por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 9 de novembro de 2014

Um Jornalista Distraído! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O que esperar de um jornalista? Que ele seja antes de tudo um vocacionado. Uma pessoa que abrace a profissão com isenção e vista-se com ela durante todos os segundos de sua vida. Um tipo que esteja antenado com a dinâmica da política e da vida em sociedade, da qual ele, além de testemunha, é um importante ator. Espera-se dele também honestidade na informação, muita vivacidade, clareza de redação e contínua atualização com a "Aldeia Global" na qual todos nós habitamos.

Pois não é que contrariando essas expectativas, há exceções? Aqueles que são tremendamente distraídos, que vivem no mundo da lua, mas tão bem escondidos, que parecem estar na face mais oculta do nosso satélite.

Havia no Rio de Janeiro dos últimos anos do Século XX, um jornalista tão distraído, cujas "voadas" faziam a alegria de todos os seus colegas de trabalho. Era mais conhecido pelo apelido de "Habi Sorto", nome fictício para o qual são dispensadas as necessárias justificativas. Não era por racismo, mas por puro hábito, que ele batizava qualquer interlocutor que não possuísse a pele totalmente branca pelo nome de "Moreno", apelido distribuído aos milhares de conhecidos dele ou não. 

Em certa tarde de um final de ano, "Habi Sorto" foi convidado para uma recepção que o poderoso dono da Rede Globo ofereceria à sociedade carioca em sua mansão do Cosme Velho. "Habi Sorto" passeou por todas as seções do jornal onde trabalhava, visitou cada um dos birôs de seus colegas, exibindo orgulhosamente o convite, mesmo sem lhe passar pela cabeça que seus colegas haviam sidos distinguidos com idêntica honraria.   

No dia marcado, "Habi Sorto" foi gentilmente recebido no portão de entrada da mansão por um senhor distinto, de tez levemente morena, vestido rigorosamente com uma casaca branca, calça escura e gravata borboleta. Ao cumprimentar os convidados, acompanhou o jornalista até a uma mesa reservada para imprensa, colocada nos jardins, à margem da passarela de entrada, na qual já se encontravam alguns colegas de "Habi Sorto". Este não perdeu tempo e logo ordenou ao acompanhante:
- Oh Moreno, traga um whisky e um salgado! - Em poucos minutos, o cidadão de casaca branca apareceu com uma bandeja numa mão, e uma garrafa de whisky "royal salute" na outra, tendo servido ao grupo de jornalistas que acompanhava "Habi Sorto".

À certa altura, notou-se uma grande movimentação nos jardins, com as pessoas se dirigindo para a entrada, pois anunciara-se a chegada do embaixador americano. "Habi Sorto" e os colegas foram assistir. O embaixador ao descer do carro abraçou calorosamente o anfitrião. E então, o jornalista "Habi Sorto" comentou com os colegas.
- Esse garçon, o Moreno, só quer ser o cão! Nunca vi sujeito mais metido! Pois não é que o bicho é conhecido até pelo embaixador americano?
- Esse Moreno, que você acha que é um garçon e, que ficou muito seu amigo a ponto de atender pessoalmente seus pedidos é o dono da casa, o Dr. Roberto Marinho, seu patrão!  -  Completaram seus colegas.

O nosso herói, o jornalista "Habi Sorto", campeão mundial de mancadas, murchou, procurou no chão algum buraco onde pudesse se enterrar e nada encontrou, somente grama. Pediu licença para ir ao banheiro e sumiu de vez!

Mais de vinte anos depois, "Habi Sorto" foi na visto no Estádio Olímpico de Porto Alegre, no meio da torcida do Grêmio, gritando o nome "Moreno!" para o goleiro do time adversário. Livrou-se de um processo por racismo graças a uma jovem, alguns degraus à sua frente, que pronunciava ofensas racistas bem mais graves.


Por Carlos Eduardo Esmeraldo 

 NOTA DO AUTOR:  Texto inspirado numa história que me foi contada pelo meu primo e amigo, o jornalista José Esmeraldo Gonçalves, para lembrar aos amigos que muitas vezes eu tenho meus momentos de "Habi Sorto".

Posteriormente a história que me foi narrada oralmente constou do livro: "Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou". Organização de Jose Esmeraldo Gonçalves e J. A. Barros, Rio de Janeiro, Desiderata, 2009; página 108. gentilmente cedido pelo autor. 
Abaixo, o texto original de autoria de José Esmeraldo Gonçalves, que se encontra no livro "Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou."

