por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A GARGALHADA FINAL - Demóstenes Ribeiro (*)


Embora a sua família fosse considerada inteligente e um dos seus irmãos, importante advogado, ele, sequer sem o ensino médio, era frequentemente desprezado. No entanto, todos reconheciam a sua facilidade de expressão e intuição oratória, notadamente quando tomava umas cachaças.
Por isso, adorava ser o locutor da amplificadora local, onde a sua voz agradável consagrara o bordão “... senhoras e senhores ouvintes, pontualmente, seis horas. É a hora do Ângelus, e com esse prefixo musical, a difusora a Voz do Cariri – a sua D.V.C. -, acionando modernos equipamentos e potentes alto-falantes, transmite para toda a cidade e interior dos lares, as mais belas canções e os acontecimentos palpitantes da nossa comunidade. Na locução, Erivan e no controle de som, Francisco Pena!”
E ele tocava a vida, noticiando pelo microfone, aniversários, falecimentos, comerciais e propaganda política. Às vezes, surpreendiam as edições extras da D.V.C., prenunciadas pela “marcha fúnebre”, de Chopin, se alguém importante falecia, ou por uma melodia alegre em datas festivas familiares.
No entanto, ao se exceder na bebida, às vezes se atrapalhava. Entrou para o folclore local, a vez em que, bastante embriagado, ao anunciar o aniversário de uma criança, sobre o fundo musical “hoje é dia do seu aniversário, parabéns, parabéns. Fazem votos que vás ao centenário, os amigos sinceros que tens...” trocou o pai pela mãe, e disse solenemente “hoje, belíssimo dia, é o aniversário natalício do interessante garotinho Fernando Carlos. Nessa efeméride, seu pai, Cecília da Silva e a sua mãe, Chico da Silva, lhe oferecem esta linda melodia como prova de carinho e amizade.”
Porém, o que o fazia ainda mais feliz era discursar presencialmente e de improviso em comemorações ou fazer uma família inteira chorar, falando à beira do túmulo quando do sepultamento de alguém muito estimado.
Enquanto isso, a cidade seguia sua rotina monótona, mas violência e vingança sempre estiveram no ar e vez por outra sacudiam o lugarejo. Crimes de pistolagem, feminicídio, enforcamento, traição política, infidelidades conjugais e a expectativa por um ajuste de contas que viria cedo ou tarde, preenchiam o imaginário popular.
Para sempre lembrada, foi a briga entre três rapazes acontecida há mais de vinte anos. Antes, amigos e companheiros, uma discussão banal culminou com a morte estúpida de um e feroz inimizade entre as famílias. Depois, morreram os outros dois, e nos filhos de um deles, desde a tenra infância, plantou-se a maldição de que alguém mais deveria morrer, pelo simples parentesco com um dos mortos.
Assim, muitos anos depois, um senhor idoso – Emérson Menezes de Lucena - foi surpreendido por um jovem que, a sangue frio, lhe disparou vários tiros, numa morte que consternou a cidade.
No cemitério lotado, à beira do túmulo, Erivan, muito comovido, exaltava as qualidades do falecido, porém completamente embriagado, trocou o seu nome falando “que nessa tarde sombria, triste e pesarosa, quando a Porta do Cariri se despede do querido Emérson Fernandes de Oliveira, vítima de uma violência tão covarde...”
Ao ouvir essas palavras, outro Emérson, temido e odiado, o interrompeu bruscamente: “o que é isso, Vanzim, eu tou vivo aqui, bem atrás de você, não me mate não!” Por alguns segundos, tristeza e choro deram lugar a uma risada discreta e abafada, mas refeito o silêncio, veio do caixão uma sonora gargalhada macabra.
A multidão debandou em disparada e deixou sozinho, “Seu” Corrumbeque. O velho coveiro, benzeu-se três vezes, depressa sepultou o cadáver e por muito tempo não quis enterrar mais ninguém.

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(*) Dr Demóstenes Ribeiro, médico-cardiologista, natural de Missão Velha, com atuação profissional e residência em Fortaleza-CE.





sábado, 4 de janeiro de 2020

A INDESEJÁVEL VOLTA DOS "XERIFES" DO MUNDO - José Nilton Mariano Saraiva


Não se constitui nenhum segredo que os Estados Unidos da América já há um certo tempo passam por sérias dificuldades no tocante a fontes energéticas, principalmente à utilização do petróleo.

Mas que, mesmo e apesar de enfrentar um corrosivo, desgastante e avassalador processo de decadência econômico-produtiva, se nos apresenta (ainda) como a maior potência do mundo em termos técnico-científico e bélico, embora a China e Rússia já “funguem” em seu cangote de forma ostensiva e ameaçadora.

Mas, como a “fonte” que sustenta tudo isso - suas reservas petrolíferas - rapidamente se exaurem em função da “farra” e mau uso durante décadas (seu consumo interno sempre se manteve nas alturas), sem que se lhes apresentem condições de diminuí-lo ou haja qualquer outra fonte alternativa no médio prazo, há, sim, a possibilidade iminente de um “stop” da atividade produtiva do próprio país, dentro de certa brevidade.

