por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 1 de março de 2012

4 de marzo de 1943 - José do Vale Pinheiro Feitosa


Os italianos vivem com uma paixão de vida tão intensa que a morte faz parte de sua narrativa feito uma desgraça de sangue. Morrer em Itália e sendo italiano é mais intenso, mas morrer num bairro de Nova York, de Buenos Aires e São Paulo é igualmente trágico. Basta ser italiano.

Em Montreux na Suíça o mais italiano dos italianos foi dito morto. Morreu de infarto agudo do coração. Por sua Itália e pela sua canção. Lucio Dalla deixou a Itália. Alargou o buraco da crise italiana. Agora na alma deste querido povo.

Há menos de uma semana conversava com Bruno Pedrosa e ele se confessava até hoje assistente regular do Festival de San Remo. Ele se perguntava pelos valores da música italiana que desapareceram como aquelas bolhas de sabão no ar. E ao lembrar-se das bolhas desfeitas, arrancou o seu contrário ainda vivo. Do sólido da canção de Lucio Dalla. Até hoje a alma viva da canção italiana. A voz que há bem pouco vira no Festival de San Remo com a mesma força que aquele povo pensa ter perdido nesta crise brutal que assola a economia Européia.

Nos idos dos anos 90 numa entrevista para o Jô Soares, Lucio Dalla mostrava um lado que pouco conhecíamos. Ele fora o guia, o espírito a conduzir Chico Buarque pela Itália naqueles anos negros do exílio cantado no Samba de Orly. Lucio Dalla dizia que seu 4 de março de 1943 tinha uma versão do Chico Buarque até melhor que a dele: falava do menino Jesus. Aliás, já que falamos de uma vida o 4 de março de 43 é a data de nascimento de Lucio Dalla. Mas ele não nasceu à beira mar, naquele mundo de marinheiros, ele nasceu em Bolonha.

A insegurança de todo viajante se expressa na seriedade do seu rosto preocupado. Nas ruínas de Herculano, vestido com aquelas capas de chuva de cinema, um chapéu estilo Indiana Jones, ainda usava óculos que uma cirurgia de miopia excluiria, me vejo diante de um guia das ruínas falando comigo e rindo. Ficou atento para saber qual besteira fizera. Afinal compreendi: um fratello de Lucio Dalla. E rimos a valer.

Uma das mais bonitas gravações de Toquinho – a Sofia não concorda ela acha que é Aquarela – é cantada em conjunto com o autor da canção Lucio Dalla: La casa in Riva el mare. Igual, por me lembrar aleatoriamente de outra – é aquela versão da Beth Carvalho e Mercedes Sosa do “Solo le pido a dios”. Será que estamos perdendo definitivamente o norte destas canções como aquelas bolhas acima do Bruno Pedrosa?

Então irei ao quarto em que Enrico Caruso morreu. Ao examinar a visão em Sorrento, sobre o mar com os barcos dispersos a pescar com suas lanternas acesas. Como a ter sua última platéia o Tenor viesse até à sacada e ali cantasse no pleno de sua voz até esvair-se em sangue a ruptura do seu câncer de laringe. Esta é a canção que todos os jornais, quase como um clichê lembrarão. Mas Lucio Dalla fará uma falta mais intensa do que todos os clichês da imprensa.



2 comentários:

socorro moreira disse...

Essa postagem é um presente!

Agradecemos.

Stela disse...

É verdade, Socorro, a postagem é um belo presente. Adorei: o texto, a música, as imagens.