por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Carta aberta aos artistas e intelectuais "do Crato"



Por Alexandre Lucas* 

Vocês têm contribuindo de alguma forma com o Crato

1. Cacá Araújo 
2. Jean Alex
3. Fatinha Gomes 
4. Nívia Uchoa 
5. Rafael Vilarouca 
6. Franklin Larcerda 
7. Josernir Lacerda 
8. Bastinha 
9. Luciano Carneiro 
10. Allan Bastos 
11. Yasmine Moraes 
12. Wilson Bernardo 
13. Carlos Rafael 
14. Luiz Carlos Salatiel 
15. Cleivan Paiva 
16. Rosemberg Cariry
17. Stenio Lima 
18. Lifanco 
19. Luciano Francioli 
20. Rita Cidade 
21. Joaquina  Carlos 
22. Guto Bitu
23. Rodrigo Moura
24. Junior Errer 
25. Diheson Mendonça 
26. Auci Ventura 
27. Saraiva 
28. João Nicodemos 
29. Claudio Reis 
30. Mestra Zulene 
31. Mestra Edite 
32. Mestre Cirilo
33. Mestre Aldenir 
34. Mestra Mazé
35. Edelson Diniz 
36. Fidel 
37. Janinha Brito 
38. Aecio Ramos 
39. Dane de Jade 
40. José Flavio 
41. Paulo Bento 
42. Maercio Lopes 
43. Joenio Alves 
44. Josernany Ferreira 
45. Kelyene Maia 
46. Marlon Torres 
47. Carlos Henrique 
48. Christian Marques 
49. Ana Paula Nogueira 
50. Daniele Esmeraldo 
51. Ingrid Alidiane 
52. Françoi 
53. Vinicius Pinho 
54. Waslevicks Pinho 
55. Jorge Carvalho 
56. Tio Bibi
57. Wanderley Tavares 
58. Felipe Tavares 
59. Jackson Bantim 
60. Jeferson de Albuquerque 
61. Adriano Brito 
62. Abidoral Jamacaru 
63. Pachely Jamacaru 
64. Yarley Brito 
65. Flavio Rocha 
66. Orleyna Moura
67. André Ferreira 
68. Manel do Chico Gomes
69. Jessika Bezerra 
70. Lilian Carvalho 
71. Augusto Bezerra 
72. Janinha Linard
73. Tyciane Lopes
74. Jorge Ney 
75. Geovani Brasil 
76. Laerto Xenofonte 
77. Cartulo Teles
78. Ricardo Correia 
79. Faeina Jorge
80. Edceu 
81. Ricardo Alves
82. Jucimar 
83. Ridalvo 
84. Raul Lampião
85. Thales Eijan 
86. Flauberto
87. Eber Torres 
88. Jardas 
89. Sandra Albano 
90. Eveline Limarverde 
91. Amanda Priscila 
92. Janaina Guedes
93. Alexandre Xamex 
94. Elionardo 
95. Cleo do Vale 
96. Junior Rivadávio 
97. Cidinho 
98. Wescley Sousa 
99. Edilânia Rodrigues 
100. Elizangela Nepomucena 
101. Maria Gabriela Federico 
102. Cristiano Ramos 
103. Josilson Lobo 
104. Carla Daniele  
105. Caludia Rejane 
106. Luiza Amaro 
107. Erika Souza 
108. Edgle Lima 
109. Mariana 
110. Mestre Galdino
111. Kaika 
112. Eduardo Júnior 
113. Renê 
114. Glauco Vieira 
115. Sâmia Oliveira 
116. Sâmia Xavier 
117. Luiza Amaro 
118. Jussiane Emidio 
119. Jurandi Temoteo 
120. Primo 
121. Saraiva 
122. Mãe Alice 
123. Suyane Oliveira 
124. Lidio
125. Diego Sidrim 
126. Daniel Jackson
127. Nezite Tavares 
128. Pedro Ernesto 
129. Henrique Vidal 
130. Leonardo Luna 
131. Borracha 
132. Junnior Pessoa 
133. Ângelo Gomes 
134. Julio 
135. Camila Lima 
136. Fábio Lemos 
137. Adriana Botelho
138. Malan Amaro 
139. Willyan Teles
140. Amilton
141. Ana Aline 
142. Jonizia Fernandes 
143. Joseany Ferreira 
144. Charline Moura
145. Renata Marinho
146. Roberto Marques 
147. Edson Martins 
148. Roberto Siebra 
149. Mestre Aldenir 
150. Divani Cabral 
151. Padre Ágio
152. B.Boy João Paulo  
153. Manuel Fernandes
154. Zuleide Queiroz
155. Maria Iara Brito 
156. Jairo Starkey 
157. Ana Rosa
158. Norbelia Duarte  
159. Paulo Fuisca 
160. Joelmir Pinho 
161. Saraiva
162. Tancredo Lobo 
163. Carlos Henrique 
164. Anderson Almeida
165. Rogério Canal 
166. Marcelo Missão Miranda 
167. Michel Macedo 
168. Antônio Queiroz 
169. Mabel 
170. Batista 
171. Jaquelina Rolim 
172. Pâmela Soares 
173. Alemberg Quindins
174. Talita Bac
175. Raquel Arraes 
176. Constance Gonçalves 
177. Aline Silva 
178. Edival Dias 
179. Seu Jesus 
180. Roseane Limaverde
181. Eveline Limaverde
182. Kerollen Duarte
183. Eduardo Escultor  
184. Diego Linard  
185. Alvaro Holanda
186. Célia Dias 
187. Daniel Peixoto 
188. Didi Moraes
189. Elisa Moura 
190. Fran Galdino 
191. Maestro Galdino 
192. Ibbertson Nobre
193. Jayro Starkey
194. Lamar
195. Maestro Bonifácio 
196. Micaelson Lacerda
197. Corné Baruino 
198. Eduardo Campos 
199. Kélivia Maia 
200. Edilma Saraiva
201. Samuka 
202. Zada
203. Waldemar Arraes
204. Henrique Maia 
205. Gessy Maia 
206. Amanda Teixeira 
207. Emerson Monteiro
208. Everardo Aguiar 
209. Bebeto 
210. Marcos Leonel 
211. Socorro Moreira 
212. Willian Brito 
213. Fernando Garcia 
214. Virginia Moura 
215. José Wilton Conrado
216. Carlos Lourenço
217. Hugo Rocha 
218. Adauto Garcia 
219. Jardas 
220. Queops Arsênio 
221. Evandro Peixoto 
222. Tânia Peixoto 
223. Thibério Cesar 

(Certamente esqueci-me de citar alguns nomes ( me perdoem), mas se sintam incluídos).  Vivemos além das eleições. Pensamos a sociedade e produzimos arte independente das eleições, mas é preciso reconhecer as eleições como momentos importantes para o futuro  e o bem estar das pessoas. Isso não é coisa de político! Isso é coisa de seres humanos. 

