por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 5 de julho de 2013

O Arrastão das Redes Sociais - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um laboratório financiado pelo fundo de pesquisa da Microsoft, chamado FUSELABS que realiza pesquisa básica e aplicada sobre experiências sociais voltada para a inserção de usuários na criação, conexão e colaborações com informações e ideias, especialmente em busca social, envolvimento de comunidades on-line e mídia cívica. Enfim analisam o comportamento das redes sociais diante de movimentos cívicos e políticos e o modo como estas redes funcionam para inserir, conectar e colaborar com tais movimentos ou como instrumento de associação e colaboração.

O Fuse tem um blog que publicou uma análise do uso do Twitter nas manifestações recentes aqui no Brasil, lembrando que o Twitter foi o principal meio de conexão no ambiente das mídias sociais utilizados durante as manifestações (este dado eu apresentei num texto publicado aqui ali por volta do dia 21). Os pesquisadores coletaram todos os Tweets (1.579.824) postados entre primeiro de junho e 22 de junho contendo as principais hashtags (VemPraRua; MudaBrasil, ChangeBrazil, ChangeBrasil, passelivre; protestosrj; ogiganteacordou; copapraquem; pimentavsvinagre; sp17j; consolação; acordabrasil.)   

Antes uma questão essencial: ao pegar as principais hashtags o FUSE não mede exatamente a marcha espontânea das manifestações uma vez que hashtags mais evidentes e listados acima tinham uma organização por trás, muitas suspeitas de serem financiadas (como ogiganteacordou, changebrazil, changebrasil etc.). Isso demonstra claramente que pelo menos uma parte importante da força das mídias não acontece dentro dela mesmas mas fora dela pelos mesmos agentes da política e do jogo de poder no Brasil e fora do país.

De modo que os resultado que lerão abaixo refletem muito o modus operandi de tais organizações e claro a capacidade que têm de saber usar as mídias sociais e acelerar as mensagens de modo a criar um estado de emergência geral em quem se encontra conectado à redes sociais. Vamos observar alguns achados da pesquisa.

A dinâmica dos tweets ao longo dos dias mostrou que estas hastags vinham desde o dia primeiro de junho mantendo um padrão de publicações diárias abaixo de mil por dia, refletindo muito o movimento passe livre, mas a partir do dia 13 de junho elas ultrapassaram este número e no dia 14 já se aproximada perto de 50 mil publicações. Entre os dias 15 e 16, após a repressão dura em São Paulo e no Rio, as publicações atingiram próximo a cem mil. Nos dias 17 e 18 as publicações chegam ao máximo perto de cento e cinquenta mil e se mantiveram assim até o dia 21 quando a parti do dia 22 retornou aos números de publicações iguais àqueles do dia 15.

Segundo a própria análise do FUSE LABS o momento em que o twitter esteve mais ativo aconteceu na noite do dia 17 de junho, por volta de 20 horas, quando os manifestantes ocuparam a cúpula do Congresso Nacional. Neste momento o pico de publicações atingiu a 96.531 tweets por hora. Uma das fontes mais ativas de publicações esteve com o AnonymousBrasil, estrutura muito bem organizada nas redes sociais, inclusive compostas por gente muito técnica em ciência da computação. Aliás os Anonymous esteve por trás de convocatórias em dias posteriores sempre de natureza ideológica e contra o Governo Dilma e em defesa da luta contra a PEC 37 que entrou como tema nas manifestações como um contrabando pois não se tratava de uma grande questão social.  

E o conteúdo das mensagens? Por aquelas contagens de palavras o que se destaca frente a todos é palavra Brasil, vem prá rua; verás que um filho teu não foge à luta e o gigante acordou. Como vemos são mensagens genéricas e que poderiam vir de qualquer hashtag. Porém se destacaram muito o change brazil; help e brazil que vieram de grupos específicos. Os nomes de governadores e prefeitos não aparecem e Dilma não está entre os principais. Existem várias palavras sobre políticas e direitos públicos e com referências à manifestações na Turquia. Mas surge uma expressão importante que é: abaixo a rede globo o povo não é bobo.

Enfim são mensagens que refletem as forças em luta que vieram para ruas. No final fica a sensação que o encaminhamento posterior é para quem tiver melhor organização. Aliás tem uma coisa muito interessante que é a natureza internacional dos protestos, ou seja a participação de publicações feitas fora do Brasil. Apenas a metade das publicações foram feitas no fuso horário de Brasília. E na outra metade veio de uma gama variada de outras localidades se destacando Santiago (a estudantada está rebelada), o fuso horário da Groelândia; do Atlântico Médio, Hawaii, Quito, Hora do Atlântico (Canadá); Hora do Leste (EUA e Canadá), Istambul e Buenos Aires.

Ai vemos outro dado: a lutas nacionais fazem parte da luta global. Inclusive a participação de tweets de Istambul reflete muito bem a associação internacional desta luta. Fica claro que a presença de brasileiros no exterior deve refletir nisso como do mesmo modo a participação de pessoas que estão vivendo em países que passam por manifestações assemelhadas. Neste sentido fica mais claro a associação entre Istambul e o Brasil do que entre o Cairo e o Brasil que não aparece entre os mais importantes.   

Outro dado é que a rede de interação começa escassa no início em 15 de junho, fica densa no dia 17 de junho, permanece alguns dias e retorna a ser escassa no final. Isso significa no meu entender o clássico comportamento social do momento da fervura quando os atores mais ativos borbulham para depois arrefecerem. No pico da fervura, nos dias 17 e 18 os agentes mais ativos na rede ampliam muito as suas interações para novos contatos, mas depois disso retornam ao padrão inicial.

O estudo recomenda que a análise continue se ampliando com outras hashtags e que se olhe mais para os outros canais de comunicação como o Facebook. Além do mais é preciso descer a uma análise mais cuidadosa sobre as motivações e o papel dos diferentes atores como pessoas isoladas, estudantes, organizações políticas como o MPL, os partidos políticos tradicionais, coletivos como o Anonymos e, claros, grupos de interesse econômico por trás de vídeos como o Change Brazil (acrescento eu).

