As palavras não são apenas os símbolos gráficos e as verbalizações. Elas conduzem a vida assim como o sangue a circular. Traduzem sentimentos e memórias, estes igualmente a seiva, o estrato do ser humano e que por vezes transformamos em extrato e carregamos para exalar em gotas.
Aquela que mais sentimentos e memórias me aplicam é a palavra “luto”. A tristeza profunda pela morte, pela separação sem retorno. E neste sentido o quanto acrescenta de tempo para manifestar os sinais desta tristeza. Entre nós o preto, com os japoneses o azul e o chinês o branco. E aí a minha tristeza se coletiviza não como a soma de todas as tristezas, mas como a contradição da minha tristeza, uma vez que o branco é o oposto do preto e o azul o sonho em construção.
Como serão os próximos tempos sem aquele ente de amor? Quando precisar uma palavra, trocar uma idéia e não for possível a não ser dentro da minha memória? Será que a solidão conseqüente ensinar-me-á a sorver o medo que já antevia e aconteceria, pois com todos isso era verdade?
E aí as perguntas já estão migrando o evento de dor para outra acepção da palavra luto que é a argamassa muito resistente tanto aos ataques externos como o fogo, quanto para manter os conteúdos que não podem escapar.
Porém, mais do que tais substantivos vamos encontrar a primeira pessoa do presente do verbo lutar: eu luto.
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