Severamente o ato de pensar a sociedade ou de produzir arte tem uma dimensão de escolha, de perspectiva, ou seja, de ação política.     

Os artistas e intelectuais desempenham importante papel na vida pública. No Crato, nestas eleições provocamos o debate sobre políticas públicas para cultura e conseguimos que as quatro candidaturas a Prefeitura do Crato/CE assinassem a CARTA COMPROMISSO COM A CULTURA, a qual foi assinado pelos Candidatos Marcos Cunha e Pedro Lobo (Candidato a prefeito e vice), Cícero França e George Marcário (Candidato a prefeito e vice), Raimundo Filho (Candidato a  vice-prefeito) e Mauricio Almeida  (Candidato a vice-prefeito). 

Essa carta é um compromisso político assumido pelas quatro candidaturas, que representam uma conquista não para os artistas e intelectuais do Crato, mas para a humanidade, tendo em vista a dimensão progressista e humanizadora do documento que compreende a cultura e a arte, além do entretenimento e da mercantilização. A carta compreende  cultura como vetor de desenvolvimento humano, social, econômico, ambiental  e de diversidade cultural e artística.  

A carta é resultado das resoluções da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da UNESCO, da Conferencia Nacional de Cultura, dos Encontros Nacionais dos Pontos de Cultura do Brasil e das bandeiras defendidas pela Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, além da  observância das resoluções da Conferência Municipal de Cultura do Crato. Ou seja, essa carta representa um anseio  planetário de intelectuais e artistas. 

Esse documento  não foi pensado para beneficiar  candidatura Vermelha, Amarela, Verde ou Azul, mas o conjunto multicolor das candidaturas. É preciso que os candidatos tenham um norte do que queremos. É preciso que cada candidatura entenda que para pensar políticas publicar para cultura, não basta de uma pessoa para executar, é necessário antes de tudo de ter propostas e clareza política do que se quer executar.    

Uma etapa nós já ultrapassamos: ASSINATURA DA CARTA COMPROMISSO COM A CULTURA. Após as eleições precisamos partir para segunda etapa EXIGIR DO CANDIDATO ELEITO  que seja honrado o compromisso público. 

Então, acredito que somente misturados e mobilizados vamos conquistar políticas públicas duradouras para cultura. É preciso que cada coletivo, companhia, ONG, artista, ativista, intelectual, brincante, tenham conhecimento do teor do documento assinado pelas candidaturas e possam se somar numa frente de diálogo com o candidato eleito para pensar o Crato como a “capital de desenvolvimento de políticas pública para cultura” para serem  copiadas e recriadas pelo povo brasileiro. 

       


A nossa disposição é de luta e acreditamos que investir na cultura é desenvolver de forma intersetorial cidades mais humanas. 

Saudações com anseio de revolução cultural! 


* Alexandre Lucas - Artista/educador, Pedagogo, integrante do Instituto Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA, do Programa Nacional de Interferência Ambiental – PIA,  do Coletivo Camaradas, Coletivo Desmascarados,  do Conselho Municipal de Cultura do Crato,  do Coletivo Estadual de Cultura do Partido Comunista do Brasil – PCdoB   e da Rede Misturados.  

    
         


Conteúdo da Carta Compromisso com a Cultura


CARTA COMPROMISSO COM A CULTURA

Eu XXXXXX , candidato a prefeito do município do Crato pelo  Partido XXX, assino esta carta compromisso ao pleito eleitoral de 2012.

Considerando:
 1. A Convenção da UNESCO sobre a proteção e a promoção da Diversidade das Expressões Culturais, ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 485/2003;

2. A Agenda 21 da Cultura (Barcelona 2004), que diz “As cidades e os espaços locais são ambientes privilegiados da elaboração cultural em constante evolução e constituem os âmbitos da diversidade criativa, onde a perspectiva do encontro de tudo aquilo que é diferente e distinto (procedências, visões, idades, gêneros, etnias e classes sociais) torna possível o desenvolvimento humano integral”;

4. As resoluções aprovadas na II Conferência Nacional de Cultura, sistematizadas no Plano Nacional de Cultura, sancionado em dezembro de 2010;

5. As resoluções aprovadas na Conferência Municipal de Cultura do Crato-CE, realizada em 2010, sistematizadas no Plano Municipal de Cultura;

6. As propostas elaboradas pela Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura no Congresso Nacional;

Assumo o compromisso público, em sendo eleito:

A Cultura deve ser tratada como prioridade estratégica, através de mecanismos permanentes que visem sua consolidação como política de Estado e compreendida como dimensão fundamental para o desenvolvimento humano e econômico, social e ambiental;

A Cultura deve ser valorizada em seus múltiplos aspectos, considerando a diversidade cultural do nosso povo. Desta forma, integrar e fomentar tanto as culturas tradicionais como as indústrias criativas e todas as cadeias produtivas do setor, sem hierarquizar estas dimensões complementares.

As políticas públicas de cultura devem ser pensadas como elementos de aproximação entre o Estado e a sociedade. Neste sentido, as administrações municipais devem compreender a cultura como elemento de democratização desta relação. Políticas culturais emancipatórias contribuem para a criação de uma nova cultura política.

