por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 25 de novembro de 2014

CATÓLICOS EM CONTRADIÇÃO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Com a chegada da modernidade, passadas crises do capitalismo e guerras mundiais, incluindo o nascimento da Guerra Fria, a monolítica igreja católica da romanização regional vinda do século XIX, ultrapassou os limites dos novos tempos. E ao assim agir, continuou o que sempre foi: uma partição tensa que ia do mais puro e violento reacionarismo ao mais intenso revolucionário.

Nas fileiras dos que se calam nos claustros ao peso institucional, não é possível esquecer as doutrinas imanentes dos seus fundamentos religiosos (pelo menos para aqueles que a compreendem). A crucificação do “logos” não veio para provar as más escolhas humanas e nem a perversidade inerente às suas almas. Ao contrário: a mensagem era da salvação.

E nas fileiras, aquele silêncio opressivo da instituição, também eles também compreendem outra coisa. A salvação não era a vida após a morte. Ao contrário: era a superação da morte em vida. O céu nunca foi depois. O céu nunca foi apenas harmonia constitutiva. O céu é o curso de cada um sobre o solo, num barco navegando, num objeto voador, na luz plantando, fabricando e criando.

E por isso a fragmentada igreja católica, apenas tinha o papa como governador, o resto todo é de dúvidas, conclusões e adoção militante na política do mundo. Afinal tudo, bem lá no fundo, abaixo desta ordem a serviço das elites econômicas e política da instituição religiosa, é a superação da morte em vida.  

Vamos ao caso brasileiro. Alguns jovens nascidos nos “claustros” familiares católicos, tão logo se viram diante do fabuloso mundo do renascimento ocidental, do excedente industrial que excedia em muito o que sobrava das colheitas agrícolas, da racionalidade iluminista e da ciência, entraram em profunda crise.

Uma crise que, ao invés de resolverem pela dialética de seus fundamentos em choque com a modernidade, se atolaram num vazio existencial e de ordem moral insuperável em seus “arcaicos” espíritos. Tiveram “salvação” no leito arrumado às pressas por pensadores com Jacques Maritain e tantos outros.

Daí surgiram fervorosos pensadores católicos brasileiro como o indez deste ninho que foi Jackson de Figueiredo. Um sergipano magno que explica muito bem que não importa a genialidade do invólucro argumentativo, mas o conteúdo deste. E no calor dos anos em negação do liberalismo político, as partições entre fascistas, comunistas e alguns liberais inundaram o debate nacional. Esta corrente sempre namorou o fascismo por ter um ódio constitutivo ao comunismo.

Mas entenda-se que este ódio ao comunismo pouco havia de contraponto ao marxismo, ao contrário, foi sempre a ameaça moderna às estruturas familiares patriarcais herdadas dos latifúndios que há pouco tempo havia libertado os escravos negros. E sendo, então, um movimento contra a modernidade, o caminho intelectualizado da espiritualidade católica pela via Maritain, terminou por gerar dois tipos destes intelectuais.

Um é bem representado por Gustavo Corção, um pensador católico, de texto exuberante, autor de contos e romances, mas um dos mais agressivos colunistas do jornalismo brasileiro a favor da ditadura. Corção esteve na argumentação do Golpe Militar, depois apontava os comunistas (opositores) como alvo da repressão, apoiou todas as medidas repressivas e por último exaltou o endurecimento do regime com o AI 5, a tortura e morte dos opositores ao regime. Tudo no mais irracional, acusatório e com as trevas inquisitoriais.

O outro é o liberal Alceu Amoroso Lima, que também fez esta viagem entre o vazio sentido da modernidade em oposição à estrutura familiar e a intelectualidade católica justaposta ao drama pessoal de sua juventude. Portanto, com muita influência de Jackson de Figueiredo. Alceu Amoroso foi crítico da ditadura e pautou em seus textos uma sociedade mais democrática. Aliás nesta mesma linha esteve o famoso advogado Sobral Pinto.

Bem apenas para concluir sobre os fragmentos: no auge do fascismo no mundo, quando Hitler e Mussolini eram o exemplo de melhor governo, aqui no Brasil Plínio Salgado, emergiu daquele mesmo caminho citado e chegou ao seu integralismo. Muitos padres jovens entre os anos 30 e  40 formaram fileira com os integralistas, como o Padre Hélder Câmara, um dos maiores líderes da oposição à ditadura militar brasileira. Um exemplo de fundada evolução histórica.


E sempre houve, desde muito antes, os religiosos e pensadores católicos que optaram pela luta democrática, por ampliar o progresso material de toda sociedade em oposição às estruturas que atrasavam este progresso: latifúndios, concentração patrimonial, privilégios de classe, a situação degradante dos camponeses, os miseráveis das cidades etc. O máximo desta vertente foram os frades Dominicanos: Frei Betto e o Frei Tito de Alencar.  

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