por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Por Tiago Araripe

Crato internalizado
November 12, 2014
Por Tiago Araripe
Assim como eu, meu mundo interior nasceu no Crato. Não foi um parto rápido. Veio sem pressa e determinou o ritmo em que eu caminharia. Nasceu nos textos que meu avô José de Figueiredo Filho pedia que eu datilografasse, a troco de picolés da sorveteria Bantim. Catando milho numa velha máquina, eu via as palavras marteladas no papel ganharem forma e sentido. E era como se marteladas dentro de mim fossem. Esse mundo nasceu também de uma tarefa demandada algumas vezes pelo meu avô: gravar, num gravador de fita, manifestações de reisados, banda de pífanos e maneiro-pau, sons de uma cultura ancestral e muito rica. Nasceu de uma primeira longa conversa com o amigo Emerson Monteiro na Praça da Sé, onde pude trocar ideias a respeito dos livros que pegava para ler, aleatoriamente, na estante dos meus pais Jósio e Eneida. Surgiu no relacionamento com as primeiras namoradas, naquela mesma praça. Nasceu do entusiasmo de lançar, com Assis Lima e outros amigos, o jornal Vanguarda, impresso na gráfica onde era confeccionado o tradicional periódico da cidade, Ação. Nasceu de uma admiração que nunca arrefeceu por aquela geografia de serra e vale, de nascentes e verdes, de palmeiras e água corrente nas levadas, de rostos que contavam, sem palavras, histórias de vida e de luta de um povo. Nasceu nas cenas que saltavam aos olhos nas telas do Cine Cassino ou dos cinemas Moderno e Educadora, eu driblando porteiros para ver filmes que a censura não permitia. Nasceu de tudo que a imaginação me permitiu viver num centenário sobrado da Praça da Sé, cheio de morcegos e traquinagens compartilhadas com meu irmão Flamínio. (Sobrado que, aliás, já não existe, assim como a casa dos meus avós José e Zuleika, onde nasci, e quase todas as outras onde morei.) Nasceu quando, já estudando no Recife ou morando em São Paulo, pude perceber melhor o universo que era minha cidade, com suas contradições e contrastes que começavam no meu próprio ambiente familiar, na religiosidade da família da minha mãe e na austeridade da família do meu pai. Quando pude dar mais valor a uma diversidade cultural onde cabiam desde os Irmãos Aniceto, remanescentes indígenas dos pés de serra, ao conjunto Ases do Ritmo, dos bailes no Crato Tênis Clube. A vida me conduziu por paisagens urbanas mais densas, onde tudo pede urgência e velocidade. E onde, em curioso contraste, cavalos de força, a despeito de sua potência, pouco se movem, congestionando as pistas. Onde os meios de comunicação dão cada vez mais espaço ao que é de consumo rápido e onde há pouco lugar para exotismos como originalidade. Entretanto, cá dentro de mim, está o Crato. Não é apenas uma memória, saudosismo a que se permite o sexagenário que sou. É uma vivência que colocou em mim respiradouros e horizontes. Isso certamente não é tão amplo quanto os dois séculos e meio desse aniversário tão marcante, mas vale uma vida inteira.    
 
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terça-feira, 18 de novembro de 2014

compartilhando...

Foto Histórica: Casa de força da nascente, final da década de 30 e inicio da de 40, o prefeito do Crato era o senhor Alexandre Arraes de Alencar, como tinha uma visão futurista, resolveu instalar uma usina hidroelétrica na nascente. Importou uma turbina da Inglaterra, gerador e demais componentes necessários à sua instalação.Talvez o Crato tenha sido a primeira cidade do Ceará, a dispor de energia elétrica de origem hidráulica. Em 1938, o Crato já tinha luz elétrica, dia e noite.


