por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Parabéns, Mons.Ágio Moreira!





Hoje, dia 18 de dezembro de 2013, o apóstolo Músico Ágio Augusto Moreira, completa 70 anos de sacerdócio.
Dia 08, próximo passado foi o jubileu de prata da Capela de  Nossa Sra das Graças, construída por Monsenhor Ágio.
Por tudo que este insigne religioso contribuiu e contribui  pela nossa cultura artística e religiosa, a sociedade cratense deve-lhe incondicional  gratidão!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A hora para reler Eliot

ESCRITO POR T. S. ELIOT | 13 DEZEMBRO 2013 
ARTIGOS - CULTURA

eliot
Nota de Rodrigo Gurgel:
Por que voltar aos ensaios de T. S. Eliot? Foi o que me perguntei quando selecionava os textos que pretendia analisar no curso “A Descoberta do Ensaio”. Os trechos abaixo, retirados de “O que é um clássico?” – originalmente escrito como um discurso à Virgil Society, proferido em 1944 –, respondem à pergunta; e também corroboram o que Russell Kirk disse a respeito de Eliot: “É possível que em uma distante época futura, quando a história do século XX parecer bárbara e desconcertante como as crônicas da Escócia medieval, a aguda perspicácia de Eliot deva ser lembrada como a luz mais clara que resistiu às trevas universais”. Pensamento que me leva a repetir o que afirmo a alguns amigos: esta é a hora para reler Eliot.


Evolução da língua e maturidade da literatura
A maturidade de uma literatura é um reflexo da sociedade dentro da qual ela se manifesta: um autor individual – especialmente Shakespeare e Virgílio – pode fazer muito para desenvolver sua língua, mas não pode conduzir essa língua à maturidade a menos que a obra de seus antecessores a tenha preparado para seu retoque final. Por conseguinte, uma literatura amadurecida tem uma história atrás de si – uma história que não é apenas uma crônica, um acúmulo de manuscritos e textos dessa espécie, mas uma ordenada, embora inconsciente, evolução de uma língua capaz de realizar suas próprias potencialidades dentro de suas próprias limitações.

Criatividade
A persistência da criatividade em qualquer povo consiste [...] na manutenção de um equilíbrio coletivo entre a tradição no sentido mais amplo – a personalidade coletiva, por assim dizer, consubstanciada na literatura do passado – e a originalidade da geração que se encontra viva.

Presente, passado e futuro
[...] Enquanto estivermos dentro de uma literatura, enquanto falarmos a mesma língua e tivermos fundamentalmente a mesma cultura que produziu a literatura do passado, desejaremos conservar duas coisas: o orgulho de que nossa literatura já se cumpriu e a crença de que pode ainda cumprir-se no futuro. Se deixássemos de acreditar no futuro, o passado deixaria de ser plenamente o nosso passado: tornar-se-ia o passado de uma civilização morta.

Nefasto provincianismo
Em nossa época, quando os homens parecem mais do que propensos a confundir sabedoria com conhecimento, e conhecimento com informação, e a tentar resolver problemas da vida em termos de engenharia, começa a emergir na existência uma nova espécie de provincianismo que talvez mereça um novo nome. É um provincianismo, não de espaço, mas de tempo, aquele para o qual a história é simplesmente a crônica dos projetos humanos que têm estado a serviço de suas reviravoltas e que foram reduzidos à sucata, aquele para o qual o mundo constitui a propriedade exclusiva dos vivos, a propriedade da qual os mortos não partilham.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Deu no "Estadão" (de 15.12.13)

Papa questiona contas de bispo do Ceará

D. Fernando, de Crato, já foi convocado pelo Vaticano para dar explicações sobre acusação de irregularidades em venda de imóveis (15 de dezembro de 2013 | 2h 06 - Jamil Chade, correspondente / Genebra - O Estado de S.Paulo)

