por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ele vem aí, não demora não, ele vem aí com uma vassoura na mão! - José do Vale Pinheiro Feitosa

O vocábulo udenismo notado no dicionário Houaiss fala apenas da filiação partidária a um partido que existia antes de 1964, chamado UDN. É um cuidado de dicionário de uma pobreza histórica, pois a palavra passou para a história como aquele programa de se fazer política sempre através da denúncia da corrupção. O udenismo foi uma das armas da perseguição política exercida pelo regime militar com as chamadas cassações por corrupção, hoje se sabe mais feitas para tirar adversários do jogo político do que propriamente para solucionar a questão de origem. A verdade é que os cassados nunca tiveram acesso aos processos que o cassaram e por consequência a nenhuma defesa.

Instigada pela mídia nacional e pautada por uma realidade mercantilista em que tudo é dinheiro, a população cai como patinho nesta questão de ordem moral no particular, sem tomar consciência do mal maior (do geral) que é a dinâmica de apropriação e acumulação de riquezas que acompanhou a retomada liberal dos anos 90. Vivendo uma dinâmica de corrida para bater as entradas de renda com as saídas de consumo, a população sabe que algo muito podre acontece no reino e a mídia lhes oferece o veneno diário do mal feito por seu vizinho.

Olha os nossos problemas não estão no forró eletrônico do vizinho, no carro zero daquele orgulhoso da rua de cima, não estão apenas nas verdureiras que pretendem ganhar mais no molho de coentro. Mas a mídia nos instiga contra eles, naqueles programas policiais, de dedo em riste como a palmatória do mundo. É um estilo julgador daqueles pastores de olhos esbugalhados com os dedos sobre os pecados alheios, enquanto se julga o senhor do próprio pecado.

Este espírito linchador renascido na mídia nacional, a fazer renascer a vassoura de Jânio Quadros, a fazer pregações moralistas como se interesses não movessem esta prática. Nos idos da ditadura militar foi perseguir e extinguir quem pensasse diferente e agora não é diferente, embora tenha uma questão maior a esconder. O que escondem?

Os juros altos, por exemplo, que consomem as reservas fiscais mais do que qualquer outro programa social. Mas a mídia, diga-se de passagem, é “científica” em seus argumentos, ela não virá como um clérigo pecador a apontar os pecados alheios. Ela vem invertendo equações, desequilibrando a verdade e mudando de lugar causas e efeitos.

A quem beneficia os juros altos? Às famílias ricas do Brasil que recebem do Estado pelo dinheiro que acumularam na economia brasileira que inegavelmente e monetariamente é uma contribuição coletiva de trabalhadores e técnicos especializados. O trabalhador e o técnico, nunca receberão destes juros, eles são o que pagam, além do que já perderam para estas famílias ricas na origem da acumulação do capitalista. Então por que a grande mídia fica cheia de “argumentos” econômicos quando os juros caem?

Por que não vai mais dinheiro para a saúde pública? Vamos devagar para chegarmos a uma percepção maior. Primeiro por que a fonte do imposto para a saúde foi nas transações financeiras e estas que retiram alguma coisa das famílias pobres, abrem o “escândalo” das transações entre ricos. Segundo por que existe uma oposição beneficiária do “udenismo” renascido que precisa sangrar de meios o governo federal mesmo que à custa dos seus prefeitos e governadores. Terceiro por que alguns setores privados se beneficiam da fragilidade pública pelo subfinanciamento para ganhar um pouco mais na mercantilização da medicina. Quarto por que o Congresso Nacional foi eleito por financiamento privado e está lá para representar os interesses apontados pelos atores dos itens anteriores.

A verdade é que gastamos menos que países assemelhados ao nosso com saúde (proporção do PIB), estimulamos uma iniqüidade pervertida com os planos de saúde (já explico melhor) e estamos comprometendo uma escala enorme de programas sociais hoje exercidos em nível municipal: saúde, educação, segurança patrimonial, assistência social, etc. Estamos comprometendo por que os orçamentos municipais estão inchados de novas atribuições deste a constituinte de 1988.

Os planos de saúde são geridos por entidades privadas que lucram e lucram muito com eles, mas planos não são financiados por estas entidades. Os planos de saúde são fundos mutuais, formados por pessoas que aderem a ele e a maioria é de trabalhadores que os cria através de negociações salariais (portanto abdicando de ganho direto no bolso, por descontos em planos de saúde). Além do mais os planos de saúde se tornaram um grande negócio de vender produtos através de procedimentos o que gera um consumismo exagerado de meios e uma mercantilização perversa que só aumenta custos e diminui efeitos positivos sobre a saúde das pessoas. Os planos de saúde no Brasil por este lado do consumismo são um fator brutal de iniqüidade, quando o gasto per capita neste meio é muitas vezes superior àquele do setor público e acrescente-se o fato de que concentrado no sudeste e sul do país. A iniqüidade é de tal ordem que o consumidor padrão destes planos mora na capital de São Paulo, tem menos de cinqüenta anos e é homem.

Os agentes particulares da saúde não venderiam seus produtos, sem o esforço coletivo do povo brasileiro, através de impostos ou por formação de fundos mutuais, nem a um terço da população brasileira. Apesar dos pesares e das denúncias “udenistas” ou não, a saúde pública financiada pelo imposto dos brasileiros é a presença mais firme nas grandes questões de saúde pública e a única força que efetivamente descentraliza recursos para o interior do país.

O udenismo visa linchar alguns para subtraí-los do jogo político nacional, mas não conseguirá modificar a realidade desta civilização que tem enormes contradições, entre as quais ter que viver com o que existe de proteção social e da renda pessoal.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Hoje conversava com Dona Almina sobre a UDN. Na minha inocência preguei na gola do meu vestido de menina uma vassourinha dourada.
Quando leio um texto político assinado por Do Vale, parece que alguns dos meus véus se rasgam...
Vem um entendimento melhor, e imediato.
Política é deveras uma arte!