Portanto, pra que se mantenha a máquina em funcionamento há uma imperiosa necessidade e um premente desafio de buscar, encontrar, extrair e até “roubar” petróleo, onde houver petróleo abundante e em excesso (leia-se Oriente Médio, preferencialmente, e Brasil, Venezuela dentre outros), senão o país mais poderoso do mundo inexoravelmente irá à lona, restará nocauteado.

Para consecução de tal mister, uma das mais eficientes armas utilizadas até aqui tem sido a distorção de informações (tal qual a utilizada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial), propagadas por uma mídia corrupta, amestrada e dócil, que tem papel preponderante na fixação do uso de certos métodos heterodoxos de “convencimento”, objetivando sejam atropelados ou aniquilados aqueles que se lhes postarem à frente, ou, até, os que ousem contestá-los ou confrontá-los (desde quando, por exemplo, os americanos respeitam fóruns coletivos internacionais tipo a OTAN, ONU, G-8, G-20 e tal, quando resolvem que têm de intervir mundo afora ???).

Assim, nada mais conveniente e apropriado (pra eles, americanos) que se autoproclamarem e tentarem difundir e manter o galhardão de “XERIFES” do mundo, defensores da raça humana e dos bons costumes, protetores dos desvalidos, última reserva moral do planeta, solução para todos os males dos terráqueos, e por aí vai, mesmo que a sua belicista prática diária se contraponha à teoria.

Necessário, para tanto, a provocação e manutenção infindável de um “conflitozinho” básico com um país periférico qualquer (contanto que abarrotado de petróleo) a fim de que, quando a coisa apertar e se tornar necessário, possam descredenciá-lo, jogá-lo às feras, pô-lo contra o resto do mundo, invadi-lo e, assim, tomar de conta das suas portentosas reservas minerais.

Afinal, quem não lembra do recentemente ocorrido no Iraque, quando os "gringos", sob o fajuto e inconsistente argumento da existência de letais armas químicas com potencial de destruir a própria humanidade, acionaram sua mortífera e poderosa força bélica com o objetivo único e exclusivo de apoderar-se do petróleo iraquiano, como realmente aconteceu (desde o começo desconfiava-se, e posteriormente se comprovou tratar-se de uma deslavada mentira o argumento das armas químicas).

Para tanto e sem nenhum escrúpulo, anunciaram e difundiram além mares a intenção de “caçar”, “julgar” e “assassinar” em tempo recorde o ditador-presidente Saddam Hussein. O que foi feito de pronto e sem maiores tergiversações (na forca e com transmissão ao vivo e a cores para todo o planeta). .

Agora, aqui pra nós, alguém tem dúvida que aquilo ali foi um verdadeiro assassinato, mesmo se sabendo tratar-se de um ditadorzinho de quinta categoria ??? Que aquilo foi uma descarada “interferência indevida” em assuntos internos de uma nação independente ???

Fato é que, como não houve maiores protestos ou reações (à época), hoje os “xerifes” do mundo se preparam para tomar de conta das infindáveis jazidas petrolíferas do vizinho Irã, mesmo que para tanto tenham que provocar mais uma carnificina num país distante; para tanto, e provocativamente, nada como assassinar covardemente (via aérea) uma das figuras mais queridas dos iranianos, o general Qasem Soleimani, segundo nome na hierarquia daquele país, sob o argumento de que ele estaria a se preparar para assassinar americanos por todo o mundo (embora nenhuma evidência haja, sobre).

Resta-nos a pergunta que não quer calar: se são tão valentes e protetores da humanidade, por qual razão não se metem com a Rússia, que se acha assentada e também “lambuzada” num mar de petróleo ??? Será que o arsenal nuclear russo os assusta tanto ???

Teremos um outro 11 de setembro ???

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Post Scrioptum:

Quanto ao Brasil, especificamente, não foi preciso qualquer conflito, nenhuma arenga, sequer um buchicho, já que o tosco e desequilibrado que está presidente da república (aquele que bate continência para a bandeira americana e é capaz de declarar publicamente, num inglês macarrônico “I love you, Trump”) entregou o nosso pre-sal, de mão beijada, aos gringos.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