A política cultural deve facilitar e permitir o acesso ao território e ao espaço público, garantindo o direito à cidade, ressignificando e reapropriando estes espaços.

Cultura, Educação e Comunicação Democrática ou democráticas são elementos indissociáveis e indispensáveis em uma administração municipal e para formação cidadã.

As crianças, adolescentes e jovens devem ser considerados prioritariamente na elaboração, formulação e implementação das políticas culturais. Dar ênfase à primeira infância.

Cujas metas são:

ESTRUTURA E GESTÃO:
•             Fortalecer a Secretaria Municipal de Cultura, desmembrando-a do Esporte e Juventude e aperfeiçoando seu núcleo operacional;
•             Otimizar a implementação/funcionamento do Sistema Nacional de Cultura na esfera municipal - conselho, plano e fundo municipal de cultura;
•             Democratizar a gestão cultural e a destinação de seus recursos criando instrumentos de participação direta da sociedade nas definições de políticas, fiscalização, controle e execução das mesmas;
•             Implementar a cartografia sociocultural urbana: conhecer a cidade e sua gente, sua cultura, sua religiosidade, suas cadeias produtivas artesanais e industriais na cultura;
•             Valorizar o trabalhador da cultura, estimulando a formalização e regularização previdenciária do mesmo.
•             Criar uma política permanente de ocupações dos equipamentos culturais, através de editais públicos.  
FINANCIAMENTO:
•             Apoio à imediata aprovação da PEC 150/2003, que estabelece que 1% dos recursos do orçamento do município deva ser aplicado na Cultura;
•             Independentemente desta aprovação, que seja garantido no mínimo este percentual para os recursos destinados à Cultura, na lei municipal do Plano Plurianual, das Leis de Diretrizes Orçamentárias e das Leis Orçamentárias, já a partir do orçamento municipal elaborado para o ano de 2014;
•             Criar editais de fomento direto para todas as linguagens e expressões artísticas fortalecendo a produção independente;
•             Incentivar o mecenato a partir da criação de leis de incentivo via ICMS, ISS E IPTU;
•             Estimular a criação de parcerias públicas e privadas;
•             Desburocratizar os contratos de repasse de recursos, sem comprometer os mecanismos de fiscalização e controle;
•             Isenção de ISS para artistas e associações culturais sem fins lucrativos.
COMUNICAÇÃO E CULTURA DIGITAL:
•             Criar TV pública municipal, fortalecer e reconhecer as rádios comunitárias;
•             Criar gabinete digital junto ao Prefeito;
•             Documentação e modernização tecnológica para o acesso do povo ao conhecimento;
•             Implantar e/ou manter, através de apoio financeiro da administração municipal, as rádios e as TVs Comunitárias, geridas por associações de entidades usuárias;
•             Ampliar o já existente programa de acesso gratuito à internet – Banda larga Para Todos, criado por Lei Municipal
EDUCAÇÃO E CULTURA:
•             Criar um Segundo Turno Cultural nas escolas em tempo integral através de ações voltadas para a cultura e o esporte;
•             Incentivar a educação ambiental e patrimonial na rede municipal de ensino;
•             Fiscalizar a implementação do ensino de música na rede municipal de ensino, conforme determinado pela legislação vigente;
•             Fazer valer a lei Federal que garante o ensino da cultura afro brasileira nas escolas, ampliando-a para as culturas indígenas, conforme determinado pela legislação vigente;
•             Fazer valer a Lei Municipal nº  que determina a obrigatoriedade do ensino da história do Crato na rede municipal de ensino.  
•             Criar escola municipal de artes/cursos formação nas artes e produção cultural;
•             Formação de gestores culturais;
•             Construir ampla campanha nacional e local de erradicação do analfabetismo;
•             Incentivar o cineclubismo e a exibição de filmes nacionais nas escolas.
•             Apoiar à imediata aprovação pelo Congresso do Projeto de Lei 7.507/10 (PLS 185/2008) que torna obrigatório a exibição de produções audiovisuais brasileiras na rede municipal de educação, e compromisso com a sua posterior implantação;
•             Cumprimento da Resolução nº 411/2006 do Conselho Estadual de Educação, que fixa normas para o componente curricular Artes, no âmbito do Sistema de Ensino do Estado do Ceará.
PROTAGONISMO SOCIAL:
•             Apoiar a aprovação pelo Congresso Nacional do Projeto de Lei 757/2011 que cria a Política Nacional Cultura Viva (Pontos de Cultura) e compromisso com a sua implantação na esfera da administração municipal;
•             Fortalecer a Rede dos Pontos de Cultura – Criando um ponto para cada 15mil habitantes;
•             Incentivar o fomento à manifestação e criação de protagonismo local;
CULTURA E CIDADE
•             Cultura no planejamento urbano - desenvolvimento com preservação, design público, memória;
•             Implantar e/ou manter e fortalecer as políticas públicas de preservação de patrimônios históricos materiais e imateriais, bem como de patrimônios naturais e ambientais;
•             Valorizar espaços de ensaios, de criação, produção e apresentação;
•             Criar, equipar e manter: cinemas, bibliotecas públicas, teatros e outros espaços  destinados à arte e a cultura;
•             Implantar e/ou manter e fortalecer de Bibliotecas Públicas Municipais (inclusive através da ampliação e atualização de acervos) e Tele Centros;
•             Apoiar e fortalecer o programa de ação “Cine+Cultura”, através da implantação de cineclubes e especialmente nas localidades com menos de 100mil habitantes nas quais não existam salas comerciais de exibição;
•             Implantar salas de cinemas utilizando a lei 12.599/2012, que cria o programa “Cinema Perto de Você”;
•             Promover a ocupação dos espaços públicos e a valorização do artista da Rua;
•             Criar polos de cadeia produtiva e estimular a Economia Criativa Local: design, artesanato, moda;
•             Estimular a criatividade, conhecimento local que fazem a diferença;
•             Incentivar a produção, circulação do artesanato com criação de um polo para  comercialização;
•             Recenhecer os saberes e fazeres tradicionais: incorporar nas diversas ações de saúde, meio ambiente e ensino regular;
•             Apoiar a aprovação do Projeto de Lei 1786/2011 que institui a Política Nacional de proteção e fomento à transmissão da Tradição Oral - Lei Griô;
•             Estimular a integração para experimentações: linhas de pesquisa, universidades, movimentos culturais;
•             Incentivar prêmios municipais;
•             Gerar acessibilidade física à leitura e outras formas de comunicação;
•             Primar pela sustentabilidade socioambiental na utilização, distribuição e comercialização de matérias primas e produtos relacionados às atividades artísticas e culturais.
•             Equipar e adequar o Cine-Teatro Salviano Arraes Saraiva. 