Um bispo no Brasil está na mira do papa Francisco, que vem marcando seu pontificado com a luta contra a corrupção, a reforma da Cúria e a exigência de posturas exemplares por parte dos religiosos. O bispo da diocese de Crato, d. Fernando Panico, de 67 anos, entrou no radar do chefe da Igreja em Roma depois de inquérito aberto pela Polícia Civil em sua cidade por causa de uma polêmica em torno da venda de casas da diocese e até por acusações de estelionato.
Fontes no Vaticano confirmaram ao Estado que Francisco ainda não tomou uma decisão sobre o que será feito e espera a conclusão das investigações da Justiça. Mas Jorge Bergoglio não gostou do caso. O número de acusações contra d. Fernando Panico não é pequeno. Mas, acima de tudo, fontes no Vaticano revelam que é justamente a atuação de uma diocese como negociadora de imóveis que desagradou ao papa. As investigações foram abertas depois que o bispo foi acusado de ter continuado a cobrar aluguéis das casas de prioridade da diocese, mesmo depois de elas terem sido vendidas. Outra acusação era de que a venda dos imóveis ocorreu sem que os moradores tivessem a opção de compra. O bispo acabou sendo convocado para depor.
O caso chegou até Roma e, em outubro, Panico esteve reunido em duas ocasiões com o papa no Vaticano. Oficialmente, as audiências tinham como meta debater o processo de reabilitação canônica do padre Cícero (1844-1934) e sobre o processo de beatificação de Benigna Cardoso da Silva, mártir da castidade (1928-1941).
Mas um dos temas centrais da conversa foi justamente a cobrança do papa para que Panico desse explicações sobre as denúncias de estelionato e formação de quadrilha. Um primeiro encontro ocorreu com outros participantes, no dia 9 de outubro. Cinco dias depois, o bispo voltou a ser convocado, desta vez para uma audiência a portas fechadas.
D. Fernando, um italiano naturalizado brasileiro, ordenou-se padre em 1971, em Roma. Chegou ao Brasil em 1974 e está à frente da diocese do Crato desde maio de 2001.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Saber e Ação a Fórmula do Acontecer - José do Vale Pinheiro Feitosa

As noites de sábado são a conquista da cidade. Ultrapassar o vão da porta do domicílio e se diluir na solução das ruas. Mesmo que um espaço a mover-se entre a origem e as luzes da cidade afinal por certo que se é movido a tal. 

O sábado é o descanso em sua origem hebraica.

Mesmo que jejum, que recolhimento familiar ou a sinagoga, o sábado é o sujeito que subordina a atividade das obrigações na comunidade. Desse modo subordina a rotina a passos para fora dela mesma. Para os risos, o desejo de um pelo outro, o efeito inebriante dos fermentados e destilados nas noites de sábado (nem tão judaico assim).

O sétimo dia pode até na alçada ocidental não ser o descanso. Mas a sua noite já é domingo desde as primeiras horas. As horas podem se avançar pela madrugada sem que a latência das obrigações se anteponham ao horário do despertar. E tudo acontece porque neste exato dia, abandona-se o modo indicativo de ação e se cai num modo inteiramente subjuntivo.

E toma-se o rumo do encontro, da música, da poesia, dos bares e das estrelas que lá já estão como sempre, mas nesse dia se manifestam com a ousadia dos olhos que já não se congelam apenas no rito da obrigação.

E por ser sábado, houve essa fração de letras apenas para publicar esse maravilhoso ditado. Em tudo maravilhoso, especialmente pela sintética forma de expressar a máxima.


 Um ditado: “Se o velho pudesse e o jovem soubesse, nada há que não se fizesse”.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Procissão ao Siupé - José do Vale Pinheiro Feitosa



A segunda capela do Ceará foi construída na localidade do Siupé. Hoje Distrito de São Gonçalo do Amarante. Há mais de dez anos mais de mil pessoas se juntam em abandono da solidão da urbanidade individualista e rumam ao território de seus ancestrais. Vão como devotos de Nossa Senhora da Soledade e chegam como o manifesto de uma história. Retornam à sua verdadeira origem. Antes seu tipo não existia, eram apenas europeus ou ameríndios. E fazem isso no curso do mais intensa transformação globalizada o Complexo Portuário e Industrial do Pecém. 