Enfim, o nosso pessoal de ciências sociais, ciência da política, de psicologia social, direito, economia, comunicação social e outros ramos do conhecimento pode entrar no jogo imediatamente e qualificar ainda mais as análises destas redes pois elas revelarão muito das dinâmicas em curso nesta fase da história. Inclusive o papel eventualmente manipulador dos governos e das corporações donas desta redes como o Google, a Microsoft etc.

A título de contribuição segue o endereço do FUSE LABS o qual recomendo pois uma simples visita a ele já mostra o perfil de projetos que desenvolvem e até mesmo oportunidade de colaboração e qualificação. O endereço é http://fuse.microsoft.com/.



Mènage à trois



J. Flávio Vieira

                                               Os nome e sobrenome não eram, definitivamente, próprios para Matozinho. Talvez, por isso mesmo, D. Lilibeth Safra Vanderbilt jamais conseguiu se adaptar àqueles cafundós do Judas. Despencando  para os setenta e lá vai porrada, viúva,  esticada e reesticada por várias plásticas, ela morava na vila há mais de dez anos. Vivia reclusa, não participava da vida social da cidade, não falava com quem quer que fosse, com exceção, claro, de Felismina – sua empregada de muitos e muitos anos –  por inteira falta de  opção, a quem tratava , mesmo assim,  como se a Lei Áurea nunca tivesse sido promulgada. Matozinho, por outro lado, não gostava nem um pouco de D. Lili  -- como a chamavam, às escondidas, quebrando o ritual de nobreza,  denominação contrária totalmente à vontade da dona. A senhora contemplava a todos do andar de cima, com desdém e um certo nojo mal contido. O povo, entre dentes, vingava-se daquela importância . Mulher nobre daquele jeito era para morar num castelo no Vale do Loire e não em Matozinho! E,  de língua em língua, pinicavam o oratório dela, trazendo a versão oficiosa das outras cores menos brilhantes e mais esmaecidas  que se escondiam por baixo de tanto sangue azul.
                                               D. Lili era filha do velho Pedro Cangati, um dos líderes políticos mais influentes da cidade, nos anos 30 e 40. Nascera, na verdade,  Setembrina do Espírito Santo Cangati --- parecia nome feio, palavrão para se imprecar em desafetos, mas aquilo, por mais incrível que possa parecer, era nome de gente , sim senhor !  O Setembrina herdara de uma avó materna e o Cangati do pai, o Espírito Santo certamente compunha o nome na intenção de proteger o dono daquele aleijo ortográfico. Ainda mocinha, Setembrina , carregando o nome ou o karma, partiu para o Rio de Janeiro, onde estudou e renegou seguidamente suas origens plebéias. Andou viajando pela Europa e, depois, mesmo voltando ao Brasil, se radicou oficialmente no continente europeu. Para tanto, claro, precisou trocar, rapidamente , o nome brega e, através da força política do pai, um novo Registro Civil foi lavrado em Matozinho, pelo notário Zé Filgueiras. Lá,  constava o local de nascimento:  Salzburg na Áustria e o nome pomposo Lilibeth Safra Valderbilt, filha adotiva do Sr. Pedro Cangati. D. Lili , por muitos anos, permaneceu no Rio, nem se dignava dar as caras em Matozinho. Só falar naquela cidadezinha lhe dava engulhos, se fazia de mal entendida e negava mais que Pedro antes do canto do galo. Morava em um apartamento comprado pelo pai na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde se metia em festas grã-finas e posava de bacana. Tudo ia às mil maravilhas com ela e seu ciclo de amizades, até que o curso normal das coisas deu um cavalo-de-pau.
                                               Um belo dia,  o velho Pedro Cangati fez a viagem derradeira. A mãe de Lilibeth já havia seguido na frente alguns anos atrás. Aberto o inventário, viu-se que as enormes posses do chefe político se diluíam entre os doze filhos legítimos e mais de trinta espúrios que  Cangati deixara espalhados na região. Lilibeth, já balzaquiana, caiu do andor. Vivera até então às custas do pai e da cagação  de goma. Não possuía emprego qualquer, acostumara-se ao subsídio. Percebendo que sua dinastia estava ameaçada e que até o apartamento do Rio teria que ser vendido para o rateio, Lilibeth desesperada, encontrou a única saída possível. Botou-se para cima de um primo, Ludovico Cangati, vereador em Matozinho e dono de muitas terras por lá. Ludovico era solteirão, comentava-se, à boca miúda, que ele vazava corrente , que já vivia maritalmente com  o capataz da sua Fazenda Unha-de-Gato, mas D. Lili não viu escapatória. Casou com Ludovico ( que pôs uma nuvem de fumaça no falatório sobre sua sexualidade), salvou ela  a reputação, mas,  com um grave efeito colateral : teve que se mudar para Matozinho. Aliás, em parte : seu corpo estava ali na vila, mas a alma ainda perambulava pelo Sena e pelo Calçadão de Copacabana. A convivência com o esposo, não pareceu difícil. Ela fechava os olhos para as preferências de Ludovico, até mesmo porque, pelo que se sabia das suas perambulações cariocas, ela apreciava mocinhas e nunca fora muito “fanática por rola”.
                                               Assim, parecia mais que justificável a reclusão de D. Lili. Primeiro, não queria se misturar com aquela gentalha, aquela récua de pé-rapados que vivia naquele oco do mundo. Depois, queria fugir de insinuações quanto às preferências esdrúxulas dela e do marido. No mais, era um oceano de preconceitos: tinha náuseas diante de negros, de pobres , e, principalmente, de nordestinos, judeus  e homossexuais. Periodicamente, partia para o seu querido Rio e lá fazia suas compras e degustava suas menininhas. Roupas, sapatos, perfumes finos atulhavam as malas na volta. Usava-os em casa, pois não saía para nenhum lugar daquelas brenhas imundas. Mandara construir uma capela em casa e pagava ao Padre Arcelino para celebrar, todo mês, uma missa para ela e Ludovico . A Felismina era permitido assistir ao culto do lado de fora.
                                               Desconfiava-se que D. Lili, apesar da nobreza, não perdera , de todo, o gosto por algumas iguarias locais. Muitas vezes,  a força dos Cangatis lhe batia forte.  Mas não dava o braço a torcer. Pedia a Felismina, sorrateiramente, para comprar, às escondidas, o pé-de-moleque de Toinha Socó, a Buchada de Cida , a lingüiça de Mundica de Bertioga, o quebra-queixo de Zuzu Jurumenha. Ia a funcionária, no entanto, com ordem expressa de dizer que era para ela mesma, que, afinal, uma locomotiva chique, não come comida digna de ser oferecida aos porcos, né ?  O que diria Glória Kalil ?
                                               Beirando oitenta, D. Lili caiu doente. Ludovico a levou ao Rio. Diagnosticaram uma doença grave. Ela, no entanto, voltou feliz, encantada com o nome pomposo da moléstia: Esclerose Amiotrófica Lateral. Aquilo, sim, era nome digno de constar num atestado de óbito !  O certo é que a saúde de Lilibeth degringolou rapidamente. Numa das revisões, faleceu no Rio de Janeiro, para sua alegria. Ludovico a sepultou por lá, seguindo a vontade da mulher :
                                               --- No São João Batista, viu Ludovico? Não esqueça !
                                               Uns dois anos depois, o esposo resolveu fazer o traslado dos restos mortais para Matozinho. Estava ficando velho e a distância o impedia de visitá-la regularmente. Lili deve ter se revirado no túmulo, como ventilador. No novo sepultamento, no Cemitério Nossa Senhora da Alegria, os coveiros ficaram surpresos. As roupas da locomotiva estavam puídas, os ossos pareciam negros( que castigo!) e o perfume que rescendia dos restos mortais não eram do Chanel Número 1 ! Lilibeth não deve ter apreciado  muito a homenagem que a Câmara de Vereadores lhe presenteou. Uma rua periférica com o nome em letras graúdas: “Setembrina do Espírito Santo Cangati” e, logo abaixo, entre parêntesis, em caixa miudinha : “D. Lili”. O pior é que a ruazinha desembocava no lixão da cidade.
                                               Ao menos o jazigo que Ludovico mandara erguer mostrava-se digno da importância da moradora. Todo de mármore, monumental, com anjos dependurados nas beiradas e , finalmente, o Lilibeth Safra Vanderbilt ( 1936-2012) , em alta relevo  e, abaixo,  o  latinório : “Resquiat in Peace”. Semana passada, no entanto, Ludovico visitando o cemitério deu com uma cena inusitada. Em cima do túmulo uma cadela vira-lata  no cio, sendo coberta por dois cães pé-duros. Saiu correndo, imaginando a profanação do jazigo de Lili, uma pessoa tão fina e elegante , presenciando aquela afronta logo acima dela. Mas que putaria ! Procurou o coveiro e pediu providências imediatas. Inconscientemente, minorou a agressão que estava acontecendo, utilizando a técnica Safra-Vanderbilt de converter o brega em chique:
                                               --- Por favor, seu coveiro, acuda, ali ! Tem dois Dobbermans fazendo Mènage à Trois com uma Poodle, no túmulo de Lili !

