por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mimetismo no Amor

Tenho que confessar: absolutamente sou um homem romântico. Talvez não como dissesse o eterno “Rei da Juventude”, Roberto Carlos“( do tipo que ainda manda flores), por não querer misturar amor com comércio, mas um romântico empedernido, que inda crê no amor, aqui parafraseando Silvio César.
O amor está presente em tudo, e falo do amor entre as pessoas, o amor conjugal, das almas que se acreditam unidas para sempre. Esse amor é o motivo maior da existência das pessoas, seus passos de felicidade e, também, de desventuras. Entendê-lo torna-se fácil, basta-nos estar atentos às suas manifestações.
Tanto nosso cancioneiro, como nossa literatura, trazem-nos fartos exemplos do que escrevo. São incontáveis os encontros e desencontros ali narrados. O amor é tratado sob todas as óticas: o amor que deu certo, o que não; amor que doi, amor que maltrata,  amor que mata; amor que realiza, que destroi, que se complementa, que se afasta. Amor, sempre o amor, palavra abstrata que concretiza os mais diferentes anseios.
Dia desses, relendo alguns de nossos escritores, parei para contrapor duas ideias em dois poemas distintos: À Carolina, de Machado de Assis e A Arte de Amar, de Manoel Bandeira. Naquele, a mais linda declaração de amor, de um Machado de Assis, no auge do Realismo, à sua amada que se vai para sempre. Nesse, toda a frieza do Bandeira, onde ele trata o amor de forma puramente física, carnal, onde diz que os “corpos se entendem, as almas não”. Aqui, Bandeira afirma que a alma estraga o amor, enquanto Machado “o faz apetecido, a despeito da humana lida”.
Além dos escritos em poemas e canções, expressões populares definem o amor com sua real singeleza. “Um deles,” quando duas pessoas se amam e tornam sua união perene, até seus rostos ficam parecidos, como se irmãs gêmeas fossem”, tocou-me, sobremaneira, noite dessas, no Docentes e Decentes, restaurante de que sou frequentador contumaz
Com permissão do uso dos nomes, Paulo e Mara são um casal por que nutro um amor fraternal. Daquelas pessoas que estão do nosso lado em todos os momentos, independente da hora e lugar. Eles são a representação maior daquele amor que contraria o Bandeira. Neles, as almas e os corpos não só se entendem, como são idênticos. Quando os vi, ali na minha frente, numa conversa sobre poesia, crônicas e música, a mim me pareceu ver dois rostos fundidos num só, duas expressões faciais únicas e dois sorrisos gêmeos. De imediato, lembrei-me dos poemas e disse: “Mara, você é a cara do Paulinho!”  “amiga, vocês estão desmentindo o Manoel Bandeira, mostrando que a Arte de Amar não é a que só Deus entende, e que o amor estraga as almas”.  Ocorreu-me escrever sobre essa sensação.
Falei para Mara como é difícil os casais permanecerem unidos, hoje em dia. O dia a dia é o exercício mais paciente de se preservar o amor, tantos são os problemas que são colocados e, neles, posta em prova a durabilidade do amor. Muitos tombaram no caminho, por motivos diversos, provando que o Bandeira é mais presente do que nunca. Com Paulo e Mara a história é diferente. As dificuldades tomaram-lhes mais unidos. O brilho de seus olhos prova que a felicidade dos dois é transcendental. O dia a dia é mis do que um exercício rotineiro e passa a ser a complementação prazerosa dos corpos e a completa conjunção das almas. As divergências, que são muitas, são feedbacks da relação, fortalecida a cada discussão, cada briga. Quem nunca brigou, nunca amou. Se numa relação as duas pessoas concordam em tudo, a relação é morta.
Como disse alhures, sou um romântico assumido e admiro relações que perduram. A felicidade me bateu àquela noite, deixando-me pensar em minha vida. Pensar que também acreditei num amor perene, mas que sucumbiu ao longo da estrada, onde, em mim, Bandeira foi mais marcante do que Machado de Assis. Em Paulo e Mara nada é esmaecido, ao contrário, os laços de felicidade que os uniram não são lassos; eles são a encarnação do “amor maior”, buscado por uma dessas bandas pop nacionais e, também, por nós todos, ou não?
Em silêncio, pedi a Paulo e Mara que me permitissem sonhar com a felicidade que  senti naquela aura noturna, trazendo para os meus olhos o lume do seu olhar, derramando-se sobre a minha vida a alegria de viver que vive em suas vidas, enfim, deixando-me  acreditar que o amor, que cultivei em toda minha existência, não foi algo que estragou a alma, que só serviu aos corpos, antes,  que se permita latente e pronto para brotar em um solo mais fértil.
Cícero Braz de Almeida

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