por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Vários anos após Tiradentes - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Entre as mais belas, históricas, simbólicas e bucólicas cidades brasileiras se encontra a cidade de Tiradentes em Minas Gerais. Ao lado da Serra de São José, a cidade tem ruas inclinadas, ladeiras consideráveis, um patrimônio barroco importante e numa das ruas principais se encontra o atelier de Oscar Araripe. Este nascido no Rio de Janeiro e descendente do território do Cariri.

Desta junção da cidade, que leva o apelido de Joaquim José da Silva Xavier, e o artista descendente do movimento Republicano de 1817, relevante na cidade de Crato, é que nasce esta história. A história de Tiradentes, nesta terra de doutores que até hoje se imaginam os herdeiros naturais da liderança nacional, basta ver que o argumento entra como fel da oposição ao Presidente Lula. Afinal o nome Tiradentes fazia parte da depreciação com que os “aristocratas” a serviço do colonialismo português e do sistema imperial, como humilhação, deram a uma das tarefas com que o jovem e pobre revolucionário ganhava a vida.

Uma coisa não se pode esquecer com o movimento republicano brasileiro, seus heróis começaram a vir do povo e não da “nata do lixo”. Tiradentes, com a República, passou a ser um dos primeiros heróis de origem fora da aristocracia escravocrata, de modo figadal ligada à Europa e não ao jovem país. Por isso, a 21 de abril, se lembra o enforcamento e posterior esquartejamento deste homem, 46 anos após seu nascimento não por acaso no distrito chamado de Pombal.

A morte de Tiradentes ocorreu 25 anos antes da revolução de 1817 e há apenas 3 anos após a Revolução Francesa. O requinte do processo fazia parte do “terror” com que a elite portuguesa e seus acólitos nacionais sentiam aquele tsunami a revolucionar a economia e a política européia. Deram-lhe a alcunha pejorativa, foi o único efetivamente executado e criaram “maldades” que até hoje infestam certas instituições e o pensamento político de certo tipo de gente.

Não se pode pensar em democracia que não se pense em igualdade. A humilhação do nome Tiradentes é a prova histórica da pretensão ao privilégio e à ética do meu pirão primeiro com que certo tipo de “condutor” e “formador de opinião” pretende perpetuar um mundo privado apenas para si e os seus. Corre no sangue, está na medula desta gente que teima em deixar cadáveres estendidos no chão.

Cadáveres não apenas enforcados. Mas esquartejados como Tiradentes. Com seu sangue escrever um documento declarando sinistra a sua memória. Deixar pedaços do seu corpo à margem do leito onde os brasileiros transitam para que se aterrorizem com o que lhes pode acontecer. Finalmente, no panteão do gólgota, apresentar sua cabeça decepada.

Assim agindo, se imaginam protegidos atrás das cercas elétricas e dos carros blindados. Pensam ter cortado toda a esperança da revolta e do ódio – pois o ódio é uma das esperanças mais intensas que existe – tanto em pensamento como em obra. Imaginam-se, como então, rasgar os escritos dos Iluministas e as cartas da revolução que tendem a fugir ao controle dos capitalistas.

domingo, 21 de abril de 2013

"Joaquimzão", o rebelde - José Nilton Mariano Saraiva


Como é do conhecimento até do pipoqueiro da esquina, o “Joaquimzão” Barbosa, atual presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), continua impossível e impassível. Primeiro, quando resolveu importar da Alemanha uma teoria do ramo do Direito que nunca dantes na história desse país houvera sido usada (o tal do “domínio do fato”) com a clara intenção de usá-la para condenar vapt-vupt os integrantes do processo vulgarmente conhecido por “mensalão”. Isso porque, contrariando o que se acha expresso em nossa Constituição Federal, tal teoria abre brechas para que se condene um réu pela simples presunção de que seja culpado, mesmo que não haja nenhuma prova para sustentar a acusação.

Igualmente, dada à celeridade com a qual o julgamento foi conduzido, comprovado restou que havia, sim, por parte do Presidente do STF, a intenção deliberada de influir no resultado das eleições que se realizariam dentro de poucos meses, de forma a que os candidatos aliados com o Governo fossem penalizados, conforme declaração do próprio Procurador Geral da República (aqui, o efeito não foi o esperado).