Poleiro de Pato




J. Flávio Vieira

                                               Existe coisa , neste mundo, mais suja que folha corrida de político ? Só poleiro de pato ou cara de guri comendo chocolate. Imaginem, vocês, isso numa cidade como Matozinho , perdida no meio das brenhas, onde a única tênue ligação com o resto do planeta se fazia pelo fio telégrafo ? Ali político casava e batizava, totalmente imune ao Tribunal de Contas e à Responsabilidade Fiscal. Ajudava na blindagem uma razão óbvia: a Prefeitura era a grande empregadora da Vila : substituía o comércio pífio e as indústrias inexistentes. Matozinho , como na Divina Comédia, tinha seu céu( os correligionários do prefeito), seu purgatório ( os indecisos)   e  o inferno ( a oposição). Havia uma só arma de grosso calibre que furava a impenetrável blindagem política : a corrosiva língua do povaréu. Aquela sempre se consumara como a defesa única dos oprimidos e espoliados: a fofoca, a intriga, o disse-me-disse, o penicado eterno de oratórios. A maior parte das vezes, claro, as histórias eram verídicas , os escândalos reais, apenas acrescidos de um pouco de Fermento Royal nas praças e nas rodinhas de esquina. Em caso, no entanto, do jornalismo não ajudar, a ficção sacava-se  prontamente como recurso necessário e imprescindível e a cada conto se ia, claro, acrescentando um ponto, até que toda a trama estivesse urdida.  As fofocas eram sempre sussurradas  nos becos e bancos: Andaram me contando... Dizem as más línguas... Vendo o peixe pelo preço que comprei... Esta história tem que ficar aqui, é segredo , se disserem que eu disse eu nego mais que Pedro na Santa Ceia...Quem lá tinha coragem de enfrentar de peito a máquina forrageira da prefeitura ?
                                   As regras , no entanto, mudaram naquele dia em Matozinho, devido , se acha, a alguns fatores depois devidamente arrolados. Jojó Fubuia assistira no Rádio Cliper velho do Bar de Godô ao destempero  de um tal de Joaquim Barbosa que saíra , como um soldado de volante , na captura  dos cangaceiros do Mensalão. O homem cuspia fogo pelas narinas como dragão e aquilo impressionou Jojó que sempre teve nariz meio virado para direiteza demais, honestidade excessiva. O certo é que,  depois de umas meropéias, saiu ataiando frango do bar e investiu-se, imediatamente, de virulência judicial , de  super-poderes barbosianos. Na calçada,  já debulhou, com alarido,  todo o feijão com casca do prefeito Sinderval Bandeira:
                                   --- Sinderval, ladrão de galinha ! Devolve o dinheiro do povo que tu anda tomando emprestado, seu miserável ! Pensa que o cofre da prefeitura é teu bolso, é ? Vai pastorar tua mulher , pra ver se diminui teus chifres, seu infeliz ! Tu é como galo, desgraçado, tem chifre até nos pés !
                                   Enquanto, perigosamente, sem nenhum cuidado,  atirava no ventilador o que o povo de Matozinho comentava por debaixo dos panos, Jojó foi cambaleando em procura da Praça da Matriz. Sinderval, àquelas horas, já estava usufruindo aquele sono mais profundo do que o dos justos: o sono dos impunes. Num dos bancos da praça, no entanto, estava esparramado , com alguns amigos, o velho Pedro Cangati, um dos mais antigos chefes políticos da vila, agora na oposição, após a ascensão de Sinderval. O passado de Cangati não tinha sido menos devassado pelo povo que o do atual prefeito. Diziam-no larápio convicto, respondera processo por estupro de uma adolescente que emprenhara dele e, comentava-se , com cuidados mais que redobrados :  depois de velho começara a vazar corrente e deu para andar com rapazinhos  a quem presenteava  com tênis e bicicletas.
                                   O certo é que Jojó, no meio da sua imprecação contra Sinderval, topou num indigesto vis-à-vis com o ex-prefeito Cangati, aboletado no seu banco. Pedro preparou-se para a reação pronta e imediata, caqueando o vazio, em busca da jardineira de doze polegadas. Fubuia fitou-o com aqueles olhos de bêbado --melosos a meio pau-- ,  e, não perdeu a pose. Arrancou, embasado nos argumentos do Domínio do Fato e da Presunção de Inocência, os únicos elogiosos possíveis de se fazer a um político no Brasil:
                                   --- Sinderval, seu safado ! Você devia era se espelhar no exemplo do grande  Pedro Cangati ! Ele pelo menos é um ladrão honesto, um baiotola macho, um estuprador donzelo !

