por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 11 de setembro de 2012




Língua
Caetano Veloso



Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

© Editora Gapa

Moça na Cama - Adélia Prado


Papai tosse, dando aviso de si,
vem examinar as tramelas, uma a uma.
A cumeeira da casa é de peroba do campo,
posso dormir sossegada. Mamãe vem me cobrir,
tomo a bênção e fujo atrás dos homens,
me contendo por usura, fazendo render o bom
. Se me tocar, desencadeio as chusmas,
os peixinhos cardumes.
Os topázios me ardem onde mamãe sabe,
por isso ela me diz com ciúmes:
dorme logo, que é tarde.
Sim, mamãe, já vou:
passear na praça em ninguém me ralhar.
Adeus, que me cuido, vou campear nos becos,
moa de moços no bar, violão e olhos
difíceis de sair de mim.
Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,
os moços marianos vão me esperar na matriz.
O céu é aqui, mamãe.
Que bom não ser livro inspirado
o catecismo da doutrina cristã,
posso adiar meus escrúpulos
e cavalgar no topor
dos monsenhores podados.
Posso sofrer amanhã
a linda nódoa de vinho
das flores murchas no chão.
As fábricas têm os seus pátios,
os muros tem seu atrás.
No quartel são gentis comigo.
Não quero chá, minha mãe,
quero a mão do frei Crisóstomo
me ungindo com óleo santo.
Da vida quero a paixão.
E quero escravos, sou lassa.
Com amor de zanga e momo
quero minha cama de catre,
o santo anjo do Senhor,
meu zeloso guardador.
Mas descansa, que ele é eunuco, mamãe.

Os versos acima, publicados inicialmente no livro "O Coração Disparado", foram extraídos de "Adélia Prado - Poesia Reunida", Editora Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 175.


"Sereno da Madrugada
Carlos Gonzaga


Sereno da madrugada
Caindo no meu caminho

Na rua abandonada
Eu ando triste sozinho

Sereno a minha amada
Se encontra
Em outro ninho e não no meu

Sereno da madrugada
Amigo que Deus me deu "

Para Aloísio- por Socorro Moreira ( dez/2010)
Esse mote
que o carteiro
na minha noite pingou
é sereno , o meu amigo,
um poeta de louvor !

Sereno me surpreende
quando o flagro numa flor
mas o sereno Aloisio
não perde nunca um repente
quando cumpre um desafio

Agora mudando a prosa
eu falo da serenata
com a música do Gonzaga
que a minha infância encantou
Começo a cantarolar
lembrando a praça molhada
quando uma estrela chorou

Considerando as estrelas
na contagem sideral
eu pergunto ao Deus do céu
pelo lenço que o sereno
não gosta nunca de usar
e fico embevecida
vendo a planta embriagada
de versos, rima e luar !
.
E antes do fechamento
eu lembro a velha canção
que o poeta da vila
deixou pra gente cantar
ele fala como a gente
que também se diz boêmio
e gosta de versejar :

"Sou do sereno
Poeta muito soturno
Vou virar guarda noturno
E você sabe porque
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos prá você"(Noel Rosa)


Deixo uma nova palavra
pra alguém considerar
dentre as estrelas que vejo
uma delas é um olhar
que começa a serenar!





Futebol: a Seleção Maguila

Muitos daqui se lembram do simpático ex-pugilista Adilson Rodrigues, o Maguila, um bom boxeador em nível regional que alguns brasileiros espertos tentaram elevar a fenômeno internacional.
Para fazer cartel, como se chama no boxe (acumular vitórias), Maguila lutava contra sparrings e pugilistas inexpressivos, alguns barrigudos e flácidos, em lutas transmitidas como se fossem espetáculos inesquecíveis da Nobre Arte pelo locutor Luciano do Valle.
Quando ousou enfrentar pugilistas de destaque dos EUA, precisou de uma ajudinha dos juízes num resultado que entrou para a história do boxe, no Maracanãzinho, e foi à lona em lutas nos Estados Unidos. Tornou-se “campeão mundial” por uma obscura associação.
Pois bem, parece que a História se repete, e desta vez como segunda farsa. Estamos vendo nos gramados a Seleção Maguila.
Desde que o técnico Mano Menezes pediu à CBF para desmarcar amistosos contra a Espanha e a Itália, no final de 2011, optando por jogar contra Gana, Gabão e Egito e virando motivo de chacota internacional, a Seleção adotou a tática Maguila para permitir ao seu treinador fazer cartel e evitar derrotas humilhantes contra grandes adversários.
Quem acompanha a Seleção há décadas e já teve de conviver, infelizmente, com técnicos como Falcão, Lazzaroni e Leão, sabe que mesmo nos piores momentos nunca tivemos medo. Na linguagem futebolística, nunca fugimos do pau. Até a Era Mano Menezes. Até a Seleção Maguila.
O primeiro resultado dessa tática covarde, motivada em parte pela pior colocação da Seleção na história da Copa América, foi a perda de uma medalha de ouro fácil nos Jogos Olímpicos. E há dois anos não ganhamos de nenhuma Seleção importante.
Após o fiasco em Londres, Galvão Bueno, que faz o papel então reservado a Luciano do Valle, tentou convencer o País de entrávamos numa fase de “reinício de trabalhos” – e não, obviamente, de continuidade: o mesmo treinador, os mesmos jogadores, a mesma tática, os mesmos adversários.
Goleamos a China por 8x0 ontem.
Quem é a China?
Uma Seleção já eliminada da Copa do Mundo de 2014 num grupo de quatro Seleções que contava com Iraque, Jordânia e Cingapura. Iraque (do treinador Zico) e Jordânia se classificaram para a fase seguinte. A China ocupa atualmente a 78ª colocação no ranking da Fifa (África do Sul, penúltimo adversário da Seleção, ocupa a 74ª colocação).
Como a grande mídia não gosta de fazer jornalismo, nós fazemos. Vejam essa curiosa diferença de escalação inicial, do último jogo da China nas eliminatórias para o jogo da vitória maguiliana.
China 3x1 Jordânia.
C. Zeng, X. Sun, P. Zhao, L. Zhang, J. Liu, J. Hao , T. Chen , S. Qin, H. Yu, P. Lu., L. Gao. http://uk.eurosport.yahoo.com/football/world-cup-qualification-afc/2014/china-pr-jordan-464272.html
Brasil 8x0 China.
Isso mesmo. A Seleção que derrotamos por um placar patético não é sequer a Seleção principal da patética equipe chinesa (aliás, a Seleção com o pior ranking enfrentada na Era Mano).
Agora pensemos alto. Temos a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014. Qual é a utilidade de jogar partidas em que ficamos 90% do tempo no campo do adversário? Testa-se a defesa, o meio de campo, o ataque – este, contra defesas eficientes?
Que conclusões podem ser tiradas sobre o desempenho dos jogadores se estamos jogando contra Seleções que não participarão dos principais torneios que precisamos ganhar? Como esses atletas jogarão contra grandes Seleções, aquelas que precisamos derrotar para conseguir títulos? Que treino é esse?
Seleções principais derrotadas na Era Mano: Estados Unidos, Irã, Ucrânia, Escócia, Romênia, Equador, Gana, Costa Rica, México, Gabão, Egito, Bósnia, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia, África do Sul e China.
Esta é a nossa turma.
Só há duas utilidades efetivas nesses jogos: fazer cartel para o treinador e vender jogadores para o exterior.http://extra.globo.com/esporte/copa-2014/em-dois-anos-jogadores-convocados-por-mano-menezes-ja-renderam-1-bilhao-em-negociacoes-6032738.html
É esta a nossa outrora gloriosa Seleção Canarinho: a Seleção Maguila, a Seleção da Era Mano.
Fiquem certo os mais jovens: nunca foi assim. Nunca passamos vergonha por medo, nunca precisamos de vitórias questionáveis contra Seleções ridículas para segurar treinadores e dar confiança a jogadores.
Podíamos nem ter bons jogadores, mas ao menos tínhamos coragem. Éramos homens em campo.

Baião de Nós pra degustação


Petisco musical do meu novo CD, que está prestes a ser lançado. Trecho de uma das faixas e clima da produção. Sua visita à nossa página será bem-vinda: https://www.facebook.com/baiao.de.nos

domingo, 9 de setembro de 2012

O "estilo" Dilma

Nota Oficial
Citada de modo incorreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado neste domingo, nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, creio ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares.
Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão.
Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infra-estrutura e reservas cambiais recordes.
Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes.
Recebi um Brasil mais respeitado lá fora graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional. Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista.
Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento. Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O melhor do mundo - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Certa vez, um repórter perguntou a Altamiro Carrilho, há poucos dias falecido, o que  era preciso para se tornar um bom músico. E ele prontamente respondeu: "Em primeiro lugar, o sujeito precisa nascer músico. Depois estudar muito, horas e horas a fio".

Creio que o pianista João Carlos Martins preencheu completamente os requisitos ditados pelo saudoso Altamiro Carrilho. Iniciou seus estudos ao piano ainda criança com a professora Aída de Vuono. Aos oito anos já tocava piano como gente grande, tendo vencido um concurso para execução das obras de Bach. Em seguida ingressou no Liceu Pasteur, onde se aperfeiçoou com o professor russo José Liass, época em que chegou a estudar por mais de seis horas diária. Aos treze anos venceu um concurso internacional em São Petersburgo, na Rússia.

Em 1960, quando João Carlos Martins tinha vinte anos, foi convidado por Eleanor Roosevelt, ex-primeira dama dos Estados Unidos, a se apresentar no mundialmente famoso Carnegie Hall, ocasião em que interpretou Bach. Ele conta que ao final do concerto, a senhora Roosevelt adentrou ao camarim acompanhada de um cidadão excêntrico, que lhe disse:
- "Eu sou Salvador Dali. E você é o melhor interprete de Bach que há no mundo. Repita isso durante toda a sua vida. Faz quarenta anos que eu digo que sou o maior pintor surrealista do mundo e todos acreditaram!"

O talento nato entretanto é importantíssimo. De nada adianta cantar vantagem, quando não se tem a certeza do dom com o qual cada um nasceu. O difícil é descobrir que dom é esse. Acima temos dois exemplos de pessoas que descobriram esses dons e por isso foram vencedoras.   

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

quarta-feira, 5 de setembro de 2012



O Falatório do Homem Massa


Pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensado.José Ortega y Gasset

    Como todos sabem, estamos no período eleitoral onde as mais diversas propostas (nem tão diversas assim) propagadas por uma infinidades de candidatos tem colocado a população em um estado de nervos deveras excitante. Tratando-se o Crato como cidade da cultura, não era de se espantar que sua população participe ativamente dos debates políticos que tem se dado em praças, rua e principalmente na internet, e mais especificamente do facebook.
    O que cabe ao eleitor que pretende se informar a partir das inúmeras informações emitidas nos debates em questão é: 1º - A veracidade das mesmas; 2º -A confiabilidade do seu emissor e; 3º - A capacidade de você mesmo percebê-la, comparando a informação obtida com os dados que a realidade lhe apresentam.  O que estamos falando aqui é algo essencialmente filosófico, onde conceitos de ciência polícia, história, oratória e até a mais abjeta erística se misturam. Isso complica bastante ao leigo no debate pois os com conceitos não nos chegam prontos e explicados, cabendo a nós mesmos a habilidade de entender cada um deles em sua singularidade, separá-los e conexioná-los segundo a necessidade do momento.
    Há a partir de então, para um debate saudável, uma primeira necessidade que é a percepção do real em suas diversas singularidades e expressá-lo de modo mais fidedigno possível. Quem atende essa primeira premissa é um grupo de artistas e escritores maduros, que, embora adicionem um elemento estético, este elemento está submetido a realidade. É importante entender que ao falar em realidade, não me refiro ao realismo como escola artística. É possível que várias correntes artísticas emitam um signo realístico segundo sua própria estética, sem que seja necessário relativizar a verdade (como vem acontecendo costumeiramente). Como exemplo, podemos coletar ao longo da história da literatura uma série de exemplos, que podem ser entendidos como “signos artísticos” que dão lastro a quem os estuda para perceber melhor a realidade que os rodeia. Após ler um Homero, Sófocles, Cervantes ou Dostoiévski, temos uma variedade de personagens decodificados que podem ser reconhecidos em nosso convívio diário. Uma das características de uma obra clássica é o número de eventos extraordinários que acontecem em um espaço temporal relativamente pequeno. O leitor tem então uma enorme fonte de experiências que ele pode ter acesso sem sofrer as consequências de nenhuma delas, aprendendo se possível com cada uma. Isso é a transposição da experiência em memória e linguagem e expressão culturalmente reconhecível.
    Sem esse número de experiências decodificadas primeiramente pela literatura (que já deixa marcado no imaginário da população, por assim dizer, os “mocinhos e os bandidos”) é impossível o desenvolvimento político saudável que é nada mais do que uma extensão das atividades da filosofia. Como nosso caso não é este é reduzido o número de experiências necessárias para a entrada de qualquer pessoa no debate político. Fica fácil então qualquer um começar a dar palpite sem que sua própria consciência seja verificada antes do mesmo ser ouvido. Ora, este debatedor que não foi verificado sua procedência pode ser um Raskólnikov, uma Madame Bovary em potencial. Como alguém deste nível, que não reconhece os próprios pecados poderá ser ouvido em questões públicas? Alguém deste nível poderá elabora algo em um significado filosófico mais profundo? Ora, é claro que a necessidade de elaborar um discurso de mudança é algo comum a qualquer ser humano, mas, o que é preciso pensar é se a personalidade e o empenho de tais pessoas são condizentes com seus desejos de mudança.
    É fácil elaborar uma questão maliciosa para um político, mas vez que você próprio não seria capaz de superá-la. O problema de uma população que não tem esse imaginário literário que decodifica muitas coisas da vida por experiências dadas de presente a quem se dedica a sua leitura é que, uma vez sem essa experiência em potencial já pronta, a sociedade terá que vivê-las por sua própria conta, podendo repetir os mesmos erros totalmente desnecessários. Esse é o preço que uma sociedade sem literatura e sem história paga. Portanto, como diria o grande Chesterton: “Tradição significa conceder votos à mais obscura de todas as classes: nossos ancestrais. É a democracia dos mortos. A tradição recusa submeter-se a essa arrogante oligarquia que meramente ocorre estar andando por aí." Portanto, quanto mais experiências nós absorvemos, mais fácil fica para entender a realidade, seja ela qual for.
    O que tem me deixado um tanto perplexo é como pessoas de inteligência tem trabalhado questões políticas por meio de um molde feito pelas experiências de massas, que, de um modo geral, não tem uma experiência bem elaborada de questões necessárias para um debate saudável. Quando falo que não tem, não é pelo fato de que as mesmas simplesmente não queiram, mas que o fracasso da educação brasileira os usurpou dessa possibilidade. O número de palpiteiros nos grupos do facebook atesta o que estou falando: Afirmação graves são proferidas sem provas, invertem conceitos, tomam-se constantemente a mera hipótese por prova incontestável, entre tantos outros pecados intoleráveis para uma argumentação lógica, saudável e que possa contribuir para alguma coisa. É preciso urgentemente que a chamada Cidade da Cultura se afine de fato com os grandes nomes da cultura ocidental. Não estamos acima deles, portanto, não podemos desprezá-los. O que nos resta é baixar a cabeça e aprender humildemente, ou, continuar no falatório travestido de erudito, que, na maioria dos casos não resiste a menor réplica.

Antonio Sávio Nunes de Queiroz

CRIA O TEU RITMO


“Cria o teu ritmo e criarás o mundo.”
Eu era adolescente quando li esse verso de Ronald de Carvalho. Pareceu-me de imediato uma chave para a poesia. Simples. Básico. Bastava-me criar o meu ritmo e eu seria poeta. Fácil, não? Ainda hoje estou tentando criar o meu ritmo, falar com a minha voz.
Há sempre um outro por trás. Talvez meu outro eu. A minha máscara – essa que todo poeta usa. Essa que, afinal, fala com a sua voz.
Dizem: o seu estilo é inconfundível. E me confundem, se confundem, não me reconhecem no que escrevo.
Como quando, certa vez, eu era jovem ainda, mostrei um pequeno poema de Drummond a umas amigas. Elas ficaram assim, assim. Como quem não sabia o que dizer. Então eu disse: “É de Drummond.” “Ah, bom”, disseram.
Não era apenas bom, o poema. Bom como eu não seria capaz de fazer. Tinha mais, tinha uma voz, que não era a minha – mas se confundia com a minha em sua impessoalidade.
Impessoalidade. Contento-me lembrando Gide: Estilo é não ter estilo. O estilo ideal é não se denunciar por artifícios de linguagem, por enfeites, floreios, etc. A linguagem ideal é a que parece de todo mundo. Nem se percebe que por trás há o homem.
Por trás há o outro.
Um poeta só é poeta quando descobre a própria voz, quando cria o seu ritmo.
O ideal é que não se perceba o outro por trás.
Pouco importa se não é reconhecido, se a sua voz parece a voz de todo mundo. Melhor ainda. Eu é um outro, diria Rimbaud.





terça-feira, 4 de setembro de 2012

Por Rosa Guerrera


A LIBERDADE DE SONHAR
Eu queria muito todos os dias enxergar paisagens de sol e de luz.
Queria poder ligar a TV e não mais ler notícias de atrocidades e vinganças.
Queria não me envergonhar da impunidade que reina no nosso país.
De não constatar a cada instante que o poder e a clamada Justiça são alimentadas por aqueles que possuem altas contas bancárias.
Queria ver destruido o mundo tenebroso das drogas e recuperadas as energias dos pobres viciados.
Queria ver modificadas e criadas novas Leis , hoje caducas e esquecidas pelo poder público.
Eu sei que querer ver a humanidade de braços dados sorrindo é uma utopia , um sonho apenas criado nos meus desejos julgados talvez puerís ou ridículos.
Infelizmente o mundo vive aprisionado em fortes cadeias de opressões e injustiças .Mas o direito de sonhar , só Deus pode nos tirar . E aqui na terra ninguem jamais terá o poder de colocar os nossos sonhos num banco de réus.
por rosa guerrera 


APENAS UM CÃO (A.D.)

De vez em quando escuto alguém me dizer: “Pára com isso! É apenas um cão!!!” Ou então, “Mas é muito dinheiro pra se gastar com ele! É apenas um cão!”
Estas pessoas não sabem do caminho percorrido, do tempo gasto ou dos custos que significam “apenas um cão”. Muitos dos meus melhores momentos me foram trazidos por “apenas um cão”.
Por muitas horas em minha vida, minha única companhia era “apenas um cão”. E eu não me senti desprezado. Muitas de minhas tristezas foram amenizadas por “apenas um cão”.
E naqueles dias sombrios, o toque gentil de “apenas um cão” me deu conforto e motivo para seguir em frente.
E se você também é daqueles que pensam que ele é “apenas um cão”, com certeza deve entender bem expressões como “apenas um amigo”, “apenas um nascer de sol”, “apenas uma promessa”. “Apenas um cão” deu à minha vida a verdadeira essência da amizade, da confiança, da pura e irrestrita felicidade.
“Apenas um cão” faz aflorar a compaixão e a paciência que fazem de mim uma pessoa melhor. Por causa de “apenas um cão”, eu me levanto cedo, faço caminhadas e olho com mais amor para o futuro.
Porque pra mim - e pras pessoas como eu - não se trata de “apenas um cão”, mas da incorporação de todos os sonhos e esperanças do futuro; das lembranças afetuosas do passado; da pura felicidade do momento presente. “Apenas um cão” faz brotar o que há de bom em mim e dissolve meus pensamentos e as preocupações do meu dia. Eu espero que, algum dia, as pessoas entendam que não é “apenas um cão”, mas aquilo que me torna mais humano e me permite não ser “apenas um homem”.
Então, da próxima vez em que você escutar a frase “É apenas um cão”, apenas sorria para estas pessoas porque elas apenas não entendem...
por rosa guerrera

SEGUIR SEMPRE
Na vida são muitos os paradoxos e interrogações.
O que hoje é sublime pode ser amanhã efêmero e vice versa. Mas o que deve restar dentro de cada um de nós é aquela certeza de termos um dia tentado a concretização de algo.
Algo que muitas vezes se resumiu num pedacinho de sonho que furtivamente entrou nos aposentos no nosso coração , ou ainda num doce poema que ficou por terminar.
De uma ou de outro maneira , o impotante é seguirmos sempre .
Olhos marejados.
Pés calejados.
Sentimentos feridos.
Não devemos desistir .Não possuimos o direito de estagnar .Precisamos ter a capacidade de romper todos os obstaculos, e acreditar sempre na beleza do nascer de um novo dia !
 por rosa guerrera

MEDITANDO.........
Alguma coisa ficou a ser escrita no livro da minha alma .
Alguma coisa que nasceu repentinamente e morreu muito antes de se realizar.
Eu sei que alguma coisa ficou perdida em alguma praia distante ...em algum lugar ...
Alguma coisa que era talvez pesada demais para um sonho , e quem sabe demasiadamente leve para os atalhos da vida.
Alguma coisa ficou realmente a ser escrita. Algo tão meu , que até hoje não conseguí encontrar .
por rosa guerrera 

O RIO E O MAR

Você foi para mim como um rio
que contornando obstáculos desaguou
no mar dos meus braços...
E juntos velejamos por entre
ondas plácidas na mistura de águas tão diferentes...
Sentimos juntos o calor do sol nas auroras de paixão ,
e nos espelhamos na luz do luar em promessas de ternura.
Nos embalamos em espumas brancas de paz
após tempestades de loucuras
no cansaço das nossas mãos entrelaçadas .
E não vimos que o marchar das águas de um rio
é um continuo seguir sem olhar para trás .

Hoje ,daquele encontro de águas apenas ondas de lágrimas
espalhadas nas areias de uma praia deserta...

Ros@





segunda-feira, 3 de setembro de 2012



Sol de Primavera
Beto Guedes

Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez
Já sonhamos juntos semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar
Já choramos muito, muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer
Sol de primavera abre as janelas do meu peito
a lição sabemos de cor
só nos resta aprender...
Vídeos




sábado, 1 de setembro de 2012

Imagem e Imaginação




Quando o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo em  2016, bate-nos aquela memória nostálgica dos anos dourados do futebol cratense. Terá sido, com certeza, o histórico vitorioso da nossa Seleção nas Copas  das décadas 50 e 60 que estimulou  a juventude da época a se ligar mais umbilicalmente à bola, aqui na cidade de Frei Carlos. O advento deste esporte tão querido dos brasileiros, por aqui, no entanto, remonta quase  aos primeiros vagidos desta modalidade esportiva em  Pindorama.
                                   Reza a tradição que o futebol  chegou ao Brasil pelos pés de Charles Miller, um brasileiro que indo estudar em Londres, aí por volta de  1894, trouxe ao Brasil duas bolas na bagagem e aqui fundou o primeiro Clube : O São Paulo Athletic Club.  No ano subseqüente, realizou-se o primeiro jogo oficial em São Paulo . Na primeira década do Século XX, o esporte se disseminou  em muitos estados da federação : Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Minas, Rio Grande do Sul, Paraná.
                                   O Crato, uma pulsante vila no Cariri cearense, demonstrou, mais uma vez seu pioneirismo, quando,  em  1919, foi fundada a nossa primeira  agremiação esportiva—Crato Football Club-- com seu jogo inaugural acontecido na Praça da Sé,  em 19 de Junho daquele ano. O primeiro presidente do Clube , Jorge Dmitri Dummar ,  dirigia as “Casas Pernambucanas” na cidade e seu irmão , José Dummar, foi o árbitro da peleja. Há uma foto histórica do time, guardada pelo nosso Florisval Matos, com a escalação histórica, naqueles idos de 1919: José   Carvalho,Gerson Zabulon,Zezé Esmeraldo ( Pai de Dr Egberto Esmeraldo e avô da nossa atual Secretária De Cultura),Duclerc Colares, Heli Norões, João Dummar, Waldemar Garcia ( O Maior Nome Do Teatro Cearense No Século XX ), Mario  Melo ( Instrutor Do Tiro De Guerra 118), Francisco Teixeira (Pirrinto), Antonio Lima, Joaquim Alves De Matos .
                                   Passaram-se os anos, a voracidade do tempo triturou a memória de um período com poucos registros imagéticos,  mas permanece bem presente ,em muitas gerações , o apogeu do futebol aqui em Crato. O Esporte, o Satélite, o  Votoran, a Volkswagen, o Rebelde, a AABB...Craques inesquecíveis como Gledson, Reginaldo, Enoque, Santana, Netinho, Luciano, Freyre, Paulo Cézar, Chico Curto, Dote,   Gilton preenchem as mais doces memórias de um tempo em que o futebol ia pouco a pouco se firmando como nosso mais querido  e reverenciado esporte .
                                   Hoje, com a disseminação absurda dos meios de comunicação, deixamos um pouco de olhar para nosso umbigo. Voltamo-nos para a Aldeia Global. Interessa-nos, muito mais , os conflitos externos que as nossas pobres e comezinhas atribulações. Há uma câmara em cada canto, um olho mágico em cada parede, uma filmadora em cada esquina. Há um arquivo infinito de imagens à disposição na Internet, tão extenso quanto difícil de ser acessado e filtrado.
                                   Perdemos o glamour das jogadas sensacionais que ficaram gravadas apenas na memória e nos corações de cada um de nós. Uma defesa sensacional de Gilton, num chute de esquerda do Luciano; a placidez de gelo do Netinho, defendendo a bola na pequena área, frente a sanha feroz do centroavante; a elegância real de Anduiá, nosso Backenbauer, em pleno meio de campo, dominando a bola de cabeça erguida, preparando o lançamento cirúrgico e certeiro para um Chico Curto que, como um bólido ,picava louco para a área.  Sem TV, sem fotos, estas jogadas mágicas , como um vídeotape, saltam da minha cabeça como se agora mesmo estivessem acontecendo no Campo do Esporte ou na Quadra Bicentenário. 

J. Flávio Vieira

Quando setembro vier... E setembro chegou! - por socorro moreira


Vento parado e calor. Fumaças nas estradas denunciam queimadas. Eu escuto rezas em muitos lares.
Tia Auri, nos seus 93 anos, ainda declara que o seu coração transborda alegria, quando nos encontra em Mauriti. Lá a política está efervescente. Bandeiras vermelhas, verde-amarela... E eu não acho a paixão, nem tão pouco a esperança. Sinto saudade de um tempo passado.
Deus do céu, como é difícil entender o presente e ficar dentro dele, confortavelmente. Mas, a correnteza me obriga a encarar um futuro, na lua negra ou azu, ou apenas naquela prateada, que insiste em banhar os meus cabelos de mulher, que assume o feminino de todas as incertezas e mistérios. Quero como os mais velhos achar minha mãe, meu pai... Voltar pra casa, atravessar o portal da ressurreição.
Ontem foi uma noite de achar agulha em palheiro como diria Cristina Barreto. Ouvimos  violões, e o canto do grupo. Tudo afinado com as nossas águas nostálgicas, felizes, querendo a poesia aflorada, sem as atrofias da alma.
Estamos no primeiro dia de setembro. Os sinos hoje trabalharam o dia inteiro. È festa da Penha, e o cheiro do pano novo impregnado na memória, me faz lembrar tantos rostos...Eles ficaram num painel, acima do céu, como uma imensa flâmula a balançar  encantos. Éramos tantos... Agora apenas nos despedimos uns dos outros, a cada dia, vivendo com infinitude a brisa dos carrosséis de antigamente.



sexta-feira, 31 de agosto de 2012




Hoje cedo, saindo para o trabalho escutei no rádio que hoje tem um fenômeno que não acontece sempre. O Fenômeno da “Lua Azul”.

No mundo todo ela (a simbólica “lua azul”) é inspiração para os românticos. Mas simplesmente é a lua cheia duas vezes no mesmo mês. Hoje, 31 de agosto de 2012 é um dia desses. Me lembrei que quando eu era criança (...faz um tempinho) eu já gostava de música e eu ouvia no rádio uma música assim:

DE UMA CIGANA OUVI
A ME DIZER ASSIM...
COM ESTA LUA AZUL
VEM O AMOR
E QUEM GOSTAR DE ALGUÉM
QUE FECHE OS OLHOS BEM
E PEÇA SORTE, SORTE, SORTE
QUE A SORTE VEM!



É BEM VERDADE, SIM

O QUE A CIGANA DIZ

POIS COM VOCE, ENFIM

EU SOU FELIZ

MAGIA NO LUAR

COM FÉ ENCONTRARÁ

E MUITA SORTE, SORTE, SORTE

PARA O SEU LAR

LUA AZUL, LUA AZUL,

MINHA ORAÇÃO

LUA AZUL, LUA AZUL
OUÇA POR FAVOR
EU QUERO MEU AMOR...
EU VOU REZAR TAMBEM
QUE TRAGA SORTE, SORTE, SORTE

PARA O MEU BEM


Chegando no escritório (cheguei bem cedo hoje), deu tempo para eu me lembrar da letra. E olha que faz mais de 40 anos. Minha memória está boa...me lembrei da letra todinha.

E comecei a pensar em pessoas especiais. Fatalmente, você veio na minha lembrança. E como diz a letra da música “E QUEM GOSTAR DE ALGUÉM QUE FECHE OS OLHOS BEM ...E PEÇA SORTE, SORTE, SORTE QUE A SORTE VEM” comunico a você que hoje à noite estarei olhando a “lua azul” (segundo o pessoal da radio que eu ouvi falando sobre o assunto, hoje à noite vai ser possível ver a lua) orando e pedindo para que você tenha muita sorte e seja muito feliz. “Te gosto” muito....
Também na rádio houve um comentário que, de um modo geral, no mundo há um sentimento meio mágico com relação a lua azul. Inclusive ela é motivo de muitas músicas. A mais conhecida é a “Blue Moon” composta por Richard Rodgers e Lorenz Hart em 1934.

Eurípedes Reis



Por do Sol em São Luís MA - Emerson Monteiro


A VACA NA PRAÇA




A VACA NA PRAÇA


Tem uma vaca no centro da cidade.
Está imóvel numa praça
como uma estátua.
Tem uma flor no seu dorso.
Um beija-flor vem beijar a flor.
Uma criança vem mamar nas suas tetas.
A vaca pasta a grama da praça
enquanto a criança mama.
A multidão aplaude a vaca,
que muge feliz.