CONFIDÊNCIAS NA MADRUGADA - José Nilton Mariano Saraiva

Desde tempos imemoriais criamos o saudável hábito (ou seria pura insegurança ???) de, ao sentar para tentar redigir alguma coisa, termos ao lado um velho companheiro de luta: o dicionário.
Assim, logo após o seu lançamento no Brasil, em 2001, adquirimos o Dicionário Houaiss (embora já tivéssemos o do Aurélio) por entender tratar-se de uma grande, necessária e imprescindível obra.
Para que tenhamos ideia da sua grandeza, basta atentar que, na sua elaboração, nada menos que 200 (duzentos) lexicógrafos e especialistas no mister participaram da empreitada, e que em suas 2.924 páginas o “livrão” nos traz cerca de 228.500 verbetes, 376.500 acepções, 415.500 sinônimos, 26.400 antônimos e 57.000 palavras arcaicas, além de um sem número de consistentes informações técnicas, evidentemente que versando sobre a Língua Portuguesa (daí também ter sido lançado em Portugal). Sem qualquer demérito ao “Dicionário Aurélio”, o Houaiss lhe dá de goleada. Temo-lo, pois, como um companheiro inseparável, sempre que – como agora – queremos colocar o preto no branco, tentar passar alguma coisa pra você, aí do outro lado da telinha.
Pois foi exatamente numa dessas íntimas trocas de “confidências na madrugada” (vocês também conversam com o Dicionário, no silêncio da noite ???) que a porca torceu o rabo: a palavra que procurávamos (que não nos recordamos no momento), começava com a letra “P”, cujo vastíssimo banco de dados se encontra relacionado entre as páginas 2.099 a 2.340 do Houaiss, para onde nos dirigimos.
Uma primeira pesquisa e a surpresa desagradável: nadica de nada da dita-cuja. Pacientemente, creditamos o seu “não encontro” à zonzeira típica da chegada do sono àquela hora da madrugada, razão porque nos dirigimos à cozinha para bebericar um gole d’agua e “lavar a fuça”, objetivando acordar de vez.
Numa nova tentativa, nada da palavra. Ficamos um tanto quanto “baratinados” e murmuramos cá com os nossos botões: como é que pode, um “bichão” desse tamanho (2924 páginas) não ter uma simplória palavra dessa. E assim fomos nos deitar com a pulga atrás da orelha.
Pela manhã, já descansado e alimentado, partimos pra encarar a fera de frente, convictos que dessa vez ela não nos escaparia. Ledo engano. A tal palavra, definitivamente, não constava do estupendo Houaiss. Inconformados, tomamos então uma decisão radical: como que a procurar uma agulha no palheiro, sofregamente conferimos, uma a uma, da página número 01 à página número 2.924, na perspectiva da falta de alguma página.
Xeque-mate.
Encontramos, não só no espaço dedicado à letra “P”, mas, também, em mais duas outras letras (N e O ???), quatro ou cinco páginas faltando (em cada uma das letras) e, em seu lugar, páginas repetidas, num imperdoável erro de impressão (ou organização, ajuntamento e por aí vai) para uma obra de tamanho vulto.
Imediatamente acionamos o site ao qual o havíamos solicitado via Internet (Livraria Saraiva) e fomos orientados a devolver o Dicionário, via sedex (evidentemente que sem custos) e, semanas depois, recebemos um outro exemplar de volta (e aí já completo), com o agradecimento da editora responsável (Objetiva), que alegou que no “lote” em que se encontrava o exemplar que adquirimos originalmente teria havido o tal problema (repetição e falta de páginas).
Se, por conta disso, houve um “recall” a posteriori (solicitação de devolução de um lote ou de uma linha inteira de produtos, feita pelo responsável pela impressão do mesmo), não sabemos e nem nos foi dado conhecimento (mas, aqui pra nós, se você chegou a adquirir um Dicionário Houaiss, confira pelo menos a letra “P” à procura de páginas repetidas e consequentemente à falta das que deveriam ali constar, ok ??? ).
No mais, tirante esse detalhe (atípico), vale a pena investir no Houaiss (e como vale).




quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

AINDA SOBRE O "DESASTRE AMBIENTAL" NA AMAZÔNIA - José Nilton Mariano Saraiva


Durante muitos anos, o desenvolvimento econômico, decorrente da Revolução Industrial, sobrepôs-se e impediu que os problemas ambientais fossem considerados seriamente, como deveriam.

A poluição e os negativos impactos ambientais do desenvolvimento desordenado eram visíveis, mas, ante os benefícios proporcionados pelo “progresso”, eram justificados irresponsavelmente como um “mal necessário”, algo com que deveríamos conviver e nos resignar, ad eternum.

Só nos anos recentes, após a descoberta da camada de ozônio, do efeito estufa e do perigoso aquecimento global, a racionalidade foi posta em prática e o conceito mudou radicalmente: proteger o meio ambiente não significa impedir o progresso, bem como não se pode admitir um desenvolvimento predatório e insustentável.

Assim, urge que reconheçamos ser fundamental a conscientização coletiva da necessidade de se promover o desenvolvimento em harmonia com o meio ambiente, que é o que muitos de nós tentamos fazer, individualmente, na procura de uma vida saudável e duradoura.

Para tanto, é por demais louvável a ideia de defesa intransigente da adoção do desenvolvimento sustentável, que tomou corpo e cresceu assustadoramente nas últimas décadas, norteando a ação dos órgãos públicos encarregados da defesa do meio ambiente, em todo o mundo.

No caso do Brasil, especificamente, a própria Constituição Federal estabelece que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, porquanto é o homem, o ser humano, a pessoa, não só como indivíduo, mas como humanidade e como sujeito, a razão direta e prioritária do benefício de um meio ambiente sadio e autossustentável.

Pena que no atual governo do brucutu Bolsonaro tudo isso tenha sido deixado de lado, conforme constatamos com as queimadas recentes na Amazônia, sem que o Governo haja tomado qualquer providência para obstá-las.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O PODER E A FORÇA DA TV - José Nilton Mariano Saraiva


Basta um rápido click no controle e lá estão elas: simpáticas, normalmente bem afeiçoadas, impecavelmente “produzidas”, sorriso no rosto e dicção perfeita. São as apresentadoras dos telejornais de certa emissora de TV, aqui de Fortaleza.

