por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 17 de julho de 2017

O ADEUS AO "JUIZ NATURAL" - José Nílton Mariano Saraiva

Antecipadamente, até a “velhinha de Taubaté” já sabia que Sérgio Moro condenaria Lula da Silva na pendenga em que se transformou o caso do triplex. E por uma razão simplória: desde o surgimento da tal Operação Lava Jato o “objeto de desejo” daquele assanhado juiz era acabar com o PT e impossibilitar que a sua estrela maior tivesse (ou tenha) condição de concorrer nas próximas eleições presidenciais de 2018, quando, certamente, terá oportunidade de voltar ao poder nos braços do povo (conforme as pesquisas indicam).


Só que o “ranço” se mostrou tão arraigado que, depois de chafurdar por mais de três anos a vida de Lula da Silva e familiares e não encontrar nenhuma prova cabal (nenhuma, é bom repetir), Sérgio Moro (auxiliado por dezenas de procuradores arrogantes) viu-se enroscado e vítima da armadilha que ele mesmo engendrou: assim, independentemente da existência de qualquer prova, teria que condenar o ex-presidente, porque, não o fazendo, se desmoralizaria perante a opinião pública.


Para tanto, ancorado nas “lunáticas convicções” do pastor-evangélico-procurador Deltan Dellagnol (aquele do Power Point) e no depoimento informal (onde não há a obrigação do denunciante de falar a verdade ou apresentar provas) de um condenado pela justiça, Léo Pinheiro (em busca de redução da pena), só restou ao juiz Sérgio Moro “encher linguiça” pra preencher mais de duzentas páginas, sem, no entanto, apresentar uma única prova contundente de algum ilícito do ex-presidente. Um fiasco. Quem quiser conferir é só se debruçar sobre o calhamaço, pra constatar.


Fato é que, dada a fragilidade e inconsistência da peça acusatória, Sérgio Moro sequer teve coragem (como o fez com muitos outros. impunemente) de decretar a prisão de Lula da Silva, transferindo a “batata quente” (responsabilidade) para os integrantes do Tribunal Regional Federal, 4ª turma, em Porto Alegre.


Nesse ínterim, obedecendo ao rito processual, em pouco mais de simplórias 60 páginas, a defesa do ex-presidente encaminhou ao próprio juiz curitibano a peça “embargos de declaração”, que é um instrumento jurídico-legal usado para solicitar ao juiz revisão de pontos da sentença; e ali (é só ter coragem de ler), literalmente é demolida”, ponto a ponto, a sentença proferida por Moro (só que ele, naturalmente, recusará a argumentação usada).


Assim, como também cabe recurso do ex-presidente ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, se não prevalecer o “corporativismo” exacerbado do Judiciário as chances de reversão ou mesmo anulação da pena são as mais promissoras possíveis, é o que atestam juristas de escol, face a fragilidade da peça acusatória apresentada pela “República de Curitiba”.


Alfim, uma lamentável constatação: a “esculhambação” jurídica vigente hoje no país (onde um juiz de primeira instância estupra impunemente a Constituição Federal, diuturnamente), deve ser creditada aos prolixos e preguiçosos membros do Supremo Tribunal Federal, que passivamente assistiram Sérgio Moro assumir o monopólio de tudo que se referisse a corrupção, independentemente de onde ocorra. Em suma, o princípio do “juiz natural” foi pro beleléu e Moro reina absoluto como o único juiz do Brasil (determinando, inclusive, a agenda do sonolento STF).


Que merda !!!







segunda-feira, 3 de julho de 2017

ADEUS, OÁSIS (Dr. Demóstenes Ribeiro)


Ninguém deveria errar duas vezes, eu jamais me perdoarei por isso, mas o mundo não é como a gente quer. No entanto, foram épocas encantadoras, inesquecíveis e de magia sem igual. Se você viveu algo parecido certamente me compreenderá.

A primeira vez, em São Paulo, saindo da adolescência, eu fazia um curso de História e ele, Direito Internacional. Quantas vezes fugindo do frio e tomando uísque barato, ouvimos jazz na “Opus 2004,” assistimos filme-cabeça no “Belas Artes” ou descemos a Rebouças num fusca azul, a caminho do Embu, para a privacidade de um motel.

Lá fora o mundo era sombrio. A ditadura militar amedrontava, mataram o Herzog e apareceu aquela militante carioca muito mais bonita do que eu. Quando ela se exilou em Portugal, Rodolfo foi atrás. Tanta légua, tanto mar, era abril, a Revolução dos Cravos e ele ficou por lá. Quase morri. Voltei pra Fortaleza e decidi não me envolver com outra pessoa nunca mais.

O tempo passava, eu vivia para o colégio e para os meus pais, para os sobrinhos e para o trabalho na pastoral. Feliz dessa maneira, se é possível ser assim. Chegou o aniversário da diretora e decidiram comemorar no “Oásis.” Eu não queria ir, pra mim aquele era um lugar de desespero, de homens tristes e de mulheres complicadas. Mas, os “Brasas” tocaram uma balada, os nossos olhares se cruzaram, o anjo do amor desceu sobre mim e Fortaleza ficou a nossos pés.

No Dragão do Mar ou na Praia do Futuro, no Iguatemi ou no Zé de Alencar, sob a lua de Iracema ou no sorvete da Beira Mar, foram beijos ardentes e abraços carinhosos, constrangendo a quem nos assistia, e toda a loucura de que a paixão é capaz.

Na minha família ninguém gostou: embora ele morasse sozinho, ainda era casado. Pouco me importava, eu era de novo a adolescente enfeitiçada e deslumbrada vivendo outra vez a primavera dourada. Às vezes, ele era estranho, aparentava distância e temia que nos observassem. Eu pensava que era discrição, receio, ou timidez... Aproximava-se o final do ano, haveria a reunião familiar, nós estaríamos juntos e eu o protegeria como uma fera – que ninguém se atrevesse a maltratá-lo.

