por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Lua cheia



O padre Adalmiram Vasconcelos, pároco de Farias Brito, vem sendo seguidamente imputado de polêmico pela população caririense. Conheci-o , recém ordenado, ainda como capelão do Hospital São Francisco , e sempre me pareceu um religioso aberto, cordato e tranqüilo. Em 2010, ele  trabalhando em Santana do Cariri , tomara medidas firmes no que tange à festa da padroeira daquela cidade que vinha tomando formato de um “Carnaval fora de época”. Blocos, trios elétricos, camisetas com alusões indecorosas e incentivo maciço às libações alcoólicas. Na época, com ajuda do prefeito e Ministério Público, criou regras e condutas na tentativa de imprimir um sentido mais cristão à festa religiosa. Sofreu , em represária, perseguições de grupos jovens locais,  disseminando-se o boato de que, à noite, o nosso pároco uivava à lua e virava lobisomem. Em 2011, o padre assumiu a paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Farias Brito. Em setembro do ano passado , solicitou aos fiéis da Serra do Quincuncá para não soltarem fogos de artifícios na missa em sufrágio da alma de Padre Cícero. Adelmiram acreditava que haviam sido os fogos que causaram um incêndio que terminou por devastar mais de dez quilometros da serra, com grave impacto ecológico. A população afeita ao fogaréu e ao pipoco , não viu com bons olhos a medida. Agora, por fim, explode uma outra polêmica. Aberta a Festa de Santo Antonio em Cariutaba, o sacerdote recorreu aos serviços do Ibama e da polícia para impedir o corte de uma árvore gigantesca , feito anualmente, desde o Século XIX, para se usar como pau da bandeira. Fincou a bandeira do santo casamenteiro na torre da igreja. Proibiu ainda o consumo exagerado de bebidas . As festividades vêm acontecendo do lado de fora do templo: por medida de segurança,  Adelmiram mandou passar um cadeado na capela. A revolta dos  moradores, num local tradicionalmente sem muitas atrações,  parece visível e perturbadora.
                                   À luz da razão , é difícil confrontar as medidas saneadoras e corajosas do nosso padre. É um verdadeiro absurdo se cortar, anualmente, uma árvore antiga, com o fito único de se montar um suporte de bandeira. Essa medida, amigos, fere não só princípios ecológicos, mas também legais. Sem falar no contra-senso que é uma religião que deve defender intransigentemente a preservação da vida nas suas mais diversas formas, servir de instrumento para a destruição. Que pensaria disso São Francisco de Assis ? Por que não mantemos a mesma tradição , utilizando sempre o mesmo mastro ? Por outro lado, que têm de sagradas as nossas festas religiosas? As estatísticas de violência na Semana Santa são, historicamente,  muito mais catastróficas de que as do Carnaval. Há shows nababescos  toda  Sexta Feira Santa em Gravatá, Pernambuco, regados a droga, sexo e Rock´n Roll. A Festa do pau da Bandeira de Barbalha  é similar aos rituais de fertilidade pagãos, com seu símbolo fálico reverenciado em cada esquina. As festividades da Baixa Rasa ,aqui em Crato,  não juntariam tanta gente sem a música, o aguardente e a paquera, ingredientes básicos de qualquer solenidade profana que se preze. Padre Adalmiram traz consigo esta pureza quase missionária, remontando às raízes do Cristianismo. Com coragem, cumpre a responsabilidade que se espera de um pastor : ver adiante, perceber novos caminhos por trás das lentes embotadas da aparente normalidade cotidiana. Nada, no entanto, contra a corrente, será massacrado pela população, pela política e mesmo seus pares não compreenderão sua Cruzada.
                                   O Sagrado e o Profano sempre estiveram umbilicalmente ligados em todas as nossas comemorações sacras. Talvez os brasileiros, por natureza, não sejam muito afeitos aos liames dos ritos. Pela nossa própria colonização, nossa religião é, também, profundamente miscigenada. Comungamos na igreja, mas freqüentamos o Centro Espírita, vez ou outra comparecemos ao Terreiro, acreditamos em reencarnação, usamos umas folhinhas de arruda , alguma figa, somos fatalistas, não comemos carne de porco e por aí vai. Nas festividades religiosas rapidamente entra um atabaque, um violãozinho, uma sanfona , que puxa uma caipirinha. Rapidamente os cultos ultrapassam as fronteiras do sagrado. Por outro lado, as cidades tomam as festas como suas( o turismo é politicamente cada vez mais atraente e uma fonte de renda importante), entram nas agendas turísticas dos municípios , parte-se para divulgação, procuram-se atrações de massa como isca e, de repente, a festa é festa e não mais culto. As entidades religiosas, por sua vez, pragmáticas, beneficiando-se com o aumento da arrecadação , fecham os olhos para o crescimento absurdo do profano, afinal  no Brasil tudo sempre acaba em festa.
                                   Acredito, no entanto, que não podemos apenas , simploriamente, lançar no povo brasileiro a culpa pela propensão natural à esbórnia.  O Cristianismo , estrategicamente, colocou sua festas principais na mesma data das antigas festas pagãs, no sentido de esvaziá-las. Os festins são todos retratos vivos de velhas encenações e iniciações de ritos pagãos. O Natal ( até hoje não sabemos a data do nascimento de Cristo) foi alocado em  25 de Dezembro, exatamente na antiga Saturnália , a grande festa romana que comemorava o solstício de inverno. A Páscoa, com seu coelhinho, seu chocolate e seus ovos, remontam ao culto da Deusa Ostera, símbolo da fertilidade e do renascimento na Mitologia anglo-saxônica. As comemorações dos nossos dias santos não passam, na verdade, de adaptações aos rituais às deusas primitivas, reverenciadas na época das plantações e cultivos dos alimentos. Deve ter se sedimentado no nosso inconsciente coletivo que não se pode venerar Zeus, sem acender também uma  vela para Vênus, para Baco e Dionísio.
                                   Possivelmente as árvores continuaram sendo tombadas; as bandas de forró seguirão fazendo a trilha sonora das festas religiosas; os tonéis de aguardente  persistirão na sua tradição de regar as preces. Apesar das nuvens, a lua permanecerá cheia. Adelmiram sabe disso e – mesmo sem sê-lo--  faz aquilo que se espera de um lobisomem : uivar !