Pois não é que agora o presidente do STF resolve bater de frente com os presidentes-representantes das associações vinculadas à advocacia e à magistratura, ao insinuar que eles agiram de forma “sorrateira”, na “surdina” e após “conversas de pé de ouvido”, ao induzirem os membros do Congresso Nacional a aprovar a criação de quatro (04) novos Tribunais Regionais Federais (no seu entendimento absolutamente desnecessários, porquanto objetivando apenas criar novos empregos).

Alfim, sem choro nem vela e para lacrar de vez o caixão, Joaquimzão foi incisivo e contundente ao declarar que “esses tribunais vão ser criados em resorts, em alguma grande praia”.

A vingar tal assertiva, não é preciso se ser nenhum expert para concluir que nas entrelinhas de tal sentença se esconde aquilo que todo mortal comum pensa, mas não tem coragem de expressar: lamentavelmente, o nosso Poder Judiciário longe se acha de ser o guardião da moralidade e dos bons costumes, como deveria.

E agora, apelar pra quem ???

sexta-feira, 19 de abril de 2013

                          Em 19 de abril de 1886 nascia o poeta Manuel Bandeira
                                                   (minha homenagem ao poeta)


Manuel Bandeira no céu (à moda de Irene no céu)

Menino Manuel
Menino Bandeira
Poeta cantando
seu desalento.

Imagino Bandeira entrando no céu:
- Licença meu santo!
E São Pedro brincalhão:
- Entre, Manuel. Dormirás com Vésper e acordarás com o beijo da estrela da manhã.
(Stela Siebra)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fel




