eu amo teus olhos baços,
não como lembrança do brilho de outrora,
amo as luzes finas,
penumbras que traduzem detalhes,
pupilas que escondem universos,
pálpebras pregueadas de resguardos,
amo teu olhar lento,
penetrando o irrevelado,
e assim me deixa leve,
leve de palavras não ditas.
como amo tuas rugas universais,
cada trajeto de tuas veias tortas,
as vigas musculares de tuas mãos,
as manchas solares de teu corpo,
amo a trajetória no tempo,
a longa espera dos espaços,
amo a delicadeza de tua pele frágil,
cada detalhe da superfície de teu mundo,
este mundo ao qual gravito.
amo teus cabelos opacos,
a rebeldia dos fios esquecidos da cor,
cada mecha que diz: até aqui vivi,
o modo displicente que parece pouco,
quando na verdade foram muitos anos,
e tantos que parecem evocativo sésamo,
sobre os ombros como se nunca houvesse fim.
amo tua coragem de viver,
pois a beleza não é estética plástica,
é um pouco de forma, um tanto conteúdo,
como uma fera que teima sobreviver,
uma criança que deita-se no colo para sonhar,
amo tua virtude de envelhecer,
sendo outra a cada passo
e a mesma no horizonte,
amo teu ardor de viver,
pois beleza não é grade da juventude,
ela é o que meus olhos amam,
como amo teus olhos baços,
tuas rugas universais,
teus cabelos opacos,
subterfúgio para amar tua coragem.
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