por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 30 de junho de 2023

DO “RUGIR” DO LEÃO AO “MIAR” DO GATINHO – José Nílton Mariano Saraiva 

Durante meses, antes da eleição presidencial de 2022, nos palanques da vida o então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, tal qual um leão ensandecido foi pródigo e incisivo em rugir desafiadoramente contra o constitucionalmente estabelecido, ao ameaçar colocar na rua o “meu exército” (sic), para quem ousasse desafiá-lo ou sequer contestá-lo.

Investindo sem qualquer escrúpulo contra tudo e contra todos, o psicopata que na oportunidade estava Presidente da República se detinha, entretanto, em dois alvos preferenciais: o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, na sua versão, seriam os principais responsáveis por questionar os seus descalabros, as suas diatribes, os seus excessos, as suas irresponsabilidades. 

Como integrantes das duas cortes citadas, os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes foram seus alvos prediletos, quando aventou, inclusive, a perspectiva de se mover um processo de impeachment contra os mesmos (embora sem nenhuma prova das acusações que proferira contra eles). 

Já em particular, usando sua condição de Presidente da República, chegou a convocar e receber, em palácio, uma reunião extraordinária com os embaixadores de diversos países que detinham vínculos com o Brasil, onde mentiu desbragadamente sobre as urnas eletrônicas usadas em nossas eleições, já que, na sua opinião, seriam passíveis de fraudes ao final da apuração de cada uma delas (embora ele e os filhos mafiosos hajam sido eleitos com os votos advindos delas, em mais de uma oportunidade). 

Enfim, enquanto estava no trono e cercado por uma camarilha de generais golpistas, reacionários, ultrapassados e comprovadamente mercenários, rugiu em alto e bom som (Braga Neto, Villas Boas Correia, Augusto Heleno, Pazzuelo, dentre outros). 

Covarde de primeira hora, medroso, inconfiável e frouxo, ao perder uma eleição onde gastou bilhões de dinheiro público na tentativa de reeleger-se, abandonou a Presidência da República e fugiu do país na calada da noite para os Estados Unidos, onde assistiria de camarote o desfechar de um golpe de estado arquitetado por ele e seus medíocres generais reacionários, cujo objetivo seria reassumir na marra o poder (tanto que Braga Neto chegou a afirmar para os vagabundos acampados em Brasília, em frente ao quartel do Exército, que tivessem paciência que algo ia acontecer em breve). 

E a prova disso tudo foi materializada quando a Polícia Federal achou com um dos seus principais assessores (Anderson Torres, então Ministro da Justiça) uma minuta detalhada de como se daria o golpe de estado (só que, após 04 meses preso, alegando depressão, saudades das filhas e saúde debilitada, foi incompreensível e esdruxulamente liberado pelo Supremo Tribunal Federal para cumprir prisão domiciliar). 

Em resumo, agora que a tentativa de golpe foi definitivamente descoberta e esclarecida, Bolsonaro deixou de rugir feito um leão e passou a miar como um gatinho, alegando não ter feito nada de errado, mas que em algumas oportunidades simplesmente estava “brincando” ao incitar o seu “gado”. 

Com o julgamento sobre a sua inelegibilidade em andamento (em razão das “cabeludas” mentiras e inverdades proferidas quando da reunião extraordinária com os embaixadores estrangeiros), espera-se que não pare por aí; assim, levando-se em conta que está incurso em diversas ações judiciais, é imperioso e necessário colocá-lo na prisão, se possível de segurança máxima (face a alta periculosidade que apresenta), a fim de pagar pelos muitos e graves crimes cometidos. 

Afinal, e até prova em contrário, para quem atua à margem da lei o lugar apropriado, merecido e correto é mesmo uma prisão de segurança máxima.

sábado, 24 de junho de 2023

 PORNOGRAFIA TEM NOME E NÚMERO: TAXA SELIC A 13,75% -  José Nílton Mariano Saraiva

Entre risos e aplausos dos comensais, numa conferência fechada do BTG Pactual, em 25.10.2021, com filhos de grandes empresários (future leaders), André Esteves, dono do BTG Pactual, afirmou de forma peremptória e categórica que sempre é consultado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre qual seria o limite (lower bound) para a queda da taxa de juros no Brasil, atualmente em 13,75% (qualquer dúvida, existe o vídeo na Internet, a quem interessar possa).

Com o barco (Brasil) literalmente à deriva e aparentemente “perdido” sobre o rumo a tomar sobre, o presidente do Banco Central, teria perguntado: “Pô, André, o que você está achando disso, onde você acha que está o lower bound (limite inferior) ???  Ao que o André Esteves sarcasticamente respondeu: “Olha, Roberto, eu não sei onde que está, mas eu estou vendo pelo retrovisor, porque a gente já passou por ele” (ipsis litteris).

Prepotente e arrogante, pra delírio da seleta plateia de endinheirados André Esteves também afirmou que teria recebido uma ligação do todo poderoso Presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, procurando saber qual fora a repercussão no mercado sobre a saída de quatro (04) dos principais assessores do Mistério da Economia, por discordarem das decisões do então ministro Paulo Guedes.

Consultado posteriormente, Roberto Campos Neto não só reconheceu as afirmações do dono do BTG Pactual, Luiz Esteves, ao tempo em que argumentou ser essa uma atitude absolutamente “normal” no mercado (ou seja, um “abutre” e potencial beneficiário dos juros altos sugerir ou ditar qual a taxa que quer para as suas aplicações e da sua corriola, inclusive banqueiros internacionais).

Não satisfeito, André Esteves afirmou também ter conversado com Ministros do STF, os quais teriam sido “educados” por ele sobre a importância de um Banco Central independente, ao tempo em que ainda exercitou sua veia humorística ao dizer que “afinal, ninguém é obrigado a nascer sabendo” (ou seja, os senhores ministros do STF eram jejunos no trato da questão e, pois, influenciáveis pelo papo furado de qualquer espertalhão atuante no tal “mercado”).

Fato é que, se fosse séria e quisesse realmente desvendar o mistério da teimosa manutenção de uma taxa de juros pornográfica (já que com a inflação em queda), a mídia tupiniquim não mais deveria dirigir-se ao Roberto Campos Neto, mas, sim, ao André Esteves, sobre qual a política do Bacen em relação à Selic (deixemos de intermediários).

Aliás, também seria interessante e por demais aceitável, procurar se saber quantos BILHÕES de reais o BTG de André Esteves e sua corriola do mercado financeiro têm investido em títulos do governo federal, já que a taxa Selic é determinada por ele (André Esteves) e, pois, quanto mais alta, mais ele e os seus são beneficiados (ou o Brasil seria um país tão surreal que os pobres também detêm portentosas aplicações no mercado financeiro ???).