 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Clareira

                                             J. Flávio Vieira



Oremildo Jurema foi eleito com uma votação estupenda em Matozinho. Coisa de deixar o partido contrário de crista caída, mas para baixo que escada magirus de colher maxixe. Sinderval Bandeira ou Bandalheira( como era conhecido por todos) alternava-se no poder municipal, junto com apaniguados, há mais de 20 anos. O tempo , como um cupim inexorável, lhe foi roendo o brilho e a fama; o poder lhe foi proporcionando mais insatisfeitos que correligionários. A ascensão  de Oremildo , até então um nome totalmente desconhecido, apareceu naturalmente, talvez por falta de maiores opções. Montara uma pequena padaria na vila chamada de “Pubas & Manzapes” , progredira com alguma rapidez para os padrões locais e terminara por se candidatar sem muitas pretensões. Percebeu, sem ser necessário folhear nenhum compêndio de psicologia, que Matozinho vivia uma terrível crise de autoestima. A vila fora até anos atrás uma referência em toda região, mas nos últimos quinze anos, vinha perdendo terreno continuamente para Bertioga. Antigo distrito de Matozinho , a localidade tomara um impulso tremendo após o pretenso milagre acontecido, alguns anos atrás, quando se encontrou a milagrosa imagem de N.S. dos Desafogados ,nas enchentes do Rio Paranaporã. A partir daí, foi um não parar de esticar, de crescer tanto populacionalmente como economicamente, com o advento das seguidas romarias a Bertioga.
                        Oremildo montou-se neste banzo da população pelos tempos gloriosos e prometeu o retorno do passado e dos bons momentos da Vila de Matozinho. Não lhe foi difícil tocar a campanha de reabilitação, uma vez que os matozenses associavam a derrocada da vila às sucessivas e desastrosas administrações de Sinderval. Abertas as urnas, a lavagem se mostrou histórica: Oremildo viu-se eleito com mais de setenta por cento dos votos válidos. Votação expressiva, expectativas multiplicadas. A cobrança das promessas feitas em campanha não demoraram a se concretizar. O grande problema é que Oremildo mal tinha condições de administrar a “Pubas & Manzapes” e , achando pouco, viu-se ainda cercado de secretários fracos como caldo de andu. Passada a metade do mandato, não se tinha uma obra de mínima importância para apresentar. A vila regredia a olhos vistos e já parecia apenas um mero dormitório de Bertioga. A língua viperina do povo matozense não parava de tagarelar: essa era a sua única defesa : pinicar o oratório do prefeito.
                        Oremildo pressionado, reagiu como se intuitivamente tivesse incorporado Gobbels: com propaganda. Criou uma grande rede de puxa-sacos e passou a espalhar , por todo canto, histórias da carochinha, numa espécie de pabulagem pública , um deliberado projeto de cagamento de goma. Espalhava que conseguira, em Brasília, verba para construir um estádio, uma quadra coberta, um Centro de Convenções . Apresentava ainda a planta de um Elevador do Açude do Sabugo até o topo da Serra da Jurumenha e a verba, dizia,  já estava garantida. Pegava ainda carona nas obras desenvolvidas na região pelos governos estadual e federal, sem lhes  ter dado, em contrapartida,  um pau pra bater num gato. Os matozenses , de início, até se abestalharam com as novas promessas, mas rápido, como não dá para enganar  todos durante todo tempo, descobriram, fácil, a manobra. Faltava gaze no posto de saúde, merenda escolar para garotada, professores e funcionários viviam com salário atrasado:  a propaganda desvanecia-se frente à dura realidade cotidiana. Todos se perguntavam onde era aquela ilha da fantasia que Oremildo administrava pois desejavam se mudar para lá.
                        Os matozenses passaram a tomar a propaganda descabida dos apaniguados de Oremildo, como mangofa. A irreverência é a última defesa às mãos dos desafortunados. Semana passada, um dos maiores críticos do prefeito, o velho Mané Vieira, chegou na praça da matriz e, estranhamente, passou a criticar todos aqueles que viviam falando do prefeito, um homem bom, cumpridor de promessas e grande administrador. Os amigos das rodinhas de praça estranharam a mudança súbita de Mané. Estaria tresvariando? Estava ficando gagá e conversando arisias ?
                         Uma das maiores promessas de Oremildo na campanha tinha sido a construção de uma estrada ligando Serrinha dos Nicodemos a Matozinho. A obra fazia-se naturalmente difícil pois tinha que varar  toda a Serra da Jurumenha, subindo e descendo, pois Serrinha ficava justamente do outro lado da montanha. Na noite anterior, uma chuva grossa tinha caído na vila e fizera rolar uma grande pedra do topo da serra, ladeira abaixo,  e abrira uma grande clareira na cabeleira da serra, perfeitamente perceptível de Matozinho. Quando se discutia a possível demência do velho Mané Vieira, ele se mostrou mais lúcido do que sempre:
                        --- Povo falador esse de Matozinho ! Vôte ! Oremildo promete, Oremildo cumpre !
                        E,  mostrando  a clareira no alto da serra:

                        --- Ó ali onde já vem apontando a estrada de Serrinha ! Lavem a boca quando forem falar o nome de Oremildo, seus fofoqueiros miseráveis !

Compartilhando uma postagem de Zé Flávio...

Por José Flávio Vieira
 
 
 
 
 
 
 
 
Vira-latas
Há de ficar na memória de todos o fato mais dantesco acontecido nesta XVI Mostra Cariri das Artes. Não bastasse o alijamento planejado e reiterado da... Cidade do Crato das muitas atividades da Mostra ( principalmente em Artes Cênicas), houve o deliberado desrespeito ao mais importante artista caririense : Abidoral Jamacaru. Convidado para show na Refesa , em Crato, no sábado, deram-lhe um pé-na-bunda, sob a justificativa de que a banda iria mexer nos instrumentos do Gabriel, o impensável. O público de Abidoral ficou lá a ver navios. É bom lembrar que o show do Impensável, nem estava agendado na programação oficial e só começou às 23 horas ( com um palco intocado). A Mostra, então, sem dar quaisquer explicações ao público presente e ao artista, remarcou o show para ontem, no encerramento em Juazeiro, junto com o do Tiago Abravanel. Abidoral e banda lá chegaram às 16 horas, nem lhes permitiram uma passagem de som. Às 20 H começou o show do Abidoral, com seu público fiel presente. Mal tinham iniciado a terceira música ( eram 13 as ensaiadas) , alguém da produção mandou cancelar tudo, pois já iria começar o show do Tiago Abravanel. O público ficou estarrecido. Apupos surgiram de tudo quanto é lado num coro forte e inconfundível : “Respeitem o Cariri!”. Ficam muitas perguntas que se negam a calar : É justo convidar alguém para o baile , simplesmente para estuprá-lo, publicamente ? Um dos objetivos da Mostra não era acabar com o colonialismo cultural, aproximando artistas e tendências ? Não já era suficiente imolar a cidade do Crato, alijando-a da Mostra, precisava sacrificar também os artistas locais ? Por incrível que possa parecer, nos casos específicos de Gabriel e Abravanel, nenhum dos dois tinha mais direito de pisar no palco do que aquele que foi tangido dali como um vira-lata. Nos dois casos, naquele palco só existia um artista e ele se chamava ( pasmem todos os Mostruários que não sabem o que fazem) : Abidoral Jamacaru.