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vendendo Almoço aos Outros - José do Vale Pinheiro Feitosa

Dando sequência ao texto “Vendendo o almoço....” vou usar uma análise do professor José Luiz Fiori, professor titular de Economia Política Internacional do Instituto de Economia da UFRJ. Para relembrar o texto anterior: além de subtrair recursos e meios dos trabalhadores, o sistema capitalista criar poderes de classe, hierarquiza as pessoas, aumenta a produtividade gerando dano à natureza e excluindo camadas imensas da sociedade a uma situação de miséria e violência.

O texto do professor Fiori chama-se “Poder, geopolítica e desenvolvimento” e o li no site Carta Maior. É fácil de ser encontrado mas vou resumi-lo para facilitar o raciocínio da pergunta que fiz no final do texto anterior: o destino do Brasil será submeter-se à necessidade da ordem capitalista e se tornar uma potência regional com as mesmas característica monopolista e predatória?

Em síntese o que diz o professor: o sistema capitalista surgiu no Sistema Interestatal Europeu que evoluiu durante cinco séculos para o Sistema Interestatal Capitalista. Este sistema se ampliou para os outros estados numa dinâmica de “competição” e “hierarquização”. O resultado da “captura” dos povos aos sistema gerou três grupos distintos hierarquizados, em competição e com subalternidades e superioridades: um grupo que adere aos superiores de modo consentido (Canadá, Austrália etc.) e serve para a troca de mercadorias, mas essencialmente dar robustez estratégica e tática à política externa e militar das grandes nações. Um outro grupo formado por países que reagem ao topo da hierarquia e por estratégias de mudanças de status quo e de crescimento acelerado consegue mudar sua participação na distribuição internacional do poder e da riqueza (EUA de dois séculos passados e China). E um terceiro formado por países da periferia política e econômica com fortes ciclos de crescimento e industrialização mas sem condições de desafiar a ordem hierárquica estabelecida. São fornecedores de commodities e bens industriais específicos como é o caso do Chile, Colômbia e Peru entre muitos outros.

Fiori aponta dois comportamentos essenciais dos países vencedores, aqueles que estão no topo da hierarquia. Em primeiro lugar a identidade nacional, mobilização da sociedade em torno de grandes projetos de defesa e projeção nacional. Por terem passados por rebeliões e invasões estes países valorizam as política de desenvolvimento e industrialização e a permanente preocupação com a conquista e monopólio de tecnologias sensíveis decisivas para o sucesso de sua economia. E em segundo lugar todos eles desrespeitaram sistematicamente as regras e instituições competitivas de mercado que advogam como obrigação para os países situados nos degraus inferiores. E Fiori conclui: os ganhadores navegaram na contramão das leis do mercado, ou seja os “grandes predadores” que conseguem manter e renovar permanentemente o seu controle monopólico das "inovações”, e dos “lucros extraordinários”. 

