso representaria uma ameaça à nossa segurança interna e à própria soberania nacional ???

O presente - Por Carlos Eduardo esmeraldo


Em fins de 2012, instalou-se aqui em Fortaleza uma filial de uma grande loja com sede em São Paulo, dessas que colocam suas filiais pelo país afora, até em Capim Grosso de Santo Onofre. Coincidindo com a inauguração dessa filial, recebi pelo correio um bonito pacote, cujo remetente foi a tal loja recém instalada. No interior do pacote um mouse sem fio. E nada mais a acrescentar. Pronto, eles faziam a festa e nós pobres e explorados consumidores recebíamos o presente! Procurando  uma justificativa, comentei com Magali que eu recebera aquele presente do tal magazine, por que na certa o comércio possuía dados que poderiam estar me colocando entre os "clientes em potencial". Coitadinho deles, se dependessem de gente como eu, suas lojas estariam todas quebradas...

Alguns dias depois, precisávamos passar um vídeo de alta definição e para tanto tivemos de comprar um tal de "blu-ray disc". Desculpem a expressão, mas é como chamam um novo tipo de videocassete. Após pesquisarmos em algumas lojas, entre as quais o tal magazine, disse a Magali que iríamos comprar nessa nova loja, pois além do preço ter sido menor alguns míseros centavos, tivemos por lá uma recepção um pouquinho mais acalorada. E além do mais, havia recebido dessa loja um presente, fator que mais pesou na decisão de compra.

Três dias depois, meu primeiro filho veio com sua família passar o Natal conosco. Logo ao chegar perguntou se eu havia gostado do presente que ele havia mandado para mim.
- Qual foi? Perguntei
- Um mouse sem fio que comprei pela internet e pedi que fosse remetido diretamente para o seu endereço.

Todos aqui em casa fizeram a festa com a minha "boa fé". Bem feito! Onde já se viu grandes capitalistas se preocuparem com a existência de pessoas tão desprovidas de importância como eu? Mas como a esperança é a última a morrer, quem sabe se eu não ganharei o edifício que essa loja alardeia em seus anúncios que vai ofertar aos seus fregueses?

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O Nosso Sansão - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

No Sítio Pau Seco, aí pelo final dos anos quarenta e nas décadas seguintes, surgiu um homem extraordinário. Era conhecido por Zé Moreira e tido por muitas pessoas como um novo Sansão, posto que dotado de uma força descomunal. Filho de um humilde leiteiro, Zé Moreira trabalhava no Engenho do Pau Seco. Era uma verdadeira máquina! Imaginem que ele alimentava a caldeira do engenho, tirando água de um cacimbão, através de um balde atado a uma corda, que por ele era puxada. Essa operação era refeita várias vezes ao dia. Em seguida, ele transportava essa água para uma pequena caixa d’água que abastecia a caldeira. Para isso, utilizava-se de seis latas, dessas usadas como vasilhame de querosene, cada uma com capacidade estimada de uns 20 litros. As latas eram presas por uma corda a uma pequena travessa de madeira, denominada pelos rurícolas de galão e suspensas sobre o pescoço do Moreira, três latas de cada lado do seu corpo. Um trabalho desses já era demais para um homem normal. Porém Zé Moreira, além disso, tratava do gado leiteiro, ajudava a tirar o leite pela manhã, preparava a ração das vacas e bezerros e abastecia de água os serviços domésticos da casa grande. Tamanha atividade física exigia uma boa alimentação. Lembro-me que o almoço do Zé Moreira não cabia num prato comum. Assim sendo, ele comia numa bacia de folha-de-flandres quase do mesmo tamanho daquelas bacias brancas para o asseio das mãos, ainda existentes nas salas de jantar das casas do nosso sertão. Desnecessário afirmar que esta refeição, realizada três vezes ao dia, era composta de arroz, feijão, carne, farinha de milho e pequi, tudo dosado numa boa quantidade.

Até hoje se mantém gravada na minha memória uma incrível cena que presenciei. No lusco-fusco do final de tarde de outubro, uma grande boiada passava pela estrada do Pau Seco em direção ao Juazeiro. Um dos vaqueiros parou, disse a quem pertencia aquele gado e pediu pousada por aquela noite. Imediatamente obteve autorização para que a boiada fosse colocada na bagaceira do engenho, junto com outros animais que ali passavam a noite bebericando tiborna e comendo bagaço verde e palhas da cana. No dia seguinte, acordei mais ou menos às cinco horas da manhã, com a voz do meu pai perguntando por que o engenho ainda estava parado àquela hora. Os trabalhadores responderam que havia um touro brabo no meio do gado, botando todo mundo para correr. Naturalmente, aquele boi ficara bêbado por exceder-se na tiborna, um rescaldo da destilação do alambique, que deixa enfurecido qualquer animal que não tenha o hábito de bebê-la com freqüência dos bois acostumados com a bagaceira. Levantei-me a tempo de ver o touro escavando o chão, formando em torno dele uma enorme nuvem de poeira escura. Os próprios vaqueiros que conduziam a boiada sentiam-se desencorajados para prender aquele valente boi. Quando Zé Moreira avistou aquela cena, ignorando os protestos dos seus companheiros de trabalho, que temiam por sua sorte, entrou firme na bagaceira e esperou o boi partir para cima dele. Com a rapidez de um praticante de luta livre segurou os chifres daquele touro enfurecido e deu um giro de aproximadamente 90° na cabeça do paquiderme. A fera caiu de uma vez só, provocando um surdo ruído ao bater com o corpo no chão. Um choque de cinqüenta arrobas contra o solo seco. Os vaqueiros depressa se encheram de coragem e laçaram o boi. Ajudados pelo Sansão do Cariri conduziram-no para o meio da boiada que esperava no caminho, um pouco mais adiante.
  