De princípio, um tanto quanto tímidas, aos poucos vão pegando os “macetes” da profissão e começam a se soltar, findando, em pouco tempo, por nos apresentar não só a beleza física, mas também um trabalho de boa qualidade, competência e, às vezes,  corajoso (uma delas, recentemente, numa reportagem sobre o circo, se meteu dentro de um daqueles “globo da morte” e ficou ali, estática, enquanto duas possantes motos zanzavam a toda velocidade em torno dela).

Um detalhe, no entanto, as caracteriza (pelo menos parte delas) e não é preciso ser tão observador pra constatar: apesar de todo o treinamento e técnica que adquiriram a fim de se habilitarem a se postar diante das câmaras (que inclui até a forma como se deve empunhar um microfone), com a diária exposição midiática não mais que de repente, elas não se seguram ou “esquecem” momentaneamente tudo que aprenderam e fazem questão de orgulhosamente nos mostrar a consequência e produto do trabalho: uma “argola” no dedo.

De ouro puro, normalmente grossa e polida o suficiente pra ser visualizada a quilômetros de distância, enfiada no dedo anular da mão direita (a que segura o microfone), como a nos anunciar: “AQUI, BICHO, TÔ NOIVA”, VIU ???

A coisa é tão séria que, recentemente, uma delas chegou a convencer o próprio “chefe” a comparecer ao programa esportivo que apresenta, a fim que anunciasse ao vivo e a cores que ela estava noiva.

O que impressiona, entretanto, é a velocidade com que a tal “argola” transmuta-se da mão direita pra a mão esquerda e a “necessidade imperiosa” que elas sentem de – mesmo  destras – empunharem o tal do microfone agora com a mão esquerda, como a nos anunciar (num silêncio ensurdecedor): “OLHA AÍ, CARA, CASEI, SACOU, ???”.

Mas, como o número de fãs é expressivo e o assédio certamente que idem, de repente lá estão elas no vídeo trocando INCESSANTEMENTE, até de forma acintosa, o microfone de mãos, como se fizessem questão de mostrá-las agora sem nenhuma “argola”, só nos faltando gritar: “E AÍ, BONITÃO, TÔ LIVRE, PODE CHEGAR JUNTO”. 

E como a vida continua, dentro de pouco tempo a história recomeça numa velocidade impressionante: a “argola” na mão direita, transferência para a mão esquerda e, de repente... tomou doril, a “argola” sumiu.



quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

ANTECIPANDO-SE AO FILME "DOIS PAPAS" - José Nilton Mariano Saraiva


Hoje, o sucesso do momento é o filme “DOIS PAPAS”, que retrata tudo o que expomos no artigo abaixo, anos atrás, nos diversos blogs para os quais colaboramos.
Premonição ???
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Quem conhece um pouco da história da Igreja Católica Apostólica Romana sabe perfeitamente que, por trás dos herméticos, vigiados e protegidos muros do Vaticano, em seus corredores e porões, entre abraços de tamanduá, tapinhas nas costas e falsos sorrisos, vige uma espécie de briga de foice em quarto escuro, na oportunidade em que se tem de escolher um novo Papa; conchavos, corrupção, falsidade, traição, oferecimento de vantagens, tráfico de influência e o escambau são a essência dos encontros cardinalícios quando da escolha do sucessor de Pedro.

O jogo é bruto e pesado (fala-se, inclusive, que João Paulo I – o italiano Luciane – após pouco mais de um mês no trono, teria sido envenenado por discordar do modus operandi vigente).

Assim, no Vaticano nada difere das diversas arenas políticas espalhadas pelo mundo, quando da eleição de mandatários nos mais diversos países. É o tal “componente político” a que tanto aludimos e que na cúpula da Igreja Católica também se faz presente, sim.

Por essa razão (o penoso e desonesto trabalho de chegar lá e as concessões que se tem que ofertar), normalmente quem consegue trata de segurar o bastão até o instante em que “bate as botas”, nem que para tanto tenha que enfrentar constrangimentos mil (conforme nos mostrou o carismático polonês João Paulo II, que, acometido de todo tipo de doença - Parkinson, demência, dificuldade motora, etc), não largou o osso de forma alguma.  

Assim, de certa forma foi surpreendente quando, quase chegando aos 80 anos, o ultraconservador ex-integrante da juventude nazista, o alemão Josepf Ratzinger, conseguiu sucedê-lo.

Só não surpreendeu foi sua postura de alheamento ao que acontecia ao seu entorno, já que os ultrapassados e envelhecidos dogmas da Igreja Católica jamais foram ameaçados: celibato, divórcio, aborto, contrareceptivos, punição de padres pedófilos, alinhamento político do clero com causas sociais e políticas do terceiro mundo, enfim, desafios típicos do contemporâneo foram deixados de lado.

Mais surpreendente, então, foi ele anunciar que iria “se mandar” (renunciar), deixando seu rebanho na orfandade (e de um pai vivo), já que com apenas 08 anos sentado no trono.