Veio o Natal, o Ano Novo, ele não apareceu e eu fiquei sozinha. Preferiu a mulher e as filhas. Então, caiu a ficha e me desesperei. Entrei na igreja aos prantos, arrastada pelo vendaval e desabafei com o padre Renato: minha filha, ele é muito diferente de você. Deus sabe o que faz, quem somos nós pra compreender a vontade do Senhor?

Com o tempo, a paixão desvaneceu e nunca mais o vi. Jamais percebi que fosse mais um solitário e mulherengo, que só pensava em si e que não gostava de ninguém. Parece que eu escapei de uma boa. Voltei à catequese das crianças, às aulas no colégio e redobrei o cuidado com os meus pais. Reencontrei-me comigo mesma. Outro dia me surpreendi sorrindo e o tempo aliviou a minha dor.

Hoje, sem querer, passei em frente ao “Oásis.” Fazia um sol poente e a boate não funciona mais. Está sendo demolida, já quase toda no chão. Eu fechei os olhos, contive o choro e quando o sinal abriu, parti sem rumo, com um aperto no coração.

Acabou a festa, mas a vida continua. Aprendi a costurar, faço artesanato, ontem mesmo paguei o professor de dança e vou passar a noite inteira no Círculo Militar.


Dr.Demóstenes Ribeiro - Cardiologista/Fortaleza-CE)

sábado, 1 de julho de 2017

LICENÇA PARA... ROUBAR E MATAR - José Nílton Mariano Saraiva


Estupefatos, num primeiro momento os brasileiros ouviram o áudio, em rede nacional de TV, onde o Senador-bandido Aécio Neves acerta com o empresário-mafioso Joesley Batista o recebimento de uma propina de R$ 2.000.000,00 em 04 parcelas de R$ 500.000,00 e com um agravante: o emissário-recebedor seria alguém... “que a gente mata ele antes de fazer a delação” (nas palavras do próprio Senador). Ato seguinte, em vídeo estarrecedor, ao vivo e a cores, o “eliminável” emissário (o primo Fred, de confiança, do Senador) é visto recebendo do preposto do empresário uma das parcelas, colocando-a numa mochila e, depois, repassando-a para um segundo emissário do Senador, dentro de um estacionamento, de onde seguiu para Belo Horizonte para a entrega “delivery”. Como se vê, tudo dentro do mais requintado estilo mafioso.

Num segundo momento, atônitos e embasbacados, os brasileiros assistiram, também ao vivo e a cores, as imagens/áudio do homem (ex-deputado Rodrigo Loures) da “estrita confiança” do golpista sem povo e sem voto (Michel Temer), acertando com o mesmo preposto do emissário-mafioso o recebimento da primeira parcela SEMANAL de R$ 500.000,00 (que se repetiria por 20 anos) e, ato seguinte, visto a correr pateticamente pela noite paulistana, carregando uma mala com a bufunfa para ser entregue ao Chefe (Michel Temer).

No calor do momento, e até para dar uma satisfação momentânea à sociedade, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, houve por bem afastar do Senado Federal o bandido Aécio Neves, ao tempo em que lhe impunha uma série de restrições administrativas, numa pseudo atitude moralizadora que mereceu aplausos da população, ao passo que o emissário-presidencial (Rodrigo Loures) foi aquinhoado com a prisão preventiva, objetivando prestar esclarecimento sobre o destinatário da grana recebida.

Tudo fogo de palha. Hoje, no encerramento das atividades semestrais do tal Supremo Tribunal Federal, o ministro Marco Aurélio Melo, em decisão monocrática, não só não atendeu ao Procurador Geral da República (Rodrigo Janot), que houvera solicitado a prisão do senador Aécio Neves, como houve por bem trazê-lo de volta ao Senado Federal (sem restrições), enquanto o mesmo ministro que houvera decretado a prisão de Rodrigo Loures, Edson Fachin, sensibilizado com o apelo da família do meliante, resolve liberá-lo para uma prisão domiciliar (com tornozeleira); aquela, onde o apenado se sente tão à vontade que leva uma vida social das mais ativas (que o diga o tal Pedro Barusco, que mesmo portando a dita-cuja, vive “melando o bico” na orla carioca, conforme já flagrado).

Particularmente, já há vários meses afirmamos neste mesmo espaço, de forma peremptória e definitiva, que a esculhambação jurídica vigente no país à época (e que se deteriorou sobremaneira de lá até cá) deveria ser creditada à omissão e covardia dos integrantes daquela corte, ao permitirem que o juizeco de Curitiba, Sérgio Moro, estuprasse a Constituição Federal diuturnamente, findando por destituir uma Presidenta da República eleita com quase 55 milhões de votos.

É pois, com a chancela do poder mais corrupto da república, o Poder Judiciário, que agora Aécio Neves, Rodrigo Loures, Michel Temer e integrantes da quadrilha que tomou de assalto o poder, estão com uma perigosa licença em mãos. A licença para roubar e matar. Impunemente e sem restrições. Sob o frondoso guarda chuva do STF.

terça-feira, 30 de maio de 2017

OBRIGADO, SENHOR - (Demóstenes Ribeiro)

Obrigado, Senhor! - Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)

Eu ainda não havia nascido quando meu pai morreu afogado, salvando um italiano. E nunca vi a minha mãe adormecida, fosse eu criança ou adolescência afora. Ao me deitar, ela continuava na máquina de costura; raiava o dia e já estava a trabalhar.

Herdei, assim, uma tendência incontrolável de só fazer o bem. Mas, no serviço militar, surpreendeu-me a habilidade em manejar armas. Tiro certeiro, jamais errei um alvo e com os prêmios que eu ganhei, comprei uma pistola com silenciador.