Crato, 13/12/13

"Gratificação" - José Nilton Mariano Saraiva

Todo mundo sabe que o atual prefeito de Fortaleza não passa de um fantoche da família Ferreira Gomes. Que ganhou a eleição em razão do jogo bruto e pesado do atual Governador do Estado, Cid Gomes, que gastou uma fortuna para viabilizá-lo no cargo. Então, agora tá tudo dominado, capital e interior.

Claro que isso teria que ter um preço mais à frente. E está sendo pago desde o dia em que o “afilhado” assumiu o trono da capital cearense. Agora mesmo, por exemplo, tomamos conhecimento que nesses onze meses de gestão os cargos comissionados da prefeitura de Fortaleza saltaram de 3.618 para 4.600; e que nesse mesmo período houve um aumento de 49 para 669 (ou 1.365%) do quantitativo daqueles que recebem da prefeitura gratificação extra mensal de até R$ 5.000,00 (atentem bem para o detalhe: R$ 5.000,00 é só a “GRATIFICAÇÃO” de cada um dos servidores municipais).


Enquanto isso, nesse mesmo período a taxa de homicídios em Fortaleza experimentou um avassalador crescimento geométrico, o povo pobre pena nas portas dos hospitais sem ter quem lhe dê guarida, enquanto os professores da rede municipal vivem em permanente estado de penúria e sofreguidão. 

A pergunta é: em termos de "custo-benefício", esses R$ 5.000,00 de gratificação pagos a um exército de servidores que nada fazem, não seriam melhor empregados se direcionados a uma das carentes áreas acima citadas.  

Tudo foi ilusão


Composição: Laert Santos/Arcilino Tavares


O sol que outrora brilhou em minha vida
Apagou-se, perdeu a luz, não brilha mais
Minha vida é uma noite sem lua e sem estrelas
Os meus sonhos foram somente sonhos e nada mais
E hoje cansado de tudo sigo os meus passos
Na esperança de um dia mais tarde te encontrar
E apertar-te amor em meus braços num abraço
E ver contigo o novo sol brilhar
Como as nuvens que passam vagando perdidas no espaço
Como a gota de orvalho caída perdida no chão
Eu também me perdi vou vagando passo a passo
Na esperança de um dia encontrar uma nova ilusão
E hoje cansado de tudo sigo os meus passos
Na esperança de um dia mais tarde te encontrar
E apertar-te amor em meus braços num abraço
E ver contigo o novo sol brilhar

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

"Fator de verticalização" - José Nilton Mariano Saraiva

A novidade em Fortaleza é que a Prefeitura já anunciou: a partir de janeiro/14 a planta do valor venal do imóvel será reajustada com índices variando entre 17,5% e 35,0%, dependendo da localização, tamanho e por aí vai. Feito o reajuste, aplicar-se-ão índices (de 0,6%, 0,8% e 1,5%) a fim de se calcular o valor do IPTU a ser pago pelo contribuinte.
  
Só que, como 2014 será um ano eleitoral, pra reforçar o “caixa” da prefeitura (e por tabela, o do Governo Estadual, seu aliado), os gênios do mal sacaram da cartola um tal “fator de verticalização” que tá dando o maior rebu e certamente irá provocar muitas demandas judiciais.