 J. Flávio Vieira

Hoje, o show é no Juazeiro!- Vale a pena ver de novo!



LEILA PINHERO REALIZA O SHOW “VOZ E PIANO” NA UNIDADE SESC CRATO


Intuitivamente, embebida da sabedoria emocional que norteia suas escolhas musicais, a cantora e instrumentista paraense Leila Pinheiro seleciona alguns de seus compositores preferidos para a sua apresentação de voz e piano.
Sozinha ao piano, Leila canta e toca seus trabalhos mais recentes e escolhe, principalmente, canções que traçam um panorama da música brasileira. Entre os compositores selecionados estão Tom Jobim, Chico Buarque, Ivan Lins, Gonzaguinha, entre outros. Também não fica de fora a eterna inovação de Walter Franco, responsável por um dos grandes sucessos da carreira de Leila, “Serra do Luar”, e a contemporaneidade de Renato Russo. Autores como Flávio Venturini e Guilherme Arantes, importantes na carreira de Leila, também são lembrados.

O show acontecerá na unidade Sesc Crato dia 06 de junho às 20h e os ingressos estarão disponíveis a partir de segunda, dia 3 de junho, no SAC.



Ingressos:

Usuário: R$10,00 + 2kg de alimento

Comerciário: 2kg de alimento


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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Os Mapuches do Chile e Neoliberalismo imposto - José do Vale Pinheiro Feitosa

O sul do Chile e o sudoeste da Argentina é o grande território dos Mapuches que assim se chamavam, significando “mapu” que é terra e “che” que é gente. A gente da terra foi chamada pelos Europeus de Araucanos. Em termo de unidade cultural e de grupos linguísticos se equivalem em tamanho e complexidade aos grupos tupi guaranis. Os Mapuches falam a língua Mapudungún. O Mapudungún é o equivalente à língua geral do sul das Américas.

Os Mapuches se espalhavam desde o vale do Aconcágua (vale do Mapocho onde fica Santiago) no norte do Chile até o sul na Ilha de Chiloé. No norte os grupos Mapuches, chamados pelos espanhóis de picunches eram fortemente influenciados pelos Incas e submeteram-se mais facilmente ao domínio branco.
Os Mapuches que habitavam a partir do vale do Rio Maule em direção ao sul eram inteiramente independentes dos Incas e se opuseram aos Espanhóis na guerra do Arauco. Esses Mapuches se revelaram exímios cavaleiros, igual aos guerreiros das estepes asiáticas tendo esta característica como um importante fator para o desenvolvimento de sua cultura.

Entre os séculos XVII e o XIX os Mapuches se expandiram para leste e para sul dominando um vasto território e dominando grupos nômades e aculturando-os como aos tehuelces. No final do século XIX com os estados nacionais desenvolvidos, o Chile e a Argentina se organizaram na conquista dos territórios dos Mapuches com as guerras chamadas Conquista do Deserto ou Pacificação da Araucánia.