A família do Zé Moreira era composta por uma mulher cega e dois de seus cinco filhos também cegos. A cegueira não impedia sua mulher de fazer os serviços domésticos, além de realizar pequenos consertos de costura. Era admirável como ela conseguia enfiar a linha pelo buraquinho estreito da agulha. Não sei se devido a esse infortúnio, Zé Moreira gostava de beber uma “branquinha” e espairecer um pouco nos seus dias de folga. Então, largava-se para o Crato ou Juazeiro, onde quer que houvesse um forrobodó. Certa vez estava num “samba” que se realizava próximo à estação ferroviária do Juazeiro. Convidou uma jovem para dançar e ela respondeu que não dançava com velhos. O sangue juntamente com a cachaça subiu-lhe à cabeça. Segurou a moça pelo vestido, à altura dos seios e deu um forte sacolejo para o alto, que a jovem subiu alguns centímetros acima do nível do mar, de modo que, o seu vestido ficou preso nas mãos do Zé Moreira. O tempo fechou nesse “samba” e o sarrafo comeu solto. Era Zé Moreira contra uns dez homens que não conseguiram domá-lo. Dois policiais que estavam na estação, viram a confusão, rapidamente chegaram ao local da festa e agarraram nosso Sansão. E ele, com a serenidade que lhe era peculiar, começou a pedir calma aos dois policiais, enquanto apertava o braço de cada um deles com tanta força, que eles o soltaram; desistiram de prendê-lo e saíram imediatamente do local. A coisa serenou e o Moreira pedia que o tocador voltasse com a música. De repente, chegou um caminhão carregado de policiais. Era demais! O nosso herói vendo que seria preso e espancado por aquele batalhão, correu pela linha do trem em busca do São José. A polícia seguiu em seu encalce até a saída do Juazeiro. Quando Zé Moreira ia chegando próximo do São José, extenuado pela correria de mais de seis quilômetros, tropeçou num dormente da ferrovia, caiu e exclamou como se reconhecesse uma derrota: “filhos de uma égua, ainda vêem atrás de mim esse tempo todo!”

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O Mascarado - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Jogador de futebol mascarado era um termo usado há mais de 50 anos, quando se desejava classificar um atleta que jogava exclusivamente por dinheiro, não por amor à camisa, como se dizia então. Além do salário recebido, tal jogador exigia um pagamento extra para entrar em campo, principalmente em jogos decisivos. Hoje esse termo está em desuso. Talvez porque num futebol em que milhões de dólares são reles quinquilharias, não ser mascarado, tornou-se uma grande exceção. Até início dos anos setenta, os clubes de futebol rejeitavam jogadores com essa fama. E não se ouvia falar que qualquer grande clube brasileiro tivesse um jogador mascarado. Quantos craques deixaram de vestir a camisa da seleção brasileira, aspiração máxima de qualquer jogador, por causa da maldita fama de mascarado! Naquela época, os jogadores eram retratos das organizações cujas cores defendiam com muito amor, suor e sangue. Passavam mais de vinte anos numa mesma equipe. Não havia este troca-troca de camisas que se vê atualmente. Quando se falava em Ademir da Guia, lembrávamos logo do Palmeiras; Pelé era a encarnação do Santos, assim como Dida e Zico, Ademir Menezes e Roberto Dinamite foram sinônimos de Flamengo e Vasco. 

O futebol do Crato de ontem também teve seus casos de jogadores mascarados. No meado dos anos sessenta, quando Anduiá ainda reinava absoluto no velho campo do Sport, surgiu um menino franzino, baixinho, de futebol muito vistoso. Imediatamente recebeu o batismo de Chico Curto. Do campo do Sport para a quadra bi-centenário foi uma ascensão rápida. Era um craque nas duas modalidades do futebol: salão e campo. Daí para nossa seleção que iria disputar o Campeonato Intermunicipal foi um piscar de olhos. Sem ele no time, as vitórias se tornariam muito mais difíceis. De repente, a fama do nosso craque ganhou as manchetes dos jornais de Fortaleza. Era a revelação do Intermunicipal. A nossa seleção estava classificada para semifinal contra a seleção de Maranguape. O jogo era no Estádio Presidente Vargas.