E Fiori conclui: Este caminho dos “ganhadores” está aberto para todos os países? Não, porque a energia que move este sistema vem exatamente desta luta contínua, entre estados, economias nacionais e capitais privados, pela conquista de posições e de monopólios que são desiguais, por definição. Mesmo assim, alguns estados podem modificar sua posição relativa dentro deste sistema, dependendo do seu território, dos seus recursos e da sua coesão social. E da existência de uma elite política capaz de assumir as grandes pressões sociais e o aumento dos desafios e provocações externas, como sinal de amadurecimento de uma país que já está preparado para sustentar uma estratégia de longo prazo, de questionamento do status quo internacional, e de desenvolvimento com mobilidade social generalizada.” 

Praticamente neste parágrafo final o professor ensina: o Brasil se seguir este roteiro, ou agenda, pode trilhar o caminho dos ganhadores. Assim encerraria nossa pergunta com a resposta: o Brasil não pode se tornar um país relevante na história sem adotar os modelos competitivos e hierárquicos que resultam em monopólios e saque das riquezas de outros povos. Enfim: se tornar em mais um instrumento eficiente da exploração capitalista.


Acho que temos margem para pensar diferente, voltarei ao assunto numa próxima postagem. 

A estética do acelerador - José do Vale Pinheiro Feitosa

O poder do acelerador é a soma da energia motora, do domínio das ruas e da esmagadora força sobre os pedestres. Com o acelerador encurta-se o tempo do deslocar-se no espaço e por ele a volúpia da velocidade encanta todo o corpo e a sensação de liderança sobre tudo, sobre todos e por sobre todos.

Tanto poderia ocorrer com um homem ou com uma mulher. Vamos escolher uma motorista do sexo feminino à espera que o sinal de trânsito, de uma rua de botafogo em frente à Favela do Morro da Dona Marte lhe desse passagem. E o sinal de trânsito abre todo o ímpeto quase medular, automático em vontade de acelerar e tomar a dianteira sobre as ruas.

Mas eis que um velho com ares resoluto, e seu olhar opaco, cabelos ralos com raízes brancas e as pontas pretas; com sua boca murcha e desdentada, resolve atravessar neste exato momento em que o sinal abre-se para a motorista.

Imediatamente uma revolta com força de uma manifestação de “vândalos” toma conta dos direitos de acelerar da motorista. Ela olhando aquela cena de um velho desprezível, com roupas surradas, um passo trôpego, arrastando um carrinho de compras no seu lento deslocar-se.

O seu ódio ao feio, aos velhos, aos brasileiros que nunca dão certo. Aquele velho jamais seria uma norte-americano ou um europeu. Seu sangue de bem sucedida com o pé no acelerador do seu luxuoso e potente URV sente-se ultrajado por andar num território que tem um velho desdentado, insignificante, interrompendo o trânsito.

Afinal isso acontece numa bosta de país como esse. Ainda bem que o gigante despertou para dar um basta a tudo que está aí.

Virando a página noutra esquina. No queridíssimo Leblon. Tudo clean, inside, New York, Paris e as noitadas alagadas de luxo e prazeres. O mesmo pé sobre o acelerador e outro sinal a abrir-se para a motorista.

Um garotão dourado de praia, os músculos intumescidos como genitálias em permanente efeito pornográfico. Aquelas pernas de abarcar o mundo e aqueles braços de virar o prazer pelo verso e reverso. Aquela promessa de prazer barra a iniciativa do acelerar e atravessa a rua como um felino carregando uma prancha de surf num evoluir rápido demais para o prazer da visão.


O mundo é esse. A felicidade é essa escolha. Não importa a vida e nem o ser humano. Só o poder de acelerar e os fetiches de consumo.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

POR QUE O POVÃO VAI ÀS RUAS - por José Almino Pinheiro


Será que um tratado científico poderia explicar o fenômeno? Onde está ou qual seria o estopim para o início das revoltas? As justificativas tradicionais indicam que as manifestações populares, pacíficas ou não, ocorrem pelos mais diversos motivos: corrupção, exploração, injustiças, roubalheiras, más governanças, são sempre citadas. Acontece que  esses fatos convivem com os homens deste que eles se organizaram em sociedades, e nem por isso, todo dia tem manifestação. A escravidão, por exemplo, símbolo de todos esses males era tolerada e admitida nas sociedades. Mesmo repudiada por muitos e terrível para os escravos, que apesar de terem todo direito, raramente se revoltavam, as mais conhecidas revoltas, entre nós, são a de Espártaco em Roma e a de alguns poucos quilombos. Na carnificina nazista da Alemanha, os prisioneiros dos campos de concentração, apesar de saberem o que os esperavam, que em muitos campos a vigilância era precária, poucas vezes se revoltavam. A mais famosa revolta foi a do gueto judeu de Varsóvia. A grande manifestação popular que culminou com a queda da Bastilha, símbolo da revolução francesa foi creditada ao desgoverno do Rei, privilégios e roubalheiras da nobreza e injustiças. As grandes manifestações populares contra a guerra do Vietnam ocorridas nos anos 60 e 70 do século passado eram obviamente pela paz. As grandes manifestações pela independência da Índia, a derrubada do Xá Mohammed Reza Pahlevi da Pérsia, em 1979,  como a do Czar Nicolau II, este, ao mesmo tempo, Imperador da Rússia, rei da Polônia e grão-duque da Finlândia, em 1917, como a da Bastilha, tem em comum o fato do desgaste do governo, desordem econômica, social e administrativa e, claro, grande corrupção e mudança radical nos regimes políticos. Nos três países o ato final da queda das respectivas monarquias foram as imensas manifestações populares onde a multidão enfrentou a polícia e parte do exército. De peito aberto, e recebidos à bala, os manifestantes que vinham atrás pulavam sobre os cadáveres dos caídos e seguiam em frente até dominarem os contingentes armados.
Os exemplos são muitos, as lutas justas. Aqui tivemos grandes manifestações populares e muitas pacíficas, como as campanhas O Petróleo é nosso, Contra a ditadura, Pela anistia, Diretas já, Fora Collor e essas atuais são exemplos marcantes. 
Mas a resposta à pergunta inicial fica em aberto. Nesse momento por que vamos às ruas? Além dos tradicionais motivos, será, também, porque desejamos encontrar um culpado real, no caso o governo, que incentivou o consumo e consequente endividamento da classe média sem o respectivo incremento salarial para cobrir os custos extras?  Será que deixamos a resignação de lado quando vislumbramos alguma possibilidade de sucesso, quando compreendemos que não dependemos do governo, para pelo menos sobreviver, e aí sim vale a pena ir à luta por um presente e futuro melhores?  