Quem conhece a Guerra dos Bárbaros ou a Confederação dos Cariris no nordeste brasileiro (essas mais precoces na história pois ainda coloniais), assim como as guerra norte-americanas contra apaches aí encontram semelhanças com estas incursões contra os povos originais das Américas ainda organizados politicamente em torno de sua cultura. O denominador comum dessa fase da história é a independência, o fim do estágio colonial e a ampliação da exploração do comércio mundial, especialmente o inglês e o nascente imperialismo americano. 
   
Aproximadamente de 4 a 5% da população chilena é formada por Mapuches o que é uma relação significativa quando se compara com outros países das Américas  à exceção é claro da Bolívia e do Peru. Os Mapuches chilenos vivem em dois pólos principais a região de Araucánia e Metropolitana e têm núcleos na região dos Lagos, Biobio e los Rios.

As principais etnias Mapuches são os Picunches no norte, Mapuches ou araucanos propriamente ditos que estão na crônica da resistência na região da Araucânia; os Huiliches que vivem entre o rio Totlén e a ilha de Chiloé que é uma etnia muito rica em mitos que vive da agricultura e da pesca e o Pehueches que foram assimilados pelos mapuches e que habitam na cordilheira na fronteira entre o Chile e a Argentina.
síntese histórica dos Mapuches em relação a identidade chilena é a defesa da terra e de sua gente. Essa cultura resistiu à incursão Inca com batalhas com participação de mais de 40 mil combatentes e quando os Incas desistiram de avançar em direção ao sul do rio Maule. E a outra defesa da nacionalidade foi a guerra do Arauco empreendida contra os invasores espanhóis.

Hoje a elite chilena e o capital produtivo e exportador domina toda a civilização chilena, mas há uma permanente e constante alma no subsolo a levantar-se contra os sistemas exploradores e de espoliação do mundo como os Mapuches assim pensaram sobre a terra e sua gente. O espírito revolucionário chileno tem nos Mapuches a raiz de sua luta. Pablo Neruda, nascido na região dos araucanos, se dizia um deles.

A ditadura de Pinochet foi cruel com os Mapuches que eram grandes conquistadores de terras em razão da reforma agrária do governo Salvador Allende. Los perros del exercito chileno torturaram, assassinaram, acabaram com as terras comunais. Mas foi uma questão de tempo para que a luta mapuche continuasse e continua a sofrer reveses mas há uma continua luta, pois o próprio sistema liberal na economia chilena favorece as grandes corporações multinacionais em detrimento do tipo de organização Mapuche.

Não posso ir além mas se registre que hoje no Chile os mapuches têm uma forte organização social capaz de navegar no tempo e enfrentar os reveses da história, uma organização familiar sólida pois é uma unidade de produção; uma forte religiosidade inclusive misturada com as religiões cristãs; têm modelos de habitação, uma matemática própria, um procedimento têxtil variado; uma cultura musical e poética consolidada e têm um papel divulgador por meio de um sistema próprio a oferecer etnoturismo.

Nesta semana um artigo de Noam Chomsky extravasa a convicção que existem dois movimentos contraditórios um acelerando a destruição do planeta representado pelas corporações e pelo capitalismo e um outro de preservação e salvação do planeta representado pelos povos indígenas.


Diz Chomsky: “As sociedades mais ricas e poderosas da história do mundo, como os Estados Unidos e Canadá, estão correndo a toda velocidade para destruir o meio ambiente o mais rápido possível.” E depois contrasta esta ação: “Tentando mitigar ou superar essas ameaças estão as sociedade menos desenvolvidas, as populações indígenas ou o que restou delas, sociedades tribais e as primeiras nações do Canadá. Eles não estão falando de uma guerra nuclear, mas do desastre ambiental, e estão realmente tentando fazer alguma coisa.” 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Ben Bernanke em dia de reconsiderações

Hoje já ocupei o espaço do blog com outra postagem, mas não consegui passar o parágrafo de um discurso de Ben Bernanke, presidente do Banco Central Americano, numa universidade americana. E não consegui pelo choque que tem tais palavras com os arroubos neoliberais das grandes empresas de jornalismo brasileiro, especialmente as revistas Veja e Época em sua contínua tarefa de formar mentalidades aqui nestes trópicos.

O resumo do discurso da mídia corporativa que tão bem os conservadores repetem em e-mails, postagens e nas redes sociais foi muito bem resumido por Antônio Mello em seu blog: Este é um governo demagógico, que se vale de bolsas e transferências de renda para vagabundo, numa compra indireta de votos; é um governo de petralhas, de companheiros enriquecendo como nunca; uma república sindicalista, com bolsa de estudo para pobre, tudo para os pobres, com o objetivo de continuar vencendo as eleições e poderem roubar ainda mais.