Alfim, e definitivamente, é chegada a hora de acabar com tanta hipocrisia: André Esteves para a presidência do Banco Central, já.   

sábado, 10 de junho de 2023

 O BANDIDO ERA O JUIZ - José Nílton Mariano Saraiva

Dada à cristalina obviedade, não é necessário que aqueles inseguros e que guardam uma certa reserva no trato da língua pátria recorram aos dicionários da vida a fim de concluírem que, entre outras referências, a palavra “marginal” cognomina ou batiza aqueles que atuam à margem da Lei (elementar, meu caro Watson).

Partindo de tal pressuposto, não há como desconsiderar que a procuradora da república Monique Cheker desde sempre considerou Sérgio Moro um potencial marginal, ao peremptoriamente afirmar, sem papas na língua, que... "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados; desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele já atuava assim e alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da “proatividade” dele, e que inclusive aprendiam com isso" (ipsis litteris).

Pois foi assim, sempre atuando ousada e irresponsavelmente à margem da Lei, que Sérgio Moro aterrorizou o Brasil durante anos, ao encaminhar às calendas gregas a presunção de inocência, ao não considerar a obrigatoriedade da existência de provas para se condenar qualquer pessoa, ao ignorar a necessidade de preliminarmente se notificar alguém antes de conduzi-lo coercitivamente, ao banalizar as prisões temporárias para os infelizes que presumivelmente houvessem cometido algum ato ilegal (mesmo sem qualquer prova mas, tão somente, por convicção do Juiz), ao, enfim, autorizar a escuta telefônica ilegal (inclusive da Presidenta da República) e seu posterior vazamento para a mídia, e por aí vai.

Em resumo, e em português curto e grosso, a intimidade da república foi, sim, devassada e estuprada por um oportunista e megalomaníaco juiz de primeira instância no curso da tal Operação Lava Jato, onde, comprovado restou, a posteriori, que O BANDIDO ERA O JUIZ.

Para tanto (e é duro, mas absolutamente necessário reconhecer), Sérgio Moro e seus comparsas (Dallagnol à frente) contou com a covardia e incompreensível omissão do Supremo Tribunal Federal, porquanto,   desde o nascedouro da Operação Lava Jato, ele (Moro) foi useiro e vezeiro em – valendo-se do apelo popular propiciado pelo tema “corrupção” – ousada e conscientemente transgredir diuturnamente o que reza a Constituição Federal, sem que nossa Corte Maior (em tempos outros galhardamente conhecida como guardiã da Constituição Federal), sequer tenha ensaiado alguma admoestação ao próprio (simplesmente porque receosa em desagradar a população, àquela altura embevecida pela propaganda morista).

Foi preciso, então, que uma escuta telefônica clandestina (tantas e tantas vezes usada pelo próprio Sérgio Moro e demais integrantes da quadrilha), e agora captada por um hacker, fosse divulgada na Internet por um blog independente, para que tomássemos conhecimento, atônitos e perplexos, que na 13ª Vara Federal da cidade de Curitiba fora instalado um perigoso ajuntamento de pessoas de índole duvidosa, que, num conluio imoral, promíscuo e ilegal (embora integrantes do Judiciário), objetivavam a tomada do poder (tendo à frente, repita-se, Sérgio Moro e procuradores de justiça adeptos do seu modus operandi, naquilo que ficou conhecido como a “República de Curitiba”).  

Descoberta a falcatrua, e presumivelmente já antevendo um futuro um tanto quanto complicado quando eclodisse a sujeirada da qual foram os “atores principais”, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol trataram de fazer o que antes disseram que jamais fariam: ingressar na política (aqui, o Moro na condição de Ministro da Justiça do governo Bolsonaro, que ele houvera ajudado a eleger) tendo, para tanto, renunciado (ambos) aos anos de vínculo no poder judiciário (na verdade, preventivamente buscavam se escudar na tal “imunidade parlamentar”).

Na realidade, e isso o próprio Bozo confirmou posteriormente (ao bateram de frente), o ousado e sonhado “objeto de desejo” de Sérgio Moro seria queimar etapas e “pular” da primeira instância para ministro do Supremo Tribunal Federal.

Fato é que hoje, eleitos Senador e Deputado Federal por alienados eleitores paranaenses, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol estão sob os holofotes: Dallagnol teve seu mandato cassado por tentar obstruir a Justiça, renunciando ao Ministério Público mesmo antes de candidatar-se, a fim de fugir das diversas ações em curso contra ele (é, pois, um FICHA SUJA); e Sérgio Moro está às vésperas de ter o mesmo destino, percorrer o mesmo caminho, porquanto seríssimas e múltiplas (com provas) são as denúncias contra seu modus operandi quando no comando da tal Lava Jato.

Alfim, o que se espera é que, ao entardecer desse imbróglio, não tenhamos que se contentar apenas com a sumária cassação dos dois; A CADEIA, SIM, SERÁ O JUSTO E MERECIDÍSSIMO PRÊMIO QUE DEVEM RECEBER por parte do Supremo Tribunal Federal (para o bem de todos e felicidade geral da nação).

segunda-feira, 22 de maio de 2023

 DALLAGNOL: O “FICHA SUJA” (ou AS DUAS FACES DE UM CRIME) – José Nílton Mariano Saraiva

Se a tal Operação LAVA JATO serviu para a mídia nacional apressadamente catapultar do anonimato o então desconhecido juiz curitibano Sérgio Moro, transformando-o da noite pro dia numa espécie de herói nacional, sua antônima, a Operação VAZA JATO serviu para que essa mesma mídia, posteriormente, fosse obrigada, literalmente, a desnudar e mostrar a periculosidade do próprio, porquanto comprovadamente um ativo integrante de uma organização criminosa judicial (ORCRIM), sediada em Curitiba, à qual chefiava com desembaraço e mão de ferro.

Fato é que, só após o surgimento da VAZA JATO (com um cenário político nacional já bastante negativo e acentuado, por conta da LAVA JATO), estarrecida, atônita e perplexa a nação tomou conhecimento, porque em viva-voz (através de interceptações telefônicas) dos métodos nazistas adotados por Sérgio Moro objetivando autopromover-se (prisões preventivas “sine die”, que só seriam findas quando o preso se mostrasse disposto a fazer uma “delação premiada” de acordo com o que fosse ditado pela dupla Moro/Dallagnol, conduções coercitivas sem a devida notificação e por aí vai).

E foi aí, a partir do início da série de reportagens da VAZA JATO, que o Brasil começou a descobrir que a imagem do ex-juiz Sérgio Moro já não era das melhores mesmo entre os próprios procuradores do Ministério Público Federal com quem trabalhou (por mais paradoxal), já que os colegas constataram que aquele juiz violava constantemente a lei, por ter uma agenda pessoal e política. Para eles, Moro infringia sistematicamente os limites da magistratura para alcançar o que queria. 