terça-feira, 2 de julho de 2013

As Ratazanas no Queijo do Banco do Vaticano

Como ser cristão na ordem imoral, predatória, corrupta e anti-humana? O Instituto para as Obras da Religião (IOR), mas conhecido como o Banco do Vaticano não conseguiu e se tornou a barriga de aluguel para uma das maiores lavanderias de dinheiro ilícitos do mercado financeiro. Isso certamente não reduz a consciência do bom católico, mas o deixa em grande dificuldade para esquecer a incompatibilidade entre cristianismo e a ganância privada e individual do neoliberalismo meritocrático.  

O mais grave de tudo isso é que um Papa por nome Francisco, oriundo do terceiro mundo, venha a mexer na estrutura tóxica criada pelo santificado Papa João Paulo II. Aquele das multidões que parece ter aberto as portas do banco para financiar seus inimigos comunistas e da teologia da libertação. Não se necessita esperar uma mudança para este lado do Papa Francisco, mas não deixa de ser uma grande curiosidade vendo-o aplicar as normas da religião ao comportamento do banco. Se fizer alguma coisa algo se finda: ou o capitalismo ou banco do vaticano.

Abaixo segue uma boa matéria sobre o assunto que retirei do site Carta Maior.

Papa Francisco decapita a cúpula do Banco do Vaticano
A guerra pelo controle do IOR e as mudanças que poriam o banco do Vaticano em sintonia com um mínimo de regras internacionais é um dos motivos que explicam o alijamento de Bento XVI. O papa Francisco terminou por decapitar a cúpula do IOR e pôr o banco sob o seu comando. A Santa Sé anunciou ontem a renúncia do diretor geral do Instituto para as obras da Religião, Paolo Cipriani, e do vice-diretor, Massimo Tulli. Por Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro
Paris - A cada mês que passa, o papa Francisco completa um pouco mais da obra inconclusa de seu predecessor, Bento XVI. O teólogo duro e pouco amigo da mídia tinha começado uma profusa obra de limpeza no seio de um dos organismos bancários mais secretos e sujos do mundo, o IOR, Instituto para as Obras da Religião, o banco do Vaticano. A guerra interna que desencadeou esse intento histórico de pôr fim às práticas enganosas herdadas do pontificado de João Paulo Segundo conduziu à renúncia inédita de Joseph Ratzinger.

A guerra pelo controle do IOR e as mudanças que poriam o banco do Vaticano em sintonia com um mínimo de regras internacionais é um dos motivos que explicam o alijamento de Bento XVI. O papa Francisco seguiu a obra iniciada por Ratzinger: recém eleito papa, retirou os exorbitantes privilégios econômicos de que gozavam (gratificação de 25. 000 dólares) os cardeais membros da comissão que supervisionava – inutilmente – as atividades do banco; depois, nomeou uma comissão de 5 membros encarregada de investigar a situação econômica e jurídica do banco do Vaticano.

Esta comissão está presidida pelo cardeal salesiano Raffaele Farina – 80 anos –e sua meta consiste em propor uma reforma do banco, para que “os princípios do Evangelho impregnem também as atividades de caráter econômico e financeiro”. Por último, Bergoglio terminou por decapitar a cúpula do IOR e pôr o banco sob o seu comando. A Santa Sé anunciou ontem a renúncia do diretor geral do Instituto para as obras da Religião, Paolo Cipriani, e do vice-diretor, Massimo Tulli. O comunicado do Vaticano disse que “ao cabo de muitos anos de serviços prestados ambos tomaram essa decisão, visando ao melhor interesse do Instituto e da Santa Sé”.

Essa série de decisões não tem precedentes na história sombria do IOR. Apesar de o Muro de Berlim ter caído há muito – 1989 -, o banco do Vaticano seguiu operando como se nada houvesse mudado. João Paulo II tinha feito do IOR o braço armado de sua estratégia contra o comunismo. Para receber fundos com o fim de utilizá-los na luta contra o comunismo e teologia da libertação, o papa polaco contratou uma galeria inusual de cardeais corruptos e de mafiosos assassinos. 
Entre estes, destacam-se três: o banqueiro da máfia, Michele Sindona, o banqueiro à frente do banco Ambrosiano do qual o IOR era o acionista majoritário, Roberto Calvi, o arcebispo estadunidense Paul Marcinkus, que passou de guarda-costas de João Paulo VI a presidente do IOR, e o cardeal venezuelano Rosalio Castillo Lara. Sindona morreu envenenado no cárcere e Calvi apareceu pendurado na ponte londrina dos Frades Negros. Bergoglio desta vez pôs um limite entre aquelas histórias e o futuro. 
Há dois dias a Santa Sé se colocou à disposição da justiça italiana e isso permitiu a prisão de um alto membro da cúria romana, o Monsenhor Nunzio Scarano, apelidado ˜Monsenhor 500˜, por seu gosto pronunciado e demonstrado por notas de 500 euros. Scarano, um membro dos carabinieri, Giovanni Maria Zito e o negociante Giovanni Carenzio são acusados de ter montado circuitos paralelos de lavagem de dinheiro através do IOR.
Poderia se escrever uma história tão extensa e cativante como a Comédia Humana de Balzac sobre o inescrupuloso banco do Vaticano. Até hoje, a melhor história foi escrita por Maurizio Turco, Carlo Pontesilli e Gabriele Di Battista. Seu livro “Paraíso IOR” é uma viagem tão exaustiva como pavorosa ao coração de uma entidade financeira cujas práticas estiveram até agora em total contradição com a mensagem moral da igreja. Nesta entrevista exclusiva para a Carta Maior, em Roma, Maurizio Turco e Carlo Pontesilli analisam o passado turvo e o porvir ainda incerto do IOR.
CM - Vocês não hesitam em qualificar o IOR como um banco criminoso. Tratando-se do Vaticano, esse qualificativo surpreenderá a muita gente.