Na verdade o discurso esconde uma grande luta contra os direitos sociais e os direitos humanos. Os “petralhas” passam, mas os direitos sociais para os neoliberais são uma forma de sociedade que eles precisam combater como uma oneração sobre aqueles que têm o maior mérito. A cereja do bolo dos neoliberais mundiais e provincianos é a meritocracia. Enfim vamos a Ben Bernanke:

"Fomos ensinados a acreditar que as instituições e sociedades meritocráticas são justas. Deixando de lado o fato de que nenhum sistema, inclusive o nosso, é realmente totalmente meritocrático, a meritocracia pode ser mais justa e mais eficiente do que algumas alternativas. Mas, justa em um sentido absoluto? Pense nisso. A meritocracia é um sistema no qual as pessoas mais sortudas na sua saúde e na sua herança genética; mais sortudas em termos de apoio da família, de encorajamento e, provavelmente, de renda; mais sortudas nas suas oportunidades educacionais e de carreira, e mais sortuda em tantos outros aspectos difíceis de enumerar - estas são as pessoas que recebem as maiores recompensas. Mesmo para uma suposta meritocracia, a única maneira de ter esperança de ser considerada justa, é se aqueles que são os mais afortunados em todos esses aspectos também possuem a maior responsabilidade de trabalhar duro, para contribuir para a melhoria do mundo, e para compartilhar sua sorte com os outros."


O território político do Chile - José do Vale Pinheiro Feitosa

Considerando o território político total do Chile e sua porção que atinge até o Atlântico, ele tem o fantástico 5.338 quilômetros de extensão total. Além disso ocupa espaço em três continentes: nas Américas, na Antártida e na Oceania com a ilha da Páscoa. Esta longa faixa litorânea e mais as partes de outros continentes ocupa um espaço de 756,9 mil quilômetros quadrados. A sua população em 2011 era um pouco mais de 17 milhões de habitantes e 5,5 milhões vivem na região metropolitana de Santiago.

Indo de desertos fantásticos, com fontes termais, localizados nas alturas da cordilheira, onde se encontra o maior projeto de telescópios da humanidade a pesquisar o universo, o Chile é um universo de alturas e faixas de vales. Mesmo nesta estreiteza a maior cordilheira limita-lhe a oeste e uma segunda, mas baixa, acompanha o litoral e assim é a cordilheira da costa. A faixa ocupada por Santiago faz-lhe uma cidade permanentemente de alta poluição atmosférica em razão dos veículos.

As paisagens do Chile com campos de esqui fantásticos, recortes montanhosos que superam em beleza os Alpes além de serem mais intocadas e com uma característica incrível, mesmo nas baixas temperaturas as folhas não outonam como acontece na Europa. As intensas florestas que sobem os Andes na porção sul do país nunca perdem o verde, a não ser as árvores importadas de outras regiões.

O país fica sobre uma placa tectônica muito ativa e a cordilheira é um fumegar de vulcões: são 2085 no total, sendo 150 vulcões considerados ativos. É um típico território do Anel de Fogo do Pacífico. Subindo uma trilha pelo Cerro de San Cristóbal em Santiago, em companhia de uma chilena vem a pergunta brasileira: como é viver num terreno permanentemente sujeito a terremotos? Desde pequenos que as mães ensinam, constantemente ocorrem pequenos abalos, na escola, na família e na sociedade a permanente lição do que fazer e como fazer. Nos elevadores existe uma advertência a mais: não pegue elevadores em casos de incêndios e terremotos. 

O território é politicamente distribuído em seis regiõs: Norte Grande, Norte Chico, Central Chile, Araucánia e Região dos Lagos, Patagônia e Tierra del Fuego e as ilhas do Pacífico. O Norte Grande é aquele conquistado ao Peru e à Bolívia, compreende o deserto de Atacama, a cadeia montanhosa com até 1.500 metros de altura e uma depressão longitudinal. Existem oásis irrigados com as águas das alturas do andes. O Norte Chico é um semi-árido cortado por vales tranvessais, tem grandes contrastes compreendendo a cordilheira, desertos e vales férteis. De vez em quando a corretenza do El Niño leva chuvas à região e os desertos ficam floridos.

Santiago, Valparaíso e Viña Del Mar ficam no Central Chile. É um região com clima mediterrânico, a precipitação média anual em Santiago não ultrapassa os 300 milímetros (situação quase correspondente ao mínimo de precipatação no semi-árido nordestino). É uma região de terras muito férteis, com plantio de frutas e das melhores vinhas do país. Estima-se que 75% da população do Chile viva aí.