Crato-CE, 27 de agosto do ano 2012.

XXXX                                             XXXX
Candidato a Prefeito –                Candidato a Vice-Prefeito
    




domingo, 16 de setembro de 2012

USINAS EÓLICAS UM CRIME COM CARA DE BONDADE ECOLÓGICA - José do Vale Pinheiro Feitosa


Confesso que ao retornar à minha cidade por meio de alguns blogs gostaria de falar sobre flores. Afinal, tanto tempo faz que a deixei e deveria vir apenas com um sentimento líquido a regar a vida. Mas não pude. A minha cidade continua linda e sua paisagem muda, porém mantendo a mesma personalidade daquela linha horizontal demarcatória de sua identidade: a Chapada do Araripe.

Pois não É que fantasmas assombram esta paisagem. Antes um fato: a Constituição Federal diz no Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. Posso ter um engano brutal sobre o que sejam paisagens naturais notáveis, mas como cidadão: afirmo que a limpeza da paisagem da Chapada do Araripe é um dever público.   

Agora aos fantasmas. Existem esforços econômicos, jurídicos e de engenharia prontos para implantarem usinas Eólicas na Região. Energia limpa! Todos exultarão. Mas só quem sentiu a quebra sistemática promovida por tais usinas na paisagem do litoral cearense sabe o que isso significa.

Em conversa há pouco mais de um ano com o Arquiteto Fausto Nilo (que é compositor musical) ele garantiu-me ser possível preservar as paisagens naturais notáveis e implantar tais usinas em outros ambientes. Não fazem por mera questão econômica dos investidores: teriam que fazer torres mais altas. Mas o prejuízo econômico é coletivizado e o lucro dos novos “usineiros” é privatizado.

Vamos ao notável na paisagem. Isso se encontra na cultura, na música, na poesia, no romance, na narrativa, nos cartões postais e assim por diante. O que tínhamos de belo nas praias cearenses: o mar, o vento, os coqueirais, as dunas, a planura do seu território. Aí criaram mostrengos dignos de Guerras nas Estrelas a engolir as paisagens litorâneas do Ceará.

Em Fortaleza, na Taiba e agora em Paracuru os aproveitadores e oportunistas plantaram usinas eólicas nas dunas e à beira mar. A naturalidade e notabilidade da nossa paisagem foi esmagada por patas gigantes e pás a girar como a desejar novos Quixotes a enfrentar moinhos. Paracuru, plana e pouco vertical se encontra emoldurada por gigantes a dominar sua paisagem até mesmo da distante ponta da Lagoinha, já em Paraipaba. É um crime feito sob a batuta de advogados, juízes e órgãos ambientais além duma municipalidade a imitar espelhos e pentes trocados por Pau Brasil pela ingenuidade mercantil dos nossos índios.

O fantasma a apontar o dedo tenebroso para a Chapada do Araripe é um fato e as preparações andam céleres. Dizem que até candidato com chances de se eleger na cidade faz parte do negócio. Já possui território para levar o seu quinhão no escambo de nossa paisagem.

Aos nossos bravos cratenses: proteger uma paisagem natural notável de um antolho é mais sutil e complexo do que simplesmente a defesa da APA Araripe. O negócio, dizem, é na Chapada, foram da área de proteção. Aí aquela linda, histórica e eterna linha horizontal da Chapada estará para sempre tomada pelas torres imensas a corromper seu patrimônio visual.  

Bom, posso não ter falado de flores, mas falei de paisagem

Urariano Mota: Mídia, uma assassina da formação do povo  - Portal Vermelho


Durante sua participação, ele rememorou a época em que o Rádio tocava Noel Rosa, Ismael Silva, João Gilberto. Segundo ele, isso foi uma primeira fase, uma fase rica. O segundo momento do rádio passou por um processo de deteriorização profunda, e cita como umas das causas a influência do modelo que vinha dos Estados Unidos.



Urariano, que também é jornalista, lembrou que "o Brasil tinha um modelo próprio de fazer rádio. Tínhamos radionovela, radioteatro, programas de humor fantásticos, como por exemplo PRK-30. E afirmou com convicção, o grande rádio formador de opinião, formador de cultura, praticamente não existe mais. E o Golpe de 64 contribuiu muito para essa perda de qualidade, seja através de perseguição aos grandes artistas daquela época, como exemplo Mario Lago, seja pela influência na queda dos níveis da educação”. CONTINUAR LENDO:

A força da fé - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A nossa fé é um dom quase que inexplicável. É a ausência absoluta de qualquer tipo de dúvida. A certeza inabalável da existência do divino e dos dons que todos nós dele recebemos, sem que para isso nada precise nos ser provado. Algo semelhante a quando desejamos encontrar uma determinada rua ou o caminho para chegarmos a uma cidade desconhecida e indagamos a um estranho como encontrá-la. Não duvidamos da informação que nos foi prestada e seguimos em frente com toda confiança, sem a menor suspeita de que o informante poderia estar nos dizendo algo que nos levaria a um precipício ou a uma emboscada.

Às vezes já me perguntaram como sendo eu um professor de matemática, ciência para qual as propriedades necessitam de provas, poderia viver a minha fé. Se não me ocorria nenhum tipo de dúvidas. Respondo que até na matemática, que se rege pelo raciocínio lógico, há verdades axiomáticas para as quais acreditamos sem nenhum questionamento. Afirmações que todo o universo tem como verdadeiras sem necessidade de demonstração.

