por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 13 de julho de 2014

MEU ECUMENISMO - por José Almino Pinheiro


Minhas noções de ecumenismo começaram bem antes de ter ouvido falar nessa palavra e muito menos saber o que significava. Lá em casa, quando eu era acometido por alguma doença, um parente médico era chamado. Logo após a saída do médico, atendendo ao chamado de umas das funcionárias da casa, chegava a Comadre Chiquinha com seus galhos de pinhão roxo e água de arruda, e com muita reza realizava os trabalhos de afastamento e cura, que infalivelmente expulsava todos os malefícios, feitiços e maus olhados, que com toda certeza tinha sido vítima. Tratamento válido para todos os menores da casa, já para os adultos o trabalho era feito à revelia, longe das vistas deles.  Tudo isso sob o olhar tolerante de minha mãe e tias, católicas praticantes que, por não serem fundamentalistas, respeitavam as crenças dos outros. Afinal, na família tinha de não crentes a crentes de vários credos, todos aceitos sem censuras, além de que, por via das dúvidas era melhor não arriscar com as forças ocultas.  
Já adolescente, por várias vezes na companhia da “tia” responsável pelo afastamento dos maus olhados, visitava um Terreiro de Umbanda que existia no Alto do Seminário, no Crato. Não acreditava muito naquilo tudo. Achava muito confuso, muitos deuses, santos e orixás juntos, sincretismo complicado. Preferia acreditar nos evangelhos. Mas, confesso que gostava do ritual do terreiro, música, dança, muita cachaça, nenhum ensaio, cada um se manifestando como queria, espíritos “baixando” para  dar  algumas ordens, pedir coisas e adivinhar passado e até mesmo o futuro, como  por  exemplo que “breve iria chover ou que breve algum figurão morreria”.
Fomos alfabetizados no Instituto São Vicente Ferrer, escola pertencente à Paróquia do mesmo santo. O pároco, padre Frederico Nierhoff,  estava  alguns anos à frente do fundamentalismo religioso de muitos cratenses, que entre outras coisas discriminavam as famílias protestantes que começavam a se estabelecer na região. Com a maioria das escolas primárias particulares ligadas à igreja católica e dirigidas por religiosas quase beatas, ficava quase impossível matricular filhos dessas famílias. Mas, para o padre Frederico, matricular filhos de famílias protestante era um ato, talvez de caridade, não era pecado nem impedimento religioso.
Nos anos 70 do século passado, em Praga, saindo da faculdade depois de uma prova considerada difícil, rumo à estação do metro e passando em frente à Igreja Ortodoxa dedicada aos Santos Cirilo e Metódio, um colega do Iraque me chamou para entrar e orar para agradecer a Deus. Ponderei, já subindo os degraus, que talvez fosse falta de respeito já que eu era católico e ele muçulmano, ao que ele me respondeu: mas o Deus é o mesmo. 

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