por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 31 de março de 2017

ADEUS ELEIÇÕES! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Ah que saudades das eleições do passado! Anos cinquenta, quando os eleitores eram tratados como reis pelos coronéis da UDN e PSD, num passado não muito distante. Apesar do "coronelismo", do voto de cabresto, em que até os defuntos "ressuscitavam", havia mesa farta no almoço do dia das eleições. Época de amplo respeito ao resultado das urnas. Quem ganhava assumia. O PSD passou muitos anos longe do poder em nosso município, creio que mais de doze anos, sem jamais recorrer ao "golpe", ao "caixa dois", bem como a outras práticas tão em voga nos tristes dias de hoje.

Lembro-me bem da movimentação alvoroçada nos dias de eleição, pois a disputa entre os blocos partidários era intensa e quase sangrenta. Mas terminado o pleito, voltava a cordialidade entre os integrantes de partidos opostos, todos se confraternizando como verdadeiros e cordiais amigos.    

Será que ainda veremos alguma eleição neste país? Baseado nos inúmeros anúncios dos "usurpadores" do poder, com suas "jamantas" carregadas de "sacos de maldades", somos avisados claramente de que não haverá eleições presidenciais, pelo menos nos padrões que atualmente conhecemos. Pois aquele político  que deseja ser eleito numa eleição direta, democrática, regida pelo sufrágio universal, respeita a constituição e o sistema eleitoral vigente. Não poderá por em prática medidas que prejudiquem a maioria dos  brasileiros, como uma absurda reforma previdenciária, que limita a aposentadoria aos sessenta e cinco anos de idade, para homens e mulheres, supondo que a expectativa de vida do brasileiro seja de 75 anos, para padrões europeu, num país de profundas desigualdades regionais. Dificilmente um trabalhador rural nordestina atinge essa idade.

Somente golpistas encastelados no governo, com mandatos ilegítimos poderão assumir um projeto de reforma que extingue a legislação trabalhista, consequentemente desprotegendo a parte mais fraca do sistema produtivo, o trabalhador.

Outra medida incompatível com o serviço público será a "terceirização ampla" do trabalho, inclusive para contratação de funcionários burocráticos das "repartições públicas". Encontra-se aí um caminho fácil para corrupção e sangria do erário. Pois para cada R$1,00 (hum real) que a locadora contratada por um órgão público pagar a um de seus empregados, haverá o risco de desonestidade por parte de agentes públicos e representantes das fornecedoras, que poderão cobrar do "empregador público" até 400% da mão de obra fornecida. No caso o valor cobrado à contratante pública poderá no caso da hipótese acima sugerida, ser de até R$4,00 (quatro reais) por esse mesmo empregado. A locatária poderá cobrar até 100% do valor da mão de obra fornecida,  incluindo salários, previdência, seguros trabalhistas, custos administrativos e um lucro liquido em torno de 40% por empregado. Seguir esses parâmetros será um ponto de elevada dificuldade a ser apresentada pelos contratantes.  

Qualquer medida imposta por esse governo será ilegal e imoral! Em vez de "engordar" nosso povo, deixará a maioria muito mais raquítico ainda. Pois o desemprego e a fome espreitam o povo brasileiro, em beneficio dos "barões" da FIESP, mentores do golpe.

SUGESTÕES PARA UMA REFORMA POLITICA:

Com a humildade de reconhecer na minha pessoa nenhuma autoridade política, ofereço algumas observações para um sadio sistema eleitoral:

I - Respeito absoluto ao plebiscito em que a grande maioria dos brasileiros optou pelo Sistema Presidencialista. Portanto, nada de parlamentarismo e da tal de "lista fechada". (Essa aberração transfere nossa escolha de parlamentares para os partidos políticos.)

II -  Eleições direta para Presidente da República com mandato de cinco anos, como era na época de Juscelino.
III - Fim da Reeleição em todos os níveis: Presidentes, Governadores e Prefeitos

terça-feira, 21 de março de 2017

RECORDAR É VIVER ???


Aécio Neves após derrota nas urnas:


"Vamos obstruir todos os trabalhos legislativos

 até o país “quebrar” e a Presidenta Dilma

 ficar  incapacitada de governar.  Sem o Poder

 Legislativo nenhum governo se sustenta!”

terça-feira, 14 de março de 2017

QUADRILHA LONGEVA

OPERAÇÃO ABAFA - Bastou o presidente Fernando Henrique Cardoso entregar os ministérios dos Transportes e da Justiça para ELISEU PADILHA e Iris Resende e os peemedebistas fizeram as pazes com o Governo. O Presidente da Câmara, MICHEL TEMER (PMDB-SP), ELISEU e o líder do PMDB na Câmara, GEDDEL VIEIRA LIMA (BA), fecharam neste final de semana a estratégia para abafar o escândalo das denúncias de compra de votos na votação da reeleição” (Jornal O GLOBO, segunda-feira, 19 de maio de 1997 ).

Como se observa, 20 anos atrás a “irmandade” já atuava com desembaraço e desfaçatez (os atores são os mesmos e o modus operandi idem).

quinta-feira, 2 de março de 2017

ACONTECEU EM FEVEREIRO - Dr. Demóstenes Ribeiro (*)

