Recentemente encontrei essa foto na internet e assim nomeei os poetas (da esquerda para a direita): Carlos Drummond, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Mário Quintana e... ? não tenho certeza se é Fernando Sabino ou Paulo Mendes Campos.
Selecionei um poema de cada autor, com a temática amorosa. Vejamos:
Mário
QuintanaBILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhadosDeixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve
ainda…
O
SEU SANTO NOME
Não
facilite com a palavra amor. Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.
Vinícius de Moraes
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Manuel
Bandeira
BELO BELO
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
2 comentários:
As artes coletivas são óbvias na partilha e construção plural. Nem se precisa dizer que tais artes são o que na verdade são as artes: a criação multiplicadora de uma matriz original. Assim como aquele ovo indez que serve para que tantos outros sejam postos.
Quanto as artes individuais como as composições nas artes plásticas, na música, na poesia e nos textos fica uma dúvida se efetivamente seriam multiplicáveis coletivamente. Mas é uma dúvida passageira: nenhuma música, qualquer poema ou pintura é o mero momento de uma pessoa.
Na verdade os arranjadores na música, os músicos e os ouvintes recriam a composição com tanta intensidade que se tornam outra unidade artística. A mesma coisa ao poema, à escultura ou um romance, ponderando os elementos multiplicadores, por vezes o silêncio interior do leitor, ou os olhos do observador e assim por diante.
Isso tudo para explicar o que a Stela acaba de fazer. Fez poesia com quatro poemas compostos por outros, em outros tempos e lugares. As escolhas da Stela: esta singeleza do amor, este pudor, este tê-lo com ou sem dor. O amor como a reprodução do viver: uma chama que é eterna enquanto dura. O amor é a síntese, para Stela, do viver.
O sumo dos supras...
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