A Araucánia e Região dos Lagos fica bem ao sul de Santiago e é de uma beleza raríssima. Onde as florestas cobrem a cordilheira, os picos da montanha mostrando neve, chuvas intensas, umidade alta, criação de ovinos, bovinos, porcinos, llamas e alpacas. É o centro das multinacionais escandinavas que exploram o salmão criado em cativeiro e que abastece o comércio mundial. A região de Puerto Montt e Puerta Varas tem os grandes lagos decorrentes de degelo de grandes geleiras ocorrido ao fim da última glaciação há 17 mil anos.   

A Patagonia e a Região dos Lagos tem o clima em extremidade oposta ao norte do Chile. Muito fria, com vegetação quase de estepe e mais ao sul glaciares pré-históricos. Na região há uma um formigueiro de ilhas e ilhotas e fiordes altíssimos. No limite se encontram acidentes geográficos essenciais na geografia política do mercantilismo e das conquistas coloniais europeias: o Estreito de Magalhães, a Tierra del Fuego e a Ilha Navarino que é o último passo antes do lendário arquipélago do famoso Cabo Horn.

As ilhas do Pacífico são muito distantes do território continental do Chile, o arquipélago de Juan Fernández fica a 670 quilômetros da costa e a ilha da Páscoa a 3.760 quilômetos. Felizmente não têm papel estratégico de grande importância para os gastos da marinha chilena. O turismo é um ítem importantíssimo da economia chilena, mas seu coração econômico bate oxigenado pelo cobre de suas minas.

A mesma mineração que gerou guerras e estimulou ditaduras.

  

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sei que já ocupei o espaço de hoje, mas esta homenagem de Ruy Guerra aos brasileiros é tão enaltecedora que achei por bem postá-la por aqui:


Ruy Guerra 
"Há povos que fazem do seu sofrimento uma escola.
O português tem o retrato da sua alma no lamento do fado; o argentino, na arrogância do tango; o espanhol, no flamengo nostálgico da Ibéria mestiça.
O brasileiro se encontra na alegria. A imagem mais concreta da sua alma é a do seu sorriso sem dentes. O lugar comum é que o Brasil é o país do sol, do futebol e do carnaval. É um clichê mas tem os seus fundamentos.
O Brasil, em matéria de dor , é um hospital, uma casa mortuária e um cemitério. Mas o brasileiro é o povo menos masoquista que existe. Canta alegremente a dor, dança com o seu sofrimento. Isso talvez venha da costela africana, mas seja de onde venha, não perdeu o sadio primitivismo com a invasão da alta tecnologia, do laser e dos computadores.
O brasileiro é um otimista estrutural, precisa de motivos para estar triste, não precisa de nenhum para estar alegre. Perde um olho, não chora o olho que perdeu, canta a alegria de ver com o outro.
O ato de viver é, desde o parto, um largo sofrimento, mas o brasileiro parece não querer tomar conhecimento. Para ele a dor necessita uma justificativa maior, a alegria tem em si mesma a sua razão de ser.
Vive rindo e morre de sorriso nos lábios. Também mata às gargalhadas, tortura às gargalhadas e daí que a violência brasileira seja talvez mais insustentável, porque sublinhada pela sua cruel contradição.
O brasileiro é de um intrínseco paganismo na sua profunda religiosidade. Parece preferir as religiões africanas, não por acreditar mais nos seus santos, mas pela explosão da sua liturgia: um deus a quem se chega com gravidade é um deus que se respeita, mas nao se convida para tomar cafezinho. Negando a dor, se torna um iconoclasta.
O brasileiro parece nada levar a sério, o que não o impede de fazer as coisas com seriedade, porque nao existe nenhum ato de maior gravidade que o humor. E ninguém sabe rir melhor de si mesmo.
A Europa está velha, quem enche a boca com essa afirmação são os próprios europeus. Claro que dizem isso sem acreditar, mas é mais um clichê que é verdade.
São graves, compenetrados, importantes, dominadores, sadios, o que quiserem, mas perderam (ou nunca aprenderam) o caminho da alegria. Sabem fazer piadas, inventar anedotas - mas sim sobre os outros - o que assume uma forma de arrogância, não de humor. Podem achar que são felizes, mas não são alegres na sua felicidade. E se asfixiam nessa ausência. Reconhecem no brasileiro a alegria que salta por todos os poros, e não a compreendem. Só lhes resta um desprezo invejoso ou uma admiração cautelosa.
O turista estrangeiro vai ao Brasil consumir a alegria que lhe falta na sua felicidade, sem compreender o mistério da convivência de uma sociedade destroçada (que também lhe pertence), com uma euforia de viver (que lhes é negada).
O brasileiro é incovenientemente alegre demais. Sem motivo aparente, fala alto demais, ri alto demais, grita alto demais, veste-se alto demais, faz tudo demais. Esse demais é que explica tudo o que não tem como ser explicado, porque a alegria escapa aos manuais de etiqueta, é por definição informal, rompe com o bem-comportado, estraçalha com o bom-tom, os compêndios, a lógica.
O brasileiro se despe na alegria. Já o tentaram vestir de terno e gravata, enfiar num smoking, enterrar num pijama de madeira, emprisionar numa farda. O único uniforme que vai bem no brasileiro é a nudez, que é o que há de mais próximo à liberdade, à irreverência. O brasileiro continua sadiamente nu no riso.
O brasileiro nao tem vergonha de nada, so' de estar triste. A alegria é despudorada.
O brasileiro é hipocondricamente alegre, até na morte. Num velório, é preciso fazer força para manter um mínimo de formalidade, imposta pela herança de um ritual alheio, que no fundo nao entende, porque a dor não é incompatível com a alegria. Velório que acaba em festa é a maior homenagem que se pode fazer ao morto.
O sofrimento é, para a maior parte dos brasileiros, uma abstração, uma jornada transitória, um estágio para a alegria, que é uma inevitabilidade histórica, como a copa do mundo de futebol. Uma vitória que pode tardar, mas que está sempre para chegar, e chega. Porque o futebol, mais do que um esporte, é o ritual da consagração inevitável da alegria do povo brasileiro. E os garrinchas, seus ogãs e sacerdotes alados.
Um brasileiro alegre é um pleonasmo. Um brasileiro triste, um enigma.
Em bom francês, do alto do seu cartesianismo, o general Charles de Gaulle disse que que o Brasil não era um país sério. Coitado, passou por Roma, mas não viu o Papa; o país é mais sério do que qualquer outro.
Stefan Zweig, para mim um escritor menor, quando num lampejo escreveu " Brasil: país do futuro" acertou mais do que ele mesmo - e muitos dos que o leram e torceram o nariz - poderia imaginar, porque o futuro do Brasil nao está só no amanhã, mas também no ontem e no hoje. Está na sua perene, indomável e subversiva alegria."