Vejam os relatos: 

01) procuradora Monique Cheker: "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados; desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele já atuava assim e alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da “proatividade” dele, e que inclusive aprendiam com isso"; 

02)  procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, ao comentar a decisão de Moro de integrar o governo Bolsonaro, escreveu no restrito grupo “Filhos do Januário”: "Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo, porquanto ao aceitar o cargo (algo que ele havia prometido jamais fazer), Moro colocou em eterna dúvida a legitimidade e o legado da operação” (afinal, os óbvios questionamentos éticos envolvidos na ida do juiz ao ministério poderiam dar maior credibilidade às alegações de que a Lava Jato teria motivações políticas); 

03) procuradora Laura Tessler, também da força-tarefa, concordou com a avaliação: "Tb acho péssimo. Ministério da Justiça nem pensar… além de ele não ter poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a Lava Jato. Já tem gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar. Péssimo”. 

Convém lembrar que tais procuradores (e demais) tinham a chefiá-los o procurador Deltan Dallagnol, que muito cedo aliou-se ao então Juiz Sérgio Moro. Carne e unha, íntimos mesmo, Dallagnol recebia orientação de como proceder, elaborar, redigir e quando encaminhar os processos/ações que versassem sobre a Lava Jato, a serem encaminhados... ao próprio Moro (em legenda postal teríamos: De: Sérgio Moro – Para: Sérgio Moro). 

A promiscuidade do Juiz e o Procurador chegou a um nível tal que, no auge do imbróglio da Petrobras, tentaram, por baixo dos panos, surrupiar R$ 2,5 bilhões daquela estatal e mais R$ 6,5 bilhões da Odebrecht, supostamente para constituírem uma “fundação”, sem fins lucrativos, a ser administrada por Deltan Dallagnol, e cujo objetivo seria obter poder a qualquer custo, através da política. 

Resumindo: após prender o ex-presidente Lula da Silva baseado em inexplicáveis “fatos indeterminados” e com isso abrir caminho para a eleição do Bozo, Sérgio Moro foi premiado com o Ministério da Justiça, bem como com a promessa de ascender ao Supremo Tribunal Federal (STF) na primeira oportunidade (para tanto, teve que antecipadamente renunciar de forma definitiva à magistratura). 

Mas, como dois canalhas não se beijam, no primeiro “tête-à-tête” com o chefe, acabou sendo humilhado e escorraçado do governo sumariamente, restando-lhe o “olho-da-rua”; e então, desempregado, despreparado para enfrentar algum concurso na área jurídica e vislumbrando um futuro complicado por conta dos inúmeros processos que certamente passaria a responder pelas arbitrariedades perpetradas na época de Juiz, resolveu concorrer ao parlamento brasileiro, onde adquiriria a malfadada “imunidade parlamentar” (artigo 53 da Constituição Federal: Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos). Acabou sendo eleito Senador, pelo Estado do Paraná. 

Na outra ponta, Deltan Dallagnol, seu velho e querido comparsa, enveredou pelo mesmo caminho de busca da “imunidade parlamentar”, tendo, para tanto, que renunciar à função de Procurador da República; é que existiam (existem) quase duas dezenas de processos aos quais teria (terá) que responder; acabou sendo eleito Deputado Federal pelo Estado do Paraná. 

Hoje, considerado “FICHA SUJA” por unanimidade dos membros daquela Corte, o Tribunal Superior Eleitoral resolveu cassar seu mandato, no pressuposto de que a tal “renúncia” não passou de uma manobra desonesta para fugir dos diversos processos que lhe aguardam.   

A expectativa, agora, é que Sérgio Moro também seja considerado “FICHA SUJA” e tenha seu mandato cassado (afinal, foi ele que magnanimamente ensinou tudo ao Deltan Dallagnol). 

A dúvida é: cassados, irão parar atrás das grades ???

domingo, 14 de maio de 2023

  

ORELHAS – Doutor Demóstenes Ribeiro (*)

No final dos anos sessenta, a ditadura militar sentindo crescente insatisfação da classe média buscou agradá-la facilitando aos jovens o acesso indiscriminado à universidade. Era o tempo dos excedentes e toda a semana aumentava o número de alunos. As aulas eram precárias, auditórios e laboratórios não comportavam tanta gente e a formação do pessoal, inevitavelmente inadequada.

E foi assim, que Florisvando, um dos últimos excedentes, chegou lá. Da zona rural de Salgueiro, era baixinho e míope, de barba rala, cabeludo e muito calado. Magro e pálido, ocasionalmente, nos sobrados do Recife Velho ou da Rua do Rangel, buscava prostitutas gordas e logo ficou conhecido por “Taradim”, pois era também um dos mais entusiastas praticantes do vício solitário.

 Ele almoçava no restaurante universitário e morava na Casa do Estudante, onde jantava um dia macarrão com farofa e no outro, farofa com macarrão – não tinha outra escolha, o cardápio era assim mesmo. Tomava o ônibus da reitoria para chegar à faculdade.  Nesse transporte gratuito, superlotado, sempre entrava mais um e o motorista nunca conseguia fechar a porta.

De todo jeito, a moçada ia em frente, pois outro ônibus do Derby à Cidade Universitária, só bem depois de meia hora. Então, com muito mais gente em pé do que sentada, no percurso era um esfrega-esfrega geral, tolerado e sem muita reclamação: fazer o quê? Uma ou outra freada brusca variava a arrumação e fazia a alegria dos tarados.

 Naquele dia, seu aniversário, Florisvando entrou no ônibus com a braguilha aberta, e logo se aproximou de Orisvalda. Ela, estudante de Enfermagem, evangélica e muito compenetrada, sentara na cadeira junto ao corredor, com a bíblia nos joelhos e os olhos fixos no “Apocalipse de São João”. Trajava vestido azul-marinho, de mangas compridas, e que ia do pescoço até abaixo dos joelhos. Maquiagem discreta, em tudo lembrava uma senhora.

O ônibus seguia: Madalena, Caxangá, Várzea, Cordeiro... E de repente, sem ninguém se dar conta, num furor diabólico de guerreiro enfurecido, a espada de Florisvando subiu pelo ombro Orisvalda, foi ao pescoço e a face, e avançou progressivamente até àquela orelha que o deixara maluco e incontrolado.

A certa altura, ele explodiu em espasmos convulsivos, e então veio o grito fanhoso e esganiçado de Orisvalda: Socorro! Motorista pára o ônibus, um tarado encheu o meu ouvido com uma gosma branca !

Aparentemente, somente eu assistira toda a cena. Florisvando, sem mais ninguém perceber, esgueirando-se como um fantasma entre a moçada atônita, saltou na Caxangá e fugiu em direção ao cemitério da Várzea. À noite, na Casa do Estudante, pediu-me por tudo no mundo, que eu não contasse o acontecido a ninguém.