CP – O IOR é um banco que goza de uma extraterritorialidade mundial. O IOR é um território de partes obscuras, de capitalistas aventureiros, de financistas imorais, de dinheiro do crime organizado que circulou através do banco e também, claro, o dinheiro da corrupção da classe política italiana. Tudo isso graças a uma normativa que protegeu o banco e as suas atividades ao largo das últimas décadas.
CM – Isto é história ou uma realidade ainda presente?

CP – Não, isto não pertence ao passado, no sentido de que as condições que permitiram todas essas irregularidades ainda seguem fazendo-o dentro do IOR. Todo esse sistema pôde funcionar devido a uma falta absoluta de controle por parte da Itália e da União Europeia, que não controlou o suficiente como devia fazˆ-lo. A verdade é que esse passado sombrio não acabou ainda. Nossa tese consiste em dizer que um banco não pode coincidir com uma religião. Mas nisso confiamos muito no papa Francisco, para que isto mude, esperamos que faça o que São Francisco fez, que não somente ajudou aos pobres, mas também foi ele mesmo pobre. Não se pode estar de acordo com um banco que funciona através de um sistema tecnicamente criminoso.

CM – Criminoso é uma palavra muito forte…

CP – Sim, é um banco tecnicamente criminoso. O crime é tudo aquilo que viola a normativa. A partir do momento em que o banco do Vaticano viola a normativa sobre a lavagem de dinheiro, a normativa monetária mundial, a partir do momento em que o banco do Vaticano recebe personagens turvos, não sei como qualificar de outra maneira. A história recente está cheia de episódios terríveis: assassinatos, mortes suspeitas, quebras de banco, dinheiro do crime organizado. Em suma, de um banco assim só se pode dizer que é tecnicamente criminoso.
CM – Vocês falam concretamente de falta de controle. O que significa isso?

CP – Significa que no banco do Vaticano entra dinheiro que depois termina nos mercados financeiros mundiais, sem que ninguém saiba nada. Por exemplo, em teoria, o estatuto do IOR diz que só os membros da igreja podem ter conta no banco. Mas não é exatamente assim. Sabemos que atrás das contas abertas por religiosos escondem-se verdadeiros titulares: homens políticos, mafiosos. Seria bom saber quem são esses laicos operam através do banco do Vaticano e gozam do estatuto de offshore do IOR para operar no mercado financeiro. O IOR tem, por exemplo, uns 300 milhões de dólares investidos nos Estados Unidos. Mas não se sabe onde. Imaginem se se descobre que esse dinheiro está investido em setores como o mercado de armas ou setores dos organismos geneticamente modificados!
CM – Para vocês, essa maneira opaca de operar é a que permite todos os abusos imagináveis…e mais um além.
MT – Em primeiro lugar, o tema não são as contas secretas, isso não existe, mas as contas mascaradas. Por exemplo: o IOR fazia uma transferência em nome do IOR para outro banco, também em nome do IOR. Isso não se pode fazer. O problema é que o banco do Vaticano permitiu-se operar em todo o planeta enviando dinheiro de um banco a outro, sem que se saiba a quem pertencia esse dinheiro e sem dizer que esse dinheiro era da igreja. Teoricamente, esse dinheiro deveria servir para as obras religiosas. Mas não. Temos visto que esse sistema de mascaramento das contas funcionou em todo o mundo! 
A Igreja universal tem o Banco Universal para a reciclagem universal: o IOR, Instituto para as obras de reciclagem… A última coisa que se pode imaginar é que o banco do Vaticano tente lavar dinheiro. Mas é assim, porque não tem nenhuma obrigação, nem interna, nem externa. Não presta contas a ninguém. São muito poucas as pessoas que sabem a quem pertencem realmente as contas abertas dentro do IOR.
CM - Em suma, o banco do Vaticano foi uma espécie de elo perdido livre de toda norma e obrigação.
MT— É assim. Ao longo de todos esses anos, o IOR pôde operar no coração da Europa, mas não em nome de interesses europeus ou nacionais, e sim em nome de interesses pessoais. Isto quer dizer, em nome dos interesses de homens do crime e da política. O banco do Vaticano é um seguro absoluto de que não se saberá para onde vai o dinheiro, nem a quem pertence…



Vendendo o Almoço para poder Jantar uma variante da frase "Não existe Almoço de Graça" - José do Vale Pinheiro Feitosa

Este texto é um desdobramento daquele outro sobre a natureza imoral, predatória, corrupta e anti-humana do capitalismo.

O título já identifica um valor essencial da história do que é o humano e por isso é preciso circunscrevê-lo numa dinâmica de amor e paz como valor moral; de solidariedade e distribuição igual do que é necessário para viver e para se obter a felicidade; que a todos sejam aplicados os mesmos direitos segundo sua natureza, potências e fragilidades e que tenha o humano como valor universal e não como valor privado promotor de ordenamentos, competições e hierarquizações de um ser humano sobre o outro.

Desde as ideias primitivas do cristianismo até as concretudes do pensamento a partir do renascimento que a ideia do socialismo permeia como a formulação para um novo modo de organizar a sociedade humana. Com as revoluções populares após a revolução francesa, tipo a de 1848 em Paris que é objeto do musical – recomendável - chamado os Miseráveis, que os povos tentam buscar uma base filosófica e científica para o estabelecimento da sociedade socialista.