     
  A notícia não podia ser menos alvissareira. Uma semana antes da encenação da Paixão de Cristo, em Matozinho, caiu aquele petardo :  Caligário Cobongó  estava de cama. Uma dengue o pegara de mal jeito , estava  quebrado como arroz de terceira. Não  achava canto, rebolando dia e noite , parecia quebra-queixo em boca de banguelo.
                                               ---Devo ter caído de um avião ou fui atropelado  por uma Scania ! Isso não pode ter sido obra de um mosquito só não, meu amigo !  Vieram de ruma , como maracanã atacando roça de milho !  Avisem na igreja, esse ano eu passo !
                                               A confusão estava instalada. A Paixão era uma das festas mais populares de Matozinho. Encenada sempre na semana santa, contava com a presença marcante de Caligário, há mais de dez anos. Ele trabalhava como magarefe, era bombado, alto, vistoso  e cultivava uma barbona fechada e longa, além de cabelos fartos que lhe caiam aos ombros. Cobongó fazia o Cristo , seu tipão tornara-se inconfundível. O ator, diziam as más línguas, nem descia do palco. Apesar de um trabalho de um dia só ao ano, levava os outros trezentos e sessenta e quatro , todo pábulo , importante e não falava sem impostar a voz. Difícil para a  produção da peça imaginar um Cristo outro que não se tratasse do nosso magarefe.
                                               A  Associação do Sítio Pau-Dentro  , promotora do evento, através do seu presidente Raimundo Catingueira ( “Rai”, para os íntimos), chamou uma reunião de emergência. E agora ? Logo o papel principal, se fosse ao menos um Zé de Arimatéia, um Pilatos, um São José ! Mas logo Cristo ! Como arranjar um substituto, um suplente à altura ? Várias possibilidades foram apontadas, mas batiam sempre , no tipo físico do Mestre. Pedro Grande  atuava direitinho, mas era tamborete de samba. Mané Magro, um carpinteiro, extremamente responsável, já encenara vários personagens, mas ultimamente andava gordo demais, parecido com um landrace. Júlio Cananéia , o vigia da praça, taludo e forte, levava jeito para a coisa, mas era perneta. Alguém, então, lembrou Jojó Fubuia, o maior pinguço da Vila. Jojó era um varapau, tinha uma barba grande, mas descuidada, desasnado,  só havia uma contra-indicação : bebia como uma esponja. Rai, por fim, entre todas as hipóteses apresentadas, chegou à conclusão que a melhor opção, apesar dos pesares, era mesmo Fubuia. Mas, claro, algumas providências urgentes necessitavam ser feitas.
                                               Procuraram o pinguço, na manhã seguinte, cedinho. Ainda carregava o bafo de cana do dia anterior. Rai , líder da comitiva do Pau-Dentro, explicou-lhe a questão. Cobongó estava doente e precisavam dum ator substituto, um estepe de Cristo. Jojó se interessou. Todo mundo persegue os seus vinte minutos de fama !
                                               --- A gente leva a maior fé em você Jojó. Sabemos da sua capacidade ! agora, só tem um problema. Você não vai poder beber até o dia da Paixão! Um Cristo bêbado seria o fim ! Se topar, tá contratado!
                                               Jojó concordou, até porque tinha certeza que seria impossível vigiá-lo até lá. Haveria sempre a possibilidade de uma escapadinha. A Associação, no entanto, enquanto Jojó pegava na castanha,  já tinha engolido o caju. Rai falou com o Delegado Honorino Catanduva e pediu a ajuda nesta empreita. Naquela manhã mesmo Honorino deu voz de prisão a Jojó e o trancafiou.
                                               --- Só sai do xilindró direto pra Paixão de Cristo, seu Jojó ! Esse é o único jeito de você não encher a cara e cometer uma blasfêmia em plena Semana Santa. Joviu ?
                                               Jojó  não teve escolha. Tinha prometido ! Mas cinco dias sem melar o bico, é demais ! No terceiro ,  já subia pelas paredes. Estava trêmulo e vendo bicho em tudo quanto era canto. Dormia com o jacaré do lado.  No dia da Paixão, um sábado de aleluia, falava palavras estranhas , talvez em aramaico. O figurino e a maquiagem foram preparados na própria cela. Rai prometeu , então,  a Jojó que, se tudo saísse a contento, ao terminar a encenação o presentearia com dois litros do seu sobrenome : Fubuia.
                                               O cortejo saiu na rua. Rai , para controlar mais nosso Salvador, vestiu-se de centurião e andava ali pertinho dele, o chicoteando. As ruas de Matozinho estavam repletas. Os rostos piedosos e contritos acompanhavam o sofrimento do Filho do Pai.  Jojó manteve-se até tranqüilo. Os olhos mais esbugalhados do que sempre e as mãos trêmulas derrubaram a cruz por muito mais vezes do que se previra no roteiro e no Evangelho. Tentou ainda comer a toalha que Zé de Arimatéia trouxe para enxugar seu rosto. Quis dar um pesqueiro em Pilatos na hora que Barrabás acabou libertado. Na Ceia Larga bebeu o copo de vinho e tirou gosto com o pão inteirinho.  Quando Judas veio beijá-lo à frente dos soldados, sapecou-lhe um beijo na boca, desses de dar enfarte em Feliciano.
                                               O Gólgota foi preparado nas proximidades do Açude do Sabugo, na subida da Serra da Jurumenha. O Cristo lá chegou jogando impropérios para tudo quanto é lado. Foi pregado na cruz a contragosto. Rai, então, teve uma idéia salvadora. Fincada a cruz, com o Filho do Pai se contorcendo mais do que se devia esperar, Rai molhou o chumaço com cachaça ao invés de fel e levou-o  aos lábios do Cristo. Os olhos do redentor, de repente,  brilharam e ele sorveu o fel com tanta força que quase engolia o chumaço. O  centurião imaginou  que assim o acalmaria até o final da crucificação. Passados alguns minutos, com o Filho do Pai ainda lambendo os beiços e em busca de mais fel, ele gritou desesperadamente a frase sagrada ( um pouco adaptada, claro):
                                               --- Rai ! Rai ! Por que me abandonastes ?
                                               E, demonstrando toda vocação para o sacrifício,  berrou a todos pulmões :
                                               --- Mais fel ! Mais fel ! Eu quero mais fel !