Me vê um uísque aí, moreno! -

Flávio Aquino, grande figura e crítico de arte da Manchete, era, diga-se, desligado. E bota desligado nisso. Ele mesmo contava uma historinha deliciosa. O poderoso Roberto Marinho convidou embaixadores e adidos culturais para uma recepção na sua mansão do Cosme Velho. Entre outros intelectuais, estava na lista o nosso Flávio. Ao chegar à mansão, ele logo tratou de pedir um uísque duplo ao primeiro "garçon" que encontrou. "Moreno, me vê uma dose com duas pedras de gelo, faz favor", decretou, dirigindo-se ao sorridente senhor de "summer" impecável e pele queimada do sol. Solicito, o "garçon" se mandou e logo retornou com o pedido prontamente cumprido. Flávio agradeceu e foi circular, de copo na mão, pelos salões da mansão. Papeando com amigos, não pôde deixar de notar que o "garçon" que o atendera era festejadíssimo pelos demais convivas. Embaixadores o abraçavam, jornalistas o paparicavam, enfim, o homem era a "alma" da festa. Antes de pedir mais uma dose de uisque, Flávio olhou melhor para a cara do sujeito e .... caiu-lhe a ficha. O "garçon" de branco e gravatinha borboleta era ninguém menos do que o anfitrião. O próprio Roberto Marinho. Flávio se mandou da festa sem se despedir do "Moreno".

Por José Esmeraldo Gonçalves
      
Nota:  Flávio Aquino era dono de uma vasta cultura. Foi arquiteto, jornalista e crítico de arte. Faleceu aos 67 anos, em 19 de janeiro de 1987.  


sábado, 8 de novembro de 2014

A rigor a palavra representa disposição, ordem, arranjo, um modo de fazer as coisas funcionarem a favor do povo. Tão diferente destes tecnocratas que vivem oferecendo previsibilidade para que os donos do capital aumentem mais a renda advinda do capital e assim aumente mais ainda o capital. A palavra é economia. E o grande sambista Geraldo Pereira, muito mais sábio que os feitores da escravidão moderna já decantava a economia com esta belíssima música chamada Ministério da Economia. Samba gravado em 1951. Em 1955 na porta do Restaurante Capela, na Lapa, Geraldo Pereira brigou com o famoso Madame Satã e teria levado uma facada, morrendo dias depois num hospital no Rio de Janeiro. 


O restaurante onde Geraldo Pereira brigou com Madame Satã, foi transferido para rua Mem de Sá, também na Lapa, agora com o nome de Nova Capela. Nele serve-se um dos melhores cabritos assados da cidade. E assim nos vem à memória esta música Cabritada Mal Sucedida de Geraldo Pereira.


E foi aí que João Bosco e Aldir Blanc fizeram esta belíssima e bem humorada Siri Recheado e o Cacete. Uma espécie de Cabritada Mal Sucedida. Acompanham as soluções de música e letra que é um prazer ouvir. 

DIFICULDADES PREVISÍVEIS - José Nilton Mariano Saraiva

Primeiro, temos que acabar com essa “conversa mole” de que 3.459.963 votos de maioria é pouca coisa ou um número representativo de uma vitória apertada. Afinal (e levando em conta o último senso), trata-se de um contingente equivalente às populações (individuais) dos estados do Rio Grande do Norte (3.419.550) ou Alagoas (3.327.551), ou mesmo à de todo um país, como o vizinho Uruguai (3.286.314 habitantes); ou ainda, levando em conta o nosso terreiro, algo como 28 vezes toda a população do Crato (homens, mulheres, crianças, idosos, jovens e por ai vai, eleitores ou não).

Pois bem, DERROTADO por Dilma Rousseff por tão “expressiva diferença”, o tucano Aécio Neves, ao retomar suas atividades no Senado da República, mostrou ao Brasil que a não materialização do GOLPE ELEITORAL que em última instância visou beneficiá-lo (e que tinha conhecimento), perpetrado contra a democracia pela revista VEJA-ÓIA, TV-GLOBO e os jornalões sudestinos (quando denúncias sem comprovação foram veiculadas às vésperas da eleição, como se fossem verdade), ainda não foi de todo absorvido.

Tanto é que, ao invés de tentar acalmar os ânimos dos correligionários, lembrando-lhes que passamos por um processo democrático onde o vencedor, segundo a Constituição Federal, é aquele que obtém maioria dos votos (nem que seja só “umzinho”), o “playboy do Leblon”, mostrando imaturidade, arrogância e prepotência, e estimulado pelo clamor de babas-ovos e bajuladores de plantão, no seu primeiro pronunciamento plagiou a candidata (duplamente derrotada) Marina Silva e deitou falação sobre uma tal “vitória na derrota” (dele) e que a presidenta reeleita teria tido, ao contrário, uma “derrota na vitória”, devido à suposta pouca margem de vantagem obtida. E assim, estribado em tal premissa, ousou sugerir que a presidenta de todos os brasileiros deverá se submeter à sua agenda, à agenda raivosa dos que se abrigam debaixo do seu furado guarda-chuva.

