por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 10 de julho de 2011

HUMILDE, HUMILDADE, HUMUS, HOMO- Por José do Vale Feitosa


Eis que não é fácil dizer fácil. Claro que em se tratando de um adjetivo, o substantivo ou a situação qualificada já nos oferece um norte. Mas só para o conceito de fácil encontraremos seis ou oito acepções. O que não se dizer da palavra humilde?

Humilde é uma das palavras em que os falares mais se distanciaram da sua verdadeira raiz. Pois quase todas as suas acepções são negativas: manifesta sentimentos de fraqueza ou modéstia; ou que reflete deferência ou submissão; inferior na hierarquia ou na escala; de pouca importância ou brilho ou realce; apagado, despretensioso, simples; aquele que pertence às classes inferiores, pobre, plebeu. Poucas virtudes nas acepções da palavra como a de reconhecer as próprias limitações. Sem contar que por semelhança à pobreza, a humildade se associe aos monges que abandonaram os enfeites da riqueza, à semelhança dos franciscanos (e o dos quais o cardinalício se vingou através da ordem montando as igrejas mais pujantes em riqueza, ouro e brilho).

Mas para minha surpresa a etimologia da palavra revela o quanto os valores da opulência deturparam o humilde. Melhor dizendo os valores da civilização greco-latina. Ao estabelecer estes valores as simbologias que melhor os representou foram os conceitos centrais de tais civilizações elevados aos céus e tornados divinos. Aí começou a tragédia do homem e da terra. Ambos reduzidos ao baixo, ao rés em oposição ao elevado. O elevado virtualmente danoso ao contorno planetário deste ser que se imagina racional, libertário e detentor de seu destino. Acompanhem-me.

Em primeiro lugar não vá à origem da palavra humilde, pois nela encontrarás o conceito verdadeiro já em decomposição pela oposição ao elevado. Neste patamar apenas encontrarás o baixo, pequena elevação, pouca estatura, abatimento, sentimentos modestos. Não sendo aí, vá à raiz do antepositivo hum- e nele encontrarás a mais bela filosofia: humus.

O lugar de realização de nossa existência. Pois humus é o termo com o mesmo significado de tellus e terra. Humus é aquele que permanece na terra. Que dela não se eleva. E desta realidade de raiz, do chão que embasa tudo o mais, da verdade sólida em que os alimentos nascem, de onde os pássaros voam e as águas se sedimentam. Humus o princípio, o sustentáculo de teu porte bípede, a força que a todos nós atrai. Humus, a filosofia da base de todos os conceitos.

Mas tem mais. Existe uma cognação entre humus e homo. Pois o homem é o habitante de humus e aos deuses se opõem assim como aos outros seres. Por isso desde antes, agora e para depois, a humildade é a mais legítima natureza entre os homens e seu horizonte terrestre. A verdade primeira em que tudo se torna apropriado ao que é. Não existe a fé como ferramenta utilitarista, a humildade para angariar simpatia, a pregação como louvor às alturas em detrimento do chão.

Eis que naqueles tempos idos, metade de um passo foi sobre a hum(ildade) do homem. Mais não podia, pois de um lado tribal se encontrava a unicidade da elevação originária da mesopotâmia e do outro o logos das cidades gregas.
por José do Vale Pinheiro Feitosa

Um comentário:

Joaonicodemos disse...

Gostei muito deste texto.
A ligação homo-humus é um achado maravilhoso.
Grato caro José do Vale!
Grande abraço!