por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 4 de janeiro de 2013



MEU PAI, A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS E A BENÇÃO DE SÃO FÉLIX - por Stela Siebra Brito

Mesmo depois de vir morar no Recife, Joaquim Valdevino de Brito sempre conservou alguns dos rituais sertanejos aprendidos em casa com o pai, no sertão cearense da Ponta da Serra: acordava às 4 horas da manhã, fazia suas orações e depois ia até a varanda (agora substituindo o alpendre da casa) dar uma espiada na Estrela Dalva e saudar a manhã que já se irradiava. Só depois é que ia fazer o café. Fez isso até os noventa anos quando se mudou de vez para junto das estrelas.
Do meu pai guardo muitas recordações singulares, algumas engraçadíssimas, outras que demonstram seu valor de integridade e honradez, que falam do espírito de luta e, também, de religiosidade. Na nossa casa se rezava o terço toda noite, ia-se à missa todos os domingos e cumpríamos outros costumes religiosos, como o hábito de “fazer a primeira sexta-feira do mês” que consistia em ir à missa e comungar.
Mesmo beirando os noventa anos meu pai ainda ia à missa aos domingos e fazia, pelo menos, a primeira sexta-feira do ano.  Gostava de ir à Basílica da Penha, no Recife, receber a benção de São Félix, uma grande festa de fé cristã. A Basílica fica repleta de fieis a manhã inteira e os frades rezam missas e depois espargem água benta nas cabeças das pessoas, que vão pedir ou agradecer as graças recebidas, levam chaves de casa, do carro, exames médicos, carteira de trabalho, etc.
Hoje é a primeira sexta feira do ano 2013, por isso esta lembrança tão viva do meu velho pai, que amanhã, dia 5, completaria 102 anos; e por lembrar meu pai me vem o sertão inteiro com seus entardeceres de luz, com o silêncio das noites escuras claras de estrelas, das bocas de noites e do medo do guaxinim, das estórias de Trancoso, das trovoadas, das chuvas, das cheias do rio Carás, do cheiro do arrozal pendoado, das mangueiras floridas, das cajaranas maduras, bonecas de milho, banhos no açude... 

Sertão: um silêncio cósmico que nos integra ao Todo.
            Stela Siebra Brito – Recife, 4 de janeiro/13


Um comentário:

socorro moreira disse...

Existe uma promessa cristã: aquele que faz nove primeiras sextas-feiras não morre sem absolvição.
Refere-se a uma devoção ao Coração de Jesus.
Fiz algumas. Meu pai morreu com esta benção.
Se é que o céu existe, um dia lá, nos reuniremos!
Teu texto tocou-me mui proximamente.
Somos todas filhas de Maria e José, né?
Aqui tá chovendo muitooooo
Quero viajar um pouco...Tomara que seja possível.
O destino será Fortal, ou praia nordestina.
Recife está fora de cogitação. Mas um bom papo contigo seria um bom motivo!
Comecei 2013 cheia de atitudes ( risos).
A ficha vai caindo ao tempo das reflexões.
Sem pendências de qualquer natureza , encaro a vida sozinha( como sempre), mas com o coração cheio de carinho pelos amigos.

Um grande abraço, querida!
Programe-se para nos visitar qualquer dia.