Anos depois, calvo e gordo, quase irreconhecível, eu o reencontrei num supermercado: Taradim, quanto tempo! Como vai a vida, rapaz?

Extremamente formal, me respondeu: devo-lhe um favor imenso, mas nunca mais me chame assim. Depois de muitos anos, me formei em direito e hoje sou oficial de Justiça. Tenho mulher e filhos, e somente uma orelha ou outra ainda me deixa agoniado.


(*) Dr. Demóstenes Ribeiro é natural de Missão Velha-CE e hoje, médico- cardiologista, reside e exerce a profissão em Fortaleza-CE.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Música Incidental para o Sonho

 

J. Flávio Vieira

 

“Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão

Todo artista tem de ir aonde o povo está

Se foi assim, assim será

Cantando me desfaço e não me canso

De viver nem de cantar”     

Milton Nascimento / Fernando Brant

 

                               Uma das canções mais belas de Milton, com letra de Fernando Brant,   fala sobre a magia da profissão itinerante dos cantores e instrumentistas, morando nas estradas do mundo e levando o enlevo da música ao coração do seu povo. Fascinante esta trajetória das bandas, emoldurando os bailes da vida, cifrando a trilha sonora de muitas gerações de pessoas, criando, cuidadosamente o clima romântico para a paquera, para o namoro, para a paixão. Cada um de nós tem em si a trilha pessoal do filme da nossa vida, a dos momentos mais amorosos, dos mais tristes, dos mais alegres e felizes. Ouvir tocar uma canção no rádio ou no celular nos remete, imediatamente, como num bólido, para aquele instante único e eterno vivenciado e que nos acompanha ao longo de toda existência: uma dança , um beijo, uma perda, um desejo, um fascínio, uma farra. Houve um momento, menos tecnológico, em que as festas, os bailes, as tertúlias , os saraus, vesperais e matinês dependiam diretamente das bandas e dos seus instrumentistas. Os Conjuntos Musicais viviam comendo a poeira da estrada, em carros improvisados, por estradas  esburacadas, carregando seus instrumentos e amplificadores precários  de vila em vila, de arrabalde em arrabalde: tinham que ir aonde o povo estava. E tocavam nas praças, nas palhoças, nos cinemas, em pequenos clubes, em bares, em casas, em sítios, em latadas, onde houvesse público ali eles estavam, estimulados por pequenos cachês que mal cobriam os custos da viagem. E , como os palhaços dos circos, os especialistas em itinerância, deviam estar sempre alegres, com alta energia, com som leve e solto, independentemente do estado de espírito de carregassem. A amargura e a tristeza, os problemas pessoais tinham que ser deixados nas pensões de beira de estrada onde se arranchavam, não podiam subir ao palco.

                        Esta semana o Cariri perdeu um desses monstros sagrados das estradas da vida e da magia dos palcos improvisados:  Hugo Linard.  Tecladista inspirado, músico intuitivo desde a mais tenra infância, ele encabeçou as bandas mais seminais da nossa região. Eclético, tocava todos os ritmos, passeava galhardamente pelo clássico, pelo Nordestino, pela MPB, pelo frevo,  pelo música latina, francesa, italiana, pelo blues e pelo jazz , sem quaisquer sobressaltos. Apenas não condescendia com o mal gosto. Tê-lo no palco era a certeza absoluta de que teríamos poesia em movimento. Hugo carregava consigo um compêndio inteiro de histórias desse safari sonoro de setenta anos pelas veredas do mundo, muito se perdeu quando, nesta semana, as peças do teclado emudeceram. Levando uma roupa encharcada e uma alma repleta de chão, o artista deixa uma obra imorredoura: criou a música incidental propícia à paixão, à sedução e ao afeto dos corações caririenses. Quantos olhares apaixonados propiciou? Quantos beijos ardentes favoreceu? Quantos amassos facultou , entre uma e outra nota, entre um e outro acorde, entre uma e outra frase musical escolhidos, cuidadosamente,  para a construção do clima necessário a meteorologia do romance?

                        O céu agora perderá aquela morosidade e silêncio etéreos, Hugo vai mostrar que  só com música  um lugar pode merecer  o nome de paraíso.

Crato, 12/05/2023

sábado, 6 de maio de 2023

 Se você, aí do outro lado da telinha, já tá de saco cheio de assistir filmes com os tais “efeitos especiais” do diretor americano Steven Spielberg, ou mesmo aqueloutros onde humanos pensantes batem papo alegremente com animais irracionais, convido-os a voltarem a um autêntico faroeste americano (em qualquer aspecto), digno de ser visto e revisto tantas e tantas vezes. Refiro-me à série GODLESS, na NETFLIX. Simplesmente portentosa, impressionante, imperdível.

Abaixo, uma “tentativa” de resumo.  

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“LA BELLE” – José Nílton Mariano Saraiva

Esquecida pelo poder público, nos confins do território americano a pequenina cidade de “LA BELLE” vivia quase que exclusivamente em função de uma mina de prata que garantia sua própria sobrevivência.

Tanto, que todos os homens em condição de trabalho viviam o dia mergulhados em suas profundezas (só retornando à noite), enquanto as mulheres cuidavam dos afazeres domésticos e das crianças.

Mas, de repente, tudo mudou radicalmente, em função de uma tragédia inimaginável: uma explosão no interior da mina soterrou todos os homens da cidade (à época no total de 83). A partir de então, LA BELLE, passou a ser conhecida como a “cidade das mulheres”.

Eis que, na perspectiva de tomar de conta da mina, e vindo de um outro extremo do país, senhores falantes e teoricamente persuasivos, acompanhados da “casca grossa” (bandidos violentos) se apresentam como capazes de desenvolver a cidade, desde que lhes permitam explorar a mina; para tanto, 90,0% do lucro ficariam com eles retidos e 10,0% seriam destinados às mulheres. Claro que não tiveram receptividade, mas, mesmo assim tomaram de conta da cidade, na marra.

Paralelamente, uma viúva não muito querida pelas demais mulheres, que vivia num rancho isolado, contíguo à cidade (junto com o filho e a sogra, uma índia sorumbática), na madrugada é acordada por um barulho suspeito; sai e, de rifle em punho, dispara na escuridão e fere alguém que viera à procura de ajuda. À base da luz de candeeiro, sensibilizada acolhe o forasteiro (que já chegara ferido à bala) e na manhã seguinte encarrega a sogra a dele cuidar.

Durante a convalescença e após recuperar-se, o estranho mostra ser um exímio domador de cavalos selvagens; é que, como no curral do rancho existem vários, ele começa à paciente tarefa de domesticá-los. Aproveita e ensina o filho da viúva, de maneira persistente e insistente (monte de novo, monte de novo), a não só montar como também domar os quadrúpedes; de longe, a viúva e a sogra (a índia sorumbática) embora não verbalizem, mostram extremo contentamento.