E aí, a grande surpresa, a denúncia/revelação “bombástica”, porquanto proferida por alguém que comandava a Igreja Católica até então e, pois, conhecedor profundo das suas entranhas e labirintos: na cúpula da Igreja Católica vige, sim, a "hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar, as atitudes que buscam os aplausos e a aprovação" (ipsis litteris).

Portanto, se nada fez de produtivo durante sua gestão de 08 anos à frente da Igreja Católica Apostólica Romana, o alemão de certa forma se redimiu, ao anunciar aos seus pares, de viva voz, aquilo que todo mundo já desconfiava: no Vaticano, cerne do cristianismo, impera a discórdia, o jogo sujo, a luta (fratricida e desonesta) pelo poder. Enfim, o “componente político”.  


domingo, 22 de dezembro de 2019

"DOIS PAPAS" - o filme - José Nilton Mariano Saraiva


Pode o “fim”, resultar em um “começo” ??? Baseado em fatos reais, o excelente filme “DOIS PAPAS” nos mostra exatamente isso.

Após a morte do carismático Papa polonês João Paulo II, nos requintados e luxuosos salões do Vaticano começa uma luta ferrenha à sua sucessão: de um lado, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, 78 anos (que na juventude militara na tropa nazista de Hitler), e agora tido e havido como um ultraconservador, de posições jurássicas inabaláveis e assumidamente candidato, capaz até de cabalar votos sem nenhum escrúpulo; na oposição, usando de toda a hipocrisia que se possa imaginar, o polêmico cardeal argentino Jorge Bergoglio, 69 anos, (que no passado se aliara à Ditadura dos militares argentinos) que embora declare não pretender concorrer, intimamente batalha para se viabilizar.

Fato é que, só após o quarto escrutínio, emergiu a fumaça branca oriunda da cafona e ultrapassada chaminé do Vaticano, anunciando que um novo Papa fora sagrado. Joseph Ratzinger, o alemão ambicioso, chegara lá.

Desgostoso por entender que a Igreja necessitava de uma outra política, um outro olhar, uma outra atuação, que só ele poderia implementar, Bergoglio resolve voltar à sua Argentina e se dedicar à sua paróquia.

Eis que, durante o papado de Ratzinger (agora rebatizado como Papa Bento XVI), eclodem os cabeludos e incontentáveis escândalos na cúpula do catolicismo: o roubo no Banco do Vaticano, os padres pedófilos, as traições, o abuso sexual na Igreja entre padres e freirasbem como a homossexualidade até então reprimida (talvez em razão do ultrapassado celibato), assim como a persistente condenação ao divórcio, e por aí vai.

Contrário a tudo isso, o populista Bergoglio toma a iniciativa de aposentar-se precocemente (mesmo sem contar com o apoio dos argentinos) e, para tanto, necessário solicitar a autorização do Papa Bento XVI-Ratzinger; endereça-lhe, então, o competente pedido, e é chamado a Roma para uma conversa pessoal com o próprio.

Em lá chegando, durante dois dias, respeitosamente Bergoglio e Ratzinger se reúnem várias vezes e põem a nu suas abissais diferenças, olho no olho, a ponto do Papa lhe confidenciar que não concordava com sua aposentadoriapor uma razão simplória: confidencia-lhe, em primeira mão, que iria renunciar ao papado por não aguentar tanta pressão e pela saúde debilitada (estaria, até, cego do olho esquerdo). E então, incisivamente declara sua intenção de fazê-lo seu sucessor, ao afirmar "Não concordo com nada do que você diz, mas você é aquilo de que a Igreja precisa agora".

Eleito Papa (com o apoio do Papa, lembremo-nos), Bergoglio virou o Papa Francisco e até hoje mantém uma respeitosa amizade com Ratzinger, que, por uma deferência sua (Bergoglio), mora no próprio Vaticano.

Baseado em fatos reais, o excelente filme “DOIS PAPAS” nos mostra que, mesmo no crepúsculo da vida (Ratzinger), há que se ter espaço para o começo de uma amizade respeitosa, apesar de divergências profundas.

O final do filme é fabuloso: “tarado” por futebol (que Ratzinger abominara por toda a vida), Francisco convida-o para assistirem juntos a final da Copa do Mundo (realizada no Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil), entre Alemanha e Argentina. E então, frente a TV, entre goles generosos de cerveja estupidamente geladaopiniões sobre determinados lances do jogo (cada um defendendo a sua seleção), Ratzinger descobre, enfim, que o futebol é realmente “fabuloso”.