J. Flávio Vieira

O "livrinho" - José Nilton Mariano Saraiva

E o “livrinho” conhecido por ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – em razão dos exagerados privilégios, da brandura excessiva e das inigualáveis benevolências para com o “menor de idade”, acabou por ser assimilado (por alguns), como uma espécie de abrigo ou “porto-seguro” pra marginais de toda espécie. E isso ficou comprovado quando do assassinato estúpido e violento de um torcedor boliviano (menor de idade) por parte da torcida organizada Gaviões da Fiel, do Corinthians, durante um jogo de futebol.
De princípio, por se tratar de um país não tão expressivo como o Brasil, até que não houve muita preocupação com a sorte dos doze integrantes da “Gaviões”, detidos pela polícia boliviana como supostos responsáveis pelo crime, na perspectiva que logo seriam liberados e retornariam sem maiores atropelos ao nosso país, a fim de continuarem a farra. Como, na prática, tal desiderato não funcionou, e a coisa fez foi engrossar, já que a Justiça boliviana houve por bem (corretamente) procurar e punir o(s) culpado(s), partiu-se para a elaboração de uma vergonhosa “maracutaia”: um desses advogados “eficientes” da vida (bancado pelo Corinthians) apresentou-se numa delegacia, em São Paulo, com um “menor de idade”, que teria se apresentado voluntariamente e se responsabilizado pelo lançamento do sinalizador marítimo que vitimou o boliviano (evidentemente que a família do próprio deve ter sido muito bem remunerada, tanto que a própria mãe o acompanhou à delegacia, além do que devem ter lhe dito da brandura da pena, já que dentro de três anos  o “coitadinho” estaria de volta aos estádios da vida, livre, leve e solto).
Como, no entanto, a polícia boliviana não caiu nesse “conto-do-vigário”, de repente o tal menor de idade (que houvera assumido a autoria do crime, lembremo-nos), sumiu de circulação, evaporou-se, escafedeu-se (pelo menos não se falou mais do próprio). E a máscara caiu de vez, a farsa desnudou-se em toda a sua pujança e a mentira comprovou ter pernas curtas quando, num atestado insofismável de quão se perderam na condução da coisa, pateticamente os advogados do clube apresentaram uma outra versão da história: agora, a conversa era de que, de acordo com estudos elaborados por especialistas, comprovado restou  que, de acordo com o ângulo tal, a distância percorrida, a força com que o torcedor foi atingido e por aí vai, o tal sinalizador não teria partido de onde estavam os integrantes da Gaviões da Fiel e, portanto, o indigitado torcedor teria sido vítima dos próprios bolivianos. Esqueceram (???) que a televisão mostra claramente que o sinalizador partiu exatamente de onde se achavam os integrantes da "Gaviões da Fiel". Portanto, a emenda parece ter saído pior que o soneto.
Fato é que, juntando-se as duas prematuras mortes, na Bolívia (com a posterior “compra” de um menor de idade para servir de “escudo-protetor” dos verdadeiros assassinos) e a ocorrida em São Paulo (quando um "menor" foi flagrado executando um adolescente), o clamor pela imediata mudança da lei que trata da tal “maioridade penal” tende a ganhar corpo, espraiar-se pelo Brasil.
Afinal, ficou mais que patente que o tal “livrinho” é por demais brando, recheado de privilégios, repleto de estímulo a que advogados sem escrúpulos tentem dele fazer uso para proteger os “menores-coitadinhos” da vida.  E a verdade é que, ou se altera a essência do "livrinho" (reduzindo a idade para o enquadramento como "menor de idade") ou estaremos condenados a se transformar em eternos reféns dessa cambada de marginais que se escondem sob o rótulo de "menor de idade".
Como os que podem modificar o "livrinho" (nossos políticos), já se manifestaram contrários, resta à sociedade forçar a barra e exercer a pressão necessária para dissuadí-los. 
À luta. 

terça-feira, 16 de abril de 2013

"Made in Coréia" ??? - José Nilton Mariano Saraiva


É bem verdade que é precipitado aventar a hipótese, mas atentemos para a relevância do detalhe: como já há algum tempo a mídia vem dando destaque a uma outrora inimaginável incursão militar da Coréia do Norte contra os Estados Unidos, não custa imaginar (e é bastante plausível, sim senhor) que o atentado terrorista (de novo) em solo americano (desta vez na cidade de Boston), talvez tenha sido uma obra "made in Coréia". 
Teriam tido eles a coragem para tanto ??? Não ficaria muito evidente, em razão das "amabilidades" trocadas pelos dois países nos últimos dias ???
Fato é que o FBI já entrou no jogo e a verdade é que existe, sim, o perigo iminente da conflagração de mais uma guerra, porquanto governo e povo americano não deixarão passar barato mais uma desmoralização mundial. Que vai haver troco, não restam dúvidas. Fiquemos atentos ao desenlace, nos próximos dias.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