Ao deixar o quartel e voltar para casa, fiquei indignado, pois a vida da minha mãe mudara para pior. Havia o Borges, um grandalhão barrigudo e irresponsável, exigindo dinheiro e a lhe maltratar. Percebi o desespero da coitada em não saber como resolver essa questão.

Aos poucos, descobri os hábitos do vagabundo e onde ele morava. Certa noite, quando ele desceu do ônibus e a rua estava deserta, deixei-o se afastar um pouco e acionei a pistola. Um tiro na cabeça e mais um crime misterioso, apesar dos muitos inimigos que o filho da puta deixara. Um dia, mamãe olhou nos meus olhos e disse, serenamente, Deus lhe pague!

Daí em diante, embora bem de vida, uma dor esquisita na barriga atrapalhava a paz que eu deveria sentir - um sofrimento que se tornava insuportável. Levaram-me à Emergência e a visão da morte se esboçava. Um Professor, cercado de estudantes, me deu uma atenção que eu não esperava. Era úlcera perfurada. Ele me operou e salvou a minha vida. Não tinha como lhe ser grato, exceto o tiro certeiro, o melhor de mim, se algum dia ele precisasse.

Muito tempo depois, as amizades no Exército levaram-me para uma multinacional responsável pela segurança de autoridades. Naquele dia, FHC viria inaugurar o novo hospital e eu estava entre os escalados. Em meio a tanta gente, vislumbrei o Professor. Não era mais o homem vibrante que me curara. Acabrunhado, envelhecido, triste. Não sou doutor, mas ele parecia sofrer de uma doença da alma. Por fim, nos aproximamos.
- Mestre, lembra de mim? O Senhor salvou minha vida, sou Plácido, tiro certeiro, da úlcera perfurada!

- Plácido, como vai, preciso de você, amanhã venha fazer uma revisão.

No dia seguinte, a sós e com as portas fechadas, ele me falou da sua desgraça. O casamento desandara. Foram-se as alianças, o respeito e a amizade. Era vítima de chacotas e não mais conseguia trabalhar. A mulher perdera totalmente a discrição. Às vezes, chegava embriagada. Diziam ter vários amantes, nem o pior dos inimigos faria tanta maldade. Como encarar os pacientes, os estudantes, os colegas, a vida enfim? Você me prometeu, ele repetiu muitas vezes, e sei que não me fará ingratidão.

Descobri toda a rotina da putana. Ela saía do estacionamento de uma igreja e ia rezar num motel. Sem despertar suspeita, como a esperar alguém, eu fiquei por perto. Parou um carro, a outra fez sinal, ela entrou e beijaram-se na boca. A vaca, ainda por cima, era sapato. Anunciei o assalto. Deram-me bolsas, telefones, relógios... Em troca, um tiro em cada cabeça - pistola com silenciador.

Muito rápido, rua quase deserta, fugi no meu carro. Adiante, saquei a placa fria e joguei com as coisas num matagal. As luvas, eu queimei quando cheguei em casa. Após um banho, chamei um rádio-táxi, fui pro aeroporto e embarquei pra Salvador. Um árabe importante chegaria e eu faria parte da segurança.

No hotel, após uma oração, tomava o café da manhã e pensava em minha mãe, quando o celular tocou. A ligação breve, sem muita nitidez, veio de um telefone público. Mas era uma voz conhecida, de novo firme e alegre, dizendo tão somente: obrigado, Senhor !

quinta-feira, 4 de maio de 2017

VALE A PENA LER DE NOVO - José Nílton Mariano Saraiva

segunda-feira, 1 de maio de 2017

IRMÃ GERTRUDES - Demóstenes Ribeiro


Surpreso, ele sofreu um impacto indescritível, quando a mulher, ainda jovem e vestida de freira, entrou de repente e começou a falar:

Vai longe o tempo e sei que pareço ridícula com essa roupa, mas aprendi que só a graça divina traz a qualquer um a razão de viver. Achei o sentido e rezo para que também encontre o seu. Lembra que nos conhecemos na mocidade? O colégio, a faculdade, o movimento estudantil, a invasão da reitoria, como esquecer? Apesar de tudo, vou em frente, caminhando, cantando e seguindo a canção.

Depois, vieram os anos de chumbo e foi cada um pro seu lado. Eu continuei na luta, fui pro Araguaia e entrei na clandestinidade. Quando Geraldo caiu, me transferi pra São Paulo. Morei em favela e fui missionária numa Comunidade Eclesial de Base até fechar-se o cerco e a partida se tornar inevitável.

Em Paris, acolheram-me em um convento. Vivi o drama de Tito e uma vez, morta de saudade, lembrei da “Canção do Exílio” e chorei um temporal. Mas, perdida a batalha, aos poucos, me despontou a fé. Tantos anos depois, estou de volta. Virei a irmã Gertrudes e daí esse hábito.

Agora me diz, por que esse olhar reprovador? Não me faça ser cruel. A sua profissão é como qualquer outra e você ainda não encontrou a razão de viver. Na época da repressão, se revelou um estudante acovardado, refugiado em livros e plantões. Logo depois de formado e ainda hoje, se entrincheirou no trabalho, fugindo sempre, perdido na indecisão. Naquele tempo, dizia que me amava, pensei que tudo daria certo, mas você, assustado, tinha medo que nos vissem. Não era um homem livre e nem sei se algum dia vai se libertar desse egoísmo atroz.

Eu estou suando, mas não sou estúpida nem faço nada errado, você bem sabe. Não vivo enclausurada como lhe parece. A ação é o fundamento da minha ordem. Nada de retiro e contemplação. À minha maneira, como instrumento do Pai, no alívio da dor e da desigualdade, faço a hora e ensino cidadania. Pouco importa os desvios do caminho, o mensalão, o petrolão... Eu encontrei o meu destino e peço a Deus, todos os dias, que lhe ajude a encontrar o seu. Gostei de lhe ver e, vez por outra, relembre aqueles tempos, se não for demais.”

