por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 4 de março de 2012

A nota dos oficiais de pijama - José do Vale Pinheiro Feitosa

As assinaturas de oficiais reformados em manifesto contra o Ministro da Defesa e a Presidenta da República em razão da Comissão da Verdade tem todas as características das coisas pequenas. Em primeiro lugar a Comissão da Verdade apenas vai expor para a Nação os nomes e métodos de quem praticou tortura, mas não vai punir ninguém, conservando assim a lei da Anistia. Mas sem dúvida, abrirá a oportunidade para no campo do direito individual as famílias tentem, na justiça, ações contra torturadores contumazes. Por isso a Veja entrevistou um já testando os limites da consciência e da tolerância nacional. Acontece que muitos torturados talvez não tenham mais ânimo para punir estas práticas monstruosas. E em segundo lugar embora estas assinaturas vindas dos Clubes Militares, vão demonstrar o nível de rebaixamento político de tais clubes outrora tão ligados às questões nacionais. Com estas assinaturas se tornaram um clube corporativo, em defesa de uma geração de militares que se associaram a uma ditadura e à tortura.

O jornalista Jânio de Freitas numa coluna na Folha de São Paulo põe claridade política na nota da corporação em defesa de seus antigos atos:

Já anda por algumas centenas, mas quanto mais assinaturas tenha o manifesto dos militares desativados contra a presidente da República, sua comandante suprema, e contra o ministro da Defesa, melhor para todos. Eles e nós.

Os comandantes do Exército, Enzo Martins Peri, da Aeronáutica, Juniti Saito, e da Marinha, Julio Soares de Moura Neto, transpostos do governo passado ao atual, têm conduta exemplar, profissional e pessoal. Não se sabe que esforço lhes custa, se custa algum, projetar sua conduta sobre a dos comandados. Seja qual for, têm êxito e nisso dão contribuição essencial à árdua construção da democracia -lenta, gradual e, ainda, restrita.

Os que assinam o manifesto, todos da reserva ou reformados, eram a própria ditadura. Foram parte do seu sustentáculo e de tudo o que nela foi feito e eles temem ver exposto plenamente e julgado. Eram a ditadura ontem, são hoje a voz da ditadura. Não é mal que façam o país ouvir a voz roufenha, velada e já trêmula da ditadura.

Também é assim que somos forçados a não perder a consciência de nossa própria história. O mesmo acontece com eles: não se esquecem do que foram -e, logo, são. E nós outros formamos a consciência de que serão necessárias duas, talvez três gerações, se tudo correr como necessário ao processo de democratização, para que não haja mais resquícios venenosos no profissionalismo militar brasileiro.

A história militar no Brasil, desde a conspiração para o golpe da República, é uma história de indisciplina. Muitos dos que viveram em indisciplina não podem compreender outra conduta.

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