Chavões e babaquices de lado, a tentativa de tentar “desqualificar” a vitória da oponente é própria daqueles que usam viseira, que não se preocupam com o “macro”, que priorizam interesses comezinhos, que se apegam às questões “micro”, daí a insistência em não admitir a realidade (que perderam, sim, apesar do “golpe” midiático que resultou frustrado).

No mais (e isso era previsível), há que se reconhecer que o segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff será extremamente difícil, em razão do momento complicado que as nações de todo o mundo atravessam (e o Brasil não é uma ilha), do ter que conviver com políticos mafiosos que parecem não se preocupar com o país, bem como em razão da reiterada intenção de atrapalhar manifestada por uma oposição partidária do quanto pior melhor e, pelo andar da carruagem, sequiosa por trilhar a rota da ilegalidade.

Agora, aqui pra nós, tudo tem um limite. Até “palhaçadas” tipo sugerir a volta dos militares (que, disciplinados, parecem conscientes do seu papel na manutenção da ordem e da institucionalidade), ou o desfraldar a bandeira do “impeachment”, na tentativa de impedir que a escolha do povo seja estuprada, sem qualquer fundamentação legal sobre (afinal, a presidenta Dilma Rousseff não cansa de repetir que a apuração da questão envolvendo desvios na Petrobrás será levada às últimas conseqüências, doa a quem doer e nem que a vaca tussa).

Definitivamente, são uns babacas. Mas, perigosos e, pois, merecedores de acompanhamento “full time”, já que herdeiros da filosofia de Carlos Lacerda, que, contrário ao candidato Getúlio Vargas, saiu-se com essa hediondez: “o candidato, não deve ser eleito; eleito, não deve tomar posse; empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.

Deveriam saber que os tempos são outros e fanfarronices da espécie não mais vingam. Assim, depois de alguns ajustes necessários Dilma Rousseff será empossada, sim, assumirá, sim, e, apesar da torcida contra de uns poucos sectários e intransigentes, repassará o bastão para Lula da Silva, ao final do seu mandato.     



"Nóis mudemo" (por Fidência Bogo)

O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo ao Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, todo poesia e misticismo. As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz. -Por que você faltou esses dias todos? -É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda. Risadinhas da turma. -Não se diz “nóis mudemo” menino! A gente deve dizer: nós mudamos, tá? -Tá fessora! No recreio as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis mudemo! No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações. -Pai, não vô mais pra escola!- Oxente! Módi quê? Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse: - Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da mininada! Logo eles esquece. Não esqueceram. Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapaz tinha partido no dia anterior para casa de um tio, no sul do Pará. -É, professora, meu fio não aguentou as gozações da mininada. Eu tentei fazê ele continuá, mas não teve jeito. Ele tava chateado demais. Bosta de vida! Eu devia di tê ficado na fazenda coa famia. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado. Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer. Engoli em seco e me despedi. O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte. Uma tarde, um povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia. -O que é, moço? -A senhora não se lembra de mim, fessora? Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstitui num momento meus longos anos de sacerdócio, digo de magistério. Tudo escuro. -Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama? Para tantas perguntas, uma resposta lacônica: -Eu sou “Nóis mudemo”, lembra? Comecei a tremer. -Sim, moço. Agora lembro. Como era mesmo o seu nome? -Lúcio –Lúcio Rodrigues Barbosa. -O que aconteceu?
- Ah! fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu. Comi o pão que o diabo amasso. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro. Fui boia-fria, um “gato” me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando conseguir fugi. Peguei tudo quando é doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis ignorante as veis fais coisa sem querê fazê. A escola fais uma farta danada. Eu não devia tê saído daquele jeito, fessora, mais não aguentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui falá direito. Ainda hoje não sei. -Meu Deus! Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz que me olhava atarantado. O ônibus buzinou com insistência. O rapaz afastou-me de si suavemente. -Chora não, fessora! A senhora não tem curpa. Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu! Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina. Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos... Super usada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna, a língua que a criança aprendeu com seus pais e irmãos e colegas – e se torna o terror dos alunos. Em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade. E os lúcios da vida, os milhares lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: “Não é assim que se diz, menino!” Como se o professor quisesse dizer: “Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se ! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra!”. E siga desarmado para o matadouro da vida.

(transcrito do site do Luis Nassif)


Amanhecendo...




INTERLÚDIO -
"As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
...
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente - claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales.
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado
Fico ao teu lado."
(CECÍLIA MEIRELES)
Tem razão Cecília Meireles (que hoje - 07/2014 - completaria 113 anos), tudo está
muito dito. Gasto. Como uma roupa muito usada. Puída. Rasgada.
 
