por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 10 de junho de 2012

A nossa identidade antropológica - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Os historiadores não são isentos de sua própria história. Nem o matemático ou o físico. E a própria história além de eventos vividos é também a narrativa (explicativa) das gerações que antecederam tais eventos. Por tal, como exemplo, o cearense acha que é um unidade narrativa, com seus mitos fundadores (mesmo que literário em Iracema) e toda a “odisséia” até os dias atuais. Todos acham assim?

Os Estados Nacionais, que se formaram de fragmentos díspares e contraditórios num passado não tão remoto assim têm a sua narrativa feita por mitos fundadores e pensam sua formação como uma unidade étnica e de origem comum. Isso já foi derrubado há muito tempo, mesmo um país que exagerou no tema como a Alemanha ariana, se descobre tão fluido em sua origem quase que igual a estes das Américas com etnias de todos os continentes.

Estamos o tempo todo tentando descobrir uma “identidade” como povo e a cada vez caímos no denominador comum da humanidade. Isso não foi sempre assim, uma religião poderia criar um senso de identidade, um território também, ou uma atividade produtiva ou cultural, mas tudo foi se transformando numa unidade planetária, ainda inconclusa, mas cada vez mais evidente nas comunicações e nas percepções de produtos e até mesmo do meio físico como o clima.

Esta questão da dissolução do antigo modo de enxergar fratias, procurar a ordem monárquica, o eixo divino, a linearidade da formação dos povos pode bem ser vista na análise do povo Judeu. Façamos um esforço de analisá-lo na perspectiva sionista que é a visão que melhor identifica a sua linearidade bíblica e que se manteve intacta por mais de dois mil anos. Qual a visão histórica dos judeus sob o ponto de vista do sionismo?

Segundo esta visão o povo judeu existe desde a entrega da Torá no monte Sinai e hoje são os descendentes diretos e exclusivos. Saíram do Egito com Moisés para a Terra Prometida, edificaram o reino de Davi e Salomão, que originou a Judéia e Israel. O judeu manteve-se o mesmo apesar dos dois exílios que experimentaram: depois da destruição do Primeiro Templo, no século VI a.C., e após o fim do Segundo Templo, em 70 d.C. Esta última diáspora durou 2 mil anos e eles se dispersaram pelo Iêmen, Marrocos, Espanha, Alemanha, Polônia e ao mais remoto da Rússia. No entanto eles preservaram os laços de sangue e mantiveram sua unicidade.

Enquanto isso a Palestina era a mesma Terra Prometida à espera do seu povo original. Ela pertencia aos judeus, e “não àquela minoria desprovida de história que chegou lá por acaso”. “Por isso, as guerras realizadas a partir de 1948 pelo povo errante para recuperar a posse de sua terra foram justas. A oposição da população local é que era criminosa”. (1)

Acontece que esta narrativa do povo judeu é um mito religioso, de uma religião que foi poderosa em muitos continentes antes mesmo do cristianismo ou do islamismo. Religiões que tinha a linearidade étnica como formulação divina, mas não como prática biológica, antropológica e até mesmo social. Como todas as religiões modernas tenderam para o denominador comum da humanidade, em muitos continentes, em muitos povos e muitas realidades sociais diferentes.

Os judeus modernos pertencem a origens sanguíneas diferentes, mesmo com práticas de consangüinidade em casamentos, seria impossível se manter a etnicidade semita em tão largo espaço do planeta e em tanto tempo. Os judeus da Europa central são europeus centrais, os ibéricos vieram com berberes e outros povos e assim por diante. Quando tentamos localizar as nossas origens familiares estamos falando de antepassados numa escala geométrica.

A verdade é que a humanidade que nos une cada vez mais será a nossa identidade, que continuará fluindo para outras formas de cultuar a identidade. Não sejamos infelizes por isso, mas ao contrário, muito mais ciente qual seja o nosso mundo.

(1) – trecho retirado do artigo “Como surgiu o povo Judeu” de Shlomo Sand, historiador da Universidade de Telavive.

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