Texto de José Flávio Vieira

 

domingo, 16 de novembro de 2014

Quem não possui talentos? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

"O homem que trabalha faz a terra produzir, o trabalho multiplica os dons, que iremos repartir."
  
Ter talento é possuir algo muito parecido com os dons, porém com uma diferença substancial. Dons são capacidades inatas que todos nós possuímos para realização de certas tarefas. Algumas pessoas com maior facilidade do que outras. Como tão bem definiu São Paulo: "Há diversidade de dons, mas um só é o Espírito." (1Cor,12,4)  Uns dominam a matemática com muita facilidade, outros possuem o dom da palavra, fazem discurso eloquentes ou são possuidores de boa redação. Há os que têm o dom de elaborar projetos, enquanto outros receberam como dom o domínio da música. São capazes de tocar instrumentos musicais, mesmo sem o conhecimento da teoria. Salve o grande dom da poesia com o qual foi dotado o saudoso Patativa do Assaré, humilde camponês, mas dono de uma admirável cultura, apesar de seu aprendizado escolar não ter ido além da Cartilha de Felisberto de  Carvalho. São tantas as atividades com as quais nos defrontamos, que para uns são mais fáceis e para outros muito mais complexas. Depende portanto dos dons com os quais cada um de nós fomos agraciados.

Já o talento é um gosto especial para alcançarmos determinados objetivos, independente de possuirmos alguma herança genética para tal. Talentos são portanto, atributos que podem ser desenvolvidos e aperfeiçoados pelo treinamento e muita perseverança. Poderá também ser entendido como a capacidade de colocar à serviço os dons de que cada um nós dispomos.
  
O termo "talento" da forma que hoje o usamos, teve origem na mensagem evangélica conhecida por "Parábola dos Talentos". Narra o evangelista Mateus que um rico proprietário empreenderia uma longa viagem e, portanto confiou os seus bens a seus empregados, tudo "de acordo com a capacidade de cada um". Ao primeiro entregou cinco talentos, a outro dois e apenas um talento ao terceiro. Em seguida viajou para o estrangeiro.

Depois de algum tempo, o patrão voltou e foi ajustar contas com seus empregados. Aquele que recebeu cinco talentos, trabalhou e entregou-lhe mais cinco que havia lucrado. O patrão o elogiou: "Empregado bom, e como foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe entregarei muito mais". O que recebera dois talentos, da mesma forma recebeu idênticos elogios do patrão; mas aquele que recebeu apenas um talento, disse: "Senhor, eu sei que és um homem severo pois colhes onde não plantastes e recolhes de onde não  semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence". O patrão lhe respondeu que se aquele empregado o julgava tão cruel ele deveria ter depositado o dinheiro no banco, para que rendesse com juros. Em seguida ordenou: "Tirem dele o que tem e dêem ao que tem mais. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais e terá em abundância. Mas daquele que não tem, tudo lhe será tirado. Quanto a esse empregado inútil, joguem-no lá fora, na escuridão, onde haverá choro e ranger de dentes".

Quem é esse proprietário que distribui os seus bens (talentos) com os empregados, para depois cobrar de cada um o que realizou com eles? Provavelmente ele conhece profundamente seus empregados, pois distribuiu os bens de "acordo com a capacidade de cada um." E não foi pouco o bem confiado. Segundo estudos históricos, a moeda de um talento equivalia aproximadamente a 34kg de ouro. Assim sendo, ninguém poderia reclamar que recebeu pouco.

Resumindo: a parábola nos ensina que Deus, o proprietário, confiou a cada um de nós os seus bens, que são nossos talentos de acordo com as nossas limitações ou seja: conforme nossa capacidade de colocá-los a serviço da construção do Reino. E o Reino de Deus é uma sociedade pautada pelo respeito à vida, onde haja justiça, liberdade e paz. Conforme tão bem afirmava o teólogo alemão Bernhard Häring: "Se não nos convertermos profundamente a favor da paz, da justiça e da nossa responsabilidade com a criação, não haverá futuro".

Se enterrarmos nossos talentos e não contribuirmos com a construção do Reino, correremos o risco de sermos lançados na "escuridão" onde haverá "choro e ranger de dentes". Melhor traduzindo: correremos o risco de vivermos uma vida sem sentido.

Por outro lado, poderemos interpretar a parábola como as injustiças praticadas por um sistema político-econômico de opressão, que escraviza e sobrecarrega os mais humildes, isto é: os trabalhadores, enquanto os proprietários gozam de privilégios, passeando despreocupadamente. 

