por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 21 de junho de 2022

A "BOUTIQUE DA LIMPEZA (*) – José Nílton Mariano Saraiva


Desempregado, oriundo da construção civil (servente), já cansado de perambular atrás de alguma ocupação que permitisse sua “reinserção” do mercado de trabalho, aquele senhor de meia idade encontrou uma certa dificuldade em concretizar sua aspiração (um novo emprego) em razão de não ter sequer a educação básica formal normalmente exigida numa ocupação “quebra-galho”.

Mas, de repente, uma luz no fim do túnel: já cansara de ouvir, na telinha, menção a um tal de “empreendedorismo”, passível de concretização desde que o interessado tivesse coragem e ousadia. E isso, ele tinha de sobra. Agora, era só partir pro abraço.

Morador de uma “comunidade”, paradoxalmente encravada vizinha a diversos condomínios de alto padrão, num bairro classe média alta por demais concorrido, descobriu um “ponto”, de esquina, onde poderia experimentar o tal “empreendedorismo”, que certamente o levaria ao sucesso dentro de pouco tempo, transformando-o em “empresário”.

E embora o “ponto” fosse um tanto quanto modesto em termos de espaço (media exíguos 2,0m x 2,0m e uma só porta) entendeu que, “empreendendo”, dali partiria para voos mais altos, à frente.

Juntou as parcas economias conseguidas no emprego anterior (que conseguira poupar com muito esforço), adquiriu duas ou três prateleiras dessas desmontáveis (que era o que cabia no espaço) e preencheu-as com tubos de detergentes, água sanitária, alguns pacotes de bombril, esponjas, caixa de fósforos, Q-Boa, sabão em barra e só. E depois de muito pesquisar, resolveu “batizar” a sua “obra-prima” com um pomposo “Boutique da Limpeza” (para tanto uma vistosa placa foi confeccionada).

Decidiu, então, que precisaria de uma funcionária para “tocar” o negócio, de um celular para que ela atendesse e anotasse os inúmeros pedidos que decerto seriam feitos, além de um “entregador”. E, para que os ”coitados” não ficassem desconectados do mundo ou ficassem estressados, adquiriu uma TV LED, 32 polegadas, tinindo de nova, um “birô” e uma cadeira.

Quanto a ele, após “empreender” (e agora na condição de “empresário”) merecia um descanso: ir pra casa, deitar na rede e assistir TV o dia todo e todos os dias, somente retornando após o sol se pôr, a fim de “fechar o caixa”.

Ao final do primeiro dia o ”estoque” permaneceu intocado, mas, segundo ele, em razão da “falta de costume” do pessoal dos condomínios vizinhos e circunvizinhos; com uma semana, a coisa não mudou nada; depois de um mês, a única “baixa” no estoque se deu porque ele próprio levou pra casa um detergente, uma Q-Boa, uma água sanitária e um pacote de bombril.

Como “compensação”, chegaram o boleto do aluguel, a conta da luz e a obrigação de pagar, em dinheiro vivo, a remuneração pactuada com os “diligentes” funcionários (a vendedora e o entregador).

Resumo: a muito custo conseguiu com que o proprietário do “imóvel” (2,0m x 2,0m, lembremo-nos), aceitasse sua proposta de rescindir o contrato e perdoasse a multa contratual, em troca de “tudo” que tinha dentro: as prateleiras, o estoque, a mesa, a cadeira, o birô e a TV.

“Empreendedorismo”, nunca mais (quem mandou não consultar o Sebrae ???).

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(*) trata-se de um fato real (como não lembrar, se a vistosa placa continua lá ???)

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