Pálido e confuso, o mundo girou e ele não disse palavra. Abraçou fortemente a irmã Gertrudes, entre lágrimas e corações disparados. E então, fecharam os olhos, deram-se os braços e aos dezoito anos, desceram a avenida da Universidade, gritando “abaixo a ditadura”, numa inesquecível passeata. Depois, era São Paulo, a grama do Ibirapuera, o primeiro motel e, no show, a Elis Regina, insuperável, cantando “Como Nossos Pais”.

De novo em Fortaleza, houve o sorvete, o anoitecer e o caminhar de mãos dadas, anônimos na Beira-Mar. Uma multidão os cercou e assistiu espantada. Não mais pisavam o chão, não lembravam quem eram nem onde estavam – subiram para a estrela acima e ninguém os via mais.

Uma vez, sessenta e oito... A lua, a estrela, o céu, o mar... E as velas do Mucuripe saindo para pescar.


Dr. Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)

segunda-feira, 24 de abril de 2017

TORTURA: "FÍSICA OU PSÍQUICA" (ou O MILAGRE DA CONVERSÃO) - josé Nílton Mariano Saraiva

A priori, um esclarecimento: em sendo agnóstico, não acreditamos em ocorrências de milagres ou coisas tais. Assim, permitimo-nos refutar a teoria disseminada por alguns de que em Curitiba, nas masmorras do juiz federal Sérgio Moro, verdadeiros “milagres de conversão” estariam a ocorrer com seus “hóspedes”, já que repentinamente renegam o que fora explicitado antes e assumem o que lhes é determinado pelo juiz. Paradoxalmente, entretanto, acreditamos que o apregoado e difundido “milagre da conversão” pelo menos tem o condão de nos levar a uma reflexão séria e pra lá de assustadora: afinal, na busca de informações consideradas pelo representante do Estado (o juiz) como necessárias, qual a metodologia mais eficiente e eficaz de se torturar um ser humano: a física ou a psíquica ???
Como sabemos, na tortura física vige a brutalidade e morbidez em toda a sua crueza e iniquidade, quando “animais” travestidos de carrascos insensíveis e orientados por superiores psicopatas (vide Luiz Antônio Fleury, do Doi-Codi paulista, no tempo dos milicos), submetem o ser humano ao auge da degradação física, em diferentes gradações do modus operandi, tais quais: despir e pendurar a pessoa no famoso “pau-de-arara” e em seguida arrancar-lhe os dentes à base da porrada, até que se disponha a “abrir o bico”; extrair-lhes as unhas (dos pés e mãos) lentamente e sem anestesia, com alicate; submergi-los em afogamentos forçados, que se estendem ao limite do suportável pelo ser humano; aplicar-lhes choques elétricos nas partes íntimas (mamilos, vagina, ânus, língua, ouvidos e por aí vai, em intervalos diminutos, fazendo-as urinar e defecar involuntariamente; praticar sexo à força, com mulher ou homem, pouco importa, no intuito de desmoralizá-los; fazer uso de um tal telefone, quando a vítima recebe, de surpresa e por trás, violentos safanões nos ouvidos, capaz de fazê-la perder a consciência momentaneamente; e, alfim, interrogatórios que duram dias e dias, sem intervalo, com o revezamento dos inquisidores (mas não da pauta), de forma a que o preso não tenha direito a dormir e finde por assinar qualquer papel que lhe seja posto à frente ou falar o que queiram os juízes. A tais “métodos de convencimento”, foram submetidos alguns brasileiros no tempo de vigência da ditadura militar. Se uns poucos resistiram e NÃO “deduraram” (entre eles a ex-presidenta Dilma Rousseff), boa parte não suportou e “entregou” companheiros de luta. Em tais situações, pois, tínhamos as “delações NÃO premiadas”, onde o corpo certamente ficou marcado indelevelmente ao servir como mero e banal “instrumento de convencimento”.
Já no tocante à tortura psíquica, o método requer um pouco mais de “requinte e sofisticação”, porquanto o padecimento se dá através da deletéria “perturbação mental” do indivíduo. Assim, num primeiro momento e objetivando ofertar ao indigitado a “vantagem” de uma “delação premiada”, mesmo sem nenhuma prova material do suposto crime cometido (mas só por convicção da autoridade competente), conduz-se coercitivamente o suspeito para a cadeia, joga-se no fundo de uma cela, onde permanece incomunicável por dias, até que se disponha a “colaborar espontaneamente”. Não sendo a narrativa “espontânea” do agrado do todo poderoso senhor juiz, temos o imediato retorno do preso à cela, onde terá tempo de sobra para refletir se aceita ou não confirmar a versão da autoridade competente. Como prêmio pela colaboração, mais à frente terá redução substancial de uma suposta pena.
As reflexões são só para lembrar dois casos recentes e emblemáticos: ao ser preso, o empresário-bandido Marcelo Odebrecht, indagado sobre se estaria disposto a colaborar, via “delação premiada”, indignou-se e peremptoriamente afirmou ante as câmaras televisivas não ser “dedo-duro”, que tinha caráter, formação moral e religiosa, que inclusive em casa houvera ensinado os filhos menores a jamais praticar tal ato, e por aí vai. Com o tempo, mofando no fundo de uma cela nada confortável para os seus padrões, deglutindo as “quentinhas” da vida e já condenado a dezoito anos de prisão, eis que esqueceu as convicções de outrora, o ter ou não caráter, moral, religião e o escambau, e não só “botou a boca no trombone”, como autorizou seus homens de confiança a também fazê-lo. E a tal “delação do fim do mundo” está apavorando os políticos corruptos que fazem da bela Brasília uma espécie de refúgio de marginais (agora, se o Marcelo Odebrecht apresentará provas contra todos, de tudo o que disse, aí é uma outra história).
Um outro portento da construção civil, o empresário dono da OAS, Leo Pinheiro, que se dizia “amigo” do ex-presidente Lula da Silva, num primeiro depoimento cometeu a “ousadia” não só de NÃO acusá-lo em momento algum, como até inocentá-lo, já que não praticara qualquer crime; foi o suficiente para que as autoridades competentes desconsiderassem tal documento, ao tempo em que “magnanimamente” resolveram dar-lhe tempo para uma reflexão mais apurada, de modo que, numa próxima oportunidade contemplasse, obrigatoriamente e por cima de pau e pedra, Lula da Silva; para tanto, reverteram a prisão domiciliar que lhe fora concedida, lhe acrescentaram dez anos à pena original e o recambiaram de volta às masmorras de Curitiba. Foi o suficiente e bastante para que Leo Pinheiro contrariando seus advogados, desdissesse tudo o que afirmara no depoimento anterior, agora acusando frontalmente Lula da Silva de tudo o que as autoridades lhe atribuíam (embora ressalvando a não existência de provas). Por não concordarem com o novo posicionamento do cliente, seus advogados resolveram abdicar da causa. Só que este era o álibi para que o juiz de Curitiba, Sérgio Moro, consiga seu “objeto de desejo”: condenar o ex-presidente Lula da Silva e impedir-lhe de candidatar-se em 2018.
Ante situações tão díspares, e adstringindo-se ao tema-título do presente artigo, o questionamento seria: para você, que está aí do outro lado da telinha, qual o tipo de “tortura” mais eficaz e eficiente a fim de que se consiga o tal "milagre da conversão", e que no fundo privilegiam bandidos de alta periculosidade: a física ou a psíquica ???
Enquanto você reflete, lembre-se que Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Sérgio Machado e Pedro Barusco dentre outros, estão por aí, livres, leves e soltos, farreando e gastando a fortuna obtida através de roubo (devolveram uma ínfima parte) após delatarem antigos companheiros. Ou você acredita que por usarem tornozeleira eletrônica permanecem reclusos e silentes em suas mansões ???
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Post Scriptum:
Eugenio Aragão, ex-ministro da Justiça, sintetiza magistralmente o que expomos acima, quando afirma... “o mal da tortura é que não oferece provas sólidas da verdade, mas apenas provas sólidas da (in)capacidade de resistência do torturado”, ao tempo em que lembra que a tortura não é apenas física, do pau de arara, do choque elétrico, mas também psicológica.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

