por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 13 de novembro de 2011

Bisaflor conta histórias...

A MOÇA E A SERPENTE


Era uma vez uma moça que queria escolher seu próprio noivo apesar de ser costume na aldeia, que o pai escolhesse o futuro marido para as filhas.

Certa ocasião estava ela conversando com as amigas na sombra de uma árvore, onde, bem quietinha e curiosa, enroscada nos galhos mais altos, uma serpente escutava a tagarelice das moças. Pois não é que a serpente gostou de ouvir a moça dizer que iria escolher seu próprio noivo? Tratou logo de ir para casa trocar de roupa, escondeu o rabo bem escondidinho e se transformou num belo rapaz, por quem a moça ficou caída de amores.

A paixão da moça foi tanta que logo aceitou o pedido de casamento. Depois chamou o pai e apresentou o rapaz:

- Este moço bonito e forte é meu noivo, vou me casar com ele -, falou assim para o pai, que, embora tenha estranhado a atitude desrespeitosa da filha para com os costumes da aldeia, concordou com o casamento.

Depois de casada, a moça foi morar na casa da serpente, em um lugar muito distante da aldeia. A casa era muito suja e desorganizada; todo dia a moça limpava, arrumava e vinha a serpente e bagunçava tudo.

Ela sentia saudades da família e da vida na aldeia, mas a serpente não permitia que saísse de casa, mantendo-a sob a vigilância constante de três animais: um cão, um gato e um galo. Também se alguma pessoa se aproximasse da casa, os animais tratavam de avisar a serpente: o cão ladrava, o gato miava e o galo cacarejava, tudo ao mesmo tempo. 

Na aldeia, a família estava preocupada com o isolamento da moça. Ela tinha quatro irmãos, que exerciam atividades diferentes: um era adivinho, outro caçador, já o terceiro era marceneiro e o quarto irmão era um ladrão. Pois bem, o irmão adivinho teve um sonho que lhe revelou a situação real da moça. Chamou o pai e os irmãos e falou do sonho que lhe permitiu constatar que a irmã tinha sido enganada pela serpente, estava sofrendo muito e que eles precisavam libertá-la.

O pai ordenou aos filhos que pegassem uma canoa e remassem rio acima procurando a moça. Foi o irmão adivinho quem indicou o caminho até o covil da serpente; o irmão ladrão, que havia roubado carne, peixe e milho, jogou a comida para distrair a vigilância dos bichos, o que facilitou a saída da moça, que foi conduzida pelos irmãos até o local onde haviam escondido a canoa.  

Acontece que a serpente já tinha percebido a presença dos invasores e destruiu o transporte deles. Porém, o irmão marceneiro, rapidamente, construiu nova canoa com os pedaços que sobraram. Todos embarcaram e remaram, rio abaixo, perseguidos pela serpente que nadava provocando grandes ondas nas águas, prejudicando a fuga dos irmãos. 

A serpente enfurecida continuava a persegui-los, e, devido à sua fúria, apareceram-lhe mais sete cabeças, dificultando a mira do irmão caçador, que não sabia em qual cabeça atirar a lança. Pediu ajuda ao irmão adivinho que lhe indicou o ponto exato que deveria apontar para matar a serpente. E apesar dos solavancos da canoa, ele conseguiu atingir a verdadeira cabeça e a serpente tombou, afundando nas águas escuras e profundas do rio, agora serenadas.

Os irmãos respiraram aliviados, conduziram a irmã para a casa do pai na aldeia, que os recebeu com grande alegria.

Stela Siebra de Brito

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