Para vivência da fé é indispensável a virtude da humildade. Reconhecermos que somos um pequenino grão de areia na imensidão do universo. É por isso que as pessoas mais simples e humildes possuem uma grandiosa fé.

Conta-se que um pobre lenhador vivia sozinho no meio de uma mata trabalhando sem interrupção durante todos os dias. E encontrava uma forma simples de entrar em contato com Deus para que tivesse forças para o trabalho e suportar as agruras da vida e da solidão. Em sua humilde oração ele tinha a mais absoluta convicção de que era atendido. Sua reza era apenas essa: "Senhor, eu sou Joaquim, o resto o senhor já sabe."   

Certa vez, uma emissora de rádio, num de seus programas populares, colocou uma de suas ouvintes no ar. A mulher dizia estar passando muita fome, e por isso quase prestes a morrer, acrescentava. Mas tinha certeza que Deus a livraria daquela situação. Haveria de ser atendida e receberia seu alimento por alguém de bom coração. Um rico capitalista que se deslocava para sua casa com o rádio do carro ligado, ouvindo aquele apelo murmurou: "Quanta ignorância! Quero ver se essa mulher tem a fé que ela diz ter diante da prova que lhe farei". E ordenou aos seus empregados que enchessem o bagageiro do carro com uma grande feira, os mais diversos tipos de alimentos e levassem para ela com uma recomendação. Quando a mulher perguntasse quem lhe mandou aquelas compras, eles lhe dissessem que foi o demônio. E assim foi feito. A pobre mulher, posta diante de tantos mantimentos agradecia a Deus por ter escutado a sua voz. Mas os empregados daquele ricaço, insistiram:
- "A senhora não vai perguntar quem lhe mandou essas compras?"
- "Não me interessa. Deus ouviu o meu clamor."   
Então os homens disseram:
- "Olhe, quem lhe mandou essa rica feira foi o diabo!"
- "Como o meu Deus é grande! Até o diabo obedece a Ele!" Respondeu a fé daquela humilde mulher.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sábado, 15 de setembro de 2012








teu rosto
no meu pensamento
às vezes se esfumaça
passa por tantas idades
que eu nunca sei
como estás

lembro rostos de "Cinema"
rostos belos
expressivos ...
depois descobri que a tela
inventa sempre histórias
de rosto triste, infeliz

prefiro a cara lavada
com rugas,desidratada
mas que espressa o real:
o rosto que a vida fez
o fim que a vida traz !

socorro moreira

Parabéns, Carlos Eduardo Esmeraldo!

Desejamos ao amigo querido,  tudo de bom!

Abraços nossos pra você e Magali.

Baião com tempero caririense





O Baião de Nós ainda não foi servido, mas já dá pra sentir o cheiro. Página publicada hoje no Caderno 3 do Diário do Nordeste, dá notícia do meu novo CD.

Veja o texto completo. Clique aqui.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Negando fogo