O Face tornou-se estação de comunicação.Nem desligo.Saio, volto, e antes de trocar o sapato pelo chinelo, abro a caixa de mensagens, e começo a cutucar  meus contatos.Tudo que vicia, me torna menos livre.Mas, temos o nosso ponto de equilíbrio.Precisamos cuidar dos nossos afazeres, e respeitar o nosso tempo de sozinhos.
Aqui , encontramos material pra reflexões, e uma sempre possibilidade de encontrar pessoas que foram próximas, e voltam a encher nossa vida de notícias, e atenções carinhosas.
Sinto-me impotente ante o caos político.Sinto-me aberta às artes , as conversas leves, à poesia.Minha trilha sonora são todas as canções bonitas.
Vivemos realidades paralelas.Nada se compara aos encontros fora daqui, e aos encontros dentro de nós.
Dia 14 de fevereiro de 2017.
Um abraço especial, em Tereza Moreira.Enquanto ela nascia, eu fazia prova de admissão ao Ginásio.
A família se dispersa, quando tudo se renova.Estamos em trânsito Desapego é a palavra de ordem.A alegria ,uma sempre intimação para que vivamos com todos os sentidos em alerta.
Bom dia!

segunda-feira, 3 de abril de 2017

PECADO AMBULANTE - Dr. Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)


Aproximava-se o dia do idoso e eu escreveria uma reportagem sobre a terceira idade. Cheguei cedo ao abrigo e ao me entrosar com vários internos três velhinhos não me largaram mais. Falavam da vida e entre eles transparecia grande amizade.

Um deles na infância imitava Joselito e, ao cantar “La Paloma,” também foi chamado de “Pequeno Rouxinol.” Já adulto, sentindo-se um Orlando Silva, se apresentou no show do Mercantil e por pouco não se tornou a voz orgulho do Ceará. No entanto, tudo se transformou e ele perdeu espaço. Restaram-lhe as churrascarias e o apelido de Zé Seresta.

Outro senhor, o Adelino, violão debaixo do braço, perdeu-se no alcoolismo e no difícil caminho da música instrumental. Fumava muito, tinha mania por anúncios fúnebres e ao perceber meu interesse por música surpreendeu-me com o choro número um de Villa-Lobos, logo após a minha chegada.

Um outro, mulato alto de carapinha branca, no abrigo tornou-se o Coronel. Repetidamente, em posição de sentido, ele prestava continência às pessoas e queria tudo em ordem. Era admirador dos militares e muito respeitado. Quando jovem, no Rio de Janeiro, matara mendigos para limpar a cidade e teria sido segurança do Lacerda quando do suicídio de Vargas.

E os três destoavam da tristeza geral. O dia passando e histórias se sucedendo ao sabor de lembranças, simpatias e antipatias pessoais. Assim, a velhinha de terço na mão era mais uma viúva que deu a vida pelo marido e filhos. O velho calado e abandonado pela mulher mais nova, herdou uma depressão incurável. E aquela, que fazia tricô e ficou pra tia , no seu delírio, invejava a prima que fugiu com um trapezista de circo e nunca mais voltou.

Alguns sequer sabiam de parentes e não recebiam visitas. A ex-dançarina da TV não se apercebeu do tempo e insistia na saia curta, no batom e no decote, sonhando com um milionário chinês. E o mantra incessante do médico demente: quem fui, quem sou e quem serei... Ali, a principal doença era abandono e solidão.
Muitos me cercaram e fiquei pensando... Fez-se, então, um silêncio ensurdecedor quando passou a maca com o lençol branco envolvendo um corpo. Todos entenderam: alguém terminara a viagem feroz, traiçoeira e sem finalidade. Ao violão, Adelino iniciou a “Marcha Fúnebre” e o Coronel, solene, balbuciou “do pó viestes e ao pó retornarás.”