Um personagem central nesta base teórico-prática para a conquista do socialismo foi Karl Marx. Não porque ele formulasse uma espécie de decálogo do que seria uma sociedade socialista hipotética, ele foi muito além da utopia de outros pensadores de sua época. Marx analisou o sistema em curso, caracterizado por uma dinâmica de competição e hierarquização, por empobrecimento dos povos através da subtração dos valores de seu trabalho, dos seus bens próprios e naturais, pela manipulação do desenvolvimento técnico-científico numa pauta contínua de monopolização e controle com a finalidade de explorar seu uso em benefício próprio.

A Revolução Russa de 1917, a grande Marcha Chinesa durante e após a Segunda Grande Guerra, além da luta geopolítica entre o Comunismo e o Capitalismo sustentaram mesmo que marginalmente uma larga formulação alternativa aos países em todo o mundo. Em primeiro lugar fez surgir os modelos sociais democratas com direitos sociais e humanos além da dinâmica capitalista embora dependentes dela.

Em segundo lugar gerou uma série de lutas libertárias de ex-colônias na África e na Ásia, encerrando um período hegemônico e cruel dos estados nacionais e das economia europeias. O mesmo aconteceu em toda a América Latina com o exemplo central vindo de Cuba, mas também tendo enorme importância com lideranças originárias de vários países como na Argentina, no Peru e, principalmente no Brasil, como Miguel Arraes em Pernambuco e Leonel Brizola que chegou a ser um dos líderes revolucionários mais promissores da América Latina inclusive por momentos com maior destaque do que Guevara.

Nos anos noventa a aparente vitória americana na guerra fria incluindo aí o furor privatista, anti-estatizante e as ideais neoliberais sufocaram as grandes questões da humanidade em busca do seu bem estar e da igualdade entre todos. A maciça propaganda vinda pelos mecanismo dominados, incluindo o Vaticano de João Paulo II gerando uma literatura vitoriosa do capitalismo e tornando as ideias socialistas em mero arcabouço do Estado Soviético e seus erros históricos.

Não é que se criou, pelo menos nas mentes brasileiras, uma nova ideia de sistemas políticos socialistas. Apenas a propaganda anti-comunista originária dos países capitalistas centrais acentuou o que já formulavam há muito, tornando-se hegemônica e a partir daí parecia que a história imoral, predatória, corrupta e anti-humana do capitalismo havia desaparecido. Passou tudo a ser a única possibilidade de existir. Não havia mais espaço para pensar, raciocinar e lutar por algo diferente.

Mas nem a história para e nem as necessidades humanas desaparecem. Menos ainda num sistema que se caracteriza por vantagens originárias dos muitos ricos que transferem suas heranças para os rebentos, que criam sistema de merecimento discriminatórios na base e que extraem continuamente riquezas de quem a produz sem lhes dar retorno.

É o sistema que nestes estágio chegou ao topo do seu formato competitivo, individualista, consumista, excludente, concentrador e monopolista. E chegou por uma questão central em filosofia: a transformação icônica do que era a base para medir o valor do trabalho e da mercadoria. A era do capitalismo financeiro, com seus fetiches e dinâmica de jogo como num cassino de ganha ganha e perde perde.


Quem quiser continuar comigo voltarei depois sobre o destino do Brasil. Será submeter-se à necessidade da ordem capitalista e se tornar uma potência regional com as mesmas característica monopolista e predatória? 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Doutora do Cansei e suas palavras de protesto - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eu nem devia estar aqui novamente com vocês. Pelo menos por hoje. Já havia postado um texto. Mas eis que tomei conhecimento da carta de uma colega médica desancando a Presidenta Dilma por seu pronunciamento indicando que chamaria médicos estrangeiros para trabalharem no SUS em regiões em que os médicos brasileiros não quiseram trabalhar.

Per si isso é um problema inerente ao modelo híbrido da saúde brasileira: público universal misto com privado (planos de saúde). Os médicos vivem num sistema de remuneração privado e público e o privado remunera mais que o público. Portanto ele é determinante para a distribuição de médicos: concentrados nos estados mais ricos e nas cidades grandes e médias. Incluindo, é claro, o fenômeno da alocação de tecnologia segundo o maior peso onde se somam recursos públicos e privados.

Mas a questão mesma da doutora é seu componente ideológico e pouco científico para quem deveria raciocinar. Como sabemos o médico é o profissional da interpretação das histórias pessoais, claro que utilizando uma gama imensa de tecnologia para comprovar suas hipóteses. 

Foi aí que ela veio com aquela baboseira de ser contra a Presidenta Dilma querer chamar-se Presidenta e não Presidente. Este besteirol é tamanho que recebi e-mail de "sábios da empulhação" mostrando por a mais b que o termo não existia e nem poderia existir. 

Mas eu tenho aqui um dicionário eletrônico do Houaiss que registra o vocábulo Presidenta: mulher que se elege para a presidência de um país. Etimologia: feminino de presidente. Agora aquele besteirol todo era uma arenga imbecil de cunho machista que a doutora médica cirurgiã nunca ouviu falar e ainda repete de modo inferior até que as falas de um papagaio.

Aliás esta semana li um artigo primoroso do Dráuzio Varela desancando a cura gay um projeto de lei, de autoria de um deputado do PSDB e encampado pelo Feliciano. Ele começou o artigo dizendo mais ou menos o que reproduzo de cabeça.

Deus teria dado limites à inteligência da humanidade para que ela não revelasse os segredos da criação. E aí o doutor Dráuzio se queixa: mas errou ao não dar limites à burrice. 

Deus sabe o que faz! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Deus sabe o que faz!

Pronunciado em tom alto, no passo rápido sobre a calçada dos números ímpares da rua Nossa Senhora de Copacabana. Uma senhora de cabelos lisos, curtos e presos e com uma oleosidade de brilhar mesmo no ameno iluminar da manhã nublada por entrada de uma frente fria.

Deus sabe o que faz! Deus sabe o que faz!

Repetiu várias vezes enquanto seguia na direção da rua Barão de Ipanema. Assim mesmo: Deus sabe o que faz!