O Cabo  era um pequeno distrito próximo à Matozinho. Um arruadozinho de pouco mais de trinta casas dispostas de forma pouco regular que se foram amontoando pouco a pouco,  em longos e longos anos. Um dia os viventes daquele oco de mundo  tinham sido moradores da Fazenda do Coronel Serapião Garrido.  Com a viagem derradeira do coronel, a fazenda terminou rateada por muitos herdeiros que foram paulatinamente se desfazendo de suas terras. O fragmento onde hoje se situa o Distrito chamado de “Cabo”  comprara-o  um policial da região chamado Cabo Altino que findou seus dias ,tragicamente, assassinado por um marido ciumento. Como partiu prematuramente, não havia deixado descendentes e as terras , por usucapião, findaram nas mãos dos antigos moradores da época ainda de Serapião. Em homenagem ao policial legaram-lhe o nome de “Cabo Altino” que, com o tempo, por lei do menor esforço, recaiu num simples “Cabotino” e, finalmente, talvez pela feiúra do epíteto,  virou, por fim:  “Cabo”.
                        Passaram-se os anos e o arruadozinho permanecia exatamente o mesmo , motivo de inúmeras chacotas em Matozinho. Dizia-se que ali só se abria nova rua quando caía uma casa. Apelidaram de “Cabo”  um anão da Vila.   E tome-lhe potoca: “Mais atrasado que o Cabo”! “Esse menino num cresce não, é empererecado danado , parece o Cabo”! “O Cabo  é tão atrasado que não muda nunca de patente: não sobe nem prá sargento!” Todos estes chistes precisavam ser ditos à boca miúda, sob pena de algum cabense infiltrado, tomar as dores e resolver a pendenga à força de facão rabo-de-galo.
                        Pois bem, situado bem nosso arruado, voltemos à nossa Matozinho que vivia, naquele momento, em período eleitoral, nas vésperas de eleições para deputado, senador e presidente. Ao contrário do pleito para escolha de prefeito e vereador, aquele não dava muito solavanco nos ânimos matozenses, não ! A coisa permanecia meio morna, meio em banho-maria. Talvez, por isso mesmo, Giba,  o dono do Bar mais famoso da Vila,  estivesse, naquele dia preocupado com razões outras bem distantes de Chapas e Urnas. É que havia combinado  , desde a semana anterior, com o velho Atanásio Jovelino,  para mandar emprestado o jumento de lote de Giba para o distrito do Cabo, com o fito de cobrir algumas éguas .  O dono do bar estava meio agoniado,  primeiro porque se tratava de dia de Feira em Matozinho e, depois, porque mandara  Tõin Catingueira  , seu fiel escudeiro numa fazendola nas cercanias da Vila, na dura missão de pegar o jerico e trazer para cidade. Dali, Zezé da D20, um pegador de frete, já havia lavrado contrato para levar o jumento até às mãos de Atanásio. E aí vem a segunda razão do vexame de Giba:  Zezé havia combinado a viagem para as oito da matina, já passara duas vezes no Bar e, até aquele momento, mais de onze , Tõin Catingueira, que tinha fama de lerdo e macio, não tinha aparecido com a encomenda.
                        Pois bem, para que se entenda bem a história, neste momento, entra em cena uma outra trama. Giba nem lembrava,  mas, na semana anterior, um primo o havia escrito da Capital, pedindo sua ajuda num empreita.  É que um amigo dele era candidato a Deputado Estadual e estava indo para Matozinho na semana seguinte, com fins de fazer campanha e carrear alguns votos. O primo havia recomendado Giba como cicerone:
                        --- Dono de Bar, Giba conhece todo mundo! Ele vai te levar aos melhores cabos eleitorais da região !
                        No azáfama do dia a dia, Giba já nem mais lembrava o pedido do primo. Pois não é que o homem resolveu chegar exatamente naquele dia : em meio à feira, imprensado entre o jumento, Zezé e Catingueira? Apresentou-se ao dono do botequim e este foi muito cordial. Pediu-lhe apenas um tempinho e ficou naquela aflição danada, aguardando a chegada de Tõin que não vinha e a insistência periódica de Zezé que, passando por ali já pela quarta vez, tinha ameaçado cancelar o contrato.
                         O candidato esperou um pouco, enquanto conversava com a clientela matutina do bar: os bêbados mais inveterados e que precisavam tomar a primeira,  para parar aquela tremedeira . Ante o stress de Giba , andando de lado a lado e resmungando :
                        -- Como é que pode uma coisa dessas ? Tõin não chega! Lerdo ! Abestado ! Tratante !
                        O candidato imaginou, com seus santinhos, que a figura aguardada com tanta ansiedade só podia ser um importante cabo eleitoral da região. Tõin que vinha tangendo o jumento de lote, por sua vez, sabia apenas quem alguém transportaria o bicho até o distrito do Cabo e, ciente do atraso,  preparava-se para o esporro do patrão.
                        Quando apontou, por fim, nosso vaqueiro na extremidade da rua, um Giba ,já suando em bicas,   gritou:
                        -- Finalmente  o pomba-lesa do Catingueira chegou !
                        Ao ouvir o abre-te-sésamo , o deputado,  acreditando tratar-se do detentor de uma mina de votos, saiu correndo em desabalada carreira e abraçou nosso vaqueiro efusivamente:
                        --- Bem vindo Catingueira ! Ainda bem que você chegou , rapaz!
                        Catingueira, meio confuso, imaginou que aquele era o homem do frete e que ia transportar nosso jegue até à lua de mel em terras de Atanásio ! Dirigiu-se diretamente ao candidato e entregou-lhe o jumentão de lote que, animado, excitado,  já pressentia as futuras noites de núpcias:
                        --- Pronto ! Taqui o que o sinhô tava esperando! Vossimicê  já pode levar esse jumento até o cabo !
                        O deputado, ante a ameaça , afastou-se rápido, ainda ouvindo as ritmadas batidas do falo jeguiano no bucho,  e negou fogo :
                        --- Que conversa é essa, seu Catingueira? Não meta as pernas pelas mãos não, homem de Deus ! Quem leva jumento até o cabo é eleitor e não político !  Tesconjuro, desgraçado !

J. Flávio Vieira


Vale a pena conferir...



Colaboração de Geraldo Ananias



No tempo da minha infância
(Ismael Gaião)

No tempo da minha infância
Nossa vida era normal
Nunca me foi proibido
Comer muito açúcar ou sal
Hoje tudo é diferente
Sempre alguém ensina a gente
Que comer tudo faz mal

Bebi leite ao natural
Da minha vaca Quitéria
E nunca fiquei de cama
Com uma doença séria
As crianças de hoje em dia
Não bebem como eu bebia
Pra não pegar bactéria

A barriga da miséria
Tirei com tranquilidade
Do pão com manteiga e queijo
Hoje só resta a saudade
A vida ficou sem graça
Não se pode comer massa
Por causa da obesidade

Eu comi ovo à vontade
Sem ter contra indicação
Pois o tal colesterol
Pra mim nunca foi vilão
Hoje a vida é uma loucura
Dizem que qualquer gordura
Nos mata do coração

Com a modernização
Quase tudo é proibido
Pois sempre tem uma Lei
Que nos deixa reprimido
Fazendo tudo que eu fiz
Hoje me sinto feliz
Só por ter sobrevivido

Eu nunca fui impedido
De poder me divertir
E nas casas dos amigos
Eu entrava sem pedir
Não se temia a galera
E naquele tempo era
Proibido proibir

Vi o meu pai dirigir
Numa total confiança
Sem apoio, sem air-bag
Sem cinto de segurança
E eu no banco de trás
Solto, igualzinho aos demais
Fazia a maior festança

No meu tempo de criança
Por ter sido reprovado
Ninguém ia ao psicólogo
Nem se ficava frustrado
Quando isso acontecia
A gente só repetia
Até que fosse aprovado

Não tinha superdotado
Nem a tal dislexia
E a hiperatividade
É coisa que não se via
Falta de concentração
Se curava com carão
E disso ninguém morria

Nesse tempo se bebia
Água vinda da torneira
De uma fonte natural
Ou até de uma mangueira
E essa água engarrafada
Que diz-se esterilizada
Nunca entrou na nossa feira

Para a gente era besteira
Ter perna ou braço engessado
Ter alguns dentes partidos
Ou um joelho arranhado
Papai guardava veneno
Em um armário pequeno
Sem chave e sem cadeado

Nunca fui envenenado
Com as tintas dos brinquedos
Remédios e detergentes
Se guardavam, sem segredos
E descalço, na areia
Eu joguei bola de meia
Rasgando as pontas dos dedos

Aboli todos os medos
Apostando umas carreiras
Em carros de rolimã
Sem usar cotoveleiras
Pra correr de bicicleta
Nunca usei, feito um atleta,
Capacete e joelheiras

Entre outras brincadeiras
Brinquei de Carrinho de Mão
Estátua, Jogo da Velha
Bola de Gude e Pião
De mocinhos e Cowboys
E até de super-heróis
Que vi na televisão