Mas, de repente, Esmeralda, a cuidadora boazuda, apagou o cinza. Ela empurrava a cadeira de rodas com a mãe de um deputado. Adelino, brejeiro, mudou rapidamente a música e Zé Seresta – eterno dom-juan – mirou aquela bunda, ajeitou a peruca e atacou, imitando Nelson Gonçalves: “quando ela passa, florindo a calçada, pisando macio ... pecado ambulante!”

(publicado no Diário do Nordeste – pg. 3. 27.7.14)

sexta-feira, 31 de março de 2017

ADEUS ELEIÇÕES! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Ah que saudades das eleições do passado! Anos cinquenta, quando os eleitores eram tratados como reis pelos coronéis da UDN e PSD, num passado não muito distante. Apesar do "coronelismo", do voto de cabresto, em que até os defuntos "ressuscitavam", havia mesa farta no almoço do dia das eleições. Época de amplo respeito ao resultado das urnas. Quem ganhava assumia. O PSD passou muitos anos longe do poder em nosso município, creio que mais de doze anos, sem jamais recorrer ao "golpe", ao "caixa dois", bem como a outras práticas tão em voga nos tristes dias de hoje.

Lembro-me bem da movimentação alvoroçada nos dias de eleição, pois a disputa entre os blocos partidários era intensa e quase sangrenta. Mas terminado o pleito, voltava a cordialidade entre os integrantes de partidos opostos, todos se confraternizando como verdadeiros e cordiais amigos.    

Será que ainda veremos alguma eleição neste país? Baseado nos inúmeros anúncios dos "usurpadores" do poder, com suas "jamantas" carregadas de "sacos de maldades", somos avisados claramente de que não haverá eleições presidenciais, pelo menos nos padrões que atualmente conhecemos. Pois aquele político  que deseja ser eleito numa eleição direta, democrática, regida pelo sufrágio universal, respeita a constituição e o sistema eleitoral vigente. Não poderá por em prática medidas que prejudiquem a maioria dos  brasileiros, como uma absurda reforma previdenciária, que limita a aposentadoria aos sessenta e cinco anos de idade, para homens e mulheres, supondo que a expectativa de vida do brasileiro seja de 75 anos, para padrões europeu, num país de profundas desigualdades regionais. Dificilmente um trabalhador rural nordestina atinge essa idade.

Somente golpistas encastelados no governo, com mandatos ilegítimos poderão assumir um projeto de reforma que extingue a legislação trabalhista, consequentemente desprotegendo a parte mais fraca do sistema produtivo, o trabalhador.

Outra medida incompatível com o serviço público será a "terceirização ampla" do trabalho, inclusive para contratação de funcionários burocráticos das "repartições públicas". Encontra-se aí um caminho fácil para corrupção e sangria do erário. Pois para cada R$1,00 (hum real) que a locadora contratada por um órgão público pagar a um de seus empregados, haverá o risco de desonestidade por parte de agentes públicos e representantes das fornecedoras, que poderão cobrar do "empregador público" até 400% da mão de obra fornecida. No caso o valor cobrado à contratante pública poderá no caso da hipótese acima sugerida, ser de até R$4,00 (quatro reais) por esse mesmo empregado. A locatária poderá cobrar até 100% do valor da mão de obra fornecida,  incluindo salários, previdência, seguros trabalhistas, custos administrativos e um lucro liquido em torno de 40% por empregado. Seguir esses parâmetros será um ponto de elevada dificuldade a ser apresentada pelos contratantes.  

Qualquer medida imposta por esse governo será ilegal e imoral! Em vez de "engordar" nosso povo, deixará a maioria muito mais raquítico ainda. Pois o desemprego e a fome espreitam o povo brasileiro, em beneficio dos "barões" da FIESP, mentores do golpe.

SUGESTÕES PARA UMA REFORMA POLITICA:

Com a humildade de reconhecer na minha pessoa nenhuma autoridade política, ofereço algumas observações para um sadio sistema eleitoral:

I - Respeito absoluto ao plebiscito em que a grande maioria dos brasileiros optou pelo Sistema Presidencialista. Portanto, nada de parlamentarismo e da tal de "lista fechada". (Essa aberração transfere nossa escolha de parlamentares para os partidos políticos.)

II -  Eleições direta para Presidente da República com mandato de cinco anos, como era na época de Juscelino.
III - Fim da Reeleição em todos os níveis: Presidentes, Governadores e Prefeitos

terça-feira, 21 de março de 2017

RECORDAR É VIVER ???


Aécio Neves após derrota nas urnas:


"Vamos obstruir todos os trabalhos legislativos

 até o país “quebrar” e a Presidenta Dilma

 ficar  incapacitada de governar.  Sem o Poder

 Legislativo nenhum governo se sustenta!”

terça-feira, 14 de março de 2017

QUADRILHA LONGEVA

OPERAÇÃO ABAFA - Bastou o presidente Fernando Henrique Cardoso entregar os ministérios dos Transportes e da Justiça para ELISEU PADILHA e Iris Resende e os peemedebistas fizeram as pazes com o Governo. O Presidente da Câmara, MICHEL TEMER (PMDB-SP), ELISEU e o líder do PMDB na Câmara, GEDDEL VIEIRA LIMA (BA), fecharam neste final de semana a estratégia para abafar o escândalo das denúncias de compra de votos na votação da reeleição” (Jornal O GLOBO, segunda-feira, 19 de maio de 1997 ).