De nada adiantará lamentações do tipo: a vida é dura, não tenho tempo e por isso nada poderei fazer. Ou não sei nada, não tenho condições para desempenhar tais tarefas; por isso não poderei fazê-las. Como tão bem nos assegura a sabedoria popular: "Deus nos dá o frio, conforme o cobertor". Isto é, nenhuma missão que Ele nos confia é superior à nossa capacidade de realização, que são nossas aptidões, ou seja, a vontade de realizar; nossos talentos.

É sempre bom lembrar a frase atribuída a Albert Einstein, que ouvi certa vez de um amigo: "Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.  Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança". Ou seja, de nossos talentos.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Por Rejane Gonçalves

Foi-se embora MANOEL DE BARROS. O barqueiro transportou nosso poeta para o outro lado do rio. Agora ele nos acena da margem de lá. Até mais, poeta, vamos sentir muito sua falta, a saudade será imensa, sem medida, desarvorada, sem ter onde caiba. Soube que esse homem que conduz o barco está morto de cansaço, por demais fatigado, convenhamos, não é brincadeira a vida nesse ir e vir contínuo, infindo. Tenho uma coisa para pedir a você, meu poeta: qualquer dias desses, como quem não quer nada, como quem se perdeu no caminho, aproxime-se do barqueiro e, antes que ele de todo se ponha a navegar, lhe recite um poema. O barqueiro ficará hipnotizado. E nós, por algum tempo, sem travessia.
Espero que você me atenda, Manoel. Um abraço desses bem acochado - de quem muito lhe ama.
rejane gonçalves.
 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

De Paris a Roma a pé: - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Imagine se você, caro leitor, teria coragem de fazer uma viagem do Crato até Belém do Pará andando a pé os 1480 km de distância, sem aceitar carona, dormindo debaixo de barracas de lona, sobre esteiras ou colchonetes às margens das rodovias, ou em hotelzinhos de beira de estrada ou ainda em casas religiosas, se por acaso existissem? E se você tivesse 75 anos de idade, mesmo assim se arriscaria a tamanha aventura? Nem mesmo se tivesse uma causa tão importante que o motivasse para realizar tal jornada? Seria algum protesto de grande porte que chamasse a atenção da opinião pública mundial? Pois saibam todos, que uma distância um pouquinho maior do que essa foi percorrida pelo sacerdote redentorista francês, Padre Henry-Marie Le Bouriscaud,  quando ele tinha a idade de 75 anos. Ele viajou 1507 km à pé de Paris até Roma para apresentar ao Papa João Paulo II seus protestos sobre a forma como a Igreja Católica enfrentava as questões vitais para o cristão de hoje. Para o teólogo alemão Bernhard Häring, "Henry teve a coragem de se por a caminho, porque estava convencido de possuir dentro de si uma mensagem que devia transmitir aos outros, a mensagem da liberdade e da felicidade criadora." O próprio padre Henry escreve na abertura de seu livro: "PARIS-ROMA, 1500km a pé". "Meter-se na aventura de percorrer a pé 1500km, de Paris a Roma pelas perigosas auto-estradas nacionais, não foi fruto de entusiasmo irrefletido de um septuagenário, mas o fecho de ouro de uma longa caminhada pessoal." Para ele, essa decisão não foi um ato individual, mas algo repleto de reciprocidade, pois jovens e idosos reagiram à essa sua idéia.

O Padre Henry foi ordenado sacerdote aos vinte e seis anos, tendo iniciado sua vida sacerdotal no Seminário Redentorista de Paris, como professor e missionário. Logo percebeu que ele tinha tudo em sua vida, nada lhe faltava. Boa alimentação, um leito confortável, bons agasalhos, bem diferente daquilo que Jesus Cristo viveu e que milhões de pobres no mundo atual vivem. Então decidiu sair de sua zona de conforto e morar no meio dos pobres, em barracas junto a milhares de imigrantes portugueses. 

Após conhecer Abbé Pierre, como era mais conhecido entre os pobres da França o frade capuchinho Henri Antoine Groués, fundador do Movimento Emaús, o Padre Henri entrou para a comunidade como simples companheiro de rua. Em 1972 fundou o Movimento Emaús Liberdade, em Charenton-Paris. Em seguida não se acomodou. Levou a idéia do Movimento Emaús a outros países, inclusive o Brasil. Em Fortaleza existe em pelo menos cinco bairros pobres: Pirambu, Vila-Velha, Jereissati I -Maracanaú e Pajuçara. Para quem não conhece o Movimento Emaús, ele funciona como uma espécie de cooperativa, que recebe doações de móveis usados, eletrodomésticos defeituosos e outros artigos inservíveis, que após recuperados, reformulados, são vendidos nos bazares do movimento. É fonte de emprego e renda para os participantes, uma forma concreta de retirá-los da miséria absoluta.  

