por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 12 de março de 2011

NOITES INESQUECÍVEIS-Por Geraldo Lemos




Tudo começava no Gaubu ou Neném. Todos se conheciam e, aos poucos, o papo surgia, indo da Rua Nelson Alencar, hoje, no linguajar vulgar, “Rua da Saudade”, ao Chico da Cascata, Mestre tira Coco, Zé Felício, Aluísio de Neusa, Cascatinha, Alagoano e Saul. Era o roteiro turístico dos bares e restaurantes mais freqüentados pelos amantes da noite.

Ali eram traçados os roteiros de seresteiros e escolhidas as opções de “um tira ressaca”, à base de caldos com ovos e o famoso pirão do Pau do Guarda.

Lembro-me de um grupo de amigos meus que, as sextas, após tertúlia, na AABB ou Tênis Clube, sorteavam, degustando Rum Montilla e o começava. Dois deles, lá pelas tantas da matina, fizeram o famoso sorteio. Resultado: foram de ônibus a Araripina. No primeiro bar da cidade pernambucana, somaram os trocados. Só dava para duas pingas. Sendo informados pelo garçom, de que não havia tira gosto, um deles tirou um pedaço de limão que estava preso à orelha e o problema foi resolvido. Ele o havia trazido do Gaibu. Certa feita houve uma viagem sorteada para o Maranhão. Era uma rápida visita a familiares. E o caldo da ressaca, no quiosque do canal, frente ao Tabajara? Os trocados, às vezes, só davam para um prato. Um prato e seis colheres. Os primeiros cuspiam nele, mas ninguém tinha nojo. Era tudo gostoso, e sem maldade. Ao passar naquele trecho do Monsenhor Esmeralda, meus ouvidos ainda captam o som do violão de Favela, a voz de veludo de Luis Soares, os agudos de Geraldo Maia e Célio Silva, encantando a todos com o repertorio de Chico Alves. Quantas vezes fiz cotas para a despesa dos músicos! “Venham ver as belezas do Crato”. Era o Correinha que chegava. Músico, poeta, artesão e amigo de todos. Quem viveu aqueles tempos, ainda, sente o coração se abalar, quando caminha por aquela rua. São tempos e pessoas que não voltam mais. São resquícios de um passado que machuca a gente. São como rios que passam, mas deixam marcas no seu leito.

Nas noites de luar, sei que a lua sente falta de seus seresteiros. Ela os ajudava a extravasarem o que lhes enchia o coração, ouvia e sentia as juras de amor, cantadas e decantadas, por Hildegard, Xisto Gadelha, Anchieta Lemos, Orlando Peixoto, Aluízio, Audízio Teles, Vicente Padeiro, Geraldo Maia, Zé Flávio, Tutida, Eliezer Pinheiro, José dos Prazeres, Vicente Ludgério e tantos outros que já se foram para o outro plano, no entanto, eu os recordo, nos acordes do violão de Geraldo de Seu Luis da Livraria.

Isto é apenas um pouquinho do que vi e vivi, nos anos 60. Estas memórias estavam bem guardadas no meu “Baú de Recordações”. Eu as tirei e, tenho certeza, mexe com a mente e o coração de muitos, pois o tempo passa, mas a saudade permanece.

Desculpem- me, é sempre bom, de vez enquanto, voltarmos ao passado, despertando, assim, aquele jovem que está adormecido no berço das lembranças.


GERALDO LEMOS


JUNHO/2010

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