E aí começa a “pintar um clima”, quando ele manifesta o desejo de aprender a ler e escrever (era zerado em tudo); assim, enquanto ensina o filho da viúva a domar os cavalos, ele aprende com ela a arte das letras e de gostar das pessoas (a essa altura já houvera posto as fichas na mesa ao identificar-se como um famoso pistoleiro procurado pela Lei).

Entrega-se ao “xerife” da cidade, que voltara de uma perseguição infrutífera a bandidos, mas logo é solto pela própria viúva, que sentira sua falta.

Fato é que, ao ter-se transformado num famoso pistoleiro, fora capaz de romper com aquele que, num passado não tão distante o houvera lhe criado e ensinado tudo; tanto que foi capaz de arrancar-lhe o braço com um tiro de fuzil e roubar-lhe o produto milionário de um assalto a um trem-pagador; e, por essa razão, agora era incessantemente caçado pelo próprio e sua quadrilha, que já descobrira seu paradeiro.

E assim, as mulheres de LE BELLE se organizam e travam um confronto de proporções épicas com aquela bandidagem selvagem; derrotados inexoravelmente, o chefe da quadrilha, que viera se vingar do filho-adotivo (agora um famoso pistoleiro) e recuperar a grana, foge e é perseguido por ele; alcançado, travam um duelo de titãs, que é vencido pelo filho.

Alfim e como o duelo fora assistido pelo filho da viúva, este o traz de volta, onde ele se despede do garoto e daquela que poderia ter sido sua para sempre.

Antes, pede ao delegado (de volta à cidade e que o cientifica que houvera comunicado às autoridades que ele houvera sido morto no duelo), pois bem, ele o orienta a recomendar à viúva a ajeitar uma estaca da cerca de sua propriedade que estaria por cair; e quando ela lá chega e começa a escavar, dá de cara com um alforge de cavalo repleto de dinheiro, muito dinheiro (produto do roubo ao trem-pagador).

E num singelo bilhete, que ele houvera aprendido a escrever com ela, simplesmente um “THANK YOU” (OBRIGADO).

 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Vou pro Ceará

 Quando crescer, eu vou pro Ceará. Repeti esta frase um sem número de vezes. Desde menino estou indo...  

O Ceará de minha infância está na voz de meu pai que cantava lindas valsas de Augusto Calheiros e dizia palavras que não estavam no repertório local. Estava nas músicas de Luiz Gonzaga que minha mãe e e meu pai cantavam. Estava no beju de tapioca, no prato de baião de dois que mamãe tentava imitar, com sua cozinha amineirada (muito boa também). Fazia pra agradá-lo. E nos agradava a todos também. Seu sotaque, a melodia em sua voz, um misto de vaqueiro e de tenor, principalmente quando ficava bravo, tinha uma voz forte, em um corpo franzino e valente. Nunca o vi descansando, ou esperando algo, sempre ativo, indo e vindo com ligeireza juvenil, mesmo aos sessenta anos.  Me contou algumas histórias de sua vida no ceará, que nos anos de 1950, seu pai levara a família para morar no Crato. Fora um comerciante e, no pós-guerra, as condições em Brejo Santo não eram boas.  Disse que sua família morou na rua Nelson Alencar e, ainda hoje, tento adivinhar o número, se a casa ainda existe.     Mas existe no meu coração, na minha memória um Ceará só meu, de minha imaginação infantil.  Estou no Ceará. Estou indo pro Ceará! 

sexta-feira, 28 de abril de 2023

 A “MISOGINIA” EM QUESTÃO - José Nílton Mariano Saraiva

Por volta dos 19/20 anos de idade, Michelle de Paula foi mãe de uma menina a quem batizou como Letícia Firmo, fruto de um relacionamento proibido (o parceiro, o engenheiro elétrico Marcos Santos da Silva, de Brasília, já era casado e pai de família); assim, quando conheceu Jair Bolsonaro, em 2006, Letícia Firmo já tinha 04/05 anos de idade, Michelle de Paula 24 anos e ele 51 anos.

À época, Michelle de Paula era secretária na sala de liderança do PP e, como “pintou um clima” no momento em que os olhares se cruzaram, foi imediatamente requisitada para trabalhar no gabinete do próprio; dois meses depois – vapt-vupt – se assumiram.

No entanto, Michelle de Paula só se tornou Michelle Bolsonaro dois anos depois (2008) quando, por imposição dela, se casaram no civil, “em regime de separação de bens”; em 2010, nasceu uma menina, Laura, hoje adolescente (posteriormente, já exercitando e verbalizando em todo o esplendor sua reconhecida porção misógina, o próprio afirmou ter sido uma “fraquejada” de sua parte o fato de gerar uma filha mulher, já que os filhos anteriores, de outras mulheres, foram todos do sexo masculino). Só faltou culpar a Michelle de Paula por isso...

Assim, e certamente que cansados de ouvir o pai afirmar preconceituosamente que houvera casado com uma “mãe solteira”, (existem vídeos que comprovam) os filhos dos casamentos anteriores (já adultos) não fizeram nenhuma questão de aproximar-se da “madrasta”, tendo em vista a comprovada ascendência desta sobre o marido; pelo contrário, nutrem um certo desprezo e guardam uma certa distância regulamentar da “madrasta” (de idade parecida com a deles).  O tal "Carluxo" que o diga...

De família pobre e nascida em Ceilândia, cidade paupérrima vizinha a Brasília, Michelle de Paula cursou até o ensino médio e tinha como única experiência trabalhos administrativos na Câmara Federal, onde conheceu o futuro marido. Os dois têm uma diferença de idade de 27 anos – ele, hoje, está com 68 anos (à época 51 anos) e ela com 41 anos (à época 24 anos).

Esta, uma resumida amostra de quem seja a “evangélica” Michelle de Paula Firmino Reinaldo Bolsonaro, hoje – quem diria – cotada para substituir o marido nas próximas eleições à Presidência da República, na perspectiva que o próprio seja legalmente impedido pela Justiça de concorrer, como tudo leva a crer.

A pergunta que não quer calar: será que o “gado” referendará o que o partido decidir ???

terça-feira, 25 de abril de 2023

UM PASSADO QUE (PRECONCEITUOSAMENTE), CONDENA – José Nílton Mariano Saraiva

A surpreendente ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República teve o condão de desnudar ou nos por frente a frente com uma das facetas mais abjetas que um ser humano pode carregar: o preconceito visceral contra um seu semelhante.