Conforme me contou o saudoso médico Valdir Oliveira, que presidia a delegação cratense de futebol que fora a Fortaleza, Chico Curto foi para ele motivo de grandes aborrecimentos. Por questões de custos, ele hospedou nossos atletas no Hotel Passeio, localizado à Rua Dr. João Moreira, bem defronte ao Passeio Público, conhecido ponto de encontro de prostitutas. A área, portanto, não era muito adequada para concentração de jogadores de futebol e, por isso, a vigilância deveria ser redobrada. No sábado, véspera do jogo, dirigentes do Ceará e do Fortaleza acorreram ao Hotel Passeio na busca de contratarem Chico Curto, a nossa revelação. O nosso Chico Curto se encheu de “pose” por saber que estava tão valorizado. No domingo pela manhã, o café dos atletas estava servido. Mesa farta, como nunca acontecera antes naquele hotel: mamão, melancia, laranja, cuscuz, tapioca, carne assada, leite, coalhada, bolos, sucos diversos e café. Verdadeiro banquete! Serviço cinco estrelas, longe dos padrões habituais do Hotel Passeio. Ao sentar-se à mesa, o nosso craque pediu maçã. O proprietário do hotel lhe informou que infelizmente não tinha maçã. Naquela época, até em Fortaleza era difícil encontrar maçã. Fruta que ainda não era cultivada no Brasil, vinha da Argentina, e devido às muitas restrições impostas aos produtos importados, poucas lojas de Fortaleza dispunham de maçãs à venda. Então Chico Curto se dirigiu ao Dr. Valdir e falou decidido: “Só jogo hoje se tiver maçã!” Foi um Deus nos acuda! Correria por todos os mercados de Fortaleza e nada de se encontrar uma maçã sequer. Já próximo do meio-dia, o dr. Valdir lembrou-se de que na Cooperativa dos Bancários do Crato tinha maçã, então, pensou ele, na de Fortaleza deveria ter também. Procurou um amigo bancário e junto com este foram atrás do gerente da Cooperativa para conseguir as maçãs exigidas pelo craque Chico Curto. Desejo atendido, às quatro horas da tarde em ponto, a nossa esperança entrava em campo. Tamanho sacrifício, entretanto, foi inútil. Nossa seleção foi humilhantemente eliminada. E o craque Chico Curto se arrastava em campo com o futebol do seu tamanho, provavelmente acometido de insidiosa indigestão, pois comeu maçãs até se fartar. Quanto ao meu saudoso amigo Valdir Oliveira, acredito que depois dessa experiência, não mais passou por perto de um campo de futebol.  

OBS.: Minhas homenagens ao saudoso amigo e médico Valdir Oliveira. Quanta falta faz sua alegria irradiante!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

terça-feira, 3 de junho de 2014

Todo poder aos sovietes petistas

Escrito por Alexandre Borges


 Mais um mandato presidencial para o PT e esse país estará irreconhecível em 2018.


Esse país de vocês ganhou um decreto realmente peculiar semana passada, o de nº 8243. Ele institui a “Política Nacional de Participação Social – PNPS” que tem como objetivo “consolidar a participação social como método de governo”.

A linguagem sinuosa e dissimulada do decreto é proposital, mas vamos traduzir: se você é um militante ou é um membro do Agitprop petista aboletado em algum agrupamento apelidado de “movimento social”, você passará a ter, oficialmente, poder político acima do cidadão comum e poderá influenciar diretamente, sem intermediários, (leia-se Congresso Nacional, por exemplo) a gestão do país.

A idéia é antiga e remonta ao paleolítico do comunismo. Desde a Primeira Internacional e da Comuna de Paris, em meados do séc. XIX, os comunistas desdenham do sistema republicano, com representantes eleitos, a tal democracia burguesa. As idéias de separação de poder de Montesquieu e da democracia representativa sempre foram consideradas empecilhos para a “democracia direta” ou plebiscitária, uma excrescência jacobina que sempre termina em barbárie.

A Atenas do séc. IV a.C. tentou uma forma de democracia direta, em que os julgamentos eram realizados por 500 “juízes” sorteados entre os seis mil cidadãos com plenos direitos políticos, que decidiam por maioria simples os casos do dia-a-dia. O resultado era uma cidade em que todos acusavam todos pelos motivos mais banais, com julgamentos realizados de maneira açodada e emocional, com vereditos diretamente influenciados mais pela eloquencia do orador do que pelo mérito da questão. A experiência ateniense e seus resultados desastrosos já deveriam ser suficientes para enterrar de vez a idéia jacobina de governar por plebiscitos. Mesmo o atual regime suíço, que muitos consideram um tipo de democracia direta, é uma experiência totalmente distinta e com diversas salvaguardas para que leis não sejam aprovadas no calor das emoções (e estamos falando de suíços, não necessariamente o povo mais emotivo do mundo).

A experiência mais emblemática desse tipo de grupamento não-eleito com poderes políticos são os “sovietes” ou conselhos operários, que ajudaram a criar as condições para a revolução russa em 1917. Instituídos em 1905 e festejados por Lênin como “expressão da criação do povo”, os sovietes chegaram a criar uma corrente do comunismo chamada “conselhismo”, uma oposição ao comunismo de estado, que acreditava serem os conselhos operários formas superiores de participação popular na política.

Com a revolução de 1917, os bolcheviques lançaram o lema “Todo poder aos Sovietes” e até a dissolução da URSS os sovietes eram considerados pilares essenciais do regime comunista.

Não se enganem, esse pessoal sabe o que está fazendo. Mais um mandato presidencial para o PT e esse país estará irreconhecível em 2018, podem anotar.


- Decreto nº 8242: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm

Publicado na Reaçonaria.
Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.

domingo, 1 de junho de 2014

Colaboração de Rejane Gonçalves

À NOITE
"Afundado na noite. Como alguém que às vezes baixa a cabeça para meditar, totalmente afundado na noite. Em torno as pessoas dormem. Uma pequena encenação, um inocente auto-engano de que dormem em casas, em camas firmes, sob o teto sólido, estirados ou encolhidos sobre colchões, em lençóis, sob cobertas, na realidade reuniram-se como outrora e mais tarde, em região deserta, um acampamento ao ar livre, um número incalculável de pessoas, um exército, um povo, sob o céu f...rio, na terra fria, estendidos onde antes estavam em pé, a testa premida sobre o braço, o rosto voltado para o chão, respirando tranquilamente. E você vigia, é um dos vigias, descobre o mais próximo pela agitação da madeira em brasa no monte de galhos secos ao seu lado. Por que você vigia? Alguém precisa vigiar, é o que dizem. Alguém precisa estar aí."
(FRANZ KAFKA)

Leia Kafka leia Kafka leia Kafka leia Kafka leia Kafka leia Kafka leia Kafka............

sábado, 31 de maio de 2014

A hora e vez do... "PIB-marombado" - José Nilton Mariano Saraiva

País desenvolvido é outra coisa. Da Europa, nos chega à notícia (via GloboNews) de que os dirigentes de alguns países do velho continente estudam a possibilidade de considerar os “rendimentos da prostituição e do tráfico de drogas” no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto). Teríamos, pois, uma espécie de “PIB-marombado”.