Aconteceu em fevereiro. O homem, cinza e sozinho, vagava pelo shopping quando começou a algazarra. Da porta da livraria, ele observou o tumulto. Era um rolezinho e o pânico se instalara: o novo-rico reclamou zangado; a madame lipoaspirada escondeu as jóias; a patricinha empalideceu e os lojistas apavorados fecharam as portas.
Enquanto os seguranças assumiam posição de combate, moças e rapazes se divertiam desafiando aquele espaço de exclusão e afirmando presença no mundo. Simpático ao movimento social, meu amigo assistia a manifestação com naturalidade, quando uma jovem irrompeu luminosa e se dirigiu a ele.
A moça tinha cabelo curto e olhos negros. Usava tênis, calça jeans e camiseta realçando o busto. Como se de muito o conhecesse, beijou-lhe a face, disse volta pra mim e retornou à turba. Atordoado, ele a perdeu de vista e se integrou à confusão.
Daí em diante, ficou desassossegado e não mais conseguiu dormir. Esteve presente no protesto contra a construção do aquário e a destruição da praça Portugal. Tudo era um descalabro e ele talvez a reencontrasse. No caos, uma black bloc lhe acenou de longe, mas o boné e o rosto encoberto impediram a identificação. Então, desde o rolezinho, o meu amigo passou a viver outro mundo e cancelou o baile da saudade: nenhuma menina iria curtir essa diversão outonal!
Adeus vida de monge, vestiu uma camisa listrada e saiu por aí. Andou por todos os bares. Na praia de Iracema era pré-carnaval. Obstinado, atravessou o beijo gay e o beijo lésbico. Foi em busca do desfile e se meteu no bloco da cachorra. Não viu a moça e se sentiu um peixe fora d’agua: era mais um coroa ridículo no meio dessa multidão.
Exausto, voltou pra casa e tomou um uísque duplo. Mergulhou na saudade e lembrou aquela canção do Sinatra: “acho que nos encontramos antes, sua roupa é a mesma e o mesmo é seu sorriso, a primeira vez parece acontecer de novo, mas não consigo lembrar “Where or When...” Lembrança de uma paixão arrebatadora e que nunca foi correspondida.
Hoje, ele é outra pessoa. Mil vezes escuta essa música, mil vezes assiste “Em algum lugar do passado” e a toda hora repete que ainda encontrará a moça de cabelo curto, olhos negros e camiseta realçando o busto. Quem sabe, numa sessão espírita, talvez em terapia de vidas passadas ou antes de um internamento e eletrochoque em algum hospital mental.
Passou o carnaval, chove lá fora e o meu amigo desapareceu. Mas, do seu drama e delírio, restaram muita inveja e compaixão.

(*) Dr. Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

EUGÊNIO ARAGÃO

Temer e a pouca vergonha de nossos tempos

Por Eugênio Aragão*


As frações de informação tornadas públicas na entrevista do advogado José Yunes, insistentemente apresentado pelos esbulhadores do Palácio do Planalto como desconhecido de Michel Temer, embrulham o estômago, causam ânsia de vômito em qualquer pessoa normal, medianamente decente.

Conclui-se que Temer e sua cambada prepararam a traição à Presidenta Dilma Vana Rousseff bem antes das eleições de 2014. A aliança entre o hoje sedizente presidente e o correntista suíço Eduardo Cunha existia já em maio daquele ano, quando o primeiro recebeu no Palácio do Jaburu, na companhia cúmplice de Eliseu Padilha, o Sr. Marcelo Odebrecht, para solicitar-lhe a módica quantia de 10 milhões de reais. Não para financiar as eleições presidenciais, mas, ao menos em parte, para garantir o voto de 140 parlamentares, que dariam a Eduardo Cunha a presidência da Câmara dos Deputados, passo imprescindível na rota da conspiração para derrubar Dilma.

Temer armou cedo o golpe que lhe daria o que nunca obteria em uma disputa democrática: o mandato de Presidente da República. Definitivamente, esse sujeitinho não foi feito para a democracia. É um gnomo feio, incapaz de encantar multidões, sem ideias, sem concepções, sem voto, mas com elevada dose de inveja e vaidade. Para tomar a si o que não é seu, age à sorrelfa, à imagem e semelhança de Smeágol, o destroncado monstrengo do épico "O Senhor dos Anéis".


Muito ainda saberemos sobre o mais vergonhoso episódio da história republicana brasileira, protagonizado por jagunços da política, gente sem caráter e vergonha na cara, que só conseguiu seu intento porque a sociedade estava debilitada, polarizada no ódio plantado pela mídia comercial e reverberado com afinco nas redes sociais, com a inestimável mãozinha de carreiras da elite do serviço público.

O resultado está aí: o fim de um projeto nacional e soberano de desenvolvimento sustentável e inclusivo. A mais profunda crise econômica que o país já experimentou. A desconstrução do pouco de solidariedade que nosso Estado já prestou aos mais necessitados. A troca do interesse da maioria pela mesquinhez gananciosa e ambiciosa da minoria que, "em nome do PIB" ou "do mercado", se deu o direito de rasgar os votos de 54 milhões de brasileiras e brasileiros. Rasgaram-nos pela fraude e pelo corrompimento das instituições, com o único escopo de liquidar os ativos nacionais e fazer dinheiro rápido e farto, como na privatização de FHC. Dinheiro que o cidadão nunca verá.

É assim que se despedaça e trucida a democracia: dando o poder a quem perdeu as eleições, garantindo aos derrotados uma fatia gigantesca do governo usurpado e até a nomeação de um dos seus para o STF, para assegurar vida mansa a quem tem dívidas com a justiça. A piscadela de Alexandre de Moraes a Edison Lobão, na CCJ, diz tudo.

Assistiremos a tudo isso sem nenhum sentimento de pudor?

A essa altura dos acontecimentos, o STF e a PGR só podem insistir na tese da "regularidade formal" do impedimento da Presidenta Dilma Roussef com a descarada hipocrisia definida por Voltaire como "cortesia dos covardes".

Caiu o véu da mentira. Não há mais como negar: o golpe foi comprado e a compra negociada cedinho, ainda no primeiro mandato de Dilma. O golpe foi dado com uma facada nas costas, desferida por quem deveria portar-se com discreta lealdade diante da companheira de chapa. O Judas revelado está.

E os guardiões da Constituição? Lavarão as mãos como Pilatos - ou tomarão vergonha na cara?
 

*Eugênio Aragão é sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes do golpe.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

"JUIZ DE MERDA" - José Nílton Mariano Saraiva

Muito já se disse, e se comentou, sobre a “parcialidade” (ou, em português claro e cristalino, a desonestidade) de vários dos ministros que integram a nossa Corte Maior (Supremo Tribunal Federal), useiros e corriqueiros em tentar esconder tão requintado “predicado” através de um linguajar/texto rebuscado e prolixo, repleto de citações greco-romanas, inacessíveis ao mortal comum.

Fato é que, após ascenderem àquela egrégia corte por indicação de políticos corruptos e desonestos, não têm nenhum escrúpulo em saírem ávidos à procura de “brechas” em nossas leis e códigos (sempre “acháveis” pelos que conhecem os “caminhos das pedras”), e que lhes permitam atuarem desabridamente em favor dos interesses do “padrinho”, pouco se lixando para as esdrúxulas decisões que tomam; inclusive, até parecem muito se divertir com a dificuldade da “massa ignara” em aceitá-las, passivamente e sem contestação.