É que, lá atrás, ao assumir o relacionamento com a então “mãe solteira”, Michele, e dar-lhe o seu sobrenome (Bolsonaro) esta, de pronto, passou a ser rejeitada preconceituosamente pelos três (03) filhos-numerais (Eduardo, Flávio e Carlos) resultantes de um relacionamento anterior do pai.

Arrogantes, mal-educados e prepotente até hoje, os irmãos Bolsonaro nunca fizeram nenhum esforço para demonstrar/esconder o constrangimento pela situação criada pelo pai, principalmente pelo fato de a filha de Michele (sua meia-irmã), oriunda de uma relação não convencional (com outro), já ser, à época, uma jovem adolescente, e que passou a morar com o padrasto (ou seja, dividendo a atenção do próprio).

Fato é que, hoje, embaixo das asas do padrasto, embora sem qualquer formação superior a filha de Michele Bolsonaro, de nome Letícia Firmo, foi aquinhoada com um salário de R$ 13.000,00 na função de assistente de gabinete da Secretaria de Articulação Nacional do atual governador do Espírito Santo, Jorginho Mello (PL-SC) e exercerá a função em Brasília, onde mora com a mãe e o padrasto (ou seja, a população de Santa Catarina pagará pra alguém que talvez nem conheça o Estado).

E para provar de forme definitiva e inquestionável seu “prestígio” com o marido (e provocar ainda mais a ira demoníaca dos três irmãos-numerais), Michele Bolsonaro ainda arranjou para que o namorado de Letícia Firmo, Igor Matheus Oliveira Modtkowski, ganhasse um emprego no gabinete do senador do PL catarinense Jorge Seif Júnior (enquanto isso, sem a influência de Michele, o filhote 04, de Jair Bolsonaro, Jair Renan, também prestará serviço no mesmo gabinete).

Por outro lado, dois irmãos de Michele Bolsonaro também se deram bem com a influência da irmã sobre o marido: Diego Torres Dourado ganhou um cargo como assessor especial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no qual receberá um salário de R$ 19,2 mil, enquanto que Geovanna Kathleen Ferreira Lima (também irmã de Michelle), foi empregada no Senado, no gabinete da ex-ministra de Direitos Humanos, Damares Alves.

A dúvida é: e o coitado do eletricista de Brasília, Marcos Santos da Silva (à época um homem casado e pai de família), mas que envolveu-se com Michele (que ainda não era Bolsonaro) e tiveram a Letícia Firmo, será que não arranjou nada durante o tempo em que a “ex” esteve como primeira dama ??? Michele Bolsonaro teria sido tão ingrata com o “ex” ??? 

domingo, 23 de abril de 2023

O “MODUS OPERANDI” MILICIANO - José Nílton Mariano Saraiva


Como é do conhecimento de metade do mundo e da outra banda, diversas, ilegais e cabeludas manobras foram perpetradas pelo psicopata/energúmeno que exerceu a Presidência da República até meses atrás, objetivando fraudar o processo eleitoral e, por conseguinte, “não largar o osso”.

Uma dessas intervenções irregulares deu-se no âmbito da Polícia Rodoviária Federal quando, sob o comando do ex-Ministro da Justiça, Anderson Torres (hoje preso), sua área de inteligência processou um mapeamento rigoroso daquelas cidades/estado onde o ex-presidente Lula da Silva houvera obtido expressiva vantagem no primeiro turno da eleição presidencial, com o objetivo pré-definido de impedir que aqueles eleitores não pudessem chegar no lugar da votação no segundo turno (especialmente na Região Nordeste).

Para tanto, a Polícia Rodoviária Federal dispendeu a “ninharia” de R$ 1,3 milhão em horas extras aos seus quadros de fiscais, assim como aumentou exponencialmente seu efetivo nas rodovias durante o dia do segundo turno, nos seguintes estados: Minas Gerais; Tocantins; Bahia; Sergipe; Piauí; Pernambuco; Rio Grande do Norte; Ceará; Maranhão; Amapá e Pará.

Abaixo, o antes e o depois (aumento exponencial), da situação nesses estados, a saber (fonte: Folha de SP):

MINAS GERAIS: plantão – 94 policiais – efetivo extra 102 (AUMENTO DE 108,51);

TOCANTINS: plantão – 13 policiais – efetivo extra – 12 – (AUMENTO DE 92,31%);

BAHIA: plantão – 112 policiais – efetivo extra – 90 (AUMENTO DE 80,36%);

SERGIPE: plantão – 11 policiais – efetivo extra – 18 – (AUMENTO DE 163,64%);

PIAUI: plantão – 30 policiais – efetivo extra – 45 – (AUMENTO DE 150%);

PERNAMBUCO: plantão – 48 policiais – efetivo extra – 54 – (AUMENTO DE 112,50%);

RIO GRANDE DO NORTE: plantão – 22 policiais – efetivo extra – 36 – (AUMENTO DE 108,51%);

CEARÁ: plantão – 41 policiais – efetivo extra – 45- (AUMENTO DE 109,76%);

MARANHÃO: plantão – 22 policiais – efetivo extra – 45 – (AUMENTO DE 204,55%);

AMAPA: plantão – 6 policiais – efetivo extra – 9 – (AUMENTO DE 150%);

PARÁ: plantão – 28 policiais – efetivo extra – 45 – (AUMENTO DE 160,71%);

Fato é que, mesmo com esse dantesco, desonesto e sombrio quadro arquitetado, o golpe foi antecipadamente descoberto e denunciado e, embora com dificuldades, os eleitores de Lula da Silva chegaram aos locais de votação e acabaram dando a resposta nas urnas: a votação da Região Nordeste, em Lula da Silva, suplantou a maioria das outras regiões do país e ainda sobraram quase dois milhões de votos.

Lula presidente, por cima de pau e pedra, independentemente do modus operandi miliciano. 

quarta-feira, 12 de abril de 2023

 "DECEPÇÃO OCEÂNICA" - José Nílton Mariano Saraiva


Após se mandar do Brasil antes do término do seu mandato, claramente objetivando fugir de uma prisão iminente por conta das inúmeras transgressões às leis brasileiras, perpetradas quando esteve aboletado na cadeira presidencial, o psicopata que exerceu a Presidência da República do Brasil nos últimos quatro anos foi procurar abrigo no colo de Donald Trump, ex-presidente americano, um seu igual.

Lá, sem ter o que fazer e enfiando bufa no cordão, passou a cuidar dos preparativos finais para um pretenso golpe de Estado visando voltar ao poder (já que houvera sido derrotado em eleições livres), golpe este que seria materializado quando seus comparsas de governo (os milicos apátridas,  traidores e mercenários que lhe deram sustentação quando no exercício da função) dessem o “sinal verde”.

Tanto que houvera dito a acompanhantes, dias antes, que “o melhor está por vir”, ou seja, a bandalheira e selvageria ocorrida em 08.01.23, quando seus adeptos quebraram as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, foi, sim, coisa pensada e arquitetada por ele e seus reacionários e improdutivos generais de pijama.