“No futuro, não serão considerados analfabetos apenas aqueles que não souberem ler, mas também quem não entender o funcionamento de uma máquina fotográfica” Escrita em 1936 pelo fotógrafo Húngaro László Moholy-Nagy OFICINA DE INICIAÇÃO À FOTOGRAFIA... Por: Pachelly Jamacaru Trata-se do ABC da Fotografia, para pessoas que são aficionados por esta Arte, mas que estão realmente iniciando! Período: Mês: Maio, DIAS: 6,7, e 8 Horário: 19h às 21.30h LOCAL: Centro do Crato – Rua José Carvalho 251 Inscrição: até o dia 25 Os pretendentes manifestem interesse deixando MSG aqui ou me procurando. Inscrições até o dia: 25 de Abil. Foto: Foto da Silhueta Dihelson Mendonça

"Passaporte para matar" - José Nilton Mariano Saraiva


Até aqueles que, por descaso ou preguiça, não querem nada com a vida, sabem que na terra “Brasilis” constitui-se privilégio do Presidente da República e/ou os integrantes do Congresso Nacional o poder de, através do instrumento conhecido por PEC (Proposta de Emenda Constitucional), modificar de forma específica e pontual a Constituição Federal. E, como não se muda uma Carta Magna por bel prazer, o ideal seria que prevalecessem razões consistentes e relevantes para a materialização das mudanças reclamadas, em razão dos reflexos espraiados pra toda a sociedade. Pelo menos esse é o espírito da coisa. E o nosso Poder Legislativo (Congresso Nacional), estuário constitucional das demandas sociais, deveria primar por sua aplicação.   
Entretanto, como nem sempre prática e teoria formam um casal perfeito, em determinadas ocasiões os inescrupulosos integrantes do nosso Congresso Nacional (sempre eles, com as exceções de praxe) tratam de avacalhar a questão, ao darem um jeito de legislar em causa própria, sem maiores responsabilidades com a seriedade e a justeza da causa. Ou alguém já esqueceu que, ao preço de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) por voto (conforme declaração espontânea de um deles), os “nobres” representantes do povo não titubearam em chancelar a ânsia de mais um ano no poder, manifestada pelo então presidente José Sarney, aumentando-lhe o mandato (via PEC) e, por tabela, o suplício de todos nós, vítimas indefesas de um presidente incompetente e venal. Em outros casos e outras situações, o modus operandi repetiu-se, sempre privilegiando os poderosos e penalizando os necessitados (os aposentados que o digam, quando nos enfiaram goela abaixo o tal “fator previdenciário).
A reflexão acima é só pra lembrar um tema realmente relevante (e atualíssimo) que já deveria ter sido objeto de estudos e reflexão, mas que continua emperrado, lá nas instâncias superiores: referimo-nos à necessidade de se rever a lei que define a tal da “maioridade penal”. Afinal, não é de hoje que, graças a uma legislação caduca e a códigos de conduta arcaicos e por demais benevolentes, os “menores-coitadinhos” do Brasil se escudam atrás dessa verdadeira anomalia em nosso sistema jurídico, para  insistirem, persistirem e nunca desistirem de usar e abusar da impunidade lhes conferida, danando-se a cometer, diuturnamente, os mais hediondos e abjetos crimes. E ainda temos que suportar o absurdo dos absurdos: ao serem detidos ou se apresentarem voluntariamente (sem qualquer temor), já chegam admitindo a autoria do crime bárbaro, mas, incontinente, ressalvam para a autoridade constituída serem “menor de idade”. Como que cinicamente admitindo: fiz, sim, mas você não pode fazer nada comigo.
O retrato emblemático de tal excrescência deu-se agora em São Paulo, quando um jovem estudante, certamente que com um belo futuro à frente, foi executado covarde e sumariamente por um desses “marginais-menores” da vida, sem dó nem piedade. Embora que por linhas tortas, tal tragédia deveria constituir-se uma ótima oportunidade para se pensar seriamente na promulgação de uma Proposta de Emenda Constitucional que reduzisse a idade mínima para a tal “maioridade penal”, ao tempo em que, numa tentativa de inibir tal barbaridade, dar-se-ia um jeito de aumentar o castigo para os que cometessem qualquer delito atentatório à vida. E mais: que se exigisse o cumprimento integral da pena estabelecida, sem essa de afrouxar para esses “vermes” que infelicitam muitas famílias envolvidas. Acabemos com essa história de progressão de pena, de indulto natalino, banho de sol e coisas tais. Se foi condenado a 200 anos de detenção, que se cumpra os 200 anos e se possível em regime fechado. Além do que, a imagem do bandido deveria ser veiculada, sim, em rede nacional, para que todos o conhecêssemos.
Até em termos pedagógicos essa seria a hora para que nossos políticos agissem em consonância com a sociedade, mostrassem que se acham solidários com o perigo que nos ronda diuturnamente e, enfim, que são dignos do nosso voto. Mas, aí, o que acontece ??? “Eles” (nosso políticos, claro), navegando na contramão da história e relegando o bom senso, de pronto deitam falação sobre a inconstitucionalidade de qualquer medida que vise reduzir a maioridade penal, bradam em alto e bom som que tal medida só faria piorar as coisas e por aí vai, sem que lembrem (convenientemente) que bastaria a aprovação e promulgação de uma PEC específica, objetivando obstar tal aberração.
Fato é que, se medidas duras não foram tomadas, os nossos “menores-coitadinhos” continuarão agindo impunemente e mais e mais famílias serão infelicitadas por esse Brasil afora. Por uma razão simplória: o tal livrinho, que versa sobre o “menor de idade”, transformou-se e constitui-se hoje num autentico “passaporte para matar”.