A Viagem do Padre Henry de Paris a Roma durou três meses e oito dias. Partiu da praça de Notre Dame, em 15 de junho de 1995. Para sua surpresa, Jürgen Falkenberg, um jovem alemão, que o conhecia do Movimento Emaús resolveu acompanhá-lo, pois temia que ele partisse sozinho, sem experiências de caminhada pelas auto-estradas francesas, pelas travessias de túneis cheios de curvas, alguns deles com mais de 20km de extensão. Todo o percurso teve um roteiro previamente preparado, contendo a distância a ser percorrida a cada dia, algo entre 15 e 20km, dias de repouso semanal, lugares para pernoites e alimentação, que era preparada pelos próprios viajantes. A chegada em Roma se deu a 23 de setembro de 1995, três meses de uma longa caminhada.

Infelizmente, ele não pode ser recebido pelo Papa, que partiria no dia seguinte em viagem a Nova Iorque. Então solicitou ao seu compatriota, o Cardeal Etchegaray, vice-decano do Colégio Cardinalício, para entregar ao Papa João Paulo II uma carta com críticas e sugestões, tudo o que ele sentia. Entre os principais pontos: o excesso de gastos que os países pobres realizavam com as viagens e a segurança em torno do Papa, a condenação que o pontificado dedicou à Teologia da Libertação, citando entre outros, o teólogo brasileiro Leonardo Boff. Também tratou de temas polêmicos como a abolição do celibato para os padres, ordenação de casais e também das mulheres, entre tantos outros, ainda hoje uma esperança de serem postos em prática por reformas mais profundas.
   
Eu e Magali tivemos a alegria de conhecer o Padre Henry que desde 2009 reside em Fortaleza. Atualmente aos 94 anos, vive com os pobres da Vila Velha, sob os cuidados do advogado Airton Barreto e sua esposa, cristãos autênticos, que deixaram o conforto proporcionado por sua família de classe média, para viver como pobre, entre os pobres do Pirambu e da Vila Velha.    

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Para maiores informações ou aquisição do livro do Padre Henry:
Movimento Emaús Vila Velha
Rua Moraújo, 651 - Jardim Guanabara
CEP  60 346 770 Fortaleza- CE
emausvive@emausvive.org
emausvila@yahoo.com.br

MERENDA na PAPELARIA - José Nilton Mariano Saraiva

Não é necessário possuir nenhum “doutorado” no assunto para se chegar à conclusão que qualquer empresa que pretenda se submeter com sucesso a algum “processo licitatório” junto a órgãos públicos há que atender algumas regrinhas básicas. E dentre estas, duas merecem destaque: que ofereça um preço competitivo (menor preço) e que tenha condições de suprir sem atropelos à demanda para a qual concorre (existência de estoque).

É estranho, pois, que no Crato (na administração passada), o prefeito da cidade haja referendado a decisão da “Comissão de Licitação” da prefeitura da cidade, autorizando a contratação de uma PAPELARIA para fornecer MERENDA para algumas escolas da cidade; afinal, em condições normais PAPELARIAS são estabelecimentos comerciais especializados na venda de artigos de papel e de outros produtos similares (caderno, lápis, borracha e por aí vai). Como passivamente imaginá-los vendendo produtos não compatíveis com o ramo, dentre os quais “OVO TIPO MARROM, SAL IODADO, RAPADURAS E MISTURA PARA MINGAU” ??? Muito estranho, não ???

Pois bem, sem nenhum constrangimento e até aparentando certa despreocupação, a proprietária da PAPELARIA à qual empresta o nome (Cícera da Silva) admitiu que “vendia uma merendinha aqui e acolá” até porque “EU NÃO TENHO ESTOQUE, NÉ ???”. E conclui: “então a gente comprava e entregava” (um dos contratos que a PAPELARIA de Cícera firmou com a prefeitura do Crato orçava R$ 343 mil).

Mas, como “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, o marido de Cícera da Silva, senhor Eduardo Ferreira, montou uma outra empresa que embora não aparente características para venda de varejo de alimentos, a “E.V.Ferreira”, também firmou contrato para fornecer MERENDA ESCOLAR à prefeitura do Crato, num valor superior ao da firma da esposa: R$ 886 mil. Juntando os dois contratos, o felizardo casal teria abocanhado R$ 1.229.000,00 do dinheiro público. E numa demonstração de pouco caso ou mesmo gozação para com todos nós, Cícera da Silva teria afirmado que... “A GENTE GANHA QUE DÁ PARA SOBREVIVER, NÉ ???”.

Como a denúncia foi veiculada em horário nobre, num programa que é visto em todo o mundo (o “Fantástico”, da Rede Globo) bem que o  Ministério Público Federal e a Polícia Federal poderiam convocar os principais atores de tamanha excrescência - o ex-prefeito da cidade, os integrantes da “Comissão de Licitação” da prefeitura e os felizes proprietários das duas lojas - para uma conversa séria e esclarecedora sobre (quem sabe, até mesmo conseguindo uma autorização judicial para quebrar o sigilo bancário e telefônico de todos eles).

Na oportunidade, de bom alvitre seria convocar também o atual prefeito da cidade, a fim de esclarecer se o distinto casal dono da PAPELARIA continua a fornecer MERENDA para as escolas municipais.

Até porque, se forem comprovadas as tais denúncias veiculadas pela Globo, estaremos diante de um irrecorrível e sério caso de “improbidade administrativa” (desvio de dinheiro público) merecedor, pois, de punição rigorosa e exemplar. Mas, se ao contrário, restar comprovado não ter havido nenhuma irregularidade, os citados terão a oportunidade de desmentir tudo, limpar o nome e acionar judicialmente a emissora global.


terça-feira, 11 de novembro de 2014

VELA - Aloísio


VELA

Ela é luz e vejo o pano
Levando os desenganos
Lembro meus vinte anos.