É que, hostis à democracia, antidemocráticos por natureza, contrários às ideias voltadas para a transformação da sociedade, defensores de princípios ultraconservadores ou mesmo contrários à evolução social e política, referidos milicos haviam elaborado um plano de poder por pelos menos 20 anos.

Tanto, que milhares deles já integravam a folha de pagamento do governo, com salários exorbitantes e sem ter o que fazer, cujo exemplo maior é o arquejante e semimorto general Villas Boas Correia (aquele que, segundo o psicopata, fora um dos principais responsáveis por sua vitória) e que ainda se deu ao luxo de arranjar uma “boquinha” numa instituição governamental para uma filha idosa e desempregada).

Fato é que, em Brasília, incontestavelmente os milicos permitiram que uma turba de malfeitores e desordeiros, potencialmente violentos, pagos e alimentados por meses, acampassem em espaço do próprio Exército, onde foram orientados, insuflados e protegidos de como agir na hora do quebra-quebra, que assustou não só os brasileiros, mas todo o mundo civilizado (uma autêntica barbárie).

E então, após o animalesco modus operandi dos marginais sob seu comando, durante o 08.01.23, e ante a recorrente desaprovação dos povos nos mais longínquos rincões do planeta Terra, lá do seu exílio, nos Estados Unidos, o psicopata reconheceu que realmente houvera cometido uma série de graves “arbitrariedades” durante o seu (des)governo.

Imaginou-se, por aqui, que tal reconhecimento criminal por parte do próprio seria o necessário e suficiente para que o Supremo Tribunal Federal tomasse medidas correspondentemente duras e inflexíveis sobre, na perspectiva da volta de referida figura ao Brasil; ou seja, que um camburão da polícia fosse gentilmente recepciona-lo na saída do avião; e que, do aeroporto, seguissem diretamente para o presídio da Papuda, em Brasília.

Em vão.

Desembarcou falante, abraçou e distribuiu beijinhos para alguns gatos-pingados presentes, foi recepcionado na sede do partido e, como se sentiu à vontade, ali mesmo já se autoproclamou líder da oposição ao governo federal.

Não há como se negar que uma decepção oceânica se apossou da maioria da população brasileira ante a omissão do Supremo Tribunal Federal, já que, de viva voz, o psicopata houvera admitido explicitamente, ou enunciado de forma categórica e definitiva, ter cometido as tais arbitrariedades (sem contar outros crimes).

E agora, José ???

terça-feira, 28 de março de 2023

 ESSES NOSSOS GESTORES...- José Nílton Mariano Saraiva

Nesse período chuvoso, o que não falta na TV são imagens do estrago causado pelas águas, principalmente em paupérrimas cidades interioranas.

Hoje, 28.03.23, por exemplo, no telejornal do meio-dia da TV Verdes Mares, tomamos ciência do estrago considerável ocorrido na cidade de Milhã-CE e o compreensível apelo feito à população pelos seus gestores, traduzido num grande e colorido cartaz orientando-a a se afastar de uma certa área próxima a um açude.

Mas, aí, a mensagem mais confunde que expõe a real situação, quando chama a atenção para o EMINENTE RISCO de rompimento da barragem do açude.

A pergunta é: seria um simplório erro de digitação do funcionário da prefeitura que preparou o tal aviso (devem alegar isso), ou (mais provável) despreparo dos gestores responsáveis que a redigiram (prefeito ou secretário) ???

Particularmente, fico com a segunda opção.

domingo, 19 de março de 2023

 TORTURADORES

“Torturadores não têm ideologia. Torturadores não têm lado. Não são contra ou pró-impeachment. Torturadores são apenas torturadores. É o tipo humano mais baixo que a natureza pode conceber. São covardes, são assassinos e não mereceriam, em momento algum, serem citado como exemplo. Muito menos numa casa legislativa que carrega o apelido de casa do povo”.

(RICARDO BOECHAT, em abril/2016, em resposta a Jair Bolsonaro, que ousara defender no plenário da Câmara, um dos piores torturadores da ditadura militar brasileira, o milico Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi  do Exército de São Paulo, onde 50 pessoas foram assassinadas e outras 500 foram torturadas, entre 1970-1974, entre as quais Dilma Rousseff).

segunda-feira, 13 de março de 2023

 A “BENTO” O QUE É DE “BENTO” – José Nílton Mariano Saraiva

Suspeito de estar envolvido até a medula no “transporte ilegal” (contrabando) de joias destinadas ao chefe (o Bozo), eis que agora temos novidades com relação ao “currículo” de sua Excelência o general Bento Albuquerque.

É que, além de receber como Ministro de Estado, o general pegou a “boquinha” (ou seria “bocarra” ???) de conselheiro da Itaipu Binacional, onde recebe R$ 34 mil reais para participar de reuniões bimestrais (ou seja, a bagatela de R$ 204 mil por ano).

Portanto, e até para que a posteriori não se cometa alguma injustiça, em seu currículo deve constar, sim, tão relevante informação (a Bento o que é de Bento).

Agora, aqui pra nós: vôte, que generais gulosos esses que se postam no entorno do Bozo.


domingo, 12 de março de 2023

 SOBRE A “INDEPENDÊNCIA” DO BANCO CENTRAL – José Nílton Mariano Saraiva

Depois da declaração do senhor Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, admitindo que sempre e recorrentemente “consulta” o banqueiro André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, quando se faz necessário alterar a Taxa Selic (que, afinal, remunera tudo no Brasil, principalmente o segmento do tal “mercado” onde atua com desembaraço o senhor André Esteves), parece ser chegada a hora de se começar a questionar essa tal independência do Banco Central.

Sobre tão polêmico tema, abaixo o posicionamento do senhor Gilberto Bercovici, professor titular de Direito Econômico e Economia Política da Faculdade de Direito da USP. Autor, entre outros livros, de Direito Econômico Aplicado: Estudos e Pareceres.

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A PERGUNTA QUE DEVE SER FEITA É: BANCO CENTRAL INDEPENDENTE DE QUEM ???

Ao que parece, independente do sistema político e de todo e qualquer controle democrático, a chamada independência do Banco Central nada mais é que mais uma medida que VISA GARANTIR OS PRIVILÉGIOS DO SISTEMA FINANCEIRO EM RELAÇÃO À DEMOCRACIA. Tanto faz quem as urnas elejam, a política monetária será sempre a que privilegia os interesses privados em detrimento de qualquer política de desenvolvimento e de distribuição de renda. Esses privilégios CONCEDIDOS PARA O SETOR FINANCEIRO são, portanto, absolutamente injustificáveis.