 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Sitônio da Furquia

J. FLÁVIO VIEIRA


                               Vivendo em áreas inóspitas, onde a sobrevivência parece mais uma dádiva dos céus, a pobreza , nos cafundós-do-judas ,  desenvolve técnicas de guerra contra os rigores da natureza. Sabe que qualquer pequeno detalhe pode ser crucial e muitas vezes o determinante entre a vida e a morte.  Talvez, por isso mesmo, a solidariedade seja um sentimento bem mais presente por ali que nas grandes metrópoles, onde somos todos estrangeiros dentro do mesmo país. Nos grotões, o  sofrimento  e a sequidão ao derredor umedece as almas e as torna mais maleáveis e afáveis. A cacimba e  o paiol  passam, facilmente, a ser bens comunitários. As cercas das senzalas naturalmente se desfazem       , como que dando exemplos pedagógicos aos muros da casa-grande.
                        Em Matozinho, assim, logo que a TV anunciou a Seca no Sudeste do Brasil, a gandaia se agitou. Conhecia  bem aquela paisagem cinza :   leitos dos rios se transformando em estradas, carro pipa sendo disputado a tiro.  Os matozenses , de conversa em conversa, começaram a se preocupar. A notícia, porém, não lhes causou  estranheza, ora o Beato já havia até cantado a pedra: “O Sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão!”. O problema, na visão dos matozenses, é que os sulistas são mofinos danados e não entendem  desse negócio de seca. Faltou chuva um mês por lá, dá desespero, neguinho bota pra chorar e fica esperando o fim do mundo.
                        --- Aqui, nós já somos tudo bargados.Tem peixe em Matozinho com três anos de idade que ainda nem sabe nadar! Tem menino já encabelando que, quando vê chuva caindo, sai correndo doido pensando que o céu tá se rasgando! Essa miuçaia das bandas de lá, tudo engravatado e cheio de carambas e uais  não aguenta o arrocho, não!
                        Foi pensando no aperreio do povo  do Sudeste que Sitônio da Furquia, um marcador de cacimba de Matozinho, resolveu fazer um adjunto para ajudar os irmãos do Sul neste momento tão ressequido e difícil. Sitônio viera dos Inhamuns e se gabava de entender do assunto como ninguém.
                        --- Comi palma frita, mucunã lavada  nove vezes, espremi mandacaru e raiz de imbu pra tirar  a água. Em estiagem sou PhD !
                        Sitônio reuniu alguns amigos mais próximos e criaram um Coletivo que matuto agora, depois de Lula, tá é chique meu filho ! O famoso C.L.P.  – Coletivo Língua de Papagaio. O objetivo principal era desenvolver técnicas  anti-estiagem com o fito de ajudar os irmãos do Sul, nestes novos tempos de choro com lágrima em pó e ranger de dentes sem saliva. E lá se reuniram inúmeros especialistas no assunto: esgotadores de fossas, tiradores de mel-de-abelha, profetas de chuva, caçadores de tatus, curiosos e sobreviventes.  Aos poucos , nas reuniões, o CLP foi catalogando pontos importantes a serem desenvolvidos. Técnicas de marcação e cavamento de cacimbas e poços; plantio de xerófitas aguaceiras como imbu, mandacaru e palma; economia de água catalogada no seguintes pontos:  banho em dedal, banho de cuia, sabugo e caco de telha,  uso de espanador como papel higiênico, tapagem e reparo de vazamento de potes, jarras, cabaças e ancoretas; aproveitamento de fontes alternativas como : barriga d´água, água de joelho. O Coletivo Língua de Papagaio já tinha organizado todo um Dossiê e dirigiu-se ao prefeito Sinderval Bandeira que prometeu levar a questão adiante,  quando , por fim, as eleições terminassem. É que, em período eleitoral, nada sai do lugar, o país todo pára e só se pensa em voto.  Nem mesmo paulista dá por falta da água !
                        Passada a eleição, Sitônio já se preparava para se dirigir à prefeitura com as ideias escritas, num grande calhamaço de papel almaço, pelo escrevinhador geral da CLP: Totonho das Cabaceiras. Pensava em dar continuidade ao projeto , formar a equipe e oferecer os serviços de consultoria  aos sulistas que andam mais perdidos que tucanos em noite estrelada. À noite, no entanto, “Da Furquia” soube da ruma de impropérios que o povo do sul estava jogando em cima dos nordestinos, por conta do resultado da eleição. Chamados de burros, de idiotas e ameaçados de morte até, por terem votado segundo sua própria vontade. Tinha até uns jornalistas inflamados, rogando praga, falando numa tal de  separação:  apartar o Brasil em duas bandas: a sabedoria e progresso na parte de  baixo e a burrice e o atraso na porção de riba. Sitônio, fulo da vida, chamou uma reunião de emergência do CLP. Decidiram, por unanimidade, cancelar a assessoria proposta  ao Sudeste.
                        --- Pois se é assim que vocês querem seus brocóios, que assim seja ! Guerra é guerra ! Cuidado com a lambedeira de doze polegada no vazio, viu ? Se vocês não aguentam o pote, como não vão se meter a pegar na rodilha ! Uma ruma de maricas desses que se caga com medo de seca,  ainda tem a cara de pau de querer desfazer de nordestino ! Querem separar o Brasil? Pois lembrem que aqui em cima vai ficar o cuscuz, a tapioca, a buchada e a galinha de cabidela.  Pois se lasquem na seca que não vamos ajudar ninguém , não ! Querem água,  é ? Pois lá vai : Azeite , senhora vó !
                        No mesmo dia andaram dando uns safanões num pobre mestre de couro de Matozinho. Motivo ? Por azar,  o homem tinha o nome de “Sulino”.
                        Andaram comentando, dias depois, na praça,   que Sitônio tinha botado um nome muito esquisito numa jumenta do seu roçado. Dias depois, alguns membros do CLP passando por ali,  mataram a charada. A jumenta estava sendo coberta, na manga, pelo jumento de lote.  Meio agoniada com a virilidade excessiva e monumental  do companheiro, tentava se safar , em vão, do assédio sexual, subindo uma ribanceira.  Nisso, ouviu-se quando Sitônio gritou, revelando, por fim, o apelido estrambótico que colocara na biroba:
                        ---  Aguente o ferro !  Num rifugue não ,  viu,    seu  Diogo Mainardi !