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Post Scriptun: 01) Agora, aqui prá nós: alguém duvida que se alguém se dispusesse a “pagar” para que “eles” emendassem a Constituição com esse objetivo, eles o fariam de pronto ??? 02) E se  a vítima fosse um dos familiares deles (esposa, filho, pai), será que se sensibilizariam ???  

Abriu pra Juventude será realizado no Crato


Tiago Araripe por José Flávio Vieira

 Tiago Araripe sempre foi a maior vocação literária da minha geração. Era o que escrevia melhor entre todos nós. A música terminou roubando-o para suas hostes. O show foi super legal. A banda ótima e as sonoridades de Tiago continuam na vanguarda, molhadas da Lira Paulistana. Sua poesia, no entanto, sempre me pareceu o ponto mais alto das suas músicas ( como sou mais ligado à literatura, talvez seja suspeito), poeta conciso, com um humor leve e fino, úmido do concretismo que vivenciou bem em Sampa com Décio Pignatari e muitos outros. Ave !

domingo, 14 de abril de 2013


Este texto e as fotos fazem parte de um vídeo preparado para um ex-pescador de Paracuru que hoje é dono de um dos melhores restaurantes de peixada da cidade. João do Sapuril sofreu um grave naufrágio quando comandava um barco de pesca de lagosta e isso o afastou definitivamente do mar. O apelido Sapuril se refere à piada mesmo e a um recanto que havia na Praia do Futuro em Fortaleza. O restaurante do João fica na Praia da Pedra Rachada em Paracuru.

Esses são meus cumprimentos por me encontrar novamente na companhia do povo da minha terra. Desta comunidade que por vezes se agasta com minhas idéias e até por certo espírito político combativo, mas o motor do mundo é mesmo a contradição. De qualquer modo é um imenso prazer está aqui neste blog com os lutadores de sempre, o Mariano, Zé Flávio, Carlos Esmeraldo, Stela, e tanta gente que não vou citar para não expor as falhas de memória no correr da pena. Em especial um grande abraço a este amor de pessoa que é a Socorro Moreira. O exercício do amor em forma de pessoa.

Cheguei.

José do Vale Pinheiro Feitosa

"Bãião de Nós"- Tiago Araripe



Auditório do SESC ficou lotado para assistir Tiago Araripe, na noite de ontem. Rolou aplausos emocionados, na interação com o trabalho bem cuidado de um artista, que tem raízes nas terras do Cariri, notadamente do Crato, sua cidade natal.

Letras inteligentes, bela voz, musicalidade  contemporânea.

Pedimos bis, e escutamos prazerosamente, "Gregório"!

-Um convite lúdico a uma  vida mais gregária!

A plateia entusiasmada viveu uma noite inesquecível.

Fica o desejo da reprise, mesmo tendo em nossos pertences um  exemplar do CD .

Que Tiago Araripe possa voltar muito em breve para o deleite do nosso povo.