Como não explicaram o “como” proceder para levantar tais valores, num “bate-bola” aqui com os nossos botões pomo-nos a imaginar: no caso da prostituta profissional (a “pebinha” ou aquela de “alto nível”), será que terá direito a uma “maquininha” (naturalmente que fornecida pelo Estado e que levaria acondicionada num estojo específico) a fim de, toda vez que necessitar “trabalhar”, acioná-la e, conseqüentemente, gerar o “comprovante fiscal” respectivo, repassando-o posteriormente à Secretária da Fazenda (fisco), a fim que o “arrecadado” seja incluso como “atividade produtiva” do país ??? Como e em que rubrica será contabilizada a “venda” de tal produto ??? Sobre tal “produção”, cada “trabalhadora” envolvida terá que pagar algum percentual de imposto diariamente ??? Ou tal “recolhimento” será feito mensalmente e de responsabilidade do cafetão ???

Já no tocante ao tráfico de drogas, o acerto seria formalizado através de documento específico (mesmo que “de gaveta”), onde o poder público garantiria a livre atuação da quadrilha (em qualquer lugar), contanto que os seus componentes, a cada “repasse” feito, emitissem o competente comprovante, especificando quantidade e valores envolvidos ??? Qual seria, então, a “taxa” ou “contribuição” a ser repassada ao Estado ??? Mas, se tal ocorrer (o acordo), não teríamos aí uma espécie de “legalização branca” (já que não reconhecida oficialmente) da atividade ???  Como poderíamos rotular os integrantes do exército de repassadores, hoje conhecidos como “aviões” ???

Fato é que por lá (Europa) o assunto já foi ventilado, sim, ao nível de cúpula, e não nos surpreendamos se já já algum parlamentar tupiniquim se arvorar de “progressista” e levantar tal bandeira.


Afinal, somos ou não um “país emergente”, que deve seguir “pari-passu” tudo que é feito pelos “desenvolvidos” ???   Se não o fizermos, como nos  igualaremos a eles ???


por Everardo Norões

Três urubus conversam
sobre a água-furtada.
Comentam o descaso das casas,
o vazio dos quintais.
Divagam sobre a ausência...
da podridão,
o cheiro que rege
o percurso dos abutres.
Lá estão eles,
sobre telhas,
a afiarem as garras,
a deglutirem vísceras.
Ao erguer de asas
declinam
verbos, adjetivos.
Tentam decifrar,
do alto,
de que forma
morre o Recife.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Saída de cena - José Nilton Mariano Saraiva

59 anos, idolatrado por uns e (literalmente) odiado por outros, o ministro Joaquim Barbosa (vulgo Joaquinzão) anuncia sua aposentadoria para o final de junho próximo, embora ainda pudesse ficar por mais 11 anos atanazando a vida de muita gente, como integrante do Supremo Tribunal Federal. Desapego ao poder ???

Acusado de complexado (por ser negro), preconceituoso, autoritário e arrogante, a verdade é que Joaquinzão caiu nas graças de muita gente em razão da disposição em “peitar de frente” quem se julgava inatingível. Nem que (no caso do tal mensalão”), a fim de atingir os fins colimados tenha tido que “importar” uma literatura jurídica (alemã) que, na essência, ia de encontro à própria Constituição Federal, no tocante à “desnecessidade” de provas para condenar alguém (bastariam as evidencias e suposições, para tal). Que o digam José Dirceu, José Genuíno e outros peixes menores, atualmente trancafiados na prisão da Papuda, em Brasília, em razão da ação conhecida por “mensalão”, cujo relator foi o próprio.

Tal desempenho acabou guindando-o à condição de autentico “pop star”, com aparições diárias na TV, jornais e revistas, tanto que, mesmo sem nunca ter incursionado pela seara política, conseguiu ser lembrado por cerca de 10% da população, quando perguntada sobre em quem votaria para Presidente da República.

De temperamento forte e sem paciência para “alisar” quem quer que seja (como se fora, sim, o “dono da verdade”), não admitia sequer que os próprios colegas do Supremo discordassem das suas posições, por mais sectárias e radicais que fossem, daí o costumeiro “quebra-pau” com muitos dos integrantes da suprema corte (que o digam os ministros Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello). Além do mais, tornaram-se contumazes suas brigas e extremadas acusações com advogados outros e com as entidades representativas dos magistrados.

Como não explicou as razões para “se mandar” tão cedo, já começam a circular rumores de que tão prematura decisão teria  a ver com a futura  votação de um recurso sobre o “mensalão” (no tocante à duração das penas), onde a derrota era certa, daí sua insatisfação e decisão final.