Crato, 06/11/14

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

"Vocês ouvirão agora uma ópera. Porque ela foi elaborada de modo tão pomposo como só um mendigo poderia sonhar, e porque ela deveria ser tão barata, que até os mendigos possam pagar, ela se chama "A Ópera dos Três Vinténs".  

Mack the Knife - música do personagem deste nome que é o mais notório criminoso de Londres.
Aqui com Louis Armstrong. Um belíssimo vídeo sobre a ópera acima referida de Kurt Weil e Bertold Brecht.


Chico Buarque fez uma versão da ópera dos três vinténs que redundou num filme com Hugo Carvana e num musical que está em cartaz aqui no Rio: Ópera do Malandro.

E lá pelas tantas Chico entrou com a mesma música com outra letra, agora cantada por João Nogueira.


IDEIAS TÓXICAS, DISCURSOS BÁRBAROS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Gente meritocrata é assim. Até os jundiás do rio Batateira sabem. Preconceito e indigestão conceitual é comum diante da erudição a que certas pessoas se obrigam conhecer em cursos de graduação e pós, mesmo que no exterior. É que o conhecimento acadêmico é uma farsa se não considera a realidade que envolve as pessoas.

E essa farsa é o conteúdo principal da meritocracia. É que, nem mesmo os concursos seletivos, conseguem extrair o proveito prático da exposição aos livros, seminários, provas e testes. Não mesmo. É que as provas não questionam o sujeito frente aos outros e como o conhecimento o liberta de si mesmo ao invés de aprofundar ainda mais erros inatos de sua formação social, ética, moral e política.

E numa sociedade restritiva, onde um grupo temeroso e apegado aos próprios méritos olha para a imensa população excluída com aversão e medo, nem o pós-doutorado resolve questões éticas e nem mesmo vícios científicos e filosóficos graves. Sobre este último aspecto temos exaustão deste tipo escrevendo na grande mídia: Olavo de Carvalho, Condé, Villa e por aí vai. Grande paredão de estupidez e arrogância que reflui a ciência aos estágios da idade média.

Mas políticas públicas inclusivas, que abrem portas antes fechadas, que iluminam cantos antes escuros, que levantam tapetes e revela aqui que acontecia por baixo dos panos sempre expõe certa virulência residual. O maior exemplo disso é o das corporações médicas ao enfrentar a questão do programa de governo Mais Médico. É o mesmo de setores da universidade ao avaliar a entrada de cotistas sociais e raciais.

Até que o processo seja absorvido eles sabotam, exacerbam a ignorância humanitária (humanita traduz-se por conhecimento), expõem todo o anacronismo das posições sociais dos seus pais e avós e, pior de tudo, dizem tantas barbaridades que negam todo o ritual universitário que deveria existir em seus pilares: ensino, pesquisa e extensão.  Olhem o exemplo abaixo dito pelo professor Manoel Luiz Malagutti, de Santa Catarina, professor de economia da Ufes, com doutorado na França. Ele assim se expressou numa discussão sobre cotas nas universidades:

“(...) eu coloquei que se eu tivesse que escolher entre dois médicos, um branco e um negro, com o mesmo currículo, eu escolheria o branco. Por que eu escolheria o branco? Os negros, em média, vêm de sociedades, de comunidades menos privilegiadas, para a gente não usar um termo mais forte, e nesse sentido eles não têm uma socialização primária na família que os tornem receptivos aos trâmites da universidade, à forma de atuação da universidade, aos objetivos da universidade. Eles têm muito mais dificuldades de acompanhar determinadas exposições. Eu não acho que é uma visão preconceituosa, acho que é bastante realista.”