Parabéns, Tiago!
Sucesso!!!
Nosso abraço carinhoso, pessoa querida!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pilates



 Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, que é chamado o
Cristo? Todos responderam: Seja crucificado!
 O governador tornou a perguntar: Mas que mal fez ele? E gritavam
ainda mais forte: Seja crucificado!
Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto
crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do
povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!
Mateus 27: 22-24


                                   François não se abalou muito quando a notícia chegou subitamente à Delegacia , trazida por um desses meganhas de plantão. Assumindo aquele cargo há mais de dez anos, já se acostumara com o cheiro forte de sangue, correndo e fervendo pelo asfalto quente, em feitio de chouriço. Se os homens carregavam consigo um anjo e um demônio, ali , naquela seccional do inferno, não dava para perceber a face angelical. Viera substituindo o delegado anterior , aquele que tivera uma administração eivada de denúncias múltiplas : roubo, cumplicidade com o crime organizado, tortura de prisioneiros, vistas grossas para prostituição de menores, preconceito nas ações repressivas . Possivelmente fora escolhido não pelo histórico favorável de pureza e lhaneza de trato. François carregava consigo o mesmo pecado original : durão, não poucas vezes julgara pretensos bandidos à pena de morte e executara a penalidade sem nenhum remorso. Comparava sua função a de um urubu : “Temos que comer a  carniça e livrar a sociedade do mal cheiro! Mesmo assim todos vão ter nojo de nós !” Nosso Delegado tinha uma qualidade que o fazia bastante singular. Era tranqüilo,  transparecia uma aparente  calma budista, educação e segurança e possuía grande traquejo no trato com a mídia. Seus superiores tinham, em mãos, o candidato ideal : um esgotador de fossa séptica que conseguia não se imantar de qualquer cheiro pútrido.
                                   A chegada do samango, meio aflito, naquela tarde de sexta feira, não o tirou do sério. Com palavras que quase se abalroavam umas nas outras, contou o ocorrido. Estava havendo um grande B.O. , naquele momento, no centro da cidade. Um adolescente furtara um celular de uma vitrine e saíra em desabalada carreira. Várias pessoas presenciaram o ocorrido , firmaram trincheira e se puseram , na perseguição do menor. Cercaram-no na praça principal da cidade. O soldado tentara conter a turba, mas sozinho, corria o risco de entrar no pau, também. Viera então pedir ajuda ao Delegado para juntar contingente e evitar o pior.
                                   François levantou-se sem atropelo. Estranhamente, chamou apenas o seu subordinado e partiram céleres para praça, a apenas uns cem metros da Delegacia. Poderia ter arregimentado outros soldados, mas preferiu enfrentar a questão sozinho. Em lá chegando, deu de frente com os preparativos do massacre. No chão, um menino todo ensangüentado, olhos injetados de terror. Ao derredor,  a turba enfurecida , incontrolável, a espezinhar e chutar seguidamente o rapazinho. François tomou a frente e pediu calma que a justiça estava ali representada. A multidão, porém, como um estouro da boiada , não lhe deu ouvidos. O delegado estava armado e ainda pensou em dar um tiro para cima para amedrontar os circunstantes. Mas depois ponderou consigo mesmo : tinha que respeitar a democracia, a maioria sempre tem razão, não é mesmo ? Ademais, não existe crime possível cometido por tantas pessoas ajuntadas. Ele, por outro lado, fizera já a sua parte, bem que tentara, mas não conseguira evitar , né ?  Nisso , um paralelepípedo foi arremessada na cabeça do pobre infrator , como um golpe de misericórdia. O sangue espirrou . Algumas gotas terminaram por tingir a roupa e os braços do delegado. Ele saiu, calmamente, e lavou as mãos na fonte da praça. Saiu conformado. Bem que tentara ! Alguma coisa porém travava o seu peito, como se tivesse ali uma porta de ferro com tramela.
                        À tarde, deu uma esmola de dez reais a um mendigo que o estendera a mão na rua.  Saiu leve e reconfortado. Não fizera nada, afinal ! Fora apenas um mero espectador. Sou uma pessoa simples e caridosa , pensou com seu cassetete,  preenchendo um silêncio esquisito que ecoava de dentro da alma. Entrou na academia e foi fazer Pilates !

J. Flávio Vieira