por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 28 de junho de 2012

"Pés de barro" - José Nilton Mariano Saraiva

Anos atrás, numa noite de quarta-feira (pós carnaval), em seqüência ao Campeonato Cearense de Futebol, o então imbatível time do Ceará Sporting Club enfrentou, no Estádio Presidente Vargas, a equipe do Calouros do Ar, lanterninha da competição. Final do jogo, para surpresa de todos, o Calouros do Ar aplicou sonoros 3 x 0 no Ceará, numa dessas zebras que pastam em campos de futebol de 200 em 200 anos. É que a farra carnavalesca tinha sido homérica e os jogadores do Ceará literalmente jaziam mortos dentro do uniforme. O detalhe é que todos os gols da partida foram feito por um desconhecido centroavante que entreava no time do Calouros do Ar (Cícero ???). Dia seguinte, lá estava ele nas primeiras páginas dos jornais da capital, enquanto que as emissoras de TV exibiam entrevistas feitas não só com o próprio, mas, também, com o pai, a mãe, a irmã, a avó, a tia, a cunhada, o cachorro, o gato, o papagaio e por aí vai. Foi um verdadeiro auê, autêntico carnaval fora de época na periferia onde residia; perguntaram-lhe sobre a sua origem humilde, a sua rotina diária, onde começara a jogar bola, se tinha namorada e, enfim – suprema glória - se não sonhava com a Seleção Brasileira. Fato é que a pressão foi tanta, a badalação tamanha, que o coitado sentiu-se um privilegiado “enviado dos deuses”. E aí, meteu a cara na cachaça, deixou-se levar pela glória efêmera e, tão rapidamente quanto subiu, submergiu. Nunca mais ninguém ouviu falar daquele “craque”. Tinha pés de barro, o coitado.
A reflexão acima tem tudo a ver com a irresponsável tentativa de endeusamento que a mídia esportiva brasileira promove quando um jogador desconhecido se sobressai num lance fortuito de um jogo de futebol, como o fez o tal do Romarinho, do Corinthians, autor do gol em cima dos argentinos do Boca Juniors. Sim, porque, a rigor, o citado, ao entrar em campo faltando oito minutos para o fim da partida, só pegou na bola uma única vez e fez o gol. Foi o bastante para alguns afoitos integrantes da mídia já o alçarem à condição de futuro jogador da seleção brasileira, jogador-solução pra todos os problemas enfrentados pelo futebol brasileiro e por aí vai.
Juntando-se a isso o espaço dedicado pela mídia e dirigentes bufões a rodados jogadores brasileiros que os profissionais clubes europeus não mais aceitam por conta do envolvimento em drogas pesadas, muita farra e confusões de toda ordem (mas que aqui são paparicados e idolatrados, como o Adriano e o Ronaldo Gaúcho, por exemplo), temos o retrato emblemático da decadência impressionante da seleção brasileira de futebol, outrora temida e admirada por todos e hoje saco de pancadas de qualquer timezinho de quinta categoria.
   

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