Os ventos estão soprando
Levando o barco a vela
E a vela que vai clareando.

Encontro um porto seguro
Depois da queda do muro
A vela me tira do escuro.

A vela clareia a vida
A vela leva o barco
Quem vela por mim?

Aloísio
11/11/2014

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O CRATO NA TV, EM HORÁRIO NOBRE E PARA TODO O MUNDO - José Nilton Mariano Saraiva

Meses atrás, em uma das nossas postagens, mostramos que uma determinada microempresa, do Crato, embora tendo por objeto a comercialização de “HORTIFRUTIGRANJEIROS”, fornecia à prefeitura da cidade... “material de construção-merenda escolar” fugindo léguas da finalidade constante do edital respectivo.

Eis que agora, alertado por denúncias de moradores da própria urbe, o “repórter secreto” do programa Fantástico, da Globo (exibido em todo o mundo), foi investigar o desvio de R$ 1,2 milhão, da MERENDA ESCOLAR, de empresas que venceram licitações e assinaram contrato com a prefeitura de Crato.

É que, em 2012, a empresa “Cícera da Silva” era fornecedora de sete (07) municípios, incluindo Crato. Valor total dos contratos nessas cidades: pouco mais de R$ 724 mil. Quase metade do dinheiro era da prefeitura de Crato. Cícera da Silva é a dona da empresa que recebeu o dinheiro. Mas que firma é essa? (atentem para o diálogo): Fantástico: A senhora tem uma PAPELARIA ? Cícera da Silva: Tenho. Fantástico: A senhora era merendeira? Cícera da Silva: Não. Eu vendia merenda. A gente vendia uma merendinha aqui e acolá. Quando dava para vender a gente vendia (Um dos contratos que a PAPELARIA de Cícera venceu, no valor de R$ 343 mil, era para fornecer MERENDA às escolas de Crato: ovo tipo marrom, sal iodado, rapaduras e  mistura para mingau). Cícera da Silva: Eu não tenho estoque, né? Então, a gente comprava e entregava.

Pois bem. A cidade de Crato foi fiscalizada, no ano passado, pela Controladoria-Geral da União (CGU). Ela investigou a movimentação do dinheiro público na PAPELARIA. Conclusão da CGU: o relatório da Controladoria diz que a PAPELARIA Cícera tem "características de empresa de fachada". Ou seja, características de uma empresa usada para encobrir o desvio de dinheiro público.

O marido dela, Eduardo Ferreira, também tem uma empresa, a “E. V. Ferreira”. Em 2012, a “E. V. Ferreira” também teve um contrato para fornecer MERENDA à prefeitura de Crato. Valor: R$ 866 mil. É a mesma história. A sede da firma não se parece com uma empresa de varejo de alimentos. Como Eduardo Ferreira é casado com a Cícera da PAPELARIA, e cada um tem uma empresa, e cada empresa tem ou teve contratos com a prefeitura, a conclusão é: o casal mexeu com muito dinheiro público da cidade de Crato. “E. V. Ferreira”: contrato de R$ 866 mil. “Cícera da Silva”: contrato de R$ 343 mil. Total: R$ 1,2 milhão. “A GENTE GANHA QUE DÁ PARA SOBREVIVER, NÉ ???”.  diz Cícera da Silva. Quando perguntamos a Eduardo Ferreira o que ele tem a dizer sobre essa “dobradinha marido-mulher”, empresa com empresa, como é que pode o marido ser concorrente da mulher, veja o que ele diz: “Uma está no nome dela, e outra, no meu nome. Eu achava melhor agente manter só no nível da EV mesmo”, diz Eduardo. Para Controladoria-Geral da União, a empresa dele tem mais uma coisa em comum com a empresa dela: no relatório da fiscalização, a firma dele também tem "características de empresas de fachada".

Samuel Araripe, que era o prefeito de Crato quando a “E. V. Ferreira” e a “Cícera da Silva” foram contratadas pelo município, afirmou na televisão que todo o processo de licitação e de fornecimento de MERENDA escolar se deu dentro da lei. “Esse fato de ser fachada ou deixar de ter fachada, eu entendo que isso não é competência do prefeito. Toda a parte legal, ela foi fiscalizada e foi exigida na minha gestão à frente da prefeitura do Crato”, afirma o ex-prefeito da cidade.

Perguntas que se impõem: 1) será que o ex-prefeito do Crato ignora (a ponto de pouco se importar com isso) que “empresas de fachada” têm por finalidade precípua encobrir o “desvio de dinheiro público”???  2) como explicar que marido e mulher sejam contemplados para prestar um mesmo tipo de serviço à prefeitura, através de empresas de araque, no exorbitante valor de R$ 1.200.000,00 ??? 

Compartilhando...