Eu cantei Cai, Cai Balão,
Palma é palma, Pé é pé
Gata Pintada, Esta Rua
Pai Francisco e De Marré
Também cantei Tororó
Brinquei de Escravos de Jó
E o Sapo não lava o pé

Com anzol e jereré
Muitas vezes fui pescar
E só saía do rio
Pra ir pra casa jantar
Peixe nenhum eu pegava
Mas os banhos que eu tomava
Dão prazer em recordar

Tomava banho de mar
Na estação do verão
Quando papai nos levava
Em cima de um caminhão
Não voltava bronzeado
Mas com o corpo queimado
Parecendo um camarão

Sem ter tanta evolução
O Playstation não havia
E nenhum jogo de vídeo
Naquele tempo existia
Não tinha videocassete
Muito menos internet
Como se tem hoje em dia

O meu cachorro comia
O resto do nosso almoço
Não existia ração
Nem brinquedo feito osso
E para as pulgas matar
Nunca vi ninguém botar
Um colar no seu pescoço

E ele achava um colosso
Tomar banho de mangueira
Ou numa água bem fria
Debaixo duma torneira
E a gente fazia farra
Usando sabão em barra
Pra tirar sua sujeira

Fui feliz a vida inteira
Sem usar um celular
De manhã ia pra aula
Mas voltava pra almoçar
Mamãe não se preocupava
Pois sabia que eu chegava
Sem precisar avisar

Comecei a trabalhar
Com oito anos de idade
Pois o meu pai me mostrava
Que pra ter dignidade
O trabalho era importante
Pra não me ver adiante
Ir pra marginalidade

Mas hoje a sociedade
Essa visão não alcança
E proíbe qualquer pai
Dar trabalho a uma criança
Prefere ver nossos filhos
Vivendo fora dos trilhos
Num mundo sem esperança

A vida era bem mais mansa,
Com um pouco de insensatez.
Eu me lembro com detalhes
De tudo que a gente fez,
Por isso tenho saudade
E hoje sinto vontade
De ser criança outra vez...
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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Festa




Vivo sempre antenada,
Mas a vida infestada
De tristeza que não passa
Esconde a festa que alegra
Nossa alma encarnada.

Festa é encontrar amigo
cidade, mar ou roçado
compartilhar todo canto
espantar o nosso pranto
No som de algum compasso.

Na aridez do Nordeste
o que salva é a nossa arte
Que pena ,o mato queimado
Destarte tanta toada

Desligo a informação
Mas fico alienada
Querendo um verso perdido
Quando mudei de estrada.

Sonhando com voz amiga
Eu volto pro mesmo ponto
E aguardo outra loa
Pra LUA lá da calçada.


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Não te amo mais.
Estarei mentindo se disser que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza de que
Nada foi em vão.
Sei dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer nunca que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase

EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade:
É tarde demais...
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Clarice Lispector

Estrelas - Aloísio


Estrelas

Estrelas nos meus caminhos
À minha infância retorno
É uma viagem distante
É como um mar que contorno
 
Lembro das noites sem lua
Quando ficam mais brilhantes
É como os olhos pedindo
Os carinhos dos amantes

Estrelas que no infinito
Vão clarear meu presente
Pra entrar no desafio
Todo escrito de repente

Depois de lido o poema
Fui chamado para versar
Quando acordar deste sonho
Quero as estrelas tocar.
 

Continua o desafio
Com a palavra festa


Aloísio
12/09/2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012




Língua
Caetano Veloso



Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

© Editora Gapa

Moça na Cama - Adélia Prado


Papai tosse, dando aviso de si,
vem examinar as tramelas, uma a uma.
A cumeeira da casa é de peroba do campo,
posso dormir sossegada. Mamãe vem me cobrir,
tomo a bênção e fujo atrás dos homens,
me contendo por usura, fazendo render o bom
. Se me tocar, desencadeio as chusmas,
os peixinhos cardumes.
Os topázios me ardem onde mamãe sabe,
por isso ela me diz com ciúmes:
dorme logo, que é tarde.
Sim, mamãe, já vou:
passear na praça em ninguém me ralhar.
Adeus, que me cuido, vou campear nos becos,
moa de moços no bar, violão e olhos
difíceis de sair de mim.
Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,
os moços marianos vão me esperar na matriz.
O céu é aqui, mamãe.
Que bom não ser livro inspirado
o catecismo da doutrina cristã,
posso adiar meus escrúpulos
e cavalgar no topor
dos monsenhores podados.
Posso sofrer amanhã
a linda nódoa de vinho
das flores murchas no chão.
As fábricas têm os seus pátios,
os muros tem seu atrás.
No quartel são gentis comigo.
Não quero chá, minha mãe,
quero a mão do frei Crisóstomo
me ungindo com óleo santo.
Da vida quero a paixão.
E quero escravos, sou lassa.
Com amor de zanga e momo
quero minha cama de catre,
o santo anjo do Senhor,
meu zeloso guardador.
Mas descansa, que ele é eunuco, mamãe.

Os versos acima, publicados inicialmente no livro "O Coração Disparado", foram extraídos de "Adélia Prado - Poesia Reunida", Editora Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 175.


"Sereno da Madrugada
Carlos Gonzaga


Sereno da madrugada
Caindo no meu caminho

Na rua abandonada
Eu ando triste sozinho

Sereno a minha amada
Se encontra
Em outro ninho e não no meu

Sereno da madrugada
Amigo que Deus me deu "

Para Aloísio- por Socorro Moreira ( dez/2010)
Esse mote
que o carteiro
na minha noite pingou
é sereno , o meu amigo,
um poeta de louvor !

