por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 8 de outubro de 2016

QUANDO PAUL MCARTNEY ESTEVE AQUI - Demóstenes Ribeiro


Quando Paul McCartney Esteve Aqui – Dr. Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)

Ao saber do show do Paul McCartney em Fortaleza, Sindyjeine, minha mina mais recente, não me deixou em paz. Ela iria de qualquer jeito, pouco importava o preço do ingresso, e ficaria no melhor lugar – eu que me virasse!

Aos sessenta anos, tentei derrotar o destino e inutilmente argumentei que ela merecia repouso pela gravidez avançada, que havia despesas médicas inevitáveis e que tudo era extremamente caro. No entanto, não sei o que fez, mas ela conseguiu com o meu patrão o pagamento antecipado das minhas férias e do décimo-terceiro salário.

Daí em diante, não sossegou mais. O tempo inteiro ouvia Beatles e Paul McCartney, colocou um piercing no nariz, comprou um par de botas e tatuou “Imagine” bem no final das costas. No dia do show, pegamos um táxi e enfrentamos o desconforto da multidão. Por entre bacanas barrigudos e madames deslumbradas, eu me dei por vencido e, com a periguete cada vez mais louca, ingressei no camarote.

Macca” entrou no palco e eu vi um ser iluminado. Ele logo incorporou o garoto do Cavern Club e, na explosão de luz e som que se seguiu, deixou a multidão extasiada. Quando tocou Get Back,” a gata botou boneco, vibrou como nunca e se endiabrou numa dança diferente, saltitando que só uma guariba.

Paul, visivelmente saudoso, não esqueceu os companheiros que se foram. Ao violão, em “Here Today,” homenageou John Lennon; para George, tocando o que parecia um cavaquinho, deu uma volta por “Something” e quando a banda entrou com o inesquecível solo de guitarra, eu me comovi e fui às lágrimas; e foi emocionante quando ele se ergueu numa plataforma e cantou “Blackbird,” aquele protesto sutil contra a discriminação racial.

Quando rolou “All my loving,” não segurei a nostalgia, beijei de novo a garota e voltei a um tempo distante quando “Os Águias de Barbalha” começavam e encerravam o baile ao som de “From me to you.” Sindyjeine não se cansava e se empolgou como nunca com o refrão de “Hey Jude.” Passava a mão na barriga e disse que essa canção iria embalar “Maquinha,” - o irmãozinho de Jimmy - que chegaria em breve.

Depois de tanto agito, na volta pra casa, terminamos num hospital. Ela entrou em trabalho de parto e a criança nasceu prematura. O bebê é uma menina. Achei muito esquisito, pois a neném tem o olho puxado, Sindyjeine é um tipo bem cearense e eu não conheço nenhum parente oriental. Ela acha que foi o efeito do uísque, das bolinhas, do baseado antes do show ou presepada de alguma entidade.

A danadinha se chamará Yoko, mas ainda estou completamente atordoado. Prevendo zombaria, recorri a minha mãe. Quem sabe, ela soubesse de algum familiar distante no Japão e, assim, eu ficaria sossegado. Mas a velha negou essa possibilidade. Afagou a minha testa, sorriu de leve e disse compassivamente: meu filho, crie juízo e nunca mais se meta com menina nova!




















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