Vergonha: 5 dias em Manaus falando bem do Crato nas conversas com colegas de vários Estados, cheguei até a sugerir o Cariri como local para o próximo congresso em 2018. A notícia divulgada hoje no g1 tira o ânimo de qualquer entusiasta pela região.
http://g1.globo.com/…/casal-desvia-mais-de-r-12-milhao-de-m…


 
Neste domingo (9), o destino do 'repórter secreto' é o Ceará. Denúncia: desvio de dinheiro público na saúde e na educação.
g1.globo.com



 
Raimundo Bezerra Filho adicionou 2 novas fotos.
Assistindo a reportagem do Fantástico, envolvendo denúncias sobre o dinheiro público e











Vendo o Crato como notícia nacional, fez-me refletir:
Nos últimos anos t...ive o prazer e a alegria de ser vice-prefeito deste município. Foi o exemplo de um homem público dentro de casa, que viveu lutando por esta cidade e vibrando com suas conquistas, que fez nascer em mim, um ideal, cujo o objetivo seria colaborar no desenvolvimento econômico e de bom projetos estruturantes para nossa cidade. Com esperança e sonhos, dei início a uma caminhada longa, sabia que os passos precisariam ser curtos.
Hoje, depois de algumas quedas, vejo o Crato envolvido em um turbilhão de denúncias , escândalos públicos, crimes, em uma situação constante.
Com problemas de administração sendo investigada pelos órgãos competentes, má gestão de dinheiro público, que fará falta na cultura,saúde,educação, sinto um profundo sentimento de decepção, vergonha ,frustração e pago um preço muito alto, apesar de ter tranquilidade por não me sentir responsável por tal realidade. Muitos serão os casos de corrupção, que ficarão escondidas nas entranhas públicas, comprometendo aqueles que mais necessitam. Acredito que o problema tenha início já no processo eleitoral, acabei de participar de uma conjuntura política aonde pude constatar, que a força do poder econômico influência no resultado de uma eleição.
É lamentável não termos o Crato de outrora, sem desmerecer a contribuição de outros benfeitores ,mas o Crato que traz a lembrança de Pedro Felício, Humberto Macario,Ariovaldo Carvalho ,Raimundo Bezerra ...
Ainda espero, que com o esforço da população e das instituições , torne possível construir um Crato melhor, afastando a descrença generalizada e fazendo com que possamos nos unir colaborando para termos orgulho da nossa história ! 

 Raimundo Bezerra Filho



 
 
 
Casa de Bárbara de Alencar, Caiçara - Exu -Pe.
Bárbara Pereira de Alencar (Exu, 11 de fevereiro de 1760 — Fronteiras, 18 de agosto de 1832) foi uma revolucionária da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador. Mãe de José Martiniano Pereira de Alencar, Tristão Gonçalves e Carlos José dos Santos também revolucionários.
A heroína republicana nasceu na fazenda Caiçara de propriedade de seu avô Leonel Alencar Rego, patriarca da família Alencar. Adolescente, Bárba...ra mudou-se para a então vila do Crato, no Ceará, e casou com o comerciante português, José Gonçalves do Santos.
No contexto da Revolução Pernambucana de 1817, numa das celas da Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção esteve detida Bárbara de Alencar, considerada localmente como a primeira prisioneira política da História do Brasil.
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domingo, 9 de novembro de 2014

Um Jornalista Distraído! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O que esperar de um jornalista? Que ele seja antes de tudo um vocacionado. Uma pessoa que abrace a profissão com isenção e vista-se com ela durante todos os segundos de sua vida. Um tipo que esteja antenado com a dinâmica da política e da vida em sociedade, da qual ele, além de testemunha, é um importante ator. Espera-se dele também honestidade na informação, muita vivacidade, clareza de redação e contínua atualização com a "Aldeia Global" na qual todos nós habitamos.

Pois não é que contrariando essas expectativas, há exceções? Aqueles que são tremendamente distraídos, que vivem no mundo da lua, mas tão bem escondidos, que parecem estar na face mais oculta do nosso satélite.

Havia no Rio de Janeiro dos últimos anos do Século XX, um jornalista tão distraído, cujas "voadas" faziam a alegria de todos os seus colegas de trabalho. Era mais conhecido pelo apelido de "Habi Sorto", nome fictício para o qual são dispensadas as necessárias justificativas. Não era por racismo, mas por puro hábito, que ele batizava qualquer interlocutor que não possuísse a pele totalmente branca pelo nome de "Moreno", apelido distribuído aos milhares de conhecidos dele ou não. 

Em certa tarde de um final de ano, "Habi Sorto" foi convidado para uma recepção que o poderoso dono da Rede Globo ofereceria à sociedade carioca em sua mansão do Cosme Velho. "Habi Sorto" passeou por todas as seções do jornal onde trabalhava, visitou cada um dos birôs de seus colegas, exibindo orgulhosamente o convite, mesmo sem lhe passar pela cabeça que seus colegas haviam sidos distinguidos com idêntica honraria.   

No dia marcado, "Habi Sorto" foi gentilmente recebido no portão de entrada da mansão por um senhor distinto, de tez levemente morena, vestido rigorosamente com uma casaca branca, calça escura e gravata borboleta. Ao cumprimentar os convidados, acompanhou o jornalista até a uma mesa reservada para imprensa, colocada nos jardins, à margem da passarela de entrada, na qual já se encontravam alguns colegas de "Habi Sorto". Este não perdeu tempo e logo ordenou ao acompanhante:
- Oh Moreno, traga um whisky e um salgado! - Em poucos minutos, o cidadão de casaca branca apareceu com uma bandeja numa mão, e uma garrafa de whisky "royal salute" na outra, tendo servido ao grupo de jornalistas que acompanhava "Habi Sorto".