Como se observa, 20 anos atrás a “irmandade” já atuava com desembaraço e desfaçatez (os atores são os mesmos e o modus operandi idem).

quinta-feira, 2 de março de 2017

ACONTECEU EM FEVEREIRO - Dr. Demóstenes Ribeiro (*)

Aconteceu em fevereiro. O homem, cinza e sozinho, vagava pelo shopping quando começou a algazarra. Da porta da livraria, ele observou o tumulto. Era um rolezinho e o pânico se instalara: o novo-rico reclamou zangado; a madame lipoaspirada escondeu as jóias; a patricinha empalideceu e os lojistas apavorados fecharam as portas.
Enquanto os seguranças assumiam posição de combate, moças e rapazes se divertiam desafiando aquele espaço de exclusão e afirmando presença no mundo. Simpático ao movimento social, meu amigo assistia a manifestação com naturalidade, quando uma jovem irrompeu luminosa e se dirigiu a ele.
A moça tinha cabelo curto e olhos negros. Usava tênis, calça jeans e camiseta realçando o busto. Como se de muito o conhecesse, beijou-lhe a face, disse volta pra mim e retornou à turba. Atordoado, ele a perdeu de vista e se integrou à confusão.
Daí em diante, ficou desassossegado e não mais conseguiu dormir. Esteve presente no protesto contra a construção do aquário e a destruição da praça Portugal. Tudo era um descalabro e ele talvez a reencontrasse. No caos, uma black bloc lhe acenou de longe, mas o boné e o rosto encoberto impediram a identificação. Então, desde o rolezinho, o meu amigo passou a viver outro mundo e cancelou o baile da saudade: nenhuma menina iria curtir essa diversão outonal!
Adeus vida de monge, vestiu uma camisa listrada e saiu por aí. Andou por todos os bares. Na praia de Iracema era pré-carnaval. Obstinado, atravessou o beijo gay e o beijo lésbico. Foi em busca do desfile e se meteu no bloco da cachorra. Não viu a moça e se sentiu um peixe fora d’agua: era mais um coroa ridículo no meio dessa multidão.
Exausto, voltou pra casa e tomou um uísque duplo. Mergulhou na saudade e lembrou aquela canção do Sinatra: “acho que nos encontramos antes, sua roupa é a mesma e o mesmo é seu sorriso, a primeira vez parece acontecer de novo, mas não consigo lembrar “Where or When...” Lembrança de uma paixão arrebatadora e que nunca foi correspondida.
Hoje, ele é outra pessoa. Mil vezes escuta essa música, mil vezes assiste “Em algum lugar do passado” e a toda hora repete que ainda encontrará a moça de cabelo curto, olhos negros e camiseta realçando o busto. Quem sabe, numa sessão espírita, talvez em terapia de vidas passadas ou antes de um internamento e eletrochoque em algum hospital mental.
Passou o carnaval, chove lá fora e o meu amigo desapareceu. Mas, do seu drama e delírio, restaram muita inveja e compaixão.

(*) Dr. Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

EUGÊNIO ARAGÃO

Temer e a pouca vergonha de nossos tempos

Por Eugênio Aragão*


As frações de informação tornadas públicas na entrevista do advogado José Yunes, insistentemente apresentado pelos esbulhadores do Palácio do Planalto como desconhecido de Michel Temer, embrulham o estômago, causam ânsia de vômito em qualquer pessoa normal, medianamente decente.

Conclui-se que Temer e sua cambada prepararam a traição à Presidenta Dilma Vana Rousseff bem antes das eleições de 2014. A aliança entre o hoje sedizente presidente e o correntista suíço Eduardo Cunha existia já em maio daquele ano, quando o primeiro recebeu no Palácio do Jaburu, na companhia cúmplice de Eliseu Padilha, o Sr. Marcelo Odebrecht, para solicitar-lhe a módica quantia de 10 milhões de reais. Não para financiar as eleições presidenciais, mas, ao menos em parte, para garantir o voto de 140 parlamentares, que dariam a Eduardo Cunha a presidência da Câmara dos Deputados, passo imprescindível na rota da conspiração para derrubar Dilma.

Temer armou cedo o golpe que lhe daria o que nunca obteria em uma disputa democrática: o mandato de Presidente da República. Definitivamente, esse sujeitinho não foi feito para a democracia. É um gnomo feio, incapaz de encantar multidões, sem ideias, sem concepções, sem voto, mas com elevada dose de inveja e vaidade. Para tomar a si o que não é seu, age à sorrelfa, à imagem e semelhança de Smeágol, o destroncado monstrengo do épico "O Senhor dos Anéis".


Muito ainda saberemos sobre o mais vergonhoso episódio da história republicana brasileira, protagonizado por jagunços da política, gente sem caráter e vergonha na cara, que só conseguiu seu intento porque a sociedade estava debilitada, polarizada no ódio plantado pela mídia comercial e reverberado com afinco nas redes sociais, com a inestimável mãozinha de carreiras da elite do serviço público.

O resultado está aí: o fim de um projeto nacional e soberano de desenvolvimento sustentável e inclusivo. A mais profunda crise econômica que o país já experimentou. A desconstrução do pouco de solidariedade que nosso Estado já prestou aos mais necessitados. A troca do interesse da maioria pela mesquinhez gananciosa e ambiciosa da minoria que, "em nome do PIB" ou "do mercado", se deu o direito de rasgar os votos de 54 milhões de brasileiras e brasileiros. Rasgaram-nos pela fraude e pelo corrompimento das instituições, com o único escopo de liquidar os ativos nacionais e fazer dinheiro rápido e farto, como na privatização de FHC. Dinheiro que o cidadão nunca verá.

É assim que se despedaça e trucida a democracia: dando o poder a quem perdeu as eleições, garantindo aos derrotados uma fatia gigantesca do governo usurpado e até a nomeação de um dos seus para o STF, para assegurar vida mansa a quem tem dívidas com a justiça. A piscadela de Alexandre de Moraes a Edison Lobão, na CCJ, diz tudo.