E foi-se semeando dúvidas sobre a calçada. Talvez Deus lhe dera algum sofrimento e ali mesmo ela reconhecia-lhe a sabedoria apesar de tudo. Mas pelo tom exaltado talvez algum desafeto sofrera algo por suposto merecido e Deus lhe fizera justiça. Quem sabe Deus escrevera algo por linhas tortas.

Dúvidas na calçada. E quem por ela passar é capaz de encontrar muitas mais além das três possibilidades citadas. Deus sabe o que faz!

Numa esquina qualquer mais adiante, no entanto, numa jardineira sobre a calçada da Nossa Senhora de Copacabana cresce a árvore privatista do mais completo conceito de universalidade. O Deus único, indivisível, onipotente, onisciente, onipresente. Mas a criatura deste o toma por seu. O Meu Deus sabe o que faz.

O Meu Deus me protege dos meus inimigos, dos meus desafetos, dos meus concorrentes, dos que me são diferentes. Esta propriedade se estica tanto sobre seus valores que termina por ser escriturada em cartório. No cartório que valida, que reconhece a firma da sabedoria de Deus.

E atesta: Deus sabe o que faz! E o sabe posto que atestado, que é apalavrado por um testemunho essencial de sua sabedoria. Um testemunho que nesta ocasião se encontra na condição de oficializar a Deus este simples demandante de um atestado de sua sabedoria.  


A luta incessante entre o universal e a propriedade privada.

domingo, 30 de junho de 2013

Imoral, Predatório, Corrupto e Anti-Humano - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eike Batista está quebrando. A frase não expressa a realidade: quem está quebrando são todas as pessoas que aplicaram seus capitais nos projetos de Eike. Projetos que estão indo para o fosso financeiro e junto com eles os capitais das pessoas que acreditaram neles ou não acreditaram mas os bancos onde depositaram suas reservas acreditaram.

Os derivativos deram água e os bancos faliram. Errado, além dos impostos de todos que salvarem os bancos da bancarrota, a poupança de muita gente foi para o ralo. Com ela a aposentadoria dos americanos e europeus, além dos empregos dos netos.

Um operador do mercado financeiro italiano teve uma grande sacada. Tornou-se padre e foi operar os seus “conhecimentos” na contabilidade analítica da Sé Apostólica e como membro destacado no instituto que administra o grande patrimônio imobiliário do Vaticano. Resultado a polícia acaba de prendê-lo como um grande lavador de dinheiro e como proprietários de imobiliárias e operador de negócios ilegais.

Indo do capitalista em busca de ampliar seus capitais, passando pelo mundo material das famílias em suas poupanças até o domínio físico do reino dos céus o jogo com os fundos financeiros é uma irracional atividade predatória. É como um depósito de queijo infestado por ratazanas. Não importam as ratoeiras, o roedor sempre estará subtraindo materialidade ao queijo.

Os depósitos desde o início da revolução agrícola sempre foram alvo de comensais de todas as espécies. Por incrível que pareça é o mesmo com a coisa mais subjetiva que existe a que todos chamam dinheiro. Que aliás podia até ser alvos de traças e cupim, mas agora no meio eletrônico é pura virtualidade.  

Trocou-se o projeto da ação coletiva e contínua, por cifras que externamente determinam esta ação. Ao invés do convencimento e da vontade extraída do trabalho (que é a ação) criaram-se mecanismo de poder para extrair deste trabalho uma parcela virtual sobre a forma de capital e assim determinar o comportamento geral de todos. Ao se tornar um poder determinante do trabalho, transformou a espontaneidade e alegria em obrigatoriedade e sofrimento. Fez do trabalho uma danação.

Este é o ciclo imoral, corrupto, predatório, anti-humano que atuar sobre a história neste momento e a ele por sua natureza cumulativa, privada e concentradora chama-se capitalismo. Não é um demônio, não é um ícone, é apenas a forma de organização da produção que existe nesta fase e que todos precisam analisar para melhor compreender e superar.  



sábado, 29 de junho de 2013

Abaixo reproduzo postagem do jornalista Mário Magalhães em seu blog. Pensava em escreve algo sobre esta contradição, porém o Mário diz tudo. Pensara pois se estamos numa onda de justiça, anti-corrupção e pelo despertar da política a ação da polícia na Favela da Maré aqui no Rio e a de São Paulo para desalojar moradores de um terreno invadido estariam no mesmo escopo das chamadas revoltas do acordar do país. Apenas que o discurso da grande mídia é pura manipulação a favor do lado que ela representa. Se você é de classe média e acha que tudo isso que acontece com os pobres é apenas a ordem, comece a contar o minutos da violência que o atingirá ali na esquina e na elevação dos muros e da grana para proteger o inseguro mundo em que vives.

E se os mortos da Maré fossem no Leblon?

Foi nesta semana, mas, a considerar o noticiário, parece que ocorreu no século retrasado: depois de um sargento do Bope ser morto por traficantes, a PM invadiu uma favela do complexo da Maré, aqui no Rio, e matou nove pessoas. Duas não tinham antecedentes criminais, como um garoto de 16 anos. O governo prometeu investigar as circunstâncias.
Se os dois mortos sem vinculação comprovada com a bandidagem fossem moradores do Leblon, será que a cobertura jornalística teria se extinguido tão rápido?
Será que as autoridades e o jornalismo falariam em “excessos”, como agora, ou em possíveis “crimes”?
Quantos editoriais não haveria nos jornais, nas TVs, nas rádios e na internet?
Quantos bambambãs já não estariam alardeando a existência de um “Estado policial” no Brasil?
Informados pelos meios de comunicação, quantos milhares de estudantes não promoveriam greves exigindo o esclarecimento dos fatos?
Quantas senhoras não lançariam campanhas com o mote “Podia ser seu filho”?
E as passeatas, não seriam talvez maiores do que as que tomaram as ruas na semana passada?
Quantas denúncias de extermínio haveria por minuto?
Seriam publicadas reportagens falando em um “menor” morto, como li, ou ele teria nome, idade, sua história contada?
Quanto tempo demoraria para que tudo fosse esquecido, sobretudo a cobrança por apuração?
Mas o garoto era da Maré, e não do Leblon.