A conquista do sul - José do Vale Pinheiro Feitosa

Contando a bacia do Rio da Prata, dos Pampas, do Chaco, parte da bacia do Amazonas e a bacia do Orinoco pela costa do Atlântico, os Espanhóis na América do Sul herdaram toda a costa do Pacífico ou seja a metade do continente. Na verdade os portugueses levaram uma vantagem relativa quando 8,5 milhões de quilômetros quadrados dos 17,8 quilômetros quadrados da América do Sul lhes pertenceu. Isso considerando os aproximados 200 mil quilômetros quadrados ocupados pela Inglaterra, Holanda e França no que se chamou Guianas.

A conquista espanhola dos territórios do Pacífico, incluindo o vasto interior pela Cordilheira dos Andes e até grandes trechos do território do Amazonas e toda a bacia do Orinoco tem um centro galvanizador. Foi, como no México, a conquista dos Incas, do ouro e da prata do Peru. Uma conquista tão poderoso que causou uma enorme inflação na Europa de então e estando na raiz de grandes fomes e de uma crise camponesa sem igual.

A expressão institucional do domínio do Pacífico é o Vice-Reinado do Peru. Alías, a cidade de Lima tem umas das mais belas Praças de Armas das Américas no estilo antigo dos espanhóis. No botim das riquezas do Incas entre Pizarro e Diego de Almagro este se rebela e, tomando conhecimento de que riquezas maiores existiriam ao sul, atravessa os Andes desde Cuzco, perde grande parte de sua tropa por hipotermia durante a travessia e chega ao vale do Capiapó onde acontece a Guerra do Arauco com os nativos e, sendo Almagro perdedor, retorna ao Peru para continuar a disputa com Pizarro. Isso aconteceu em 1536, mas a historiagrafia chilena considera a sua descoberta como tendo ocorrido em 1520 pelo português Fernão Dias de Magalhães na sua famosa circunavegação da terra.

Mas a história das Américas não é a história da conquista do mercantilismo pura e simples. Ela é a dinâmica que transforma os camponeses europeus e os nativos americanos num caldo cultural do mercantilismo e sua empresa mercantil que se capitaliza através da exportação de produtos minerais e agropecuário com seus derivados. Nem os espanhóis eram este ser único como ainda não é hoje. O centro do reinado era Castelha, mas a Galícia, a Catalunha e até os belicosos Bascos não são um único cultural. Assim os nativos do Chile.

