por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 12 de maio de 2021

O CRAQUE "EFÊMERO" (VAPT-VUPT) - José Nilton Mariano Saraiva

 O CRAQUE “EFÊMERO” (VAPT-VUPT) - José Nilton Mariano Saraiva.

Anos atrás, numa noite de quarta-feira de cinzas, em sequência ao Campeonato Cearense de Futebol o então imbatível time do Ceará Sporting Club enfrentou, no Estádio Presidente Vargas, a equipe do Calouros do Ar, lanterninha da competição.

Final do jogo, para surpresa de todos, o Calouros do Ar aplicou sonoros 3 x 0 no Ceará, numa dessas zebras que pastam em campos de futebol de 200 em 200 anos. É que a farra carnavalesca houvera sido homérica e os jogadores do Ceará literalmente jaziam mortos e grudados ao chão, dentro do uniforme (sem fôlego para um passo à frente, nem força para subir um centímetro).

O detalhe é que todos os gols da partida foram feito por um desconhecido centroavante que naquela noite estreava no time do Calouros do Ar (Cícero ou César, não lembramos).

Dia seguinte, lá estava ele nas primeiras páginas dos jornais da capital, enquanto as emissoras de TV exibiam entrevistas feitas não só com o próprio, mas, também, com o pai, a mãe, a irmã, a avó, o irmão, a tia, o avô, o primo, a cunhada, o cachorro, o gato, o papagaio e por aí vai. Foi um verdadeiro “auê”, autêntico carnaval fora de época na periferia onde residia.

Perguntaram-lhe sobre a sua origem humilde, a sua rotina diária, onde começara a jogar bola, se tinha namorada (loura ou morena), qual o seu prato preferido (buchada, sarapatel ou panelada), como se deslocava de casa para treinar (a “pé”, carona ou de bicicleta) e, enfim – suprema glória - se não sonhava com a Seleção Brasileira (pode acreditar, o cara, estreando pelo Calouros do Ar e um idiota que se autoproclamava jornalista arrota uma imbecilidade dessa).

Fato é que a pressão foi tanta, a badalação tamanha, o espaço lhe dedicado nos jornais e TV tão magnânimo, que o coitado sentiu-se um autentico e privilegiado “ENVIADO DOS DEUSES”. E aí, não contou conversa: meteu a cara na cachaça (com vontade), deixou-se levar pela glória efêmera (vapt-vupt) e, tão rapidamente quanto emergiu, submergiu. Nunca mais ninguém ouviu falar daquele “craque”. Tinha PÉS DE BARRO o coitado e, definitivamente, não era um “ENVIADO DOS DEUSES”.

A reflexão acima tem tudo a ver com a irresponsável tentativa de endeusamento que a mídia esportiva brasileira promove quando um jogador desconhecido se sobressai num lance fortuito de um jogo de futebol qualquer (como o fez nosso personagem) ou um tal Romarinho, do Corinthians, autor de um gol em cima dos argentinos do Boca Juniors. Sim, porque, a rigor, o citado, ao entrar em campo faltando oito minutos para o fim da partida, só pegou na bola uma única vez e fez o gol. Foi o bastante para alguns afoitos integrantes da mídia já o alçarem à condição de futuro jogador da seleção brasileira, craque fora de série, jogador solução pra todos os problemas enfrentados pelo futebol brasileiro e por aí vai.

Fato é que, juntando-se o espaço dedicado pela mídia e o apoio de dirigentes bufões e desonestos a rodados medalhões brasileiros, que os profissionais clubes europeus não mais aceitam por conta do envolvimento com drogas pesadas, muita farra e confusões de toda ordem (mas que aqui são paparicados e idolatrados, como o tal Adriano e o Ronaldo Gaúcho, por exemplo), temos o retrato emblemático da decadência impressionante da seleção brasileira de futebol, outrora temida e admirada por todos e hoje saco de pancadas de qualquer timezinho de quinta categoria.

Tudo isso em razão da mídia desonesta e irresponsável querer transformar “PÉS DE BARRO” em “ENVIADOS DOS DEUSES”.

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