por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A morna morte? - José do Vale Pinheiro Feitosa


Os blogs do Crato estão morrendo? Com terço nas mãos no meio da noite? Um silêncio eleitoral quando se clamam por vozes, eles se calam. O que seria uma vanguarda e um painel de ideias distintas se tornou um cantochão litúrgico? Afinal os espíritos também admitiram a mortalidade tão certa e enrijecida quanto uma fábrica de cerâmica? Isso reflete o tempo político-eleitoral da cidade?

Entre as cidades da região, Juazeiro e Barbalha e comparativamente a Sobral o resultado das eleições para vereador mostra o perfil mais frágil em termos de liderança nos resultados auferidos nas urnas do Crato. Com uma câmara de vereadores composta por 19 eleitos, a metade dos eleitos representa o percentual mais baixo em relação ao total de votos válidos: Crato tem 20,05% (dos 9 para 19 eleitos), Juazeiro do Norte 26,61% (dos 10 para 21 eleitos), Barbalha 29,19% ( dos 7 eleitos para 15 eleitos) e Sobral 29,24%. O vereador do Crato que teve mais votos auferiu 2,9% dos votos válidos, enquanto em Juazeiro o mais votado teve 3,54%, em Barbalha 5,89% e Sobral 4,3%.

Mas isso reflete um passivo político conservador, oligárquico, dirigindo a administração e a política para o mesmo grupo de famílias e agentes econômicos. Junto com setores remanescente do poder rural, do comércio de varejo e uma religiosidade tão avessa a mudanças igual foi no passado, a cidade efetivamente parece desidratada em passado, mas não necessariamente em futuro.  

Claro que o enumerado não explica tudo, mas serve de guia para pensarmos o futuro como algo que pode ser diferente. A eleição desse ano não mostra nada de mudança nos resultados de ponta, mas efetivamente não aponta um novo tempo. É um resultado meramente “administrativo”, mas de um significado político surpreendente. Ganhou a proposta do “bom administrar” por efeito de comparação com o “ruim administrar”.

Mas o problema não se encontra em administração, o problema é efetivamente político. Como superar as enormes diferenças com relação aos bairros populares, aos distritos, ao enorme impacto ambiental, especialmente nas bacias hidrográficas, a pressão sobre as bordas da APA Araripe, a extração de mineral, o consumo de madeiras, as fontes de água e agora o impacto sobre a paisagem que se preparam com empreendimentos de usinas eólicas.

O bom administrar trás a marca do resultado que é fácil de extrair em empresas, mesmo que em ambiente de concorrência. Mas na vida real das pessoas o resultado é como direcionar recursos inelásticos para rapidamente nivelar as diferenças abissais entre bairros de ricos e bairros de pobres como a Batateira? Então aí é que o modismo administrativo vai esgotar-se em contradições: os compromissos com a estirpe empresarial aponta o que todo conteúdo privado aponta: para quem pode pagar. O exemplo da nossa SAAEC fugindo do bem comum e da cota social, foi bem típico desta verve por resultados.

Enfim, os blogs não estão mortos, a cidade não está morta e na contradição entre ricos e pobres, distritos e sede da cidade e entre bairros populares e o centro bem atendido, reside o futuro. Onde a cidade pode se reconstruir como opção política e como mobilidade social.  

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