Como o professor já tem mais de dez anos de ensino, tem doutorado feito em outra língua, estamos falando de alguém que evidentemente já pode ter uma boa capacidade crítica de sua própria experiência. E a conclusão que se chega diante de sua fala é que ele estava falando diante de um espelho. Criticava à própria imagem.


A tendência é que se prefiram conselhos sobre economia de um outro professor que não ele.   

Eita Nordeste da Peste! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Longe de mim atiçar o separatismo latente que tem surgido ultimamente nos estados mais ricos do Brasil, entre os quais São Paulo se destaca como líder. Que esses nossos irmãos do sul-sudeste me perdoem. Mas o Brasil nasceu aqui! Nesse Nordeste sofrido, de muito sol, muito calor humano, suor e trabalho. Sem racismo, sem preconceitos, mazelas importadas por imigrantes estrangeiros que trouxeram tais sentimentos impregnados no sangue, como herança genética de seus antepassados, que aqui chegaram das mais diferentes nacionalidades, muitos dos quais provavelmente expulsos de suas pátrias. Aqui, diferente do outro Brasil que o Nordeste viu nascer, vive um povo cheio de brasilidade, irmanados por um imenso sentimento de solidariedade e muito amor à pátria. Sem divisionismo, desde quando foi consolidada a independência do Brasil. O nordestino é antes de tudo um povo rico em cultura e arte popular.

Não é exagero afirmar que o berço da cultura brasileira está aqui no Nordeste! Na literatura temos uma inesgotável relação de escritores que se destacaram no cenário nacional: José de Alencar, Graciliano Ramos, Raimundo Magalhães Jr., Rachel de Queiroz, Humberto de Campos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Ariano Suassuna, Jorge Amado, Adonias Filho, Aluísio Azevedo, Gilberto Freyre, Josué de Castro, João Ubaldo Ribeiro, Gustavo Barroso, Domingos Olímpio, Jader de Carvalho, Raimundo Girão, Tomé Cabral e muito mais, sem deixar de acrescentar novos escritores cearenses que surgem a cada instante, como os médicos cratenses José Flavio Vieira e José do Vale Pinheiro Feitosa, Everardo Norões, e o já consagrado saboeirense Ronaldo Correia de Brito, além de tantos outros.

Na poesia temos Manoel Bandeira, Castro Alves, Ferreira Gullart, Gonçalves Dias, João Cabral de Melo Neto, o cratense Wellington Alves e o nosso genial Patativa do Assaré.

Na música popular, as mais belas canções do cancioneiro brasileiro com uma rica variedade de ritmos musicais, nos quais se destacam nacionalmente os cantores e compositores: Luis Gonzaga, Dominguinhos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymi, Morais Moreira, Pepeu Gomes, Fagner, Belchior, Ednardo, Zé Ramalho, Alceu Valença, Elba Ramalho, Chico Serra, Zeca Baleiro, Lenine, Geraldo Azevedo, Gal Costa, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Cláudia Leite.

Apenas uma breve amostra da riqueza cultural imensurável de que o nordeste é possuidor. Para o pessoal do outro Brasil conhecer, tem que pisar o solo nordestino, conhecer nosso sertão, conviver com a poesia que brota do nosso viver, dentro da nossa caatinga, com plantas que são somente nossas e muita sabedoria popular do nosso povo. 

Por Carlos Eduardo Esmeraldo 
    

Sidney Muller , sempre bem lembrado!



Uma notícia relevante!


Everardo Norões entre os finalistas do Jabuti e do Portugal Telecom

    Em uma mesma semana, Everardo Norões foi anunciado como finalista dos prêmios Jabuti e Portugal Telecom com o livro "Entre moscas".
    Leia a notícia da indicação para o Jabuti aqui.
    Leia a notícia da indicação para o Portugal Telecom aqui.
     

    quarta-feira, 5 de novembro de 2014

    POIS É , PRA QUÊ? - José do Vale Pinheiro Feitosa

    Pois é, pra quê? Sidney Muller

    Ação. Luzes. Ação.

    A embriaguez da ação. Mesmo sem saber a causa, o propósito, o resultado. Ação. Sem ela um tédio mortal. A grande e irremovível depressão.

    A necessidade da ação como um adware, spyware, sempre tentando abrir uma nova guia no navegador. E para que a mente, a memória e o corpo abram a ação busca-se o combustível.

    Aquele que estabeleceu outra mente. A mente tangível. Como a contundência de comprimidos de êxtases, o hálito azedo de café, goles de álcool, encher de fumaça os alvéolos, cafungadas de romper as cartilagens nasais. A mente alterada, motora da ação.   