À certa altura, notou-se uma grande movimentação nos jardins, com as pessoas se dirigindo para a entrada, pois anunciara-se a chegada do embaixador americano. "Habi Sorto" e os colegas foram assistir. O embaixador ao descer do carro abraçou calorosamente o anfitrião. E então, o jornalista "Habi Sorto" comentou com os colegas.
- Esse garçon, o Moreno, só quer ser o cão! Nunca vi sujeito mais metido! Pois não é que o bicho é conhecido até pelo embaixador americano?
- Esse Moreno, que você acha que é um garçon e, que ficou muito seu amigo a ponto de atender pessoalmente seus pedidos é o dono da casa, o Dr. Roberto Marinho, seu patrão!  -  Completaram seus colegas.

O nosso herói, o jornalista "Habi Sorto", campeão mundial de mancadas, murchou, procurou no chão algum buraco onde pudesse se enterrar e nada encontrou, somente grama. Pediu licença para ir ao banheiro e sumiu de vez!

Mais de vinte anos depois, "Habi Sorto" foi na visto no Estádio Olímpico de Porto Alegre, no meio da torcida do Grêmio, gritando o nome "Moreno!" para o goleiro do time adversário. Livrou-se de um processo por racismo graças a uma jovem, alguns degraus à sua frente, que pronunciava ofensas racistas bem mais graves.


Por Carlos Eduardo Esmeraldo 

 NOTA DO AUTOR:  Texto inspirado numa história que me foi contada pelo meu primo e amigo, o jornalista José Esmeraldo Gonçalves, para lembrar aos amigos que muitas vezes eu tenho meus momentos de "Habi Sorto".

Posteriormente a história que me foi narrada oralmente constou do livro: "Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou". Organização de Jose Esmeraldo Gonçalves e J. A. Barros, Rio de Janeiro, Desiderata, 2009; página 108. gentilmente cedido pelo autor. 
Abaixo, o texto original de autoria de José Esmeraldo Gonçalves, que se encontra no livro "Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou."

Me vê um uísque aí, moreno! -

Flávio Aquino, grande figura e crítico de arte da Manchete, era, diga-se, desligado. E bota desligado nisso. Ele mesmo contava uma historinha deliciosa. O poderoso Roberto Marinho convidou embaixadores e adidos culturais para uma recepção na sua mansão do Cosme Velho. Entre outros intelectuais, estava na lista o nosso Flávio. Ao chegar à mansão, ele logo tratou de pedir um uísque duplo ao primeiro "garçon" que encontrou. "Moreno, me vê uma dose com duas pedras de gelo, faz favor", decretou, dirigindo-se ao sorridente senhor de "summer" impecável e pele queimada do sol. Solicito, o "garçon" se mandou e logo retornou com o pedido prontamente cumprido. Flávio agradeceu e foi circular, de copo na mão, pelos salões da mansão. Papeando com amigos, não pôde deixar de notar que o "garçon" que o atendera era festejadíssimo pelos demais convivas. Embaixadores o abraçavam, jornalistas o paparicavam, enfim, o homem era a "alma" da festa. Antes de pedir mais uma dose de uisque, Flávio olhou melhor para a cara do sujeito e .... caiu-lhe a ficha. O "garçon" de branco e gravatinha borboleta era ninguém menos do que o anfitrião. O próprio Roberto Marinho. Flávio se mandou da festa sem se despedir do "Moreno".

Por José Esmeraldo Gonçalves
      
Nota:  Flávio Aquino era dono de uma vasta cultura. Foi arquiteto, jornalista e crítico de arte. Faleceu aos 67 anos, em 19 de janeiro de 1987.  


sábado, 8 de novembro de 2014

A rigor a palavra representa disposição, ordem, arranjo, um modo de fazer as coisas funcionarem a favor do povo. Tão diferente destes tecnocratas que vivem oferecendo previsibilidade para que os donos do capital aumentem mais a renda advinda do capital e assim aumente mais ainda o capital. A palavra é economia. E o grande sambista Geraldo Pereira, muito mais sábio que os feitores da escravidão moderna já decantava a economia com esta belíssima música chamada Ministério da Economia. Samba gravado em 1951. Em 1955 na porta do Restaurante Capela, na Lapa, Geraldo Pereira brigou com o famoso Madame Satã e teria levado uma facada, morrendo dias depois num hospital no Rio de Janeiro. 


O restaurante onde Geraldo Pereira brigou com Madame Satã, foi transferido para rua Mem de Sá, também na Lapa, agora com o nome de Nova Capela. Nele serve-se um dos melhores cabritos assados da cidade. E assim nos vem à memória esta música Cabritada Mal Sucedida de Geraldo Pereira.


E foi aí que João Bosco e Aldir Blanc fizeram esta belíssima e bem humorada Siri Recheado e o Cacete. Uma espécie de Cabritada Mal Sucedida. Acompanham as soluções de música e letra que é um prazer ouvir.