O emblemático de tal postura corrupta e mafiosa deu-se agora (de novo, outra vez, novamente) quando o tal “decano” (que babaquice) do STF, Celso de Melo (indicado pelo ex-presidente Sarney), contrariando até uma anterior decisão do falastrão ministro Gilmar Mendes (no caso Lula da Silva), resolveu que o bandido Moreira Franco (citado 43 vezes numa única delação da operação Lava Jato) assuma, sim, uma Secretaria Especial criada pelo golpista sem povo e sem voto que está Presidente da República (Michel Temer), com o explícito objetivo de blindá-lo com o tal “foro privilegiado”, literalmente impedido-o de cair nas garras do onipresente juiz de Curitiba.

Para se entender a falta de caráter e/ou desonestidade do tal “decano” (Celso de Melo), abaixo a narrativa do ex-Ministro da Justiça do governo Sarney, Saulo Ramos, no livro de sua autoria “Código da Vida” (Editora Planeta, 2007):

Quando José Sarney decidiu candidatar-se a senador pelo Amapá, o caso foi parar no STF, porque os adversários resolveram impugnar a candidatura. Celso de Mello votou pela impugnação, mas depois telefonou ao seu padrinho, Saulo Ramos, para explicar-se.
Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente.
Claro! O que deu em você?
É que a Folha de S.Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S.Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.
Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S.Paulo noticiou que você votaria a favor?
Sim.
E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?
Exatamente. O senhor entendeu?
Entendi. Entendi que você é um JUIZ DE MERDA”.

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E aí, precisa explicar ou quer que desenhe ???

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"MOTEL FLUTUANTE" - José Nílton Mariano Saraiva

Na inóspita Brasília, um exótico e confortável “motel flutuante”, de propriedade de um dos Deputados da base do golpista que está Presidente da República (Michel Temer), foi o ambiente escolhido para que o indicado pelo próprio para o Supremo Tribunal Federal, o “brucutu” Alexandre Moraes, se reunisse com “íntegros” Senadores da República (citados nas delações premiadas) a fim de, antecipadamente, “ensaiarem” o script de como será a tal sabatina a que será submetido no plenário do covil de corruptos onde têm assento (o Senado Federal), visando sua aprovação para compor aquela corte. Se as “digníssimas profissionais” (prostitutas de luxo) que corriqueiramente frequentam tais ambientes estavam ou não presentes, pouco importa; o que se sabe é que o “scott” rolou solto.

Se, como todos sabemos, o Supremo Tribunal Federal comprovadamente contribuiu para o golpe que derrubou a Presidenta Dilma Rousseff, primeiro ao segurar por cinco meses o pedido de afastamento do marginal que estão presidia a Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha) permitindo-o arquitetar e levar à votação o fraudulento processo de impeachment e, posteriormente, ao negar-se a analisar o “mérito” do referido, adstringindo-se a aprovar o seu “rito”, o que esperar então daquela Corte, agora que temos a perspectiva de ter um Alexandre Moraes lá efetivado com o objetivo primeiro e único de barrar qualquer tentativa de enxotar da vida público os corruptos que pululam no Poder Executivo, à frente Michel Temer e sua gangue, de par com uma cambada de ladrões que fez do Legislativo um antro de marginais ???

Fato é que, sob a égide de um usurpador sem moral e sem voto (Michel Temer), temos no “motel flutuante” de Brasília, o retrato emblemático da depravação que vige hoje na capital federal, quando um notório plagiador de obras de terceiros, e que demonstrou despreparo no exercício da nobre função de Ministro da Justiça (que lhe caiu no colo via indicação presidencial), exercita a asquerosa atividade de “beijar a mão” de notórios bandidos, a fim de garantir um polpudo salário vitalício.

Quando se pensa que meses atrás o Brasil se impunha e gozava de respeito ante o mundo em razão de um projeto governamental do qual o povo era partícipe ativo, e que agora vê desmoronar por obra e graça da quadrilha que se instalou no Planalto, só nos resta a admissibilidade que, definitivamente, temos de volta o velho “complexo de vira lata”. Lamentável.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Não existe medicina sem ética!


Hipócrates.jpg
Hipócrates: aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém
Sobre a notícia de que uma 'dotôra' do Sírio-Libanês vazou informações sigilosas do diagnóstico de Dona Marisa Letícia - além de outros médicos terem trocado mensagens de ódio sobre o ocorrido em um grupo de Whatsapp -, o Conversa Afiada compartilha o texto do dr. Régis Eric Maia Barros, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e mestre e doutor pela Faculdade de Medicina da USP:

Sem ética, não há medicina


O que seria a arte médica? Seria uma mera busca pela cura dos males que acometem o homem? Não, a medicina é muito mais do que isso. A medicina e o seu agente – o médico – demandam outras coisas que vão além desse olhar simplório e reducionista.
Para exercer a medicina, são necessários outros valores humanos e éticos. Sem eles, não há médico e, muito menos, medicina. A ética é vinculante para que a medicina aconteça. Nessa lógica, a busca pelo agir certo e a necessidade de ser virtuoso, frente ao outro, é imperativo. Esse outro, que se encontra adoentado, precisa ser respeitado em todas as suas dimensões. Esse outro, que espera do médico proteção, nunca poderá ser atacado na sua essência humana. É função inata do médico e da medicina garantir tudo isso. Ser protetor independente de quem esteja necessitando de proteção. Essa condição vem muito antes do diagnóstico e do tratamento. Se essa função não for alcançada, para o que serviriam os atos de diagnosticar e tratar?
O médico não deve, em hipótese alguma, colocar sua vertente ideológica e política diante de um paciente que padece. Isso é um absurdo! Infelizmente, a sociedade vem alimentando isso. Lembremos da pergunta que “viralizou” nas mídias sociais e na internet: “quem você salvaria primeiro? O policial ou o traficante?
A questão não é essa. Na verdade, nunca foi. Contudo, de forma decepcionante, essa tem sido a toada do momento. Se o médico, ao tratar alguém, usar isso como crivo de conduta e de postura, ele não deveria ser médico. Se essa lógica prevalecesse, estaríamos presos ao bizarro. Imaginem vocês que fossem criadas emergências médicas para atender “comunistas” e “direitistas”. E que cada uma não atendesse aqueles pacientes de outra ideologia que chegassem e necessitassem de acolhimento. Imaginem, ainda, que algum médico de ideologia “X” recebesse um paciente importante da ideologia “Y”. Por ser de ideologia oposta a dele, o médico não acolhe de forma adequada esse paciente e acaba por vazar, publicamente, exames dele além de, por meio das mídias sociais, desdenhar e desejar o pior para ele.
Seria isso a medicina? Não, meus caros leitores, a medicina nunca foi, é e nunca será isso. Na verdade, estamos diante de um “fake” pouco ético e equivocado. O médico e a medicina não enxergam pela lente política e ideológica. Eles, simplesmente, enxergam pelos olhos da bondade, do humanismo e, sobretudo, da ética.
Régis Eric Maia Barros
Médico Psiquiatra
Em tempo: a tal 'dotôra' foi demitida na noite de ontem. Em nota, o Hospital Sírio-Libanês informou “ter uma política rígida relacionada a privacidade de pacientes” e repudiou a quebra do sigilo por profissionais de saúde.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