Parece pouco, tal justificativa. 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

"Abobrinhas" - José Nilton Mariano Saraiva

Começou. Tanto que, na noite de ontem, a seleção da Austrália já pintou no pedaço. E nesses 15 dias que faltam para o início da Copa do Mundo de Futebol, aqui no Brasil, vamos ter que conviver, sim, com as “abobrinhas” e conversas fiadas da vida. Quem não quiser se sujeitar a tanta babaquice, o jeito é se enclausurar em algum desses conventos da vida e tentar se isolar do mundo (sem acesso à Internet, televisão, rádio e coisas parecidas, o que é um tanto quanto difícil).

Afinal, como pode um dos mais conceituados banco de investimentos do mundo querer momentaneamente se transfigurar numa espécie de “pitonisa” e, daí, se danar a prever resultados de jogos de futebol, usando para tanto “modelos econométricos” de rara precisão (porquanto baseados em 14 mil observações, contemplando os últimos 54 anos) ???

Pois é, para o banco americano Goldman Sachs, o Brasil não só será o campeão do mundo, como seus resultados serão: na primeira fase, Brasil 4 x 1 Croácia; Brasil 4 x 1 México; Brasil 4 x 1 Camarões; classificando-se em primeiro lugar no Grupo A, em seguida, de acordo com a projeção, a seleção brasileira enfrentará a Holanda nas oitavas de final, vencendo por 3 a 1. Nas quartas de final, triunfo sobre o Uruguai por 3 a 1. Já a vítima nas semifinais será a Alemanha, que será derrotada por 2 a 1. E, enfim – aleluia, aleluia, aleluia - o título será conquistado sobre a Argentina, também com uma vitória por 3 a 1. Portanto, nos sete jogos, 23 gols a favor e 7 contra (ou seja, a meta do Brasil será vazada em um gol a cada jogo e sua média de gols será de 3,3 por partida).

Torcendo desesperadamente para que tal “abobrinha” se transforme em realidade, não custa lembrar que, na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, o desacreditado selecionado do Brasil enfrentaria a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou simplesmente Rússia) já então disputando com os Estados Unidos a supremacia mundial em todos os setores da vida. A rivalidade era tão acirrada que a simples menção à Rússia já apavorava Deus e o mundo (dizia-se até que eles, os “comunistas” russos, eram dados a “comer criancinhas”). E a Copa do Mundo seria uma rara oportunidade da Rússia mostrar a todos, afinal, “quem era quem”. Pois bem, tempestivamente acionados, os até então infalíveis computadores soviéticos e seus modelos econométricos previram que a partida com o Brasil seria um “passeio” e que a Rússia chegaria à final, sagrando-se campeã do mundo.

Esqueceram, no entanto, de perguntar a um mulato de pernas tortas, nascido em Pau Grande, subúrbio do Rio de Janeiro, e que faria sua estréia na seleção brasileira naquela data, qual a sua opinião a respeito. Resultado: Garrincha estraçalhou e enlouqueceu a defesa russa com seus dribles desconcertantes (deixando sempre, a cada jogada, uma “ruma” de jogadores adversários sentados e grogues no gramado) e, assim, com dois gols de Vavá o Brasil despachou a Rússia do torneio, pavimentando a estrada rumo à final. Quando venceu os donos da casa por 5 x 2 sagrando-se campeão do mundo (e a defesa sueca, tal qual a da Rússia, suava frio e entrava em polvorosa quando o tal mulato das pernas tortas pegava na bola).


Era a desmoralização, completa e acabada, da pseudo-influência da informática no futebol. E a confirmação mundial do nascimento de um gênio na arte de jogar bola – Garrincha, ou simplesmente Mané, para os íntimos. Pena que, mais tarde, haja Garrincha sucumbido ao alcoolismo.

Parabéns, Ana Cecília!

anaceciliabastos@gmail.com

De: Ana Cecília Bastos (anaceciliabastos@gmail.com) Este remetente está na lista de contatos.
Enviada: terça-feira, 27 de maio de 2014 18:27:32
Para:

Queridas Pessoas,

estou me dando de presente de aniversário (60 anos) dividir com vocês este livro, Andanças, que acaba de sair, em formato eletrônico, pela Pharol Editora. Espero que vocês não o considerem um presente de grego! É um pouco extenso, mas tem muitas fotos.

O livro está hospedado no ISSUU, e aninhado no meu blog, Casulo Temporário (em cima, à direita), no seguinte endereço:


Pode também ser acessado diretamente pelo link: https://issuu.com/acecil/docs/andancas_by_ana_cecilia_de_sousa_ba

Espero que vocês curtam a aventura!

abraços,
Ana Cecília

Para os não afeitos a ler na tela, seguem algumas dicas para otimizar a leitura. 

1.Existe uma barra preta na parte superior central, acima do livro. Rolar a bolinha para a direita para aumentar o tamanho da página. Se esta barra não aparecer imediatamente, veja uma barra na página inferior, à direita, e clique uma seta dupla (na diagonal) para que a imagem apareça na tela inteira.

2. Na barra central superior, é possível escolher - clicando no ícone que parece um livro aberto (ou fechado) - ler como um livro aberto (duas páginas) ou visualizar somente uma página. No primeiro caso, use as setinhas laterais (ou da barra); no segundo, você vai descendo, usando as setinhas na vertical.

 

 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O que é isso, "Excelências" ??? - José Nilton Mariano Saraiva

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília, valendo-se dos dados e volumosa documentação disponibilizada pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJC) chegou à mesma e, agora, definitiva conclusão deste: realmente, comprovado restou que “alvarás de soltura”, em profusão, eram liberados nos plantões dos finais de semana do Tribunal de Justiça do Ceará, a troco de uma “recompensasinha” que variava entre R$ 100 e R$ 150 mil reais, para cada alvará concedido.