Como havia Castelha na Península Ibérica a rivalizar com os Portugueses, no Chile os valorosos Mapuches eram o núcleo de expressão frente à força cultural dos Incas ao norte. Incas que dominaram os Aimaras, os Atacamenses (do Atacama) entre outros. Por isso que a cultura de resistência chilena e peruana quando precisa avocar sua alma americana fala num grande personagem chamado Túpac Yupanqui como símbolo das lutas políticas de agora. Os Túpac eram os imperadores Incas.

Em 1540 Pedro de Valdívia atravessa o Atacama, evita a rota da cordilheira feita por Almagro e começa a guerrear com os nativos seguindo numa conquista rumo ao sul, fundando cidades (na verdades pequenos fortes com agrupamento humano mínimo) e vai até ao sul. Funda cidades como La Serena, Concepción, La Imperial, Valdívia entre outras. Isso durou treze anos, quando em 1553 os Mapuches se rebelaram, retomaram seu território e mataram Pedro de Valdívia. Fica na rebelião dos povos oprimidos à força, a enaltação da memória de duas lideranças Mapuches: Lautaro e Caupolicán.

Os espanhóis destacaram para combater os Mapuches um fidalgo com nome florido: Garcia Hurtado de Mendonza y Manriquez. Este tomou um tombo fenomenal dos Mapuches e resolveu-se com a herança do vice-reinado do Peru. E foi aí que um espírito além das amarras do conservadorismo a serviço da empresa mercantil enxergou depois do pragmatismo da exploração e ouviu a humanidade nascida das franjas ricas da costa chilena: a alma dos Mapuches.

Era um poeta-soldado, que conseguia enxergar além da ponta ensanguentada de sua lança, que se chamava Alonso de Ercilla y Zúniga e escreveu a primeira poesia épica americana chamada La Araucana. No livro Dom Quixote de La Mancha, Cervantes escreve que La Araucana era, então, uma das maiores poesias em verso heroico castelhano. 

Identificado como um soldado, Alonso Ercilla era na verdade de descendência fidalga, sendo seu pai um jurisconsulto e o avô um senhor feudal. A mãe pertencia à nobreza e era dama de companhia da rainha. Além de uma grande aprendizado formal, Ercilla viajou por toda a Europa e pelas possessões espanholas. Acompanhou o príncipe Espanhol quando este foi a Bruxelas tomar conta do ducado de Brabante. Estava em Londres acompanhante o príncipe Felipe quando este foi casar-se com a herdeira inglesa e ali se tomou conhecimento da resistência dos Mapuches em Arauco. Foi então que o poeta embarcou para o Chile. Tinha, na ocasião, 21 anos de idade.

Alonso participou de sete batalhas com os Mapuches e, inclusive, participou da conquista do estreito de Magalhães. Junto a dez soldados atravessou o arquipélago de Aneudbox numa pequena barcaça e entrou de terra adentro onde numa árvore escreveu esta quadra:

Aqui chegou, onde outro não há chegado,
Don Alonso de Ercilla, que o primeiro
Em um pequeno barco deslastrado,
Com apenas dez, passou o desaguadeiro,
No ano cinquenta e oito entrado,
Sobre mil quinhentos por Fevereiro,
Às duas da tarde, ao fim do dia,
Retornando ao encontro da companhia.

E eis um trecho do espírito Mapuche nos versos de Alonso:

Chile, fértil província e assinalada
na região Antártica famosa,
de remotas nações respeitada
por forte, principal e poderosa
a gente que produz é tão granada,
tão soberba, galharda e belicosa
que não há sido por rei jamais regida,
nem à estrangeiro domínio submetida. 

A "omissão" do poeta - José Nilton Mariano Saraiva



Segundo Caetano Veloso, um dos nossos grandes poeta/compositores, “a praça Castro Alves é do povo, como o céu do avião”. Pecou por omissão, o distinto, ao deixar de incluir em seu verso (talvez porque não desse rima) que a “praia” também o é.
Fato é que, em sendo um espaço dos mais requisitados, a “beira-mar” se nos apresenta como aquele ambiente eminentemente democrático, onde convivem pacificamente pessoas de todas as tribos, raças e credos, independentemente das idiossincrasias.
Pois não é que, aqui em Fortaleza, o recém-empossado prefeito da cidade, embora fã incondicional do Caetano Veloso partiu pra radicalização ao proibir terminantemente que determinados grupos de pessoas que se exercitavam nas diversas praias da cidade continuassem a fazê-lo. 
Segundo um dos seus assessores, S. Excia., embora médico e, conseqüentemente, sabedor dos benefícios da atividade física para o ser humano, teria chegado a sugerir que estaria em curso uma tal “ocupação” e privatização progressiva do espaço público, o que representaria um perigo iminente.
E agora, José ???

