por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Por José Antonio Pinheiro Machado (Anonymus Gourmet)


Cuidados para escolher um restaurante

Qual o item mais importante a considerar num restaurante: “cozinha”? “serviço”? “ambiente”? ¾ me perguntam numa enquête, logo para mim, um radical da cautela, cuja prudência foi educada pela adversidade.

“Constância.” — respondo. Constância é a virtude que espero na hora do jantar. Justifico argumentando que há restaurantes que vivem em estado de insurreição permanente: a cada semana mudam os cozinheiros, mudam os garçons, mudam até os temperos. Para freqüentar esses lugares é preciso, acima de tudo, amar a aventura. Na mesa, busco certezas. Deixo o inesperado para depois das refeições. Prefiro a aventura no cinema, na TV em horas tardias ou em alguns contos de terror de H.P. Lovecraft. Recuso-me a fazer do jantar uma jornada de ação e mistério.

Sempre tive a impressão de que certos restaurantes nunca dantes frequentados se parecem a abismos sombrios e insondáveis, habitados por garçons de humor incerto e cozinheiros de talento duvidoso, onde se deve estar preparado para tudo. Inclusive para cenas assombrosas de monstros marinhos emergindo fumegantes do prato de sopa.

Mas reconheço que existem espíritos desbravadores que adoram sair à procura das surpresas de uma mesa desconhecida. É aquela incontrolável curiosidade por novidades que leva alguns a espiar pelos buracos das fechaduras e a outros, como Cristóvão Colombo, a descobrir a América. Considerando que, hoje em dia, os segredos a serem espiados pelas fechaduras estão com as portas escancaradas, e que não há continentes a desvendar, quem sabe uma expedição para descobrir um novo restaurante? Emoção e adrenalina no prato do dia. A ânsia indomável dos velhos navegadores convertida no desejo fremente de enfrentar rins inescrutáveis, picadinhos sem biografia, molhos sabe-se lá do quê, feitos sabe-se lá quando, ¾ mas também, quem sabe, damas inesperadas a espreitar de mesas vizinhas.

Uma regra de ouro para esses desbravadores gastronômicos: respeitar com rigor os horários do restaurante a ser tentado. Especialmente à noite. Chegar muito tarde é um desafio à má vontade dos garçons e ao esmero das cozinheiras. Eles e elas são pessoas que têm, depois do expediente, aflições como as de qualquer ser humano: desde um prosaico último ônibus que não pode ser perdido, até tormentosas paixões nas sombras da madrugada.

Por: José Antonio Pinheiro Machado

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