À frente de tão inusitada “maracutaia”, dois "ilustres" Desembargadores (ainda em atividade) e mais quatro “excelências” (já aposentados), que contavam com a valiosa ajuda de cinco "nobres" advogados (atuantes), e um servidor terceirizado daquele Tribunal.

Lamentando que o tal “segredo de justiça” impeça que tenhamos acesso às identidades desses “gatunos-togados-engravatados”, responsáveis por tamanha excrescência (ou mesmo que saibamos se serão penalizados ou se prevalecerá o velho corporativismo), só nos resta indagar:  O que é isso, “Excelências” ???


domingo, 25 de maio de 2014

Nas ondas do Rádio - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Acredito que eu seja um dos poucos ouvintes de rádio que troca alguns programas televisivos pelo rádio. Sou viciado em rádio desde os anos de 1959-60, pouco depois da época de ouro do rádio brasileiro. Ainda não existia para nós cratenses a imagem da televisão. Somente nos restava as ondas do rádio para nos conectar com o mundo.

Sinceramente, eu acredito que o rádio nos possibilita desenvolver a criatividade, coisa que não ocorre com a televisão, que já nos trás tudo pronto. Um locutor de rádio de voz bonita, ou um cantor que a gente ouve, mas não vê sua imagem, deixa-nos a imaginar como seria o seu tipo físico. Durante muito tempo eu ouvia as transmissões esportivas com Oduvaldo Cozzi pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Depois, pela facilidade de sintonizarmos no Crato a Rádio Globo, passei a ouvir Waldy Amaral e admirava muito os comentários de Rui Porto. Nas emissoras paulistas lideravam as transmissões esportivas excelentes locutores: Geraldo José de Almeida ("Brasil patrão da bola"),  Edson Leite, Pedro Luis e Fiori Giliotti. Não via as imagens deles e imaginava como eles deveriam ser pelo timbre de suas vozes. Achava que Oduvaldo Cozzi fosse um homenzarrão, pois sua possante voz não nos deixava qualquer dúvida. Quando vi numa revista uma fotografia dele, me decepcionei: era um homem magro e de estatura mediana.

Atualmente permaneço ligado no rádio. Logo ao despertar, sintonizo a CBN no meu radinho portátil de cabeceira para me informar do que se passou no dia anterior por esse Brasil e pelo mundo. Um pouquinho mais tarde, após uma hora de caminhada, acompanho pela internet as noticias do Crato, através do Jornal da Radio Educadora do Cariri comandado pelo competente Antônio Vicelmo, a quem escuto há mais de 40 anos.

Há alguns dias, lembrei-me que no ano de 1961 acordávamos no Crato ouvindo um programa matinal comandado pelo animado locutor Antonio Maria da Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Àquela época, para mim, havia três pessoas distintas com esse mesmo nome. O locutor de rádio, o cronista do jornal Última Hora que diariamente chegava às bancas de revistas do Crato e o compositor de tantos sucessos musicais como "Ninguém me ama", que aqueles que como eu são beneficiários do novo estatuto do idoso devem lembrar: (Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor..) "Valsa de uma cidade" (Vento do mar e o meu rosto no sol a queimar, queimar. Calçada cheia de gente a passar e a me ver passar. Rio de Janeiro, gosto de você...). Felizmente, o google esclareceu minhas dúvidas. Antônio Maria de Araújo Morais, nascido em Recife foi um radialista, que iniciou na Rádio Clube de Pernambuco, passando depois pela Ceará Rádio Clube, Rádio Sociedade da Bahia de onde se transferiu para o Rio de Janeiro. Antonio Maria era mais conhecido simplesmente pelo segundo nome Maria, e ocupou importantes cargos de direção nas emissoras de rádio e televisão dos Diários Associados e ao mesmo tempo foi um compositor inspirado. Antonio Maria foi também apresentador de programas de televisão e dizem que quando entrevistava alguma personalidade, às vezes fazia perguntas que beirava à agressão. Certa vez, entrevistava a senhora Sandra Cavalcante, secretária do governador Carlos Lacerda e candidata a deputada estadual pelo antigo Estado da Guanabara. Futricas políticas atribuíam à candidata a fama de uma pessoa "mal amada". Pois não é que numa entrevista com a secretária, Antonio Maria resolveu cutucar a onça com vara curta?
-  É verdade que a senhora é uma pessoa "mal amada"? - Indagou o entrevistador.
-  Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu quem compôs  aquela música "ninguém me ama."

 Cronistas da época afirmam que com essa resposta ela conseguiu os votos de que precisava para se eleger. Nos primeiros anos do golpe militar assumiu a presidência do recém criado Banco Nacional de Habitação e depois de uma tentativa como candidata a governadora do Estado na primeira eleição direta ficou em quarto lugar . Mas então não mais vivia Antonio Maria para lhe dar oportunidade de conquistar mais votos.       

