por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Everardo Norões!


Edição de - Literatura
O economista das letras
Fonte: Divulgação Clique para Ampliar
A literatura proporciona oxigênio valioso para a vida, assegurando fôlego extra na quase inapreensível aventura do existir. Como tal, nessa imensa floresta de livros e de autores pela qual podemos transitar a fim de respirar com mais ânimo, alguns integram bosques (estabilizados ou em formação); outros, os incomuns, configuram maciços impressionantes, despontando no horizonte cultural como araucárias, plátanos, sumaumeiras, sequoias, inspirados e inspiradores. Sua condição, é de crer, decorre de sabedoria, persistência, virtuosismo e maturidade. Afinal, uma árvore sólida, de raízes firmes, imponente, jamais se formaria em alguns poucos anos, ou com poucas leituras e parcas aprendizagens.
Na poesia, espécime dessa estirpe é o poeta cearense Everardo Norões, nascido em 1944, no Crato, sul do seu Estado, na divisa com o extremo Oeste de Pernambuco. Por conta dessas origens, para continuar os estudos Everardo radicou-se no Recife, onde, por sinal, segue residindo na atualidade, ao lado da esposa, a artista plástica Sônia. Na capital pernambucana, graduou-se em Economia. Em paralelo a essa atividade profissional, porém, nunca abdicou da percepção mais ampla da existência, através do apreço pela leitura e pelas artes.
A exemplo do que ocorreu com muitos intelectuais de sua geração, o recrudescimento da ditadura militar, nos anos 60, motivou a ida de Everardo e de Sônia para o exterior. No exílio, o poeta viveu na França, na Argélia e em Moçambique. A distância em relação às origens acentuou a análise crítica do ambiente político e social. Iluminou, igualmente, em seus escritos, o caráter de protesto diante do cerceamento à liberdade, das desigualdades, da violência.
Com privilegiada intuição estética, sua poesia, límpida e nobre, fala a um só tempo ao coração e ao intelecto. Os versos de Everardo requerem um leitor especialmente atento, determinado a apreender conteúdos e imagens embalados em fértil camada de referenciais. Exsuda, de sua obra, uma espécie de pátina suave, nostálgica, a cobrir tempos e espaços, que aquece a alma e nutre o devir. Fazendo jus a sua área de formação, Everardo é econômico, sóbrio, hábil nas metáforas e no manuseio dos infinitos recursos da linguagem poética.

INTERAÇÃO – A estreia de Everardo Norões ocorreu com Poemas argelinos, em 1981. Seguiram-se os volumes Poemas, em 2000; e Nas entrelinhas do mundo, em parceria com Abelardo Baltar, em 2002. A rua do padre inglês, de 2006, firmou sua chegada à carioca 7 Letras, com carinhosa e inspirada apresentação de Marco Lucchesi.
Seu impulso expressivo reapareceu, universal, em Retábulo de Jerônimo Bosch, de 2008, e em Poeiras na réstia, de 2010, ambos pela 7 Letras. Em paralelo, Everardo exercitou a crítica literária, com resenhas e ensaios de invejável mergulho intelectual, alguns dos quais compartilha em seu blog, www.retabulodejeronimobosch.blogspot.com. Nesse ambiente, empenha-se em divulgar a obra de seus pares, especialmente os do grupo do Recife ou do Nordeste, aproximando-os de outras regiões.
O fabricante de emoções
Everardo Norões dialoga de forma privilegiada com seus conterrâneos cearenses, entre eles o poeta Majela Colares e o romancista Ronaldo Correia de Brito, igualmente radicados no Recife. Com este último, assina em coautoria as peças Auto das portas do céu e Nascimento da bandeira.
Há que se mencionar ainda o Everardo tradutor, que contribuiu para a efetivação da antologia poética do mexicano Carlos Pellicer, lançada pela Ensol, em versão realizada ao lado de um time formado, entre outros, por Ivo Barroso e Thiago de Mello (Thiago, aliás, refere efusivamente Everardo em sua antologia Poetas da América de canto castelhado, lançada em 2011 pela Global).
Em favor da integração literária latinoamericana, ao lado de Diego Raphael, Norões concretizou a antologia El río hablador/O rio que fala (Ensol/7 Letras), com a tradução de poesia peruana da segunda metade do século XX. Em outra frente, revela conhecimento da literatura francesa, a exemplo de sua dissertação de mestrado em Letras, sobre a obra de Jean-Claude Pinson, apresentada à UFPE em 2009.
Em um gênero no qual ainda é menos conhecido, o dos contos, aparece em grande estilo, tendo sido anunciado vencedor, recentemente, do Prêmio Literário Cidade de Manaus, com o volume O fabricante de histórias, a ser lançado brevemente. E na próxima semana, por sinal, começa a ser distribuída a sua mais recente incursão pela poesia, o livro W.B. ou os dez caminhos da cruz.
Em toda essa fértil produção, com simpatia, simplicidade, engajamento e amizade, Everardo firma sua condição de autor diferenciado na literatura brasileira. Sereno e atencioso, paira muito acima da média na floresta das letras, como leitura inspiradora, que oxigena mentes e corações.
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