por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012




De perdas as figuras se fizeram. Envelhecer é uma merda. A idade do “com dor”. As rugas, carnes flácidas, pele sem brilho, cabelos de fubá. Cabelos brancos e pinturas por obrigação. Esta é a figura.

Mas por isso mesmo é que envelhecer é um barato. Uma luta contra a figura e a imagem. O enquadramento no consumo e a covardia por aceitar o beicinho da juventude. Ora que venha a juventude, a criancice e os muito mais velhos. Não existe velhice, nem adolescência, nem juventude e menos ainda a infância: existe a possibilidade do acontecer após respirar, beber água e comer.

Aí é que está a luta, o trabalho e a exploração do trabalho. E por isso mesmo é o carnaval, a folia por sobre a ordem que classifica. Quando estamos fora da ordem, temos a liberdade de entender melhor o tempo já inventado e aquele que ainda precisa ser respirado.

Uma das coisas a considerar: a saudade e o conservadorismo do “meu tempo foi melhor”. As marchinhas de carnaval, os samba enredos, o Brasil foi melhor. Pois não foi de modo geral e no restrito até que foi. Afinal não podemos desconsiderar que a cultura tem seus ciclos de acontecer. Depois muda para outra que pode ser mais humana ou não, mais popular ou não, mais democrática ou não.

Como esta música aí em cima da Escola de Samba Caprichosos de Pilares de 1985. Tem o olhar pelo retrovisor, mas tem a crítica daquele momento. O samba foi composto ainda em 1984 o ano do grande comício das Diretas Já na Candelária. O Brasil se libertava de uma ditadura política e se abria para um novo tempo.

Estávamos na Marquês de Sapucaí. Era a noite do desfile da Caprichosos e seu samba “E por Falar em Saudade” já estava nos nossos corações. Naquele ano de 85 as escolas ainda não perdiam pontos se atrasassem o desfile e aconteceu. A Caprichosos entrou no dia seguinte já por volta de 9 para 10 horas. Uma noite toda acordados no assento de cimento da avenida. E quando a escola entrou o mundo ficou igual ao povo pernambucano ouvindo o frevo Vassourinha.

Eu queria outra palavra mas a preguiça me remete mesmo para o mundo explodiu não só de alegria, nem de emoção, o mundo da rotina, das escalas de poderes, dos cansaços do corpo e das angústias existencialistas era outro. Foi aí que uma moça com quem não paquerei pois tinha a minha querida Tereza ao lado, deu seu grito de mulher parindo a humanidade num só ato: se eu morresse agora não faria qualquer diferença. Já tenho tudo neste momento.

Ia me esquecendo de uma parada mais antiga do que fui. A famosa disputa entre os fãs da Marlene e os da Emilinha Borba. A Marlene tinha sensibilidade política e Emilinha cantava a música açucarada. Duas marchinhas de carnaval em Marlene são emblemáticas: Lata D´água de Luiz Antonio e Jota Júnior e o Zé Marmita do mesmo Luiz Antonio e Brazinha. Aliás, quem já viu Marlene cantando Meu Guri do Chico Buarque entenderá o que digo.

3 comentários:

socorro moreira disse...

Tocante!
Estamos em sintonia.

Teu texto é um presente!

abs

socorro moreira disse...

Tô ligada na TV esperando o desfile do Salgueiro.

Bom restinho de Carnaval pra vc.
Estou perdendo minhas saudades por novos momentos, na verdade, viver é construir novas saudades.
Adorei o texto já li e reli.

Ângela Lôbo disse...

É gratificante abrir o blog e dar de cara com um texto seu. O senhor faz uma falta danada. Seja bem vindo de novo!!!