É que os técnicos do município já decretaram, compulsoriamente, partindo do pressuposto de que quem gosta de “trepar” (morar em andares superiores de um edifício qualquer) deve tem um maior poder aquisitivo, por via de conseqüência terá que ter seu IPTU bi-tributado, dependendo da altura (andar) em que mora.

Assim, progressivamente, a partir do segundo andar, a taxa de 35,0% será reforçada com mais 1.0%, por andar. Por exemplo: como moramos no 22º andar, vamos ter que pagar os 35,0% normais (aplicado sobre o valor do imóvel) + 21,0% referente ao “fator de verticalização”, totalizando 56,0%. Isso é ou não é bi-tributação ???

A coisa promete “feder” muito, só que os vereadores (“cordeirinhos”) aliados do prefeito e que lhe dão sustentação na Câmara Municipal, tendem a aprovar a proposta da prefeitura, independentemente na grita generalizada da população (em São Paulo, onde não existe o tal “fator de verticalização”, o simples reajuste do IPTU em 35.0% foi obstado pela Justiça).


Apelar pra quem ??? Pro pop-star papa “Chico” ???

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"MANDELA" - José Nilton Mariano Saraiva

Como os homens nascem livres e teoricamente iguais entre si, provavelmente não existirá castigo maior que repentinamente se vê privado do seu direito de ir e vir, da sua liberdade. Principalmente se tal pena advier ou lhe for imposta em razão exatamente da defesa intransigente de tal princípio: ter direito a ser tratado em igualdade de condições com o seu semelhante, sem qualquer espécie de distinção.
  
Pois foi justamente por sua tenaz luta em acabar com essa excrescência chamada “apartheid” (segregação das populações negra e branca) que o negro africano Nelson Mandela foi condenado à prisão perpétua, numa África onde então vigia exatamente o mais tenebroso dos preconceitos: a distinção de raças (viajar num mesmo ônibus não podiam, freqüentar os mesmos locais, algo impensável). Chegou, inclusive, a ser rotulado de “terrorista”, por professar sua crença de que pretos e brancos eram iguais e, pois, mereceriam o mesmo tratamento das autoridades constituídas.

Pois bem, depois de longos 27 anos atrás das grades (acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o governo), durante os quais, do lado de fora, os ânimos chegaram ao clímax da insatisfação e da violência generalizada, eis que a pressão internacional sobre o governo africano redundou na liberação daquele que houvera lutado pelo anseio de toda uma nação: igualdade.

Em situações análogas, normalmente os que perderam parte da vida entre quatro paredes (sem nenhuma razão lógica), voltam dispostos a cobrar com juros e correção pelo injusto castigo sofrido, via exacerbação da luta contra os responsáveis pelo ato vil. E para isso, basta valer-se do carisma e da influência para insuflar as massas, pregar a desforra, exigir retratação, humilhar quem o houvera humilhado e por aí vai.

E foi justamente aí que Nelson Mandela se afirmou perante todo o mundo, ao mostrar sua face generosa, sua humildade, seu lado humano, sua porção estadista, ao pregar a conciliação, o diálogo, à convivência pacífica entre negros e brancos, objetivando uma causa maior: o bem estar e o progresso da nação.

Assim, liberto, reverenciado e idolatrado pelos conterrâneos, foi eleito Presidente da República da sua querida África e, após quatro anos no poder, embora tivesse uma tranqüila reeleição garantida, recusou-se a permanecer no cargo, numa mostra de que seu “projeto nação” era superior ao “projeto pessoal”. Sua contribuição houvera sido dada e um outro tocaria o barco dali pra frente.

Por decisão manifesta ainda em vida, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz (1993), o advogado e líder rebelde Nelson Rolihlahla Mandela, por se considerar apenas “mais um” na população, será sepultado não num panteão de “heróis”, não num cemitério reservado às “autoridades”, não num recanto paradisíaco qualquer, mas, sim, na humilde aldeia onde nasceu – vila ascestral de Qunu, em uma propriedade de sua família, no interior da sua querida África.


Querem exemplo maior de simplicidade, dignidade, desapego e humildade ???