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Empeleita de Cristo



Os anos terminam por nos proporcionar algumas licenças poéticas que sempre foram  quase um monopólio das crianças. Aos mais erados , quebrado o Cabo da Desesperança, se lhes torna perfeitamente permitido mentir. As mulheres utilizam, geralmente, esta licença com a data de nascimento. Começam, pouco a pouco, uma contagem regressiva e, tantas vezes, acabam se tornando mais novas que os filhos e netos. Nunca se sabe , quando precisam declinar os anos, se se referem a qual das muitas idades que possuem : a Real que é um segredo mais guardado que os de Fátima; a Cartorial que muitas vezes são muitas e variadas e sempre carregam consigo a velha história que os pais aumentaram a data de nascimento para que pudessem votar; e, finalmente, a da Aparência, esta, de longe, a mais importante. Já os homens direcionam esta licença poética para a virilidade. Aí mentem como cachorro de preá, se apresentando aos amigos como verdadeiros Don Juans seniors, capazes de maratonas sexuais  inatingíveis mesmo para adolescentes com fogo em dia. E lá vamos todos nos enganando um pouco, com fins de tocar as inexoráveis limitações que nos imprimem os ponteiros opressivos do relógio. As mulheres ,meio maracujás-de-gaveta,  buscam remoçar da cintura para cima e os marmanjos madurões e pelancudos, da cintura para baixo.
                                   O velho Xilderico Capanema, por incrível que possa parecer, fugia à regra. Antes dos tempos áureos e de anil do Viagra,  do alto dos seus setenta e lá vai pedrada, enfrentou, impavidamente, os determinismos da Lei da Gravidade. Não mentia para quem quer que fosse, nem  a idade, nem os achaques que os anos lhe trouxeram ao vigor. Usava o lema típico do caboclo setentão:
                                    ---  A garrucha velha tá enferrujada ! Se encarcar o dedo no cão é danado pra bater catolé! Mas enquanto houver língua e dedo, mulher não me mete medo!
                                   A sinceridade de Xilderico tinha lá seus efeitos colaterais. Se abria mão  das balelas já próprias da idade , não engolia o caga-gomismo dos colegas da mesma geração. Na frente dele, neguinho ,já tendente à papa , não se apresentava com consistência de barra de ferro. Aos poucos, Capanema se foi tornando um desmistificador. Utilizava todos os meios disponíveis  para armar dossiês e desmascarar os gabões de Matozinho. Pagava a preço de ouro quengas na Rua do Caneco Amassado simplesmente para saber detalhes de alcova de alguns amigos e colegas metidos a cavalo-do-cão. Foi ele quem descobriu que o velho Anfrízio, que dizia  não se trocar por um rapaz de quinze anos, pagava a “Das Virgens”, uma quenguinha de “O Sorriso da Noite”,  para ela simplesmente espalhar que ele era um garanhão ainda na ponta dos cascos.  Soube ainda que Salustiano Canabrava era conhecido entre as meninas de vida fácil por “Retratista”. Só a peso de ouro conseguiu, com D. Maria Justa, uma das mais famosas cafetinas da cidade ,  desvencilhar a causa do apelido:
                                   --- Salustiano brochou já faz mais de vinte anos ! Ele agora  trabalha como fotógrafo de praça : é só no Lambe-Lambe !
                                    O maior pábulo de Matozinho nesta área, no entanto, chamava-se: Alderico Cilibrino. Funcionário aposentado da Receita Estadual, o homem se apresentava como um varão bíblico. Contava histórias de orgias que fariam Casanova entrar em depressão. Pois Xilderico, cavouca daqui, cavouca dali, descobriu  que o homem tinha o apelido, nas rodas cabarelísticas de “Campainha”. Novamente, nosso Poirot matozense caiu em campo e revelou-se a melindrosa razão, depois de molhar , novamente, as mãos pouco éticas de Maria Justa:
                                   --- Como uma campainha, Alderico só buzina se meter o dedo. Em ladeira bucetina,  o carro velho dele  só sobe se for reduzido !
                                   De posse de tamanho dossiê, na frente de Xilderico, quem tivesse rabo de palha, não acendia fósforo.  Ele, assim, podia tossir toda sua sinceridade sem ser incomodado e principalmente, sem risco de confronto.
                                   Semana passada, na Praça da Matriz, alguém resolveu dar uma conselho a Xilderico. Ele devia pintar o cabelo branco, que já parecia uma roça de algodão, assim era capaz de remoçar uns quinze anos.  Capanema sacou a sinceridade que vinha cultivando há muito tempo e cuspiu :
                                   --- Adianta,  não ! E o pau, sobe ?
                                   Um dia, no mesmo  escritório da Praça, Xilderico debulhava suas queixas relativas à tempestade dos anos, quando alguém lembrou de uma solução possível . Havia chegado um pastor de uma igreja pentecostal na cidade e andava fazendo milagres como no tempo de Salvador. Quem sabe se Xilderico fosse lá e, na hora da bênção, quando o pastor pedisse para colocar a mão em cima de um lugar que tivesse alguma doença, ele colocasse, discretamente, as mãos no meio das pernas, como se estivesse em barreira na hora de bater uma falta ?  Quem sabe , assim, um milagre se faria e a virilidade não voltava?  Xilderico, com a franqueza de sempre,  rifugou o tratamento :
                                   --- Adianta não ! Esse pastor pode até melhorar os moribundos, mas não ressuscita os mortos  ! O milagre de Lázaro, amigos, é empeleita pra Cristo !

Crato, 23/05/14

quarta-feira, 21 de maio de 2014

"Voa, passarinho, voa" - José Nilton Mariano Saraiva

Para os “analfas” da vida (como o encimado), para que alguém se credencie a integrar a corte maior do país (Supremo Tribunal Federal), necessário que, além do douto saber (conhecimento técnico específico), seja dotado de sensatez, discernimento, prudência, responsabilidade e parcimônia na hora de julgar e expressar-se, fazendo-o de forma clara e cristalina sobre as diversas demandas jurídicas que lhe chegam às mãos.