Assistiremos a tudo isso sem nenhum sentimento de pudor?

A essa altura dos acontecimentos, o STF e a PGR só podem insistir na tese da "regularidade formal" do impedimento da Presidenta Dilma Roussef com a descarada hipocrisia definida por Voltaire como "cortesia dos covardes".

Caiu o véu da mentira. Não há mais como negar: o golpe foi comprado e a compra negociada cedinho, ainda no primeiro mandato de Dilma. O golpe foi dado com uma facada nas costas, desferida por quem deveria portar-se com discreta lealdade diante da companheira de chapa. O Judas revelado está.

E os guardiões da Constituição? Lavarão as mãos como Pilatos - ou tomarão vergonha na cara?
 

*Eugênio Aragão é sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes do golpe.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

"JUIZ DE MERDA" - José Nílton Mariano Saraiva

Muito já se disse, e se comentou, sobre a “parcialidade” (ou, em português claro e cristalino, a desonestidade) de vários dos ministros que integram a nossa Corte Maior (Supremo Tribunal Federal), useiros e corriqueiros em tentar esconder tão requintado “predicado” através de um linguajar/texto rebuscado e prolixo, repleto de citações greco-romanas, inacessíveis ao mortal comum.

Fato é que, após ascenderem àquela egrégia corte por indicação de políticos corruptos e desonestos, não têm nenhum escrúpulo em saírem ávidos à procura de “brechas” em nossas leis e códigos (sempre “acháveis” pelos que conhecem os “caminhos das pedras”), e que lhes permitam atuarem desabridamente em favor dos interesses do “padrinho”, pouco se lixando para as esdrúxulas decisões que tomam; inclusive, até parecem muito se divertir com a dificuldade da “massa ignara” em aceitá-las, passivamente e sem contestação.

O emblemático de tal postura corrupta e mafiosa deu-se agora (de novo, outra vez, novamente) quando o tal “decano” (que babaquice) do STF, Celso de Melo (indicado pelo ex-presidente Sarney), contrariando até uma anterior decisão do falastrão ministro Gilmar Mendes (no caso Lula da Silva), resolveu que o bandido Moreira Franco (citado 43 vezes numa única delação da operação Lava Jato) assuma, sim, uma Secretaria Especial criada pelo golpista sem povo e sem voto que está Presidente da República (Michel Temer), com o explícito objetivo de blindá-lo com o tal “foro privilegiado”, literalmente impedido-o de cair nas garras do onipresente juiz de Curitiba.

Para se entender a falta de caráter e/ou desonestidade do tal “decano” (Celso de Melo), abaixo a narrativa do ex-Ministro da Justiça do governo Sarney, Saulo Ramos, no livro de sua autoria “Código da Vida” (Editora Planeta, 2007):

Quando José Sarney decidiu candidatar-se a senador pelo Amapá, o caso foi parar no STF, porque os adversários resolveram impugnar a candidatura. Celso de Mello votou pela impugnação, mas depois telefonou ao seu padrinho, Saulo Ramos, para explicar-se.
Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente.
Claro! O que deu em você?
É que a Folha de S.Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S.Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.
Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S.Paulo noticiou que você votaria a favor?
Sim.
E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?
Exatamente. O senhor entendeu?
Entendi. Entendi que você é um JUIZ DE MERDA”.

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E aí, precisa explicar ou quer que desenhe ???

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"MOTEL FLUTUANTE" - José Nílton Mariano Saraiva

Na inóspita Brasília, um exótico e confortável “motel flutuante”, de propriedade de um dos Deputados da base do golpista que está Presidente da República (Michel Temer), foi o ambiente escolhido para que o indicado pelo próprio para o Supremo Tribunal Federal, o “brucutu” Alexandre Moraes, se reunisse com “íntegros” Senadores da República (citados nas delações premiadas) a fim de, antecipadamente, “ensaiarem” o script de como será a tal sabatina a que será submetido no plenário do covil de corruptos onde têm assento (o Senado Federal), visando sua aprovação para compor aquela corte. Se as “digníssimas profissionais” (prostitutas de luxo) que corriqueiramente frequentam tais ambientes estavam ou não presentes, pouco importa; o que se sabe é que o “scott” rolou solto.

Se, como todos sabemos, o Supremo Tribunal Federal comprovadamente contribuiu para o golpe que derrubou a Presidenta Dilma Rousseff, primeiro ao segurar por cinco meses o pedido de afastamento do marginal que estão presidia a Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha) permitindo-o arquitetar e levar à votação o fraudulento processo de impeachment e, posteriormente, ao negar-se a analisar o “mérito” do referido, adstringindo-se a aprovar o seu “rito”, o que esperar então daquela Corte, agora que temos a perspectiva de ter um Alexandre Moraes lá efetivado com o objetivo primeiro e único de barrar qualquer tentativa de enxotar da vida público os corruptos que pululam no Poder Executivo, à frente Michel Temer e sua gangue, de par com uma cambada de ladrões que fez do Legislativo um antro de marginais ???

Fato é que, sob a égide de um usurpador sem moral e sem voto (Michel Temer), temos no “motel flutuante” de Brasília, o retrato emblemático da depravação que vige hoje na capital federal, quando um notório plagiador de obras de terceiros, e que demonstrou despreparo no exercício da nobre função de Ministro da Justiça (que lhe caiu no colo via indicação presidencial), exercita a asquerosa atividade de “beijar a mão” de notórios bandidos, a fim de garantir um polpudo salário vitalício.

Quando se pensa que meses atrás o Brasil se impunha e gozava de respeito ante o mundo em razão de um projeto governamental do qual o povo era partícipe ativo, e que agora vê desmoronar por obra e graça da quadrilha que se instalou no Planalto, só nos resta a admissibilidade que, definitivamente, temos de volta o velho “complexo de vira lata”. Lamentável.