    O mérito da ação. O sucesso, conquista, empreendedorismo, o orgulho de si mesmo pelo qual mereça reconhecimento. Que necessita do “marketing”, que depende de intermediários, que tilinta a sonância de moedas passando de mãos.

    E tome ação. Até mesmo a contemplação, a meditação, a oração, são territórios da ação. Não se constituem em mais nada do que propriedade de valor nas transações monetárias lastreadas no lucro e no plano de negócio.

    Quem há de contar estrelas mesmo sob ameaça de verrugas nascerem em sua pele? Quem há de expirar e inspirar os segundos como um curso quase inativo do acontecer? Quem há de extrair conteúdo em horas vazias de débitos e créditos?

    Espiga a espiga no milharal. Palha a palha na espiga. Milho a milho debulhado. Esta fábula agrícola que ainda se escoa lentamente no modo de estar no mundo.

    Um continuo viver.

    Uma mandala do desfecho.

    Esta enfiada de contas para qual não traduz valor.


    Tudo ação pouco acelerada onde se tem oportunidade de prestar atenção para além das margens deste acontecer. 

    Um artista cratense- nosso orgulho- Tiago Araripe!



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    Ontem às 02:23 ·
    "Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo: e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste de que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente - minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa. [...] Sem alegria nem cui...dado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. [...] Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou - "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" [...] Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. [...] Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água, que não para, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio"
    Trechos do conto "A TERCEIRA MARGEM DO RIO" (um dos mais belos contos que já li) de JOÃO GUIMARÃES ROSA. (antes de entrar na sua canoinha, leia essa maravilha, o rio vai agradecer)
     
     

    segunda-feira, 3 de novembro de 2014

    QUEM TENTAR O GOLE SERÁ GOLPEADO - José do Vale Pinheiro Feitosa

    As eleições deixaram perplexos os lados mais contundentes da disputa. E com tal perplexidade permanecem em campanha. Dilma anunciou uma união como tese. Como prova, pouco provável.

    O PSDB que representa a maior unidade opositora não vai querer, o PMDB vai aumentar os custos da “união”, o “mercado” vai querer mais juros.

    Isso sem contar que o povo quer mais emprego, maior poder de compra, melhorar a saúde, a educação, o transporte, a moradia e a segurança pública.

    E tem o mundo. Vivemos num Estado Nação, que se destaca de todos os outros, assim como os outros fazem entre si.

    Por isso a política também é uma questão de soberania, que envolve conflitos e alianças. Igualzinho aqui entre nós. Aí, diante de um comércio mundial que não compra, todo mundo quer vender, ser o único fornecer e o principal ganhador. E nós temos que fazer o nosso. Não é verdade?

    Desde que o PT assumiu que as manifestações de rua sofreram um resfriamento. Retornaram em julho de 2013, despertando o centro, a esquerda, a direita, a extrema esquerda, a extrema direita, anarquistas, desesperados e predadores. Agora, sabemos, como sempre soubemos, manifestar é um instrumento da democracia.

    Como também é democrático manifestar-se com outras bandeiras, contrapondo-se inclusive contra a violência. Mas não esqueçamos, por mais equivocada que seja, a manifestação uma vez que junte mais de uma pessoa, já é uma unidade de ação. Minoritária. Mas é.

    Agora vamos dar um passo adiante. Diante de cada posição, vamos seguir em frente sem nenhuma contradição? Não falo nem da contradição de bandeiras opostas, mas da contradição interna à nossa própria (ou do outro) posição.

    A Presidenta Dilma tem um papel como Chefe do Executivo. O Presidente da Câmara também, assim como o Senado e o Presidente do Supremo apenas para falar dos poderes federais. Mas inclua o fato que nosso país é uma República Federativa e temos os poderes dos Estados em igual desdobramentos.

    Soma a isso tudo: que representantes de nove partidos diferentes foram eleitos governadores. Só o PMDB elegeu sete governadores, o PT cinco governadores, o PSDB outros cinco, o PSB três (o DF é como um estado), o PDT dois governadores, o PSD dois, o PP um, o PC do B um e o PROS um governador.  

    Isso significa o quê? Uma responsabilidade compartilhada muito ampla e politicamente contrabalançada de modo a isolar propostas de rupturas como essas que aconteceram com alguns gatos pingados em algumas cidades. A manifestação do deputado Xico Graziano (PSDB) no Face representa bem a repulsa a esta coisa.

    Do mesmo modo que se pede o impeachment de Dilma se pode pedir de qualquer outro, inclusive de Alckmin. Todo mundo tem que pôr a cabeça no lugar e com ela passar o dia-a-dia da política até os momentos de disputa democrática.

    Na verdade a oposição tem uma grande angústia à sua frente. Vai querer mudar as regras para solvê-las. Desde o governo de Pedro II e da Ditadura Militar que não se tem um mesmo partido por tanto tempo no poder como o PT tem agora (serão 16 anos).