Sereno me surpreende
quando o flagro numa flor
mas o sereno Aloisio
não perde nunca um repente
quando cumpre um desafio

Agora mudando a prosa
eu falo da serenata
com a música do Gonzaga
que a minha infância encantou
Começo a cantarolar
lembrando a praça molhada
quando uma estrela chorou

Considerando as estrelas
na contagem sideral
eu pergunto ao Deus do céu
pelo lenço que o sereno
não gosta nunca de usar
e fico embevecida
vendo a planta embriagada
de versos, rima e luar !
.
E antes do fechamento
eu lembro a velha canção
que o poeta da vila
deixou pra gente cantar
ele fala como a gente
que também se diz boêmio
e gosta de versejar :

"Sou do sereno
Poeta muito soturno
Vou virar guarda noturno
E você sabe porque
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos prá você"(Noel Rosa)


Deixo uma nova palavra
pra alguém considerar
dentre as estrelas que vejo
uma delas é um olhar
que começa a serenar!





Futebol: a Seleção Maguila

Muitos daqui se lembram do simpático ex-pugilista Adilson Rodrigues, o Maguila, um bom boxeador em nível regional que alguns brasileiros espertos tentaram elevar a fenômeno internacional.
Para fazer cartel, como se chama no boxe (acumular vitórias), Maguila lutava contra sparrings e pugilistas inexpressivos, alguns barrigudos e flácidos, em lutas transmitidas como se fossem espetáculos inesquecíveis da Nobre Arte pelo locutor Luciano do Valle.
Quando ousou enfrentar pugilistas de destaque dos EUA, precisou de uma ajudinha dos juízes num resultado que entrou para a história do boxe, no Maracanãzinho, e foi à lona em lutas nos Estados Unidos. Tornou-se “campeão mundial” por uma obscura associação.
Pois bem, parece que a História se repete, e desta vez como segunda farsa. Estamos vendo nos gramados a Seleção Maguila.
Desde que o técnico Mano Menezes pediu à CBF para desmarcar amistosos contra a Espanha e a Itália, no final de 2011, optando por jogar contra Gana, Gabão e Egito e virando motivo de chacota internacional, a Seleção adotou a tática Maguila para permitir ao seu treinador fazer cartel e evitar derrotas humilhantes contra grandes adversários.
Quem acompanha a Seleção há décadas e já teve de conviver, infelizmente, com técnicos como Falcão, Lazzaroni e Leão, sabe que mesmo nos piores momentos nunca tivemos medo. Na linguagem futebolística, nunca fugimos do pau. Até a Era Mano Menezes. Até a Seleção Maguila.
O primeiro resultado dessa tática covarde, motivada em parte pela pior colocação da Seleção na história da Copa América, foi a perda de uma medalha de ouro fácil nos Jogos Olímpicos. E há dois anos não ganhamos de nenhuma Seleção importante.
Após o fiasco em Londres, Galvão Bueno, que faz o papel então reservado a Luciano do Valle, tentou convencer o País de entrávamos numa fase de “reinício de trabalhos” – e não, obviamente, de continuidade: o mesmo treinador, os mesmos jogadores, a mesma tática, os mesmos adversários.
Goleamos a China por 8x0 ontem.
Quem é a China?
Uma Seleção já eliminada da Copa do Mundo de 2014 num grupo de quatro Seleções que contava com Iraque, Jordânia e Cingapura. Iraque (do treinador Zico) e Jordânia se classificaram para a fase seguinte. A China ocupa atualmente a 78ª colocação no ranking da Fifa (África do Sul, penúltimo adversário da Seleção, ocupa a 74ª colocação).
Como a grande mídia não gosta de fazer jornalismo, nós fazemos. Vejam essa curiosa diferença de escalação inicial, do último jogo da China nas eliminatórias para o jogo da vitória maguiliana.
China 3x1 Jordânia.
C. Zeng, X. Sun, P. Zhao, L. Zhang, J. Liu, J. Hao , T. Chen , S. Qin, H. Yu, P. Lu., L. Gao. http://uk.eurosport.yahoo.com/football/world-cup-qualification-afc/2014/china-pr-jordan-464272.html
Brasil 8x0 China.
Isso mesmo. A Seleção que derrotamos por um placar patético não é sequer a Seleção principal da patética equipe chinesa (aliás, a Seleção com o pior ranking enfrentada na Era Mano).
Agora pensemos alto. Temos a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014. Qual é a utilidade de jogar partidas em que ficamos 90% do tempo no campo do adversário? Testa-se a defesa, o meio de campo, o ataque – este, contra defesas eficientes?
Que conclusões podem ser tiradas sobre o desempenho dos jogadores se estamos jogando contra Seleções que não participarão dos principais torneios que precisamos ganhar? Como esses atletas jogarão contra grandes Seleções, aquelas que precisamos derrotar para conseguir títulos? Que treino é esse?
Seleções principais derrotadas na Era Mano: Estados Unidos, Irã, Ucrânia, Escócia, Romênia, Equador, Gana, Costa Rica, México, Gabão, Egito, Bósnia, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia, África do Sul e China.
Esta é a nossa turma.
Só há duas utilidades efetivas nesses jogos: fazer cartel para o treinador e vender jogadores para o exterior.http://extra.globo.com/esporte/copa-2014/em-dois-anos-jogadores-convocados-por-mano-menezes-ja-renderam-1-bilhao-em-negociacoes-6032738.html
É esta a nossa outrora gloriosa Seleção Canarinho: a Seleção Maguila, a Seleção da Era Mano.
Fiquem certo os mais jovens: nunca foi assim. Nunca passamos vergonha por medo, nunca precisamos de vitórias questionáveis contra Seleções ridículas para segurar treinadores e dar confiança a jogadores.
Podíamos nem ter bons jogadores, mas ao menos tínhamos coragem. Éramos homens em campo.

Baião de Nós pra degustação


Petisco musical do meu novo CD, que está prestes a ser lançado. Trecho de uma das faixas e clima da produção. Sua visita à nossa página será bem-vinda: https://www.facebook.com/baiao.de.nos

domingo, 9 de setembro de 2012

O "estilo" Dilma

Nota Oficial
Citada de modo incorreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado neste domingo, nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, creio ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares.
Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão.
Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infra-estrutura e reservas cambiais recordes.
Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes.
Recebi um Brasil mais respeitado lá fora graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional. Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista.
Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento. Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro.