Falta,
porém, o mais importante: colocar Eduardo Cunha atrás das grades.
por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
sábado, 12 de dezembro de 2015
É POUCO, MUITO POUCO - José Nilton Mariano Saraiva
Até
que enfim o Procurador Geral da República Rodrigo Janot se
manifestou.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
“PALHAÇOS-ENGRAVATADOS”
– José Nílton Mariano Saraiva
Porque
comprovadamente foram cooptados por uma “merreca”, subtraída do
vultoso e ilegal valor que o meliante Eduardo Cunha recebeu de
“propina” dos bandidos que assaltaram a Petrobras, os
“palhaços-engravatados” que o apoiam (dizem ser quase duas
centenas), não têm o mínimo de pudor e escrúpulo em protagonizar
a chanchada deprimente que atualmente levam a cabo no plenário da
casa, bem como no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, da Câmara
dos Deputados.
Assim,
obedecendo cega e bovinamente ordens do “chefe” (Eduardo Cunha),
transformaram os respectivos ambientes em um picadeiro de circo
mambembe de periferia, onde reina a palhaçada de quinta categoria e,
por consequência, o desrespeito aos mínimos princípios da
moralidade, da ética e da seriedade, que ali deveriam se fazer
presentes. Daí, a procrastinação ad eternum do andamento do
processo de cassação do mandato de Eduardo Cunha, por falta de
decoro parlamentar (roubou, mentiu e sonegou), já por seis vezes
levado a plenário.
O
escárnio é tamanho, que o país literalmente encontra-se parado
simplesmente porque o bandido Eduardo Cunha resolveu “peitar” a
corte maior do país (Supremo Tribunal Federal) por ter esta cometido
a suprema “ousadia” de barrar o rito processual que ele houvera
imposto de forma aleatória, imperial e absoluta, na tentativa de
(junto com sua quadrilha) viabilizar o impeachment da Presidente
Dilma Rousseff; assim, o legislativo federal somente reunir-se-á
para decidir sobre qualquer coisa (e a pauta é extensa) após o STF
determinar como deverá se processar a querela, daqui a uma semana.
Até lá, os “palhaços-engravatados” estarão livres para
transgredir e conspirar.
O
mais estranho nisso tudo, contudo, é que, apesar das muitas e
contundentes provas em seu poder (documentais, telefônicas e
verbais) de repente a “agilidade” do Procurador Geral da
República Rodrigo Janot, esvaiu-se; a “coragem” do juiz Sérgio
Moro, escafedeu-se: a “determinação” do ministro Teori Zavaschi
desapareceu, porquanto assistem passivamente ao festival de
arbitrariedades perpetradas por um reconhecido e audacioso bandido de
alta periculosidade (até ameaça de morte já foi denunciada).
Estariam
tais sumidades receosas de que contra elas Eduardo Cunha acionasse
alguma resquício-comprometedor da sua “pauta-bomba” ??? Teriam
rabo-preso ??? Ou simplesmente torcem para que ele toque fogo no país
de vez, acabando com a normalidade democrática tão duramente
conquistada faz tão pouco tempo ???
Por
qual razão o Poder Judiciário não se manifesta, determinando a
César o que é de César ???
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
O "EXTERMINADOR"
Relator que contrariou Cunha diz que foi ameaçado e teve medo de morrer
POR FERNANDO BRITO · 09/12/2015
Do Valor, agora há pouco, sobre o país do faroeste legislativo:
“Eu cheguei a pensar que eu poderia morrer, sim”.
Assim o deputado Fausto Pinato (PRBSP), em seu primeiro mandato, resume as pressões que passou a sofrer desde que foi escolhido como relator do processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), no Conselho de Ética da Casa.
Nesta quartafeira, quando o parecer de Pinato pela abertura do processo iria ser votado no conselho, Cunha fez uma manobra junto à mesa diretora para destituir o deputado do cargo. Pinato afirmou que sofreu ameaças de morte e registrou um boletim de ocorrência confidencial junto à Secretaria de Segurança de São Paulo.
Diz que também fez uma representação ao Ministério da Justiça. Segundo ele, sua família estava usando um carro blindado e um policial militar passou a dormir em sua casa para fazer sua proteção.
“Fui abordado em aeroporto, o meu motorista foi abordado, recebi alguns recados em aeroporto de pessoas desconhecidas. Sofri todo tipo de pressão que você pode imaginar”, disse em entrevista à imprensa. E detalhou: “Falaram para pensar na minha família, que eu tinha filho pequeno, filha pequena, irmão pequeno”. Segundo ele, foi por causa das ameaças que o deputado resolveu apresentar antes do prazo seu parecer a favor da admissibilidade do processo contra Cunha. “Eu protocolei, sim, antes, porque eu fiquei com medo de morrer”, afirmou.
Ele declarou, contudo, que não tem como dizer de onde partiram as ameaças. Pinato disse ainda que os aliados de Cunha na Câmara, sem citar nomes, também lhe pressionaram, sugerindo “aconselhamentos” em favor do arquivamento. “Recebo recados dia e noite de que estaria brigando com um exército de 200 e tantos deputados”, contou.
A conclusão de Pinatto: “o único relator que consegue sobreviver hoje no Conselho de Ética é um relator que arquive o processo”
Viva a “normalidade institucional”, não é , Dr. Temer? Não é, Dr. Janot?
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
A GRANDE VAIA - Demóstenes Gonçalves Lima Ribeiro (*)
Algum tempo depois do golpe militar, Castelo
Branco visitou aquela cidade. Na
época não havia hotel adequado e ele se hospedou
na casa do promotor, a melhor do lugar. O ambiente era festivo, aos
vencedores dava-se tudo e tudo se solucionava.
Assim, não mais faltaria água e, entre as
homenagens ao marechal, um moderno serviço de abastecimento seria
inaugurado. O prefeito não sabia mais o que fazer para agradar à
nova ordem. Uma solenidade cívica e grande concentração popular
marcariam o apreço do povo pelos salvadores da pátria. Os
estudantes perfilados agitavam bandeirinhas, os sinos badalavam, o
tiro-de-
guerra desfilava, a banda de música tocava e no
palanque se comprimiam as autoridades civis, militares e
eclesiásticas.
Sim, vivíamos outro Brasil e com os novos tempos,
repetiam os oradores, nunca mais faltaria água. E no discurso final,
quando o prefeito dissesse que “graças à revolução, esse
líquido precioso e cristalino não mais faltará nas pias, nos
banheiros e em todos os lares,” Artuliano abriria uma grande
torneira no palanque e a água jorraria aos borbotões, coroando a
festa. Ele, sarará cabeçudo e grandalhão, segurança e faz-tudo do
prefeito, estava ensaiado e confiante.
Mas, quando os alto-falantes ecoaram “esse
líquido precioso...”, os fogos espocaram e a banda tocou mais
forte, a água não apareceu. O prefeito disse, sussurrando,
Artuliano, abre a torneira, e, nada! Mais uma vez, a voz trêmula, e
não veio a água. Então, pálido e suando em bicas, sob o olhar
feroz do ditador, ele gritou desesperado, Artuliano, filho da puta,
abre a torneira, satanás! Aí explodiu a vaia imensa e desmoronou a
farsa.
Ninguém contava com aquilo e da torneira,
completamente aberta, não saiu uma só gota. A vaia foi num
crescendo e mil pedras foram atiradas. Algumas feriram o bispo e por
pouco não atingiram o marechal. As freiras choravam e os
seminaristas não sabiam o que fazer. O juiz sumiu. Ouviu-se abaixo a
ditadura, começou a pancadaria e o corre-corre, a polícia e os
agentes secretos dispersaram a multidão.
Bateram em pessoas humildes e prenderam os
comunistas de sempre, mas não identificaram os culpados. No dia
seguinte acharam pedras e cimento fechando a tubulação. Ao encerrar
o inquérito, concluíram que, apesar do vexame, tudo não passou de
um mal-entendido da política local, fruto de antiga rixa entre
coronéis do interior fiéis aos militares. Na verdade, um grupo de estudantes fez a ação na
tarde anterior e à noite tomou o ônibus. Só depois de chegar ao
Recife, eles souberam do desfecho e comemoraram a operação, às
gargalhadas.
Lindas férias de julho – cerveja, festa, namoro
e a ditadura humilhada por uma
grande vaia. Eram todos adolescentes sonhadores e
ingenuamente não imaginavam a longa noite de terror que aos poucos
se anunciava.
(*) Médico-Cardiologista, natural de Missão
Velha e atualmente morando e exercendo o ofício em Fortaleza.
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
UM OLHAR DIVERGENTE
Nas ruas. Posso ser encontrado além desta tela pelas ruas do
Rio. Assim como a Senhor dos Passos. E não passo direto. Vou ao Cedro do
Líbano, dizem uma das melhores cozinhas árabes do Rio e, no entanto, pertence a
espanhóis há mais de quarenta anos.
Enquanto mastigo com olhares circunvagando pela casa, um
olho me fixa. E desvio o meu para não encarar alguém que não conheço. Mas o
olho se encontra fixo e, no entanto, ele conversa e come com toda atenção à
mesa em que se encontra.
Um olho fixo tem muitos efeitos. Parece acusador e todos os
nossos erros, pecados e desvios se tornam réus. Tem imensa força espionaria,
querendo desvendar nossas vestes, a idade, os cabelos que não mais se repõem, as
rugas que dobram o tempo. Como os promotores da Lava Jato ou o Japonês da
Federal, nos vendendo para a manchete que renderá glórias ao repórter e
dividendos aos sócios da empresa.
Aquele olho fixo, de estrabismo divergente tinha um ponto em
mim e outro no prato. Um ponto no sabor e outro num carro perfurado de balas.
Cinco jovens comemorando o primeiro emprego de um deles, metralhados porque é
para isso que servem as armas. Destruir vidas.
Jovens favelados. Que não terão a cobertura da mídia tal
qual o médico esfaqueado na Lagoa Rodrigo de Freitas. Que não terão justiça
porque as metralhadoras continuam soltas apenas num lado da cidade. Lá onde podem
disparar sem culpas e punições. Onde o olho fixo da Lei não os atinge e por
certo um Pezão cobrirá os rastros da maldade.
E no ônibus um longo papo do passageiro com alguém que muito
estica ou se deixa esticar na narrativa que se expõe a quem se encontra na
proximidade. Após recomendações para vencer na faculdade e escolher os melhores
caminhos da Engenharia, desde a Mecânica, sempre necessária, apesar da economia
até ser especialista em cálculos para achar petróleo em águas submarinhas.
E foi aí que, de olhar fixo na outra direção, enquanto ouvia
a conversa, surgiu a favela e um jovem médico da equipe de Saúde da Família
numa “comunidade” da região, ali por perto onde o ônibus se emperrava no engarrafamento.
O jovem médico que adorava o que fazia e ficava além do seu tempo para atender
às pessoas e saberem como elas vivem.
“Sabe, ele é meio maluco. Meio doido. Está até pensando em
alugar uma casa na comunidade para viver integralmente a realidade da favela.
Até se candidatou a ir morar no Amazonas. Lá para bem longe. ”
E o olhar divergente da nossa imensa e desigual humanidade
brasileira.
sábado, 28 de novembro de 2015
Aparição em Serrinha dos Nicodemos
A crônica de Serrinha dos Nicodemos , perpetuada de língua em língua, pelos mais
velhos , cantava a pedra : A padroeira da cidade , desde que se entenderam de
gente era N. S. dos Desamparados. A imagem, exposta na capelinha da vila, fora
trazida , há mais de oitenta anos , por um padre espanhol , Pablo de Montieux,
que ali chegara numa desobriga. A Virgem , desde então, velava pela pequena e árida Serrinha, com sua roupa florida, seu
cetro na mão direita e o menino de Jesus , com cara de sapeca, pendurado no
braço esquerdo, ornado com uma linda roupinha dourada e de lantejoulas que
contradiziam totalmente com sua origem humilde. O sacerdote demorou apenas uma semana na
vilazinha, mas simpático e muito solícito, terminou sendo o responsável pela
epidemia de Pablinhos e Demontieus que começaram a aparecer na região, depois
da sua partida. Não que o velho padre fosse o pai biológico de tantos rebentos,
não tinha mais idade e nem palpite para tanto: os meninos saiam da pia batismal
com esses nomes, como uma homenagem desprendida dos serrenses para com o
condutor da santa querida àquela localidade. N. S.
dos Desamparados amparava a geração de avós e bisavós de Serrinha, as gerações
mais novas , no entanto, adoravam a
mesma santa, mas a conheciam por um nome totalmente diverso, estranho e de
origem etimológica difícil de se determinar : Nossa Senhora de Seforegreli !
As
versões sobre a origem de tão estrambótico nome variavam: alguns remetiam a uma
cidade italiana e a um outro missionário
franciscano que passara na região muitos anos antes de De Montiuex, no início
da colonização daquelas brenhas, em tempos de ciclo do couro. Os serrenses
andaram pesquisando em arquivos de Matozinho, cidade vizinha, livros velhos de batizados, degustados em
parte por traças, não conseguiram desvendar o mistério. Os párocos de Serrinha,
que se foram sucedendo, terminaram , também ,por adotar o nome popular da
Santa. Não adiantaria lutar contra anos e anos de tradição, de maneira que N. S.
dos Desamparados terminou desamparada, ofuscada pela outra de Seforegreli.
Alguns
anos atrás, o pessoal do IBGE, em período de Censo, passou por Serrinha . Junto
com a pesquisa dos dados municipais, andaram escavacando relatos históricas da
formação da Vila. Detiveram-se, em dado momento, com a Santa padroeira e seu
nome estrambótico. Anotaram as mais corriqueiras versões. Alguém, então,
lembrou do mais idoso habitante de Serrinha : o velho Castriciano Solos do Mar.
Ainda lépido e na ponta dos cascos nos seus 103 anos. Casara, inclusive,
recentemente , pela quarta vez e , sem quaisquer aditivos químicos ou ajuda de
universitários, era pai de menino ainda de cueiro. Os técnicos, orientados por
funcionários da prefeitura, resolveram conversar com a testemunha ocular dos
fatos ocorridos naquelas brenhas, nos últimos noventa anos.
Com
dificuldade, em lombo de burro, chegaram no Sítio Bréa, distava umas duas
léguas de beiço de Serrinha , já fronteira com Matozinho. Castriciano os atendeu com
aquela solicitude própria do sertanejo. Já
no primeiro contato explicou o vigor que ainda o acompanhava :
--- Pão de milho,
arroz, feijão de corda e bucho ! Isso é que dá sustança ao homem ! A desgraça
do mundo foi galinha de granja e macarrão ! Antes dessa porcaria, num tinha
baitola no mundo, não !
Conversa vai, conversa vem, o pessoal
do IBGE, então, entrou no varejo do assunto:
--- O
senhor pode explicar de onde vem o nome da padroeira da cidade, N.S. de
Sefrolegreli ?
O velho, com um chapéu
de massa atolado até as orelhas, meio tamborete de sampa, pôs-se nas pontas dos
pés, tragou fortemente o cigarro escora-carroça que pendia do bico e contou uma
história que não fazia parte dos anais oficiais da história de Serrinha.
A
primeira padroeira da cidade , na verdade, seria N. S. dos Desamparados que
chegou nas mãos do querido Pe De Montieux. Acontece que nos anos cinquenta, uma
notícia abalou toda a região. Carmosina, uma menina que morava ali na Bréa, chegou
, no Natal, esbaforida em casa contando uma história que tinha visto Nossa
Senhora que lhe tinha aparecido, por trás de uma moita de mufumbo, na revência
do açude do Calangro. Segundo Carmosina, que mantinha um ar de espanto e sobre
naturalidade, a Santa chorara muito,
disse que estava preocupada com os destinos deste mundo eivado de pecado. N. Senhora
ainda afirmara que tinha revelações
terríveis para contar a Carmosina e
agendou a volta dela por mais duas vezes: no Carnaval e no São João, quando,
enfim, revelaria as tenebrosas
previsões. Sinésio da Bréa, o pai de Carmosina, procurou, imediatamente, o Pe.
Ernestino Vilas Boas, então pároco de Serrinha. Revelou-lhe o acontecido.
Ernestino tentou dissuadir-lhe : aquilo devia ser fantasia de adolescente , que
diabos a Virgem viria fazer num fim de mundo daqueles ?
A
incredulidade de Ernestino, no entanto, não contaminou a população. Quando a
notícia vazou , espalhou-se mais rápido que fogo em painço. Em tempos de seca
de mais de três anos, o povo desesperado viu-se, enfim, diante de uma boia em
meio à enxurrada. Num mês, a população de Serrinha triplicou. Começou a chegar
romeiro de tudo quanto era canto e a se espremer nas terras próximas ao Açude
do Calangro. Barracas cobertas de palha se foram levantando, palhoças para
venda de mantimentos e bebidas. Vendedores de santinhos , de imagens , terços e
rosários rapidamente montaram suas barraquinhas nas redondezas. Até as meninas
da “Boite Chão de Estrelas” de Serrinha, vendo o afluxo crescente de pessoas
naquele lugar, montaram um pequeno anexo ali : a “Barraca Corisco Ariado” . Mais uma vez, o sagrado e o profano ali se
postavam como o anverso e o reverso da mesma medalha.
Pe
Ernestino, de início relutante e incrédulo, vendo o crescimento desenfreado de romeiros,
resolveu, embora discretamente, aderir ao fenômeno. Primeiro percebeu que não
adiantava nadar contra o Tsunami, depois, mais pragmaticamente, sabia que aquela multidão podia render em óbolos
para a paróquia. Todo dia, por volta das nove da manhã, horário da aparição da
santa, Carmosina, toda vestida de
branco, puxava uma corrente de orações
próximo à moita de mufumbo , seguida pela multidão que já ali se espremia. À noite,
então, aquilo tudo virava uma festa, com a cachaça correndo solta, a sanfona
roncando num arraial montado estrategicamente em uma das vielas mais escuras e
o rela-bucho comendo solto até o amanhecer. Frequentemente corria uma mão de
tapa em pé de ouvido e peixeira no vazio, efeitos colaterais frequentes desta
mescla de álcool-música-dança.
No
início de fevereiro, aproximando-se a data da próxima aparição da Santa, as
levas de romeiros quadruplicaram e com elas também as soluções e os problemas.
Carmosina passou a entrar em transe
frequentemente, a aparecer mais tensa e com cara de outro mundo. Uns três dias
antes da data prevista para a aparição , ela chamou o pai e explicou que havia
um problema. N. Senhora aparecera em sonho para ela e tinha dito que havia
cancelado a vinda, pois aquilo ali estava uma verdadeira Sodoma & Gomora,
um antro de pecado e que não viria mais de jeito nenhum. Sinésio, então, agitado com a reação dos
romeiros frente a este novo problema, resolveu procurar o Pe. Ernestino e o pôr
a par da complicação. O sacerdote, comendo pelas beiradas como quem come pirão
quente, não quis meter o beiço no meio da tigela. Disse a Sinésio que a promoção do evento era deles ,
que não tinha nada a ver com isso e quem havia parido Mateus o devia embalar.
Sinésio,
depois, da reza das nove horas, então, pediu a palavra e falou com a turba.
Maquiavelicamente resolveu não dar a notícia ruim de uma vez só: temia um
arranca-rabo. Informou, então, que N. Senhora tinha aparecido em sonho à
Carmosina e avisado que não tinha mais condições de aparecer ali .
---
Ela disse, meus amigos, que isso aqui tá uma verdadeira esculhambação, um
verdadeiro cabaré e que num vem mais é de jeito nenhum ! Até o
Capiroto , envergonhado, se recusaria a se meter num Cu-de-boi desses !
De
qualquer maneira, Sinésio disse que Carmosina ainda ia tentar negociar com
Nossa Senhora, mas que o povo ao menos se comportasse. Quem sabe ela não aceita
aparecer amanhã, conforme tinha combinado ?
No
dia seguinte, uma multidão gigantesca se apinhava, ao redor da sagrada moita de
mufumbo. Às nove horas em ponto, com todos ajoelhados, uma Carmosina aflita
começou a chorar desesperadamente ao redor da moita. Ela pressintia o
quebra-quebra que aconteceria logo mais. Segundo o velho Castriciano que já cinquentão botara uma taperazinha ali pra
vender mendraca com caju, aquele foi o maior rapapé já acontecido por aquelas
bandas.
O
velho Sinésio, trêmulo, aproximou-se de uma Carmosina encharcada de lágrimas e
deu o diagnóstico final :
---
Amigos, é uma pena, mas eu avisei ! Essa putaria aqui ia terminar dando nisso !
Vocês estavam mais desmantelados que
corrida de siriema ! Carmosina pelejou mas Nossa Senhora botou foi a maior
banca. Disse que não vem é de jeito nenhum !
E
, então, antes do novo dilúvio, firmou a sentença final de que não apareceria
mais nem que a vaca botasse os bofes, com uma frase que terminaria batizando definitivamente
a Nossa Senhora de Sifrolegreli de Serrinha . Nossa Senhora teria sapecado :
---
Vocês lá querem Nossa Senhora nada, seus pecadores ! Se eu for, eu grele !
Crato, 28/11/15
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Quando um grupo de jovens, aparentemente do Rio e São Paulo, usam a rede social para exprimir preconceito racial algumas dúvidas se apresentam. Primeiro onde este pessoal incorporou um atraso deste, quando tudo no país avançou em termos de direitos sociais e respeito cidadão.
Os pais teriam alguma razão, aquele discurso preconceituoso contra o ex-presidente Lula, o Bolsa Família, o nordestino parasita e outros venenos mais. Estou falando do grupo de jovens que com perfil fake manifestaram preconceito contra a atriz Taís Araújo.
Então pela coincidência de nomes surgiu esta montagem:
terça-feira, 3 de novembro de 2015
LEMBRANDO DO CRATO - Demóstenes Gonçalves Lima Ribeiro (*)
Solenemente, o velho sentou no banco da praça,
fechou os olhos e reviveu a época breve em que morou no Crato. Naquele
tempo, aos quatorze anos, he’s leaving home.
O primeiro a deixar o ninho, ele jamais esqueceria o choro da mãe e
a esperança do pai e teria uma vida inteira a disfarçar certa
tristeza e solidão.
Aliás, era um domingo, havia muita gente na
Siqueira Campos ou tomando sorvete no Bantim. O Cine Moderno exibia “A
Noviça Rebelde,” mas ele preferiu o Cassino e “O
Professor Aloprado” – nessa noite, Jerry Lewis seria
melhor pro coração.
Quando voltou à pensão, as horas passaram
devagar, lágrimas no travesseiro e o tic-tac na parede madrugada
afora. De manhã, o Diocesano. Haveria que ser forte e organizado
nessa luta desigual. E nos fins-de-semana, de ônibus ou de trem, ia
e voltava de casa. No jogo de botão, Fechine, saudoso amigo, sempre
ganhava, mas ele reforçaria o time, treinaria mais e da próxima vez
venceria o campeonato.
O choro da mãe e a certeza do pai... O trem
chegando, a cidade quase deserta, o silêncio da noite, o medo
invadindo tudo e ele andando rápido: Praça da Estação, Rua da
Vala, João Pessoa, Miguel Limaverde, entrava na pensão e adormecia
amando loucamente a namoradinha de um amigo seu. Amanhã, aulas de
novo, a vida seguindo o próprio rumo, the long
and winding road se fazendo devagar. Recife era uma miragem e
precisava estudar cada vez mais.
Nem telefone, nem TV, nem internet, mas a pensão
era uma festa. A Araripe e a Educadora tocavam Jovem Guarda, “Aline”
e “Os Verdes Campos do Meu Lar.” No
final da tarde, uma volta na livraria. Pelos jornais do Rio, dois
dias atrasados, Lacerda, Jango e Juscelino iriam formar a “Frente
Ampla” e derrubar a ditadura. Outras tardes, na Escola Triunfo,
aulas de datilografia com a Dona Soledade. A mãe achava importante,
o Banco do Brasil era uma opção e ele guardou o diploma, não se
sabia o que futuro iria aprontar.
E, sem nenhum rancor, lembrou-se da adolescente
do Santa Teresa que acintosamente o ignorava. Ele era desajeitado e
feio, até lhe faltava um incisivo, mas por que a humilhação? Onde
estavam os pais e a Madre Feitosa que não deram educação a essa
menina? Deixou pra lá... Aproximava-se a festa da padroeira e as
suas colegas aparentemente o respeitavam. Houve um ensaio de jogral
na Praça da Sé e elas cantaram “A Banda.”
Pela primeira vez ele ouviu falar em Chico Buarque e tornou-se mais
um admirador fanático desse gênio brasileiro incomparável.
E aí, veio a Miss Ceará, exuberante,
desfilando de maiô no Tênis Clube, sob a música envolvente do Hildegardo. Ela sorriu,
sentou no seu colo e sussurrou que o chalé do Granjeiro já estava
acertado. Mas, um maldito “paredão de som” logo lhe acordou,
disparando Ivete Sangalo. Alucinado, se deu conta de que estava só,
saltou do banco, abriu os braços e explodiu furioso num gritou
revoltado: só no Crato.
(*) Demóstenes Gonçalves Lima Ribeiro (médico
cardiologista, natural de Missão Velha, e apaixonado pelo Crato,
atualmente reside e exerce o ofício em Fortaleza)
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
sábado, 24 de outubro de 2015
Retrato Falado-por socorro moreira
Antes de qualquer coisa vi o pé de algaroba, na entrada do portão de ferro,já fechado.Janelas abertas.
Todos em sala de aula.Pelo silêncio, ora sonoridade peculiar, suponho!
Suas aulas eram fantásticas! Poderiam ter sido gravadas.Ainda bem que algo inestimável ficou- a base, construída com rigor e bom humor.
Um coro , e uma canção americana.Nosso Prof de Inglês usa a música, porque é também um músico! A aprendizagem acontece de forma lúdica.
Pe Ágio Moreira , ainda vive entre nós.Um exemplo de longevidade e genialidade musical.
Insigne figura , cidadão cratense, ícone cultural de várias gerações,até os nossos dias.
Soma com a maestrina Divani Cabral , na Educação Artística da nossa cidade.
Divani nos encantou com o estudo de todas as artes.Da primeira(A Música) até a sétima(O Cinema).Promoveu lindos eventos, na década de 60, quando mestra, no Colégio S.J.Bosco.Ela que o diga! As fotos que o provem.Nós que nos lembremos.Nós e quem viveu a época com intensidade!
Inesquecível a Matemática lecionada pela Professora Ana Teresa Esmeraldo Cabral.Começamos com uma matéria nova pros iniciantes de Ginásio: Raiz Quadrada! Graças a sua boa didática conseguimos aprender , inclusive com números decimais.Haja aproximação...Haja memorização por toda uma vida.De lá até cá! Nesta área tivemos outros mestres inesquecíveis: Dona Ruth e Prof.Anchieta Barreto, que também lecionou Física, quando fizemos o primeiro ano científico.
História era uma disciplina que caia nas graças de quase todos os alunos.Fomos privilegiados como alunos de Vera Lúcia Maia.Suas aulas de História, notadamente as do Egito eram fascinantes. Ela tinha o carisma de uma Sherazade.Sentia cheiro de especiarias, na sala de nossas aulas.
Prof. Alderico , já no curso científico, nos assustava para que acordássemos para uma realidade: a História sob o ponto de vista filosófico e social.Trabalhava a nossa consciência crítica.Admirável!
Professores que já se despediram do plano terráqueo, mas continuam eternos na nossa memória: Dona Cira,Dona Lourdinha,Ivone Pequeno,Vieirinha,Dr.José Nilo, Vilany,Terezinha Pinheiro,Dona Astrês, Dona Nilza...
Professores do Ensino Pedagógico como Dona Isa, Dona Neide, Maryane,Cidália,Josélia,Ana Cristina,Maria do Carmo Feitosa...
Mestres reconhecidamente competentes, como Bastinha Job,Lucenir,Terezinha Maia, Assis,Sônia Aragão,Edite...
Outros personagens que, naquela época, responderam pela Administração da Escola, como Eloneida Barreto,Toinha...
Claro que um encontro de todos seria utopia,afinal já se passaram 50 anos.
Poucos dos nossos pais poderiam se pronunciar, em testemunho.
Salve Dona Almina Arraes,Dona Maria Alice, Dona Maura, e poucos outros.
Poucos dos nossos pais poderiam se pronunciar, em testemunho.
Salve Dona Almina Arraes,Dona Maria Alice, Dona Maura, e poucos outros.
No dia 31 de outubro de 2015, dia dos Diretores,( conforme batizou a Professora Divani) acontecerá a confraternização de ex-alunos, e alguns professores dessa famosa Instituição de Ensino, grande responsável pela educação cratense , nos anos 60.
Esperando reencontrar nossos contemporâneos e colegas, aguardamos com ansiedade o dia "D"!
Grande encontro, galera! Abraços! Até lá!
Grande encontro, galera! Abraços! Até lá!
socorro moreira
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
A MENSAGEM FANTASIADA
O meio é a mensagem. Famosa frase do pensador McLuhan, que
demonstrou ser a informação era “processada” pelos meios de comunicação, para
então ser entregue. Em outras palavras a informação já não era mais a
originária.
Quem entrega a mensagem acrescenta, subtrai, inverte,
transforma a informação. E inclusive autocensura, esconde a informação do
grande público. Hoje a crítica feita aos meios de comunicação, especialmente os
hegemônicos é que fazem tudo isso pelo que se chama editar a informação.
Alberto Dines em entrevista com o pensador Zygmunt Bauman
levanta a solução da pluralidade de fontes de informação, para que a população
pudesse ter melhor consciência de sua realidade. Ao mesmo tempo que concorda
com Dines, Bauman aponta um revés grave neste caminho.
As pessoas estariam tão desejosas de conforto que teriam criado
verdadeiras zonas de proteção para não se exporem a outros, a ideias e
circunstâncias que se tirem pasmaceira confortável. Enfim a imagem clássica da
redução do burguês de revolucionário a uma enfadonha vida de negócios e
convenções mudas e surda.
O pensador inclusive aponta as redes sociais e a internet em
geral como um exemplo desta criação de “zonas de conforto” (acrescente a
dezenas de opções de canais de televisão com o controle remoto para correr
rápido do desgosto). Ali apenas dialogamos e procuramos o que não nos incomoda,
aquilo do qual não divergimos, “desligamos” tudo que é incômodo.
Ou seja, as pessoas podem até ter fontes plurais de
informação, mas tenderiam a se manter inertes a elas para não ter que articular
suas próprias contradições. Esse é certamente o lado da cultura de consumo, da
mercadoria enfeitiçada, dos símbolos irreais de uma digestão rápida de
processos, performances e objetos.
Mas a crítica não se perde, apesar das zonas de
conforto. E mais ainda, logo a contradição
é tão marcante que a inquietação se sobreleva ao conforto que, em última
análise, depende das circunstâncias afinal mutáveis. E temos fôlego e
indignação para apontar a censura das grandes corporações de Meios de
Comunicação e de suas Agências de Notícias, todas sediadas nos países centrais
(especialmente EUA) e sujeitas a todo tipo de pressão ideológica das Agências
Governamentais de natureza imperial.
Ernesto Carmona, jornalista, escritor chileno e jurado
internacional do Project Censored, publicado em Proyecto Censurado e traduzido
por Carlos Santos para o site esquerda.net e reproduzido pelo site Carta Maior,
aponta as 10 notícias mais censuradas pela grande mídia em 2014 e 2015 foram as
que seguem abaixo.
O 1% mais rico possui metade da riqueza mundial, de modo que
em 2016 apenas um 1% da população possuirá mais riqueza que os 99%
restantes. A segunda é que o fracking
(processo de fratura hidráulica do subsolo para extrair petróleo e gás) envenena
as águas subterrâneas. Esse envenenamento contaminou os aquíferos da
Califórnia.
A terceira notícia mais censurada foi que 89% das vítimas paquistanesas
de drones americanos nem seque são apontados como militantes islâmicos (ou
seja, o famoso efeito colateral). A quarta é que a luta da Bolívia pelo direito
à água deu certo e muitos países seguem o exemplo. A quinta: o
desastre nuclear de Fukushima se espalha pelo Oceano Pacífico e já ameaça
chegar à costa ocidental da América do Norte.
A sexta notícia é que os níveis de metano na atmosfera
atingiram o máximo histórico nos últimos anos e o Oceano Ártico tem perigo
crescente e com alterações de modo abrupto, inclusive com a liberação de
grandes quantidades de metano que é contido pelo gelo. A sétima notícia é que o
medo da espionagem dos governos condiciona a liberdade de expressão dos
escritores, incluindo jornalistas e advogados. Em comparação com outras nações,
a polícia dos EUA mata muito mais: 100 vezes mais que as polícias inglesas, 40
vezes mais letal que as alemãs e 20 vezes mais que as canadenses.
As grandes corporações de mídia vivem de afagar os egos dos
multimilionários esquecendo-se dos pobres. E a décima é que a Costa Rica já tem
predomínio em sua matriz a energia renovável. Assim diminuindo a geração por combustíveis.
Isso apenas significa que a grande mídia é apenas um projeto
geopolítico. E todos os impactos citados, positivos e ou negativos, devemos
avaliar com critério inclusão e exclusão. Não repetir os erros já verificados.
sábado, 17 de outubro de 2015
SEXO SEM NATALIDADE
Como dantes, nunca se ouviu tantas vezes que antes se viu
algo igual, os indivíduos mudam como se transforma a demografia. Redução
vertiginosa da fertilidade, envelhecimento da população, urbanização universal
e articulação global.
O eixo da fertilidade é o sexo, que é o eixo do amor, mesmo
aquele dito de todos a favor de todos. E agora o que teremos? Grandes
implicações em tudo que é indivíduo e coletivo: gênero, personalidade, moral,
família, sociedade e conteúdo do projeto de futuro (filosofia).
O sexo que sempre esteve associado ao desejo, já se encontra
codificado como mercadoria e consumo. Todos os símbolos se tornaram meios de
venda. E mais do que nunca o sexo, sem natalidade, se encontra robustecido pelas
marcas do lazer (prazer).
Como produto pós-biológico, o sexo é conduzido socialmente
como conquista sem barreiras de gênero, de raça, de idade, posição econômica
(ou para alcança-la) e sobretudo como estética aquisitiva para exposição
pública (especialmente de belas espécimes do sexo feminino).
Por isso se ultrapassaram, por meios químicos, os limites de
idade e se fabricam parafernália de brinquedos, cremes, vestimentas, luzes e
assim continua para puro sexo como diversão. Sem natalidade. Ou seja, sexo sem
história a ser feita.
Assim como se tornaram toscos os efeitos especiais dos
filmes dos anos 80 diante da computação gráfica, os brinquedos e bonecos de
sexo estão se aperfeiçoando. Já há quem diga, como o futurólogo Ian Pearson (blog
Opera Mundi) que “o sexo
virtual e o sexo com robôs superarão as relações íntimas entre humanos. ”
No
fundo o que temos é construção filosófica da sociedade de consumo,
especialmente aquela de base tecnológica, retirando a relação corpo a corpo
entre as pessoas. O que falta esclarecer é o quanto a exclusão do corpo pode
nos fazer mais humanos, espiritualizados e mentalmente aceitáveis.
A
rigor a filosofia destas fontes tem o forte desejo de, com um aperto de botão,
sumir com o corpo para uma ambiência que chamam de virtual, mas que não passa
de meras gravações e interações sobre estas gravações.
E
retornemos a outras fontes filosóficas: a memória (gravação) não explica toda a
nossa humanidade. Ela é parte não o todo.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
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