    Melhor dizendo para não confundirem que na monarquia não havia alguma alternância entre os partidos no parlamentarismo monárquico, pois acontecia. Estou falando da mesma força política. Mesmo considerando a República do Café-com-Leite ali havia uma partilha política em torno dos negócios do café paulista, do café e do leite mineiro.

    Não é por uma espécie de vício de linguagem do contraditório. Mas Fernando Henrique Cardoso, com aquele projeto de vinte anos do PSDB no poder, errou feio ao promover a reeleição. Entregou a instituição dos mandatos de oito anos de bandeja para o PT.

    E aí ocorre com todo mundo que erra e sabe que sofre pelos próprios erros. Eles já estão vendo Lula em 2018. Isso é desesperador.

    Mas não deixem de considerar que têm um patrimônio políticos invejável: governam São Paulo, o Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Pará. Não é de se jogar na fogueira. Magalhães Pinto, Ademar de Barros, Jânio Quadros (por outro cargo) e Carlos Lacerda são excelentes lembranças para se pensar duas vezes.


    Sim. Quem depende da ordem política (legal) constituída, arrisca tudo com a ruptura da legalidade.   

    Os "GOLPISTAS" frustrados

    DIREITA, VOLVER !!!

    A Dilma tem que sair porque queremos botar o Lobão.
    Você sabe, né, o Lobão é mais ligado nos baratos tipo assim contra tudo isto que está aí, contra tudo e contra todos, contra. . . 

    imagem de Luiz FS
    Luiz FS


    O Egoísmo Humano. – Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

    Dizem que o Brasil é um País Cristão. Segundo o IBGE 86,8% da população do Brasil é de cristãos, sendo 64,6% católicos e 22, 2% protestantes, todos seguidores da mensagem libertadora de Jesus Cristo. Seguir Jesus não é fácil, pois o ser humano não se dispõe a sair do egoísmo. Numa sociedade capitalista concentradora de renda, é uma oportunidade para quem tem fé em Jesus Cristo se dispor a querer sair do egoísmo e se tornar uma pessoa mais humanitária e solidária. O acúmulo de bens para poucos deveria dar ao cristão o mínimo de sensibilidade para querer a justiça social e a distribuição de renda.
          
    Jesus veio para pregar a justiça e a paz, para transformar o coração de pedra do homem em coração de carne. Mas o coração humano está tão fechado dentro do seu egoísmo que não se lembra do irmão mais necessitado. A fé não é só louvar a Deus, é também ver Deus através do irmão, do próximo. Fé e vida caminham juntas, oração e ação, essa deve ser a atitude do cristão.
      
    Durante a campanha eleitoral, nas redes sociais, observei cristãos radicalmente contra os programas sociais do governo, principalmente o Bolsa Família, maior programa de transferência de renda, que conseguiu nos últimos doze anos tirar o Brasil do Mapa da Fome. Esse programa ganhou prêmios no exterior. Deve ser orgulho para nós brasileiros ver que os nossos irmãos mais injustiçados estão se alimentando e  tendo mais oportunidades. A torcida do cristão deve ser para que a fome seja erradicada totalmente do Brasil e do mundo.
     
    Porque todas as políticas para melhorar a vida dos pobres, são combatidas pelas elites? Jesus é a favor da partilha. O milagre da multiplicação dos pães está narrado nos quatro Evangelhos: Mateus ( 14,13-24), Marcos (6,30-46), Lucas (9,10-17 ), João (6, 1-5).  Quando os discípulos sugerem a Jesus despedir as multidões para que possam comprar alguma coisa para comer; Jesus responde: "eles não precisam ir embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer". Então os discípulos disseram: "só temos aqui cinco pães e dois peixes". Jesus pediu que trouxessem os pães e os peixes e mandou que as multidões sentassem, olhando para o céu abençoou os alimentos e os deu aos discípulos para que fosse distribuídos as multidões.
     
    É tão simples partilhar, muito mais do que acumular. O mais importante é aproveitar a vida para fazer o bem. Viver em sociedade é exercitar a solidariedade. E como cristão é nosso dever torcer e querer o melhor para os injustiçados. Vamos abrir mais o nosso coração para os excluídos da vida?
     
    Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

    Por Domingos Sávio Barroso

     

    A filosofia dos relapsos

    Os pássaros não olham pras asas quando voam.
    Nem os peixes refletem sobre a própria respiração.

    Sem expectativas e sem assombros
    Os pássaros avistam as montanhas.
    E os peixes nadam de olhos abertos.

    Se poetas, os pássaros
    Morreriam do coração.
    E se peixes, os poetas
    Acordariam sufocados.

    Mas Deus (esse meu velho amigo)
    Não brincou em seu ofício de criar:
    Negou ao poeta a tolice do encanto.

    Começar o dia com Pablo Milanés...