Lamentavelmente, entretanto, por aqui o “poder econômico” e o “poder político” continuam a interferir no “poder judiciário”. Assim, tornou-se recorrente a Polícia Federal investigar, o Ministério Público oferecer denúncia e o Poder Judiciário “bater fofo” na hora H, especialmente se o alvo da ação for alguém “com bala na agulha” (muita grana).

Quem não lembra, por exemplo, que num passado não tão distante, o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello mandou soltar o bandido Alberto Caciolla, que houvera dado um monumental “cano” (rombo) no mercado financeiro, ao tempo em que sugeriu que, se fosse ele (já que tinha cidadania italiana), se mandaria para Itália.  Obediente, foi o que fez o marginal, dia seguinte.

Já o também ministro do Supremo, Carlos Veloso (hoje aposentado), mandou soltar o Paulo Salim Maluf e o filho Flávio Maluf, que haviam sido pegos com a mão na botija. Indagado sobre quais razões para fazê-lo, Sua Excelência candidamente disse que, teve “pena” de ver pai e filho presos, juntos. E o Maluf, como se sabe, até hoje não pode ir ao exterior, já que procurado pela Interpol (e não teve sentença final condenatória e como tem mais de 70 anos, sua pena, se houver, prescreverá em 2014).
Mais recentemente, o arrogante ministro Gilmar Mendes, na condição de presidente do Supremo Tribunal Federal, desmoralizou publicamente o Juiz Federal Fausto de Sanctis, ao mandar soltar (em duas ocasiões) o maior bandido do Brasil, Daniel Valente Dantas, que houvera sido trancafiado por determinação do juiz em apreço (por roubo).  E o Daniel Dantas, que junto com Maluf é um dos quatro brasileiros a constar na lista do banco Mundial como responsável por lavagem de dinheiro e desvios milionários, muito provavelmente deve estar operando novas maldades. Já o seu denunciante, delegado Protógenes, passou por maus momentos.
Agora, o recém nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, depois de ordenar que todos os inquéritos e ações penais da Operação Lava-Jato (assim como os mandados de prisão), fossem suspensos, reconhece ter-se precipitado e volta atrás, desdizendo o que dissera antes. Só que com um “pequeno detalhe”: o marginal-mór, o chefão de todo o esquema, aquele que comprovadamente meteu com vontade as duas mãos no erário público, senhor Paulo Roberto Costa (que estranhamente fora liberado, sozinho) não voltará à prisão. Continuará livre, leve e solto, provavelmente destruindo possíveis provas e, quem sabe, arquitetando uma previsível fuga do país.
Afinal, a “senha” já lhe foi apresentada: “VOA, PASSARINHO, VOA”, se possível pra bem distante daqui (ou alguém já esqueceu que o PC Farias, todo poderoso tesoureiro do Collor de Mello, foi bater na Tailândia ???).

segunda-feira, 19 de maio de 2014

"Simeone" - José Nilton Mariano Saraiva

Quando no exercício da sua atividade profissional (jogador de futebol), o argentino Diego Simeone ficou conhecido pela alcunha de “madeira de dar em doido”, popularmente adotada no meio futebolístico pra designar aquele jogador voluntarioso em excesso, de uma exacerbada valentia. Com Simeone, do pescoço pra baixo (evidentemente que do adversário) era tudo canela. E haja porrada, a torto e a direito. Às vezes até deslealmente. Às reclamações porventura existentes, a velha máxima: futebol é jogo prá homem, se quiser moleza vá jogar gamão.

Pois bem, apesar desse excesso de valentia, e até por isso mesmo,  Simeone brilhou não só na Argentina, mas mundo afora; mas, de tanto viajar e de tanto se dedicar e mostrar a velha garra portenha, cedo cansou, encerrando prematuramente a carreira.

Dedicou-se à função de treinador. E eis que consegue levar o modesto time do Atlético de Madrid (no qual atuou e foi campeão como jogador) ao título espanhol, depois de 19 anos na fila, desbancando os milionários e poderosos Real Madrid e Barcelona, que sobraram na curva. Sem dúvida, um feito espetacular e que alavancará sua carreira profissional.

O que chama a atenção no time por ele treinado é que seus comandados refletem a imagem e semelhança do antigo jogador Simeone, em termos de obediência tática, de dedicação, de entrega, de doação, de valentia, de vigor físico. Todo isso, aliado a um preparo físico excepcional, faz com que a equipe “simeonesca” se defenda em bloco e em bloco parta para fulminantes ataques (tal qual a seleção da Holanda, de 1974), daí a dificuldade dos adversários em derrotá-la. Claro que, aqui acolá imprevistos acontecem, mas normalmente a vitória é certa (foram apenas 04 derrotas em 38 jogos).

O título do Campeonato Espanhol foi mais um exemplo do sucesso do clube durante a "Era Simeone". Afinal, esse foi o quarto título até o momento do treinador desde que assumiu o comando em 2011: Liga Europa (2011-12), Copa do Rei (2012-13) e Supercopa da Europa (2012). 

E no próximo final de semana disputará com o Real Madrid, em campo neutro (Lisboa), o mais expressivo dos títulos em termos de Europa: a "Liga dos Campeões da Europa". Independentemente do resultado, Simeone já mostrou que veio para ficar. Definitivamente.