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sépia



                                



   Claro. Escuro. Claro-escuro. Claro.  A vida de Tatá da Lamprada clonava os dias , numa alternância regular e milimetrada de alvoradas e crepúsculos. Fora assim por mais de cinqüenta anos: um caçador de instantes, um capitão-do-mato de escorregadios e fugazes  momentos. É que a vida é tão fluida, tão volátil que tantas e tantas vezes nem fica nos céus o rastro brilhante da estrela cadente. Durava , na sua beleza, aquilo que se via : uma lamprada ! Tatá capturava nas chapas instantes únicos: “Meninos, eu vi!” . No princípio, havia hordas de outros caçadores nas praças da cidade, perambulando de rua em rua, prontos a flagrar rostos, risos, casamentos, aniversários. A fotografia era uma espécie de pirâmide  para o povo, ali plantavam, como os faraós, sua semente de imortalidade. Com os anos, os concorrentes começaram a rarear. Foram surgindo outras máquinas mais modernas, a fotografia passou a digital e, com o celular, a atividade de lambe-lambe tornou-se totalmente obsoleta. Mantinha, no entanto,  ainda um certo charme, despertava a curiosidade dos transeuntes como um fóssil. Adquiriu aquele ar de Cult e retrô do vinil . Mas só.
                                   Tatá foi se deixando ficar na atividade, primeiro porque estava velho para recomeçar com câmaras mais modernas, depois porque percebia que suas imagens , embora em preto-e-branco, eram muito mais bonitas e definidas que as da modernidade. E mais permanentes! As dos celulares , bastava um tombo para antecipar o fim inevitável. Também havia se afeiçoado à sua antiga e jurássica Bernardi. Ela envelhecera com ele. A ferrugem e a química já haviam corroído as bandejas de revelação, fixação e lavagem das fotografias, necessitara fazer alguns consertos como em qualquer ser vivo. As fotos, no entanto, saiam perfeitas e revelava-as numa pequena Câmara Escura que improvisara em casa. Todo dia, quando Tatá saía para a praça da matriz, com seu tripé cada vez mais incômodo, afixava as fotos reveladas , juntas com outras  mais antigas, nas laterais do caixote que servia de mostruário e de outdoor. Enquanto os clientes não passavam para receber as encomendas, elas iam ali servindo de publicidade.  O menino risonho montado no cavalinho; o casal de noivos apaixonados,  com olhos brilhando, sem nem ligar para a impermanência dos sentimentos;  o defunto esticado no caixão, com o olhar o vago de quem nada encontrou do outro lado do muro.
                                   Aos poucos, sem que Tatá da Lamprada percebesse, sua vida se foi resumindo a suas fotografias, estampadas na parede da sala, próximo aos santos da sua devoção, acima do oratório. A esposa embarcara para a eternidade há cinco anos, no bote de um aneurisma cerebral. Os filhos haviam partido para São Paulo, naquele destino de judeu nordestino, procurando uma terra que nunca lhes havia sido prometida. Nem davam notícia! A casa se foi povoando de fotografias: as novas  , recém reveladas, esperando a entrega e as da sala  puxadas para sépia pela ação inexorável dos anos. A sua existência , foi se resumindo, pouco a pouco,  num daguerreótipo  : a pose; a cabeça enfiada no pano preto; as mãos metidas ,envoltas também em tecido negro, manipulando a chapa, na dianteira do caixote;o fixador;o revelador; a lavagem; a secagem...
                                   Tatá já nem lembra bem, mas teria sido num fim de inverno, com um céu nublado, desses que não só sombreiam a cidade, mas também nossa alma.  Um rapaz alto procurou-o e pediu para ser fotografado. Disse que ia fazer uma viagem e carecia de  um retrato. Era uma figura diferente que não parecia ser da cidade: vestia um paletó de linho branco, usava óculos escuros e  um chapéu panamá. O rapaz fez pose pedante, de pé, com a mão direita recostada num velho banco da praça. Pediu uma foto única, maior , 18X24 , pagou antecipado e combinou para vir pegar ali mesmo, uma semana depois.
                                   “ Da Lamprada”  nunca fez uma clara relação de causa e efeito, mas o certo é que, a partir daí, coisas inusitadas aconteceram. As fotos da parede da sala começaram, a partir daquele dia, a se tornar cada dia mais nítidas e brilhantes. A esposa, os pais , os filhos , os tios a cada dia iam se tornando mais vívidos nas fotos. Havia apenas, uma exceção, a foto de Tatá , sozinho, na praça, em pleno exercício da função, paulatinamente foi-se esmaecendo. Estranhamente, também, as fotos recentes que Tatá ia revelando, posicionadas depois no mostruário do lambe-lambe, começaram a desbotar rápido, a perder as definições,  o que fazia com que aumentasse a ansiedade do fotógrafo que temia, em não as entregando rápido, desaparecessem as imagens reveladas. Teve, ainda, enormes dificuldades em revelar a foto do rapaz do chapéu de panamá. Simplesmente a imagem não se aparecia . O rapaz, também, não passou, para seu alívio, para pegar a foto no dia combinado. Pensou Tatá que a culpa fosse dos reagentes da revelação, mas,  mesmo trocando-os, os problemas continuaram.
                                   Alguns dias depois, como por encanto, a foto do rapaz finalmente se revelou. Ali estava nítida e reluzente em cima da mesa da sala de jantar. E , dia após dia, se foi tornando colorida, na mesma proporção que a sépia de Tatá da Lamprada desvanecia-se na parede da sala, até se desminlinguir totalmente,  sob a ação implacável de outro  lambe-lambe : o do tempo. 