As "bestas" de jaleco (Luís Costa Pinto – Jornalista)

Outrora uma profissão abraçada por abnegados ascetas, a ponto de ser comparada por muitos a um sacerdócio, a Medicina parece ter se convertido aqui no Brasil a uma seita satânica seguida como profissão de fé por seres grotescos –sem alma, sem cérebro, sem compreensão do mundo, sem dó ou compaixão.
Exagero e tomo a parte pelo todo porque os médicos brasileiros precisam, seja por iniciativas das entidades de classe, seja por eles mesmos atuando individualmente, reagir de forma dura e organizada à ínfima minoria integrada por seres abjetos como a reumatologista Gabriela Munhoz, o cardiologista Ademar Poltronieri Filho, o urologista Michael Hennich e o neurologista Richam Faissal Ellakkis.
Horas depois de Marisa Letícia da Silva dar entrada no Hospital Sírio Libanês, há 10 dias, com um quadro de Acidente Vascular Cerebral grave, Gabriela Munhoz divulgou em grupos de Whatsapp dados do prontuário médico da ex-primeira-dama cuja morte cerebral foi anunciada ontem (2.fev.2017). Não o fez em busca de auxílio. Eram informações sigilosas de uma paciente –fosse quem fosse– e o simples fato de compartilhá-las configura um atentado à ética médica.
O compartilhamento de Munhoz seguiu-se a disseminação dos dados pessoais da mulher do ex-presidente Lula por Poltronieri Filho. A partir dali o urologista Hennich desdenhava da paciente, fazendo piadas com ela. Tudo culminou com a torcida declarada do neurologista Ellakkis para que Dona Marisa, uma mãe carinhosa, avó dedicada, companheira solidária, mulher de rara fibra e militante valorosa de causas sociais e políticas, evoluísse a óbito –para usar o jargão dessas bestas de jaleco.
Esses fdp vão embolizar ainda por cima”, escreveu, em referência ao procedimento de provocar o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado local. “Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela”, escreveu Ellakkis, que presta serviços no hospital da Unimed São Roque, no interior de São Paulo, e em outras unidades de saúde da capital paulista, segundo relato de apuração jornalística efetuado por O Globo e divulgado no site do jornal.
Os valores dessa verdadeira quadrilha de médicos que rasgaram seus juramentos aos princípios de Hipócrates e espicaçaram qualquer solidariedade humana podem –e devem– ser comparados aos patéticos protestos contra o desembarque de doutores e doutoras cubanos no âmbito do programa Mais Médicos levado a cabo no primeiro governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Podem e devem, ainda, ser analisados em paralelo com a atitude criminosa de ortopedistas do Distrito Federal que prescreviam cirurgias de colocação de próteses ósseas desnecessárias e introduziam no corpo dos pacientes peças de segunda mão –matando muitos de infecção, restringindo o movimento de outros e assaltando-os abertamente ao superfaturar os procedimentos clínicos e cirúrgicos.
Somam-se os exemplos e os paralelos. Multiplica-se a solidariedade da infâmia, com a corporação protegendo aos seus e deixando a sociedade à mercê da sorte. Abatido pela onda de ódio conservador e primitivo contra os médicos cubanos, o Mais Médicos se liquefez e devolveu à incerteza e à intermitência o atendimento a milhares de brasileiros, sobretudo nas cidades do interior, porque o exercício da Medicina é encarado por essa corja de “doutoras” e “doutores” como Munhoz, Elliakkis et caterva como uma ação entre amigos da mesma classe, do mesmo credo, do mesmo grupo e com o mesmo objetivo.
O vazamento dos dados pessoais da ex-primeira-dama por uma profissional médica do Sírio-Libanês (o hospital já a demitiu) expôs em definitivo uma faceta sórdida da sociedade brasileira. Estamos, talvez definitivamente, divididos pelas opções e opiniões políticas. Isso é raso. Isso é rasteiro. E isso não é vida real. É ódio e, em alguns casos, é também recalque.
Nem a foto da visita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Lula, com os ex-presidentes fazendo-se acompanhar dos ex-ministros José Gregori (Justiça, FHC) e Celso Amorim (Relações Exteriores, Lula), nem o gesto largo de Michel Temer e do presidente do Senado Eunício Oliveira, que visitaram o líder petista ontem à noite para prestar solidariedade na hora de dor e de perda, parecem capazes de restaurar a cordialidade como atributo essencial do caráter brasileiro.
A ação dos vermes de jaleco que abusaram da agonia de Marisa Letícia não pode ficar impune no meio médico. Caso fique, toda a corporação corre o risco de começar a ser tratada com o desprezo que bandidos assim merecem. E sentirão a dor da discriminação que se dedica a quem vende a alma a seitas de fanáticos. Médicos como os que se integraram a essa corrente da infâmia nascida no Sírio-Libanês são passíveis do desprezo e merecedores de todos os castigos divinos.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

CASO MARISA: A ÉTICA DA LAVA JATO E DO PCC (Luis Nassif)