Aliás, o próprio liberalismo não os admite. Às vésperas da Revolução Francesa, em seu texto Ensaio sobre os Privilégios (“Essai sur les Privilèges”), publicado em novembro de 1788, Sieyès afirma que a desigualdade pertencente aos privilégios é fruto de uma esfera arbitrária que deve ser eliminada pelos direitos do homem.

A nação moderna é uma instituição econômica, fundada na hierarquia dos valores do mercado, devendo a esfera política privilegiar a dimensão econômico-produtiva. A liberdade é a possibilidade de cada um perseguir e satisfazer seus próprios interesses vitais, por meio da divisão do trabalho, da troca e da dependência recíproca dos homens. Ou seja, nem os grandes pensadores liberais defendem os privilégios que classes ou grupos sociais, COMO OS RENTISTAS, têm assegurados em um país como o Brasil.

Finalmente, e à guisa de conclusão: há alguma possibilidade de se reverter esse quadro?

Sim, a articulação de um projeto político alternativo que busque retomar o desenvolvimento e a reconstrução nacional é essencial para - caso vitorioso nas urnas - o representante desse projeto possa ENCERRAR ESSE CICLO DE GARANTIA DOS PRIVILÉLIOS DO SISTEMA FINANCEIRO.

Juridicamente, a solução é muito simples. Nada que uma medida provisória revogando essas medidas não resolva. O problema, no entanto, não é jurídico, é político e social. Para que isso aconteça, é necessário um Presidente da República com coragem e apoio político e popular suficientes para reconstruir o Brasil.

sábado, 11 de março de 2023

OLHA O “BENTO ALBUQUERQUE” AÍ DE NOVO, GENTE – José Nílton Mariano Saraiva

Como se pode constatar no texto do premiado jornalista Lira Neto (abaixo), o almirante Bento Albuquerque, hoje conhecido mundialmente por ter sido flagrado tentando tentar entrar no país com joias contrabandeadas da Arábia Saudita, destinadas à família Bolsonaro (uma espécie de “mula” oficial) sempre foi “carne-e-unha” com Bolsonaro, tanto que, em 2020, subscreveu o Projeto de Lei 191, autorizando o garimpo e o agronegócio em áreas indígenas (literalmente, o extermínio dos Yanomamis).

Aos fatos.

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COMO BOLSONARO PLANEJOU EXTINGUIR A RESERVA YANOMAMI – por Lira Neto (*)

O plano teve início há cerca de 30 anos. Em 19 de outubro de 1993, uma terça-feira, em Brasília, o deputado Jair Bolsonaro, do Partido Progressista Reformador (PPR), legenda então liderada nacionalmente por Paulo Maluf, apresentou, na Câmara Federal, um projeto de decreto legislativo.

Protocolado sob o número 365, a proposição buscava tornar sem efeito um decreto presidencial, homologado no ano anterior por Fernando Collor de Mello sob recomendação da Funai, criando a reserva Yanomami. O projeto de Bolsonaro, que à época exercia o primeiro mandato de deputado federal, tinha apenas dois curtos artigos.

“Torna sem efeito o Decreto de 25 de maio de 1992, que homologa a demarcação administrativa da terra indígena Yanomami”, dizia o primeiro deles. “Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação, revogando as disposições em contrário”, sentenciava o segundo.

“SOU A FAVOR, SIM, DE UMA DITADURA, DE UM REGIME DE EXCEÇÃO”, confirmou, em plenário, quando confrontado pelos colegas na volta à capital federal. “PARA ACABAR A CRISE BRASILEIRA, BASTA TRÊS BATALHÕES DE INFANTARIA”, argumentou ele à época, segundo o Jornal do Brasil, atraindo ainda mais atenções públicas para si.

Publicado na edição do Diário do Congresso Nacional de 10 de novembro de 1993, o projeto de Bolsonaro para a extinção da reserva Yanomami dormitou nas comissões internas da Câmara e, aparentemente natimorto, foi arquivado ao final da legislatura, conforme previsto no artigo 105 do regimento da casa.

Em 1995, reeleito como o terceiro deputado federal mais votado no Rio de Janeiro, Bolsonaro solicitou o desarquivamento da proposição. E conseguiu.

Bolsonaro tinha pressa. Com apoio de 257 colegas deputados, o que lhe garantia o número regimental necessário, solicitou urgência para a votação do projeto em plenário. Em 30 de agosto de 1995, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, do Partido da Frente Liberal (PFL), acatou a solicitação, sob protestos da bancada oposicionista. Após intensa discussão, o regime de urgência foi rejeitado: 290 deputados votaram contra; 125, a favor. Houve 10 abstenções.

Depois de regressar às comissões internas, recebendo pareceres negativos dos deputados Fernando Gabeira e Almino Afonso (PSB), o projeto foi mais uma vez arquivado. Nem assim Bolsonaro desistiu do objetivo.

“A Cavalaria brasileira foi muito incompetente”, ele esbravejou, na sessão da Câmara de 16 de abril de 1998, então filiado ao Partido Progressista Brasileiro (PPB). “Competente, sim, foi a Cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país.

Eleito pelo PPB para um terceiro mandato no final daquele mesmo ano, Bolsonaro repetiu a manobra e pediu um segundo desarquivamento do projeto. De novo, a proposta estacionou nas instâncias internas, sendo arquivada pela terceira vez ao final daquela legislatura.

No início de 2003, decorridos dez anos da proposição inicial, já no quarto mandato e filiado ao Progressistas — fusão do PPR com o Partido Progressista (PP) —, o deputado continuava com a mesma ideia fixa. Solicitou mais um desarquivamento, mas o projeto de extinção da reserva Yanomami não avançou na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania. Foi de novo posto de molho, para ser arquivado, em definitivo, no final de 2007, após 14 anos de idas e vindas.

Passaram-se outros dez anos. Em 2017, candidato à presidência da República pelo Partido Social Liberal (PSL), Bolsonaro deixou claro o propósito de dar combate aos povos originários: “Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena”, anunciou.

No cargo de presidente, em 2020, propôs o Projeto de Lei 191 — o “Projeto de Lei do Genocídio”, como batizado pelos adversários —, TAMBÉM ASSINADO PELOS MINISTROS DAS MINAS E ENERGIA, ALMIRANTE BENTO ALBUQUERQUE E DA JUSTIÇA, SÉRGIO MORO, autorizando o garimpo e o agronegócio em áreas indígenas.

Pressões da sociedade civil e das comunidades indígenas mantiveram o texto na gaveta. Enquanto isso, conforme revelou o site The Intercept Brasil, 21 ofícios com pedidos de ajuda dos yanomamis foram ignorados.

O resultado é o que estamos vendo todos nós, estarrecidos. De extinção da reserva, o plano passará a ser, tudo indica, o de extermínio total dos Yanomamis.

 

(*) Lira Neto é escritor e jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC  São Paulo.