por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 25 de abril de 2012

Pingo de Fortaleza - Uma chuva de musicalidade comprometida




Compositor, músico, brincante, pesquisador  e produtor cultural Pingo de Fortaleza é um artista  que nasceu um ano antes do Golpe Militar e que se envolveu com a música  e com outras linguagens artísticas na adolescência. Recebe esse pseudônimo por ter nascido prematuro. Com uma grandeza de olhar ele destaca que definir o que é  popular e  contemporâneo  está cada fez mais é difícil e perigoso usar estas compartimentações no campo da cultura e da arte. 


Alexandre Lucas – Quem é Pingo de Fortaleza?

Pingo de Fortaleza - João Wanderley Roberto Militão, nascido prematuro em Fortaleza no dia 08 de fevereiro de 1963, músico desde a adolescência e um eterno apaixonado pela arte da vida e pelas artes.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória?

Pingo de Fortaleza - Comecei ainda menino tocando violão no bairro José Walter e em seguida junto aos amigos da ETFCE onde cursei meu segundo grau, depois fui cursar música na UECE e neste tempo já havia me envolvido com parceiros do teatro e da poesia. Ali no universo do movimento estudantil do inicio da década de 1980 fiz minhas primeiras apresentações e meus primeiros espetáculos individuais. Depois gravei meu primeiro LP em 1986 e nunca mais parei de produzir e seguir nesta viagem musical.

Alexandre Lucas – Como se deu sua relação com a música?

Pingo de Fortaleza - De forma natural, recebendo informações de todas as formas e linguagens e se fortaleceu na adolescência com a audição das músicas do Pessoal do Ceará.




Alexandre Lucas – você é autor do livro Maracatu Az de Ouro – 70 anos de memórias, loas e batuques. O que representa a publicação deste livro para o Maracatu Cearense?

Pingo