Para quem não lembra, a Alemanha ganhou de 1 x 0 (e como o neófito no mister, Ratzinger, vibrou com o gol da sua Alemanha).



sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

MANIPULAÇÃO "GROTESCA" - José Nilton Mariano Saraiva


Lá atrás, no governo Itamar Franco, foi o então supostamente íntegro e sério Ministro da Fazenda, senhor Rubens Ricupero que, flagrado em conversa informal com um dos repórteres globais (Carlos Monfort, seu cunhado) não percebendo que o microfone estava ligado, soltou esta pérola:
"Eu não tenho escrúpulos. Eu acho que é isso mesmo: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".
Claro que teve que “se mandar”, tal o escândalo advindo.
Num segundo momento, no governo do fajuta “príncipe dos sociólogos” (Fernando Henrique Cardoso), quando se pensava que a “arte” de fraudar números na gestão pública houvesse sido obstada, estupefatos tomamos conhecimento que a presidência do Banco do Nordeste fora entregue a um exímio e descarado fraudador de balanços, senhor Byron Queiroz, “expert” em transformar prejuízos em lucros com o simples uso de uma caneta.
Descoberta a fraude grotesca, ainda assim foi absolvido por unanimidade pelos desembargadores de um desses tribunais regionais corruptos existentes no país, por interferência do padrinho famoso (Tasso Jereissati).
Agora, na gestão do comprovadamente despreparado Jair Bolsonaro, só através do rigoroso e ultraconservador jornal britânico, Financial Times (já que a mídia tupiniquim foi cooptada), tomamos conhecimento que o todo poderoso Ministro da Economia, Paulo Guedes (aquele, cujo única referência maior é a sua atuação deletéria no governo chileno do ditador Augusto Pinochet) apresentou números flagrantemente manipulados no tocante à situação econômica atual do Brasil, daí a humilhante manchete:
Falha nos dados econômicos brasileiros desperta preocupações entre analistas”.
Pego no flagra e sem ter justificativa alguma a apresentar, de pronto o Ministério da Economia tratou de apressadamente “revisar” os números fraudulentos das exportações brasileiras, pela segunda vez em menos de uma semana, deixando no ar, dentre outras, as seguintes dúvidas: 1) desde quando, sob Bolsonaro, os balanços brasileiros são “martelados” irresponsavelmente, a fim de escamotear a realidade do país; 2) até quando a mídia e especialistas brasileiros hão de aceitar passivamente os arroubos do charlatão Paulo Guedes e sua equipe, sem qualquer questionamento; 3) como fica a confiança e credibilidade do país ante a comunidade financeira internacional, já que o “engano” verificado em um só mês (novembro/2019) foi de “irrisórios” US$ 3,8 bilhões (de dólares, é bom não esquecer, e em um só mês).
Instado a explicar-se, o Ministério da Economia disse que tal erro foi causado por uma “falha” em registrar um grande número de declarações de exportadores nos últimos três meses, e que as exportações em setembro e outubro também foram sub-notificadas em US $ 1,37 bilhão e US $ 1,35 bilhão respectivamente.
Fato é que, ao receber do ignorante e abobalhado chefe “carta branca” para atuar livremente em todos os setores da administração pública (apesar do seu histórico medíocre como economista) Paulo Guedes é aquele tipo que não tem nenhum escrúpulo ou mesmo respeito por quem quer que seja, porquanto convicto servo do “deus-mercado”.
E como sabemos, o “deus-mercado” tem ojeriza a pretos, pobres e putas, priorizando, sim, os rentistas de plantão (o próprio Paulo Guedes atua com desembaraço no segmento).











sexta-feira, 29 de novembro de 2019

A "SUPREMA" DESMORALIZAÇÃO DO "SUPREMO" - José Nilton Mariano Saraiva


Em “N” oportunidades destacamos, aqui mesmo neste espaço (e nos demais blogs para os quais colaboramos), que ao chancelar todas as absurdas e cabeludas irregularidades perpetradas pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro, insertas nos processos abrigados na tal Operação Lava Jato, os integrantes do Supremo Tribunal Federal fatalmente “se cobrariam” mais à frente, porquanto a tendência natural seria o surgimento de uma espécie de “ciumeira” entre seus integrantes e os “lavajateiros”, no tocante ao “poder de mando” (ou no “quem manda aqui nessa porra”), em questões essenciais do mundo jurídico.
E a razão era simplória: malandramente desfraldando uma falsa bandeira de combate sem tréguas à corrupção (quando esta se abrigava no seio da própria Lava Jato), Sérgio Moro (e quadrilha) logo ganharam o apoio de boa parte da população e, sem nenhum constrangimento, avançaram feito um trator desgovernado sobre o ordenamento jurídico nacional, pouco se importando com a constitucionalidade ou não dos seus atos. Tanto é, que um desses iluminados togados chegou ao cúmulo de afirmar que a tal Lava Jato era uma operação “excepcional” e que, por isso, mereceria um tratamento “excepcional” (mesmo que estuprando diuturnamente nossa Carta Maior, reconheceu na oportunidade).
Tanto fizeram, tanto transgrediram, tanto desrespeitaram, tanto abusaram da leniência do Supremo Tribunal Federal (à época não houve qualquer reação daquela Corte Maior), que, agora, os integrantes do Tribunal Regional Federal 4 (TRF4), de Porto Alegre, uma espécie de “puxadinho” (revisor) dos processos oriundos da gangue de Curitiba, resolveu simplesmente desconsiderar uma “ainda quente” decisão do STF, no tocante ao necessário respeito à PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (até o trânsito em julgado), e voltaram a condenar o ex-presidente Lula da Silva sem que o processo haja chegado aos “finalmentes” (se não for obstada tal decisão, definitivamente ficará caracterizada a “suprema desmoralização do supremo”).
Para tanto, o relator do TRF4, João Gebran Neto (amigo íntimo de Sérgio Moro), chegou ao absurdo de afirmar em sua sentença sobre o sítio de Atibaia, frequentado pelo ex-presidente, que... “não é de fundamental importância a propriedade formal do ex-presidente Lula e material do Fernando Bittar, ou material de Lula e formal de Bittar. O que me parece relevante é que o presidente Lula usou o imóvel”.
A propósito, no longínquo 28.08.2016 (3 anos e 3 meses atrás, portanto), ante as “convicções” e “ilações” (sem provas) de Sérgio Moro e sua gangue, já questionávamos em nossas postagens sobre a (des)necessidade da existência de “cartórios de imóveis”, porquanto os “registros” por eles emitidos nada valiam, de acordo com os mafiosos de Curitiba/Rio Grande do Sul.
Se alguém tem alguma dúvida sobre o que àquela época antecipávamos, confira abaixo:


domingo, 28 de agosto de 2016
"CARTÓRIOS", PARA QUÊ ??? - José Nílton Mariano Saraiva

Na antiguidade, “cartórios de registro de imóveis” eram responsáveis por emitir documentos de fé pública, atestatórios da legalidade e da certeza de que qualquer mortal comum era, sim, proprietário legítimo de um dado imóvel, sobre o qual exerceria plenos e totais poderes.

Assim, o ato de compra, venda ou simples aquiescência em ser fiador de alguém numa transação imobiliária de aluguel, só se realizaria ou validaria se o “cartório de registro de imóveis” emitisse o competente “registro” comprobatório da “propriedade” do referido bem.

Como, entretanto, vivemos outros tempos, onde um juizeco de primeira instância (Sérgio Moro) estupra diuturnamente a Constituição Federal, contando com a omissão e passividade criminosa do próprio Supremo Tribunal Federal, isso já não é possível (na verdade, o “ex-guardião” da nossa Carta Maior acoelhou-se, vergonhosamente abriu as pernas e se deixou usar; tanto que a “agenda” do STF quem determina é o Moro, o ritmo da dança é o Moro que impõe).

Assim, se você aí do outro lado da telinha acha é o “proprietário” do apartamento, casa ou sítio que adquiriu depois de “ralar” muito, de economizar trocados anos e anos até, finalmente, poder adquirir e quitar seu imóvel, é bom tirar o cavalinho da chuva; o juizeco Sérgio Moro e seus raivosos procuradorezinhos de Curitiba, pode muito bem decidir que não, que na realidade o “proprietário” é uma outra pessoa, que você talvez nem conheça (estamos TEMERosos, a respeito).

Em São Paulo, por exemplo, os senhores Fernando Bittar e Jonas Suassuna estão na iminência de perder um sítio adquirido anos atrás e devidamente registrado no cartório de registro de imóveis competente (e o “registro” de propriedade foi exibido publicamente), simplesmente porque o juiz Sérgio Moro “cismou” que o real dono é o ex-presidente Lula da Silva e sua mulher Marisa, que o frequentam com assiduidade, a convite dos donos. Ou seja, o documento emitido pelo cartório competente não tem nenhuma validade, é falso, irrelevante, não condiz com a realidade. O que vale é o que “pensa” Sérgio Moro, mesmo que não tenha nenhum documento sobre, a fim de comprovar suas ilações (bom lembrar, que o mesmo modus operandi foi usado para atribuir a propriedade de um apartamento na praia de Guarujá ao ex-presidente, embora não haja nenhum registro, a respeito e, agora, tenha surgido a proprietária do próprio).

Fato é que o golpe perpetrado por políticos corruptos e comprovadamente ladrões, visando destituir uma presidenta democraticamente eleita com quase 55 milhões de votos, contou com a inestimável e decisiva colaboração dos “togados” do Supremo Tribunal Federal, que desde o começo chancelaram as arbitrariedades patrocinadas por uma juizeco-partidário e que tem como objetivo maior inviabilizar a candidatura invencível de Lula da Silva, em 2018.

Agora, “dose” é você ter que aguentar um Aécio Neves (atolado até o pescoço nas falcatruas de Furnas e Petrobras), o Cássio “procrastinação” Cunha Lima (que foi cassado quando governador da Paraíba, por roubo), um Agripino Maia (também comprovadamente ladrão do erário), um Aloisio “300 mil” Nunes (que recebeu dinheiro do assalto à Petrobras), um Michel Temer (que atuou com desembaraço - $$$ - nas “docas” de Santos), um Ronaldo Caiado (acusado de manter empregados em regime de escravidão) e por aí afora, virem a público para atacar uma pessoa honrada como a presidenta Dilma Roussef.

Alfim, a constatação horripilante: “cartórios de registro de imóveis” hoje são desnecessários, já eram, não têm mais qualquer validade e não mais merecem fé pública. O que vale agora é o que o juiz Sérgio Moro pensa e determina (e tudo por culpa do Supremo Tribunal Federal).