06/12/13

Por João Marni Figueiredo



Querida Fátima


Sabemos ser impossível conhecermos ou controlarmos precisamente as circunstâncias de nossas vidas, devido à intromissão do acaso. Não temos como evitar certas forças inesperadas e imprevisíveis, responsáveis pelo trajeto de cada um de nós neste mundo. Mas somos convidados a crer que ainda assim, até mesmo esse movimento desmastreado prossegue em alguma direção.
 Lembra-se? Foi num período de carnaval. Você tinha 15 anos e eu 19,Estudantes.Uma receita que tinha tudo para estragar o bolo, mas que surpreendentemente deu certo. Levamos a vida ou a vida tem nos levado. Aqui estamos nós com 40 anos de união e uma família que nos enche de orgulho. Você- rio imenso-veio vindo e levou minhas águas turvas e poucas e, desde então, temos percorrido o acidentado leito do nosso destino ora mansamente, ora aos borbotões, buscando o futuro na entrega e na transformação das nossas águas, quando do acolhimento de Deus, nosso Grande Oceano!
Até lá é bom dizer que te amo e que o seu amor faz-me muito bem. Sei que contribuí e ainda contribuo no descolorir dos seus cabelos, mas sei também que posso contar sempre com a sua indulgência. Sou um homem de sorte, pois não é comum uma mulher impedir que as dificuldades, incluindo as advindas da pobreza, se imiscuam na vida do casal. Adoro sardinhas ainda hoje!
Querida, agradeçamos a Deus por tudo, e seja bem-vinda à idade tão sonhada por todos, principalmente pelos que que não conseguiram alcança-la por algum infortúnio. Somos parte agora de uma minoria escolhida talvez para que nos tornemos melhores, para o bem de todos.
Uma última chance divina, acho. Hoje somos mais reflexivos e contemplativos: brigamos só pelo edredom!
Mais adiante, melhor eu primeiro: se fico, como alguém já disse, terei perdido a escora da minha vida...
Parabéns; te amo, e vida longa!

(“GOOD SAVE MY QUEEN”!)

Crato, 29 de novembro de 2013

João Marni


* Sexta-feira passada estivemos  participando de uma reunião em comemoração aos 60 anos de Fátima Figueiredo.Amiga querida, mereceu todas as graças do céu, e esta homenagem especial de um marido agradecido , reconhecido e amoroso.
Desejamos-lhe  vida longa e feliz, Fátima!