por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Um poema de Socorro Moreira (de quem estamos com muitas saudades!



Nos tempos do verbo

        Socorro Moreira

Sensível
a qualquer tipo de carinho
sorriso, mimo...
Rostos distantes
parecem contas
de colares partidos
olhares, bocas...
pérolas escapadas de mim
Sem adereços
esqueço endereços
acendo velas
ilumino lembranças
fragmentos visíveis
O vento traz
o vento leva
a onda traga
espuma de amor
...saturada!
Entreguei os pontos
sem checar os trunfos
meus ases, meus ais...
num jogo comum
E se todos chegassem,
num apelo coletivo?
- Eu ficaria contigo!
Se o tempo voltasse
eu dançaria a valsa dos meus 15 anos
Pediria uma bicicleta no Natal
Nadaria nos rios poluídos
Do Crato até Ingazeiras...
E naquele trem, naquele dia
Teria te visto primeiro
E naquela festa, naquela dança
Me apertaria em teu peito
E naquela noite, naquela praça
te entregaria os meus olhos.
Donzelas de saltos finos e meias desfiadas
se avermelhavam
quando a brisa do amor passava
Guardavam cadeiras no cinema
pro moço que não chegava
Choravam em convulsão
por Francisco e Santa Clara.
Tremores nas mãos, em dias de prova
Disparos no coração, quando recebiam nota
A chatice
de provar o vestido novo
que ficara torto
A vergonha de vestir
o traje antigo
com mancha de caju
na altura do colo
A barra da saia desmanchada
O sapato de sola desgastada
as meias de algodão afolozadas
E o coração na boca
todo atrapalhado
As cartas de amor nunca postadas
promessas tímidas
desejos contidos
orelhas pegando fogo
retrato em 3 x 4
na bolsa ou no livro
um trevo de 4 folhas
pra garantir o destino
Queríamos correr no tempo
e o tempo nos pegou
Deixou-nos
aonde estou!
Senhora - vó
Querendo comer maçã
Pecar contra o que não fez
Ser feliz sendo o que quis!

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Sempre penso em poesia como aquilo que humaniza o relatório do insípido mundo burguês. Esse poema da Socorro expõe o núcleo da humanidade. Não se reduz a imagens e relatos. São valores como aquele vestido no nódoas de caju. São desejos. É o humano manifesto no tempo e no espaço.

socorro moreira disse...

Eu me revejo num tempo que não sai de mim.Stela, Zé do Vale e outras pessoas me fazem desejar luas cheias e a loucura de voar com as borboletas e imitar passarinhos.
Tenho uma rosa vermelha que não para de rebrotar...Assim penso nas pessoas queridas- afetos que se renovam, se eternizam!

Beijo vocês , Stela, Zé do Vale, com a delicadeza dos sentimentos calados e bem nutridos.