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Voltando aos dias atuais, um questionamento pra lá de pertinente: você tem certeza que o apartamento, casa, sítio, fazenda ou uma birosca qualquer que você haja adquirido com tanto esforço, é realmente de sua propriedade ??? O Sérgio Moro sabe que você pensa assim ???





domingo, 3 de novembro de 2019

EU VOU TIRAR VOCÊ DESSE LUGAR – José Nilton Mariano Saraiva


Se, realmente, "recordar é viver", aqui (em repeteco) a nossa homenagem a uma mulher que conhecemos numa das "zonas/puteiros/cabarés" da vida, e pela qual "arriamos" os quatro pneus, literalmente.
A lamentar, não termos tido a oportunidade de cumprir o que a ela prometemos, solenemente: "eu vou tirar você desse lugar" (hoje magistralmente relatada pelo cantor brega Odair José - vide link abaixo).
Ficou a saudade imorredoura (ou seria a famosa e sofrida "dor de corno" ???)
Eu Vou Tirar Você Desse Lugar (Odair José)

Olha, a primeira vez que eu estive aqui
Foi só pra me distrair
Eu vim em busca do amor

Olha, foi então que eu lhe conheci
Naquela noite fria, em seus braços
Meus problemas esqueci

Olha, a segunda vez que eu estive aqui
Já não foi pra distrair
Eu senti saudades de você

Olha, eu precisei do seu carinho
Pois eu me sentia tão sozinho
E já não podia mais lhe esquecer

Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não me interessa o que os outros vão pensar

Eu sei que você tem medo de não dar certo
Pensa que o passado vai estar sempre perto
E que um dia eu posso me arrepender

Eu quero que você não pense em nada triste
Pois quando o amor existe
Não existe tempo pra sofrer

Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não me interessa o que os outros vão pensar

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"ONDE ANDA VOCÊ, MARIA DE FÁTIMA ??? – José Nilton Mariano Saraiva


Em Fortaleza, num desses ambientes onde se reúnem mulheres a serem cortejadas, ela era unanimidade e compreensivelmente para ela convergiam os olhares, as fantasias e os corações daqueles alegres e falantes marmanjos, todos já “encharcados” de álcool até o gogó.
 
Assim, presumindo que com o nosso estilo discreto e reflexivo dificilmente conseguiríamos algo ante tantas feras de porte atlético privilegiado e verborragia (teoricamente) envolvente, preferimos ficar na nossa, observando o ambiente, curtindo o som e “deglutindo” uma geladinha.
 
De repente, às nossas costas, aquele toque suave no ombro; e, ao virarmos pra conferir, deparamo-nos com o mais belo (embora discreto) sorriso que alguém possa imaginar, seguido da sussurrada e inolvidável indagação: “E você, não quer ficar comigo ???”.
 
Foi assim que conhecemos a meiga Maria de Fátima.

Altura mediana, clara, cabelos castanhos, olhos discretamente ao estilo japonês, nariz perfeito, dentes impecavelmente alvos, lábios carnudos e... “cheinha”. Já no quarto, ao desnudar-se, uma arrebatadora e deslumbrante visão, digna de ser retratada por um desses pintores clássicos e posta num pedestal pra ser admirada por gregos e troianos: seios medianos e rijos, cintura fina, bunda belíssima, coxas firmes e pra lá de torneadas. Enfim, tudo no lugar. Uma deusa da perfeição.
 
Carinhosa, fala mansa, conversa aprumada, de pronto bateu aquela sinergia entre nós. A ponto de, ainda na cama, lhe indagarmos (com sinceridade d’alma) a “razão” ou o “por que” de uma mulher tão bela e educada frequentar um local daqueles; de onde ela era; de qual família e por aí vai. 

Surpresa, ela afirmou que era a primeira vez que alguém fazia tais tipos de perguntas pra ela, que nunca alguém procurara saber da sua intimidade, que, enfim, encontrara alguém “diferente” (e a prova disso é que não aceitou receber nada, ao final, como era praxe naqueles idos tempos).
 
Pra encurtar a conversa: na segunda vez que a procuramos ela simplesmente largou tudo, sob protestos da cafetina, e fomos curtir a vida em pleno dia, terminando por encontrar abrigo em nosso apartamento de solteiro (onde ela aprendeu, a partir de então e durante meses, a dormir “empacotada” em nossas camisas de seda, de mangas longas, que achava... ”gostosas”).
 
Em represália, fomos proibidos pela "alcoviteira" de adentrar o tal ambiente, já que os “seguranças” tinham ordem expressa de “baixar a cacete”, se se tornasse necessário; então, conjuntamente, arquitetamos que bastariam dois toques na buzina pra que ela “se mandasse” dali. E assim foi feito, a partir de então.

Foram meses de felicidade plena, durante os quais frequentávamos, de mãos dadas e sorriso no rosto, qualquer lugar que “desse na telha”, sem nenhum constrangimento de encontrar algum desses barões que com ela houvesse se relacionado naquele ambiente ("seleto" e frequentado por homens de realce da sociedade).
 
Mas...

De repente, a meiga Maria de Fátima sumiu, evaporou-se, tomou Doril, escafedeu-se, literalmente deixando-nos na mais completa orfandade (deve ter havido algo de sério e grave, que jamais saberemos).
 
Hoje, apesar de casado (em processo de separação) e com dois belos filhos já adultos, tal qual os William Bonner da vida não cansamos de (mentalmente) perguntar: onde anda você, Maria de Fátima ???

Quantas saudades…