Por José Carlos Brandão


ENIGMA

A memória teima
por desvendar esse
existir repleto
de espinhos secretos

ferindo a consciência
de dores silentes
que nem poesia
nem matéria fria

desvenda mais que
o trivial e
o já sabido antes

no primeiro instante
quando foi feita a treva
com a luz desta gleba.

(1972)
Procuro poesia nos quatro cantos da casa.Ela ,intimidada, fica na grama do jardim pastorando passarinhos.Preciso das rosas...- já tenho o cheiro de mato.
Junho, sem dúvidas, é o mês mais gostoso do ano.Ar-condicionado que só depende da luz das estrelas.
Estou morando num pedaço do céu - meu céu é modesto!
Meu coração está encharcado de águas salgadas, mas sinto no ar, o cheiro doce das frutas do Lameiro.
Um dia luminoso e de muita paz para todos!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A costa litorânea que é um país - José do Vale Pinheiro Feitosa

Começarei hoje uma série de postagens sobre o que é hoje a menina dos olhos do modelo liberal na América Latina: o Chile. Esta é a primeira e a última se auto-explicará. 

A Grécia, na ponta dos Bálcãs  é uma costa dadivosa para o comércio do Mediterrâneo e sua navegação a juntar o Oriente e o Ocidente. A Inglaterra uma ilha na costa do Atlântico foi uma armada a engolir povos em razão da expansão mercanto-capitalista deste oceano. A natureza desta presença histórica é a navegação como rota de expansão de produção e cultura.

A América do Sul tem 17,8 milhões de quilômetros quadrados e quatro quintos de seu território fica abaixo da linha do Equador. No princípio dos tempos era um só corpo continental junto com a África, a península Arábica, a Índia e a Austrália. O pedaço que formou a América do Sul se compunha de três massas: o escudo brasileiro, o escudo patagônico e o escudo guiano.

Foi muito tumultuada a separação deste corpo continental original com dobramentos e formação de sedimentos nos primeiros tempos e finalmente o grande dobramento dos Andes junto com a regressão dos mares na face Atlântica. A América do Sul é um conjunto de três estruturas: as planícies, os planaltos e a cordilheira dos Andes.

Há uma diferença enorme entre a costa do Pacífico e a costa do Atlântico. O litoral do Atlântico em geral é baixo, de fraco declive no terreno, terreno arenoso com depósitos fluviais e tem uma larga plataforma continental como terras mais baixas inundadas pelo oceano. Além de tudo é rico em acidentes geográficos como baias, golfos, penínsulas, saídas de grandes rios inclusive de grandes deltas.

Já o Pacífico é um contraste entre escarpas e grandes profundidades marinhas. Tem a moldura alta dos Andes e não tem plataforma continental. Não é tão rica em acidentes geográficos destacando-se alguns golfos e uma península, além da imensidão de ilhas e arquipélagos assim como a Terra do Fogo separada do continente pelo estreito de Magalhães.

A Atlântico tem 16 mil quilômetros de extensão em sua costa e o Pacífico tem 9 mil quilômetros. Destes 9 mil quilômetros do Pacífico, quase a metade pertence ao Chile: são 4.265 quilômetros. Porém é um país formado por uma faixa de terra com esta extensão toda e uma média de largura de 180 quilômetros, sendo a máxima de 349 quilômetros em Antofagasta e a mínima em 15 quilômetros em Puerto Natales bem no final sul do país.

É o Chile uma típica costa marinha, um país defendido a oeste pela Cordilheira dos Andes, ao sul pelos glaciares e a norte pelas terras conquistadas à Bolívia num dos desertos mais secos do mundo. A marinha é uma essência do seu domínio, mas os povos foram domados a ferro e fogo pelos exércitos que participaram de algumas guerras, inclusive a chamada guerra do Pacífico de 1879 e 1883 que deram ao Chile territórios conquistados ao Peru, como a Província de Tarapacá e à Bolívia, no caso a Província de Antofagasta que deixou a Bolívia sem saída para o mar.

E como sempre a raiz da guerra era o papel de protetorado que faziam as recém libertas repúblicas sul americanas aos capitais ingleses aplicados na exploração mineral dos nitratos, o guano e o salitre, no Deserto de Atacama. Até hoje a Bolívia reivindica um respiro para o Pacífico e isso é um conflito latente neste extenso litoral chileno.
    
Enfim o Chile tomou o Peru, solapou o litoral da Bolívia e os EUA começaram seu proselitismo com mediador do conflito e da paz entre as três nações com a conquista chilena de territórios que ainda fazem a história da nações latino americanas em suas mazelas e sofrimentos. Nestes episódios os EUA começavam sua marcha imperial em substituição à Inglaterra e neste episódio o Chile como uma costa por domínio.