Caso Marisa: a ética da Lava Jato e do PCC



Qual a intenção  de Sérgio Moro e dos Procuradores da Lava Jato em denunciar dona Marisa? Do ponto de vista jurídico, nenhuma. Jamais comprovaram que o tríplex era de Lula. Mesmo se fosse, não havia nada que pudesse ser impingido a dona Marisa. Ela não participava de discussões políticas, menos ainda de negócios. Limitava-se a cuidar dos filhos e netos e dar amparo emocional ao marido.
A intenção foi puramente política, de bater, bater, bater em Lula, até que arriasse emocionalmente.
Não existe ética na guerra. E não existe a figura do inimigo no direito. A Lava Jato se tornou uma operação de guerra, caçando o inimigo e o direito se tornou instrumento de vingança.
Não viam a figura da mãe e da avó, mas apenas a mulher do inimigo a ser batido.
Expuseram como prova de crime os pedalinhos que dona Marisa comprou para os netos. Invadiram sua casa, entraram em seu quarto, reviraram até o colchão da cama. Levaram seu marido detido, expuseram incontáveis vezes os filhos no tribunal da mídia.
Esse exercício continuado de crueldade, mais do que estilo jurídico, é marca de caráter.
É possível encontrá-lo em diversos personagens e diversas situações, cada qual subordinando-se aos ritos da classe e às prerrogativas da profissão.
No Judiciário, gera juízes vingadores. No Ministério Público, projetos de torquemadas. Cada qual busca a jugular do inimigo valendo-se das armas que lhe foram conferidas institucionalmente. Não lhes exija momentos de educação, respingos de respeito, gotículas de humanidade.
No PCC, há chefes sanguinários que não se contentam com assassinatos de imagem e mortes civis: eliminam fisicamente os adversários.  Na Polícia Militar os soldados que, com um revólver na mão, se consideram donos do mundo e das vidas. No crime, o poder das chefias depende apenas da meritocracia: não há concursos, nem carreiras pré-definidas, com planos de cargos e salários. E eles correm risco, pois não contam com a blindagem do Estado. São cruéis e são valentes.
Em comum, todos eles, os da lei e os fora-da-lei, têm a crueldade de caráter, o gozo infindável de chutar o adversário de todas as formas, de tratá-los como inimigos, os fora-da-lei matando pessoas, os da lei expondo-as ao direito penal do inimigo, desumanizando-as, transformando donas-de-casa em cúmplices, presentes de avó para netos em provas de crime, violando seu quarto, sua penteadeira, suas lembranças.
Hoje, na Lava Jato, o juiz Moro e cada procurador colocarão uma marca a mais no coldre virtual de onde empunham suas armas legais. Que pelo menos tranquem a porta antes de iniciar a comemoração.

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y sem soma

Quando os indivíduos se tornam piores que corvos

Linchamento e quebra-quebra são coisas que saem da racionalidade humana. Por mais sensatos que pensamos ser, muitas vezes, nos envolvemos em linchamentos sem perceber... depois é tarde para voltar atrás.
Lembro, por exemplo, na Inglaterra, quando muitos adolescentes de classe média iam devolver aparelhos eletrônicos roubados de lojas depredadas devido a um distúrbio. Eles não conseguiam sequer explicar por que haviam feito aquilo.
Em nosso caso, quando a poeira abaixar, talvez daqui alguns anos, fico a pensar quantos "bons cristãos" conseguirão confessar que ajudaram a linchar a esposa do Lula.
Mas sei... Já se foi o tempo em que arrependimento matava.
E por falar em bons cristãos, ofereço aos linchadores de plantão uma pequena citação de um bom entendedor dessas coisas brasileiras.

“Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado, já está comido. São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido”. Pe Antônio Vieira – Sermão de Santo Antônio aos peixes.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

PERFUME DE GARDÊNIA - Dr. Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)

Perfume de Gardênia - Dr. Demóstenes Ribeiro (Cardiologista)


No avião, mais uma vez, lembrei de tudo. A casa e o jardim. A minha mãe trazendo a comida caseira, o meu pai - à cabeceira da mesa - e os oito filhos sentados na posição de sempre. Naquela época era assim. Ao anoitecer, o velho na cadeira de balanço, o cafezinho com os vizinhos e as conversas repetidas de um dia-a-dia feliz.

Uma vez por ano ele ia a Recife ou a Fortaleza e fazia uma grande compra para a loja. Numa dessas viagens, trouxe uvas e maçãs, sabor quase desconhecido para mim. Em outra, uma bola de couro e, em uma outra, o dicionário com o reino encantado e soberano das palavras. Contou que no São Luiz, assistiu a “A Ponte do Rio Kwai,” se comoveu com o sofrimento dos ingleses e eu nunca mais esqueceria a melodia do filme. Depois, chegou o grande rádio de pilha e o meu velho sintonizava o Rio de Janeiro. Era um tempo da “Ave Maria” com o Júlio Louzada, do Repórter Esso e do Altamiro Carrilho e a sua bandinha.

Havia o Grupo Escolar e antes da aula as crianças cantavam “terra do sol, do amor, terra da luz...” Na fila, um menino bem arrumado, com gravata borboleta, destoava dos outros. Era criado por uma tia e parecia assustado. Anos depois, o Ginásio e o padre severo, o maior dos benfeitores daquela comunidade.

Na entrada da cidade, a prefeitura imponente e verde. A igreja, a capela de São Francisco, o cinema, a praça principal e a sombra das algarobas. O trem, de Fortaleza ao Crato, interrompia brevemente a tertúlia, mas logo recomeçava a festa. O mundo inteiro era esperança e alegria: tempo de inocência, juventude e fé.

Mas, quando desembarquei, percebi que tudo mudara. O trânsito perigoso e a sinalização inadequada. A usina fantasma e o canavial, quase extinto, não mais ondulando ao vento. E na minha cidade tudo parecia mal cuidado. A prefeitura em um amarelo ressequido, o grupo escolar e a estação ferroviária abandonados. Ruas estreitas e esgotos a céu aberto, mercados desativados e praças descaracterizadas. Na calçada, sem coragem de entrar, observei a casa. Sem flores no jardim, ela parecia menor e oprimida, todos partiram, a sua pintura descascava e não mais havia o menino que ali morara. As casas também sentem saudades?

Antes da volta, entrei no shopping center. Como em todo lugar, restaurantes fast-food e lojas de grife com letreiros em inglês. Antevi um mundo de obesos e a escravidão do cartão de crédito. Suprema heresia, o templo do consumo e da segregação social, o dragão da maldade na cidade da fé. Ali, ninguém sabia do “Boi Mansinho” nem da Beata Mocinha, e nada seria mais exótico do que um romeiro naquele lugar.

Depois, no avião, curvado à realidade cruel e à impiedade do tempo, fechei os olhos e escondi as lágrimas. Cantei baixinho “Perfume de Gardênia,” adormeci e sonhei com o sol nascendo sobre as moças da Beira Mar.




segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A OUTRA FACE DE SERGIO MORO - Emanuel Cancella

E o livro saiu: A Outra Face de Sérgio Moro

por Emanuel Cancella




Por que será que o MP, Pedro Parente e a mídia
tentaram inviabilizar o lançamento do livro?

Nossos agradecimentos à brilhante jornalista Fátima Lacerda, sem a qual essa obra não existiria, aos chargistas Mega e Latuff, ao diagramador Stefano Figalo e à revisora Maíra Santafé. A primeira gráfica negou fogo, dizendo que não poderia rodar o livro, mas finalmente o livro está na pista.  Veja o vídeo do lançamento gravado pelos companheiros do Ocupa Minc (2)!

A sede do Sindipetro-RJ ficou lotada nesta sexta, 6/1/17 para receber um livro que a mídia tenta esconder (1). Não publicaram a coletânea de matéria que deu origem ao livro, todas enviadas para possível divulgação e muito menos divulgaram o lançamento. A gráfica só conseguiu 100 exemplares que esgotaram rapidamente, não deu para os que queriam adquirir. A semana que vem a gráfica vai entregar o restante, 1900, notícias sobre local de vendas podem ser encontradas na página do facebook com o nome do livro.

Também faremos novos lançamentos, pois há pedidos em outras partes do Brasil e do mundo. Vamos também disponibilizar a venda pela internet. Cada exemplar custa R$50,00, a renda será toda dirigida para os desempregados em função da operação Lava Jato, cerca de dois milhões de trabalhadores.

O Ministério Público, através do juiz Sérgio Moro, me intimou num claro intuito de me intimidar, e talvez inviabilizar o lançamento do livro. A direção da Petrobrás, através de Pedro Parente, interpelou-me também, com certeza no intuito de me calar e calar a categoria.

O livro é uma oportunidade de a sociedade conhecer o outro lado dos fatos: de como a Lava Jato destrói a Petrobrás; da gestão entreguista de Pedro Parente na Empresa e do papel da mídia nessa história.

Essa obra pertence integralmente aos trabalhadores que estão sendo vitimas desse conluio que visa entregar a Petrobrás aos gringos. O Brasil está perdendo o seu ouro negro; os trabalhadores os seus empregos e a nossa democracia se esvai, já que o golpe está intrinsicamente ligado a essa operação. Ajude-nos na divulgação do livro e você estará ajudando a retomada da nossa soberania e de nossa democracia.  

Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2017

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

SÓ UM SUSTO NA CORRUPÇÃO - Dr. Demóstemes Ribeiro


Certo dia, Adonias se enfeitiçou por uma filha de Iansã, foi pra Salvador escreveu que não voltaria mais. Entrei em desespero e jurei não me envolver com mais ninguém - com a ajuda de Deus, criaria o meu filho! Meses depois houve o concurso da Polícia Militar e eu fui aprovada. Após a fase de treinamento, fui destacada para o patrulhamento na Beira Mar, em dupla com um colega, quase sempre de manhã.

Ali, as pessoas que caminhavam ou corriam, eram rostos anônimos, pouco a pouco tornados familiares. Com o tempo percebi que um senhor olhava demoradamente para mim. Até então, nenhum bom-dia, nenhum aceno de onde a minha intuição só enxergava carência e solidão.

Veio o Dia Internacional da Mulher e ele me surpreendeu com um ramalhete. Eu timidamente agradeci, sob a ironia leve do colega. Sem saber o seu nome, a partir daí os bons-dias se sucederam de maneira formal. No Dia dos Namorados, passando apressado, ele me deixou um presentinho e um cartão. Tamanha a surpresa, foi tudo tão rápido, eu nem pude recusar. Havia um número do telefone e um anel. À noite, liguei hesitante e agradeci. Dias depois nos encontramos. Era um viúvo que não queria mais viver sozinho.

Esperei o tempo de Deus e nos casamos. Vicente é engenheiro, eu deixei a polícia e me formei em contabilidade. Trabalho no seu escritório de projetos e somos uma família normal. O meu filho estuda arquitetura e o tem como um verdadeiro pai. Nós conversamos bastante e estamos indignados com a situação atual. Assim, participamos ativamente daquelas manifestações.

Numa delas, estivemos à frente da multidão, eu entre Vicente e o meu filho, braços dados a universitários, secundaristas, donas de casa e profissionais liberais. À entrada do prédio, havia uma barreira policial, porém ex-colegas me reconheceram e nos deixaram avançar. Na tribuna um demagogo homenageava um vagabundo qualquer. Não sei como, mas logo atrás de nós surgiu um grupo de mascarados fortões trazendo barra de ferro, corrente e soco-inglês. Foi uma correria geral.

No plenário, em pânico, o velho corrupto desmaiou. Outro, ajoelhado e sob a ameaça de um porrete, jurava defender o povo desde o tempo de líder sindical. Um chilique jogou o baitola nos braços do machão, antigo coronel da ARENA, e os dois fugiram para o banheiro das mulheres. A gordona, chorando, se escondeu embaixo da mesa e padecia sufocada. O histriônico se borrou todinho e a grande liderança ficou toda urinada.

De tão hilariante o espetáculo, o pessoal nada quebrou e se sentiu vingado. Saímos rapidamente pela porta dos fundos e a PM fez de conta que ia atrás. Dei um tchauzinho pros ex-colegas e a massa iniciou o Hino Nacional. Ninguém parava de rir e Vicente era só felicidade: ele é de sessenta e oito, esteve na passeata dos cem mil e ainda não perdeu as ilusões.

Foi só um susto na corrupção e a coisa parece não ter jeito: é mensalão, lava-jato, petrolão... E até já escalamos a seleção da penitenciária: Cerrado – Primo, Babel, Boca Mole e Caju – Indio, Santo e Mineirinho – Ferrari, Todo Feio, Caranguejo e Angorá.

Que valha-nos Deus e Nossa Senhora!


(*) Médico-cardiologista (Fortaleza-CE)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

SOBRE A REPÚBLICA DE CURITIBA - Fuad Faraj (*)

 
Aliás, nesta ditosa República de Curitiba, de

prodígios imensuráveis, nada há que não nos espante.

Nos lugares solitários, onde toda a vaidade humana

se apaga, pendurados nos locais de costume,

encontram-se em fartura e esplendor papéis higiênicos

ilustrados com o artigo 5º da Constituição da

Moribunda República Brasileira. O papel assim

estampado, prestimoso amigo das

horas mais aflitas, está ali à disposição e limpeza

das intocáveis e impolutas nádegas dos notáveis

juristas desta Excepcional Jurisdição”.


Fuad Faraj é Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná.






sábado, 24 de dezembro de 2016

DOLOROSA E SOFRIDA REALIDADE

GOVERNO TEMER:


01-AS TELES GANHAM 100.000.000,000,00 (CEM BILHÕES)

02-AS PETROLEIRAS GANHAM O PRÉ-SAL

03-OS POLÍTICOS LADRÕES GANHAM ANISTIA

04-O JUDICIÁRIO GANHA SUPERSALÁRIOS

05-A FIESP GANHA COM O FIM DA CLT

06-OS BANCOS GANHAM COM A PREVIDÊNCIA E SAÚDE

     PRIVADAS


E VOCÊ, COXINHA ALOPRADO, QUE DE VERDE E AMARELO

BATEU PANELA, GANHA MESMO O QUÊ ???

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

DE: EUGÊNIO ARAGÃO - PARA: DELTAN DALLAGNOL

Minha cartinha aberta ao Dallagnol: (Eugênio Aragão)

Meu caro colega Deltan Dallagnol,

"Denn nichts ist schwerer und nichts erfordert mehr Charakter, als sich in offenem Gegensatz zu seiner Zeit zu befinden und laut zu sagen: Nein."

(Porque nada é mais difícil e nada exige mais caráter que se encontrar em aberta oposição a seu tempo e dizer em alto e bom som: Não!)
Kurt Tucholsky

Acabo de ler por blogs de gente séria que você estaria a chamar atenção, no seu perfil de Facebook, de quem "veste a camisa do complexo de vira-lata", de que seria "possível um Brasil diferente" e de que a hora seria agora. Achei oportuno escrever-lhe está carta pública, para que nossa sociedade saiba que, no ministério público, há quem não bata palmas para suas exibições de falta de modéstia.

Vamos falar primeiro do complexo de vira-lata. Acredito que você e sua turma são talvez os que têm menos autoridade para falar disso, pois seus pronunciamentos têm sido a prova mais cabal de SEU complexo de vira-lata. Ainda me lembro daquela pitoresca comparação entre a colonização americana e a lusitana em nossas terras, atribuindo à última todos os males da baixa cultura de governação brasileira, enquanto o puritanismo lá no norte seria a razão de seu progresso.

Talvez você devesse estudar um pouco mais de história, para depreciar menos este País. E olha que quem cresceu nas "Oropas" e lá foi educado desde menino fui eu, hein... talvez por isso não falo essa barbaridade, porque tenho consciência de que aquele pedaço de terra, assim como a de seu querido irmão do norte, foram os mais banhados por sangue humano ao longo da passagem de nossa espécie por este planeta. Não somos, os brasileiros, tão maus assim, na pior das hipóteses somos iguais, alguns somos descendentes dos algozes e a maioria somos descendentes das vítimas.

Mas essa sua teorização de baixo calão não diz tudo sobre SEU complexo. Você à frente de sua turma vão entrar na história como quem contribuiu decisivamente para o atraso econômico e político que fatalmente se abaterão sobre nós. E sabem por que? Porque são ignorantes e não conseguem enxergar que o princípio fiat iustitia et pereat mundus nunca foi aceita por sociedade sadia qualquer neste mundão de Deus. Summum jus, summa iniuria, já diziam os romanos: querer impor sua concepção pessoal de justiça a ferro e fogo leva fatalmente à destruição, à comoção e à própria injustiça.

E o que vocês conseguiram de útil neste País para acharem que podem inaugurar um "outro Brasil", que seja, quiçá, melhor do que o vivíamos? Vocês conseguiram agradar ao irmão do norte que faturará bilhões de nossa combalida economia e conseguiram tirar do mercado global altamente competitivo da construção civil de grandes obras de infraestrutura as empresas nacionais. Tio Sam agradece. E vocês, Narcisos, se acham lindinhos por causa disso, né? Vangloriam-se de terem trazido de volta míseros dois bilhões em recursos supostamente desviados por práticas empresariais e políticas corruptas. E qual o estrago que provocaram para lograr essa casquinha? Por baixo, um prejuízo de 100 bilhões e mais de um milhão de empregos riscados do mapa. Afundaram nosso esforço de propiciar conteúdo tecnológico nacional na extração petrolífera, derreteram a recém reconstruída indústria naval brasileira. Claro, não são seus empregos que correm riscos. Nós ganhamos muito bem no ministério público, temos auxílio-alimentação de quase mil reais, auxilio-creche com valor perto disso, um ilegal auxílio-moradia tolerado pela morosidade do judiciário que vocês tanto criticam. Temos um fantástico plano de saúde e nossos filhos podem frequentar a liga das melhores escolas do País. Não precisamos de SUS, não precisamos de Pronatec, não precisamos de cota nas universidades, não precisamos de bolsa-família e não precisamos de Minha Casa Minha Vida. Vivemos numa redoma de bem estar. Por isso, talvez, à falta de consciência histórica, a ideologia de classe devora sua autocrítica. E você e sua turma não acham nada de mais milhões de famílias não conseguirem mais pagar suas contas no fim do mês, porque suas mães e seus pais ficaram desempregados e perderam a perspectiva de se reinserirem no mercado num futuro próximo.

Mas você achou fantástico o acordo com os governos dos EEUU e da Suíça, que permitiu-lhes, na contramão da prática diplomática brasileira, se beneficiarem indiretamente com um asset sharing sobre produto de corrupção de funcionários brasileiros e estrangeiros. Fecharam esse acordo sem qualquer participação da União, que é quem, em última análise, paga a conta de seu pretenso heroísmo global e repassaram recursos nacionais sem autorização do Senado. Bonito, hein? Mas, claro, na visão umbilical corporativista de vocês, o ministério público pode tudo e não precisa se preocupar com esses detalhes burocráticos que só atrasam nosso salamaleque para o irmão do norte! E depois fala de complexo de vira-lata dos outros!

O problema da soberba, colega, é que ela cega e torna o soberbo incapaz de empatia, mas, como neste mundo vale a lei do retorno, o soberbo também não recebe empatia, pois seu semblante fica opaco, incapaz de se conectar com o outro.

A operação de entrega de ativos nacionais ao estrangeiro, além de beirar alta traição, esculhambou o Brasil como nação de respeito entre seus pares. Ficamos a anos-luz de distância da admiração que tínhamos mundo afora. E vocês o fizeram atropelando a constituição, que prevê que compete à Presidenta da República manter relações com estados estrangeiros e não ao musculoso ministério público. Daqui a pouco vocês vão querer até ter representação diplomática nas capitais do circuito Elizabeth Arden, não é?

Ainda quanto a um Brasil diferente, devo-lhes lembrar que "diferente" nem sempre é melhor e que esse servicinho de vocês foi responsável por derrubar uma Presidenta constitucional honesta e colocar em seu lugar uma turba envolvida nas negociatas que vocês apregoam mídia afora. Esse é o Brasil diferente? De fato é: um Brasil que passou a desrespeitar as escolhas políticas de seus vizinhos e a cultivar uma diplomacia da nulidade, pois não goza de qualquer respeito no mundo. Vocês ajudaram a sujar o nome do País. Vocês ajudaram a deteriorar a qualidade da governação, a destruição das políticas inclusivas e o desenvolvimento sustentável pela expansão de nossa infraestrutura com tecnologia própria.

E isso tudo em nome de um "combate" obsessivo à corrupção. Assunto do qual vocês parecem não entender bulhufas! Criaram, isto sim, uma cortina de fumaça sobre o verdadeiro problema deste Pais, que é a profunda desigualdade social e econômica. Não é a corrupção. Esta é mero corolário da desigualdade, que produz gente que nem vocês, cheios de "selfrightousness", de pretensão de serem justos e infalíveis, donos da verdade e do bem estar. Gente que pode se dar ao luxo de atropelar as leis sem consequência nenhuma. Pelo contrário, ainda são aplaudidos como justiceiros.

Com essa agenda menor da corrupção vocês ajudaram a dividir o País, entre os homens de bem e os safados, porque vocês não se limitam a julgar condutas como lhes compete, mas a julgar pessoas, quando estão longe de serem melhores do que elas. Vocês não têm capacidade de ver o quanto seu corporativismo é parte dessa corrupção, porque funciona sob a mesma gramática do patrimonialismo: vocês querem um naco do estado só para chamar de seu. Ninguém os controla de verdade e vocês acham que não devem satisfação a ninguém. E tudo isso lhes propicia um ganho material incrível, a capacidade de estarem no topo da cadeia alimentar do serviço público. Vamos falar de nós, os procuradores da república, antes de querer olhar para a cauda alheia.

Por fim, só quero pontuar que a corrupção não se elimina. Ela é da natureza perversa de uma sociedade em que a competição se faz pelo fator custo-benefício, no sentindo mais xucro. A corrupção se controla. Controla-se para não tornar o estado e a economia disfuncionais. Mas esse controle não se faz com expiação de pecados. Não se faz com discursinho falso-moralista. Não se faz com o homilias em igrejas. Se faz com reforma administrativa e reforma política, para atacar a causa do fenômeno é não sua periferia aparente.

Vocês estão fazendo populismo, ao disseminarem a ideia de que há o "nós o povo" de honestos brasileiros, dispostos a enfrentar o monstro da corrupção feito São Jorge que enfrentou o dragão. Você e eu sabemos que não existe isso e que não existe com sua artificial iniciativa popular das "10 medidas" solução viável para o problema. Esta passa pela revisão dos processos decisórios e de controle na cadeia de comando administrativa e pela reestruturação de nosso sistema político calcado em partidos que não merecem esse nome. Mas isso tudo talvez seja muito complicado para você e sua turma compreenderem.

Só um conselho, colega: baixe a bola. Pare de perseguir o Lula e fazer teatro com PowerPoint. Faça seu trabalho em silêncio, investigue quem tiver que investigar sem alarde, respeite a presunção de inocência, cumpra seu papel de fiscal da lei e não mexa nesse vespeiro da demagogia, pois você vai acabar ferroado. Aos poucos, como sempre, as máscaras caem e, ao final, se saberá que são os que gostam do Brasil e os que apenas dele se servem para ficarem bonitos na fita! Esses, sim, costumam padecer do complexo de vira-lata!

Um forte abraço de seu colega mais velho e com cabeça dura, que não se deixa levar por essa onda de "combate" à corrupção sem regras de engajamento e sem respeito aos costumes da guerra.

domingo, 18 de dezembro de 2016

A "ENTREGA" DE UM PAÌS - José Nílton Mariano Saraiva

Abaixo, documento da lavra de Pedro Sampaio Malan, então todo poderoso Ministro da Fazenda do Governo Fernando Henrique Cardoso, enviado ao FMI, em 1999, para anunciar um tal “AJUSTE FISCAL”. 
Como se pode constatar, já àquela época Fernando Henrique Cardoso, via Pedro Sampaio Malan, ofereceu ao FMI nada mais nada menos que: o BANESPA, BANCO DO BRASIL, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, BNDES, BNB, BASA, IRB, VALE DO RIO DOCE E PETROBRAS.
Hoje, lamentavelmente, tal programa é implementado pari-passu pelo sem povo, sem voto e sem moral Michel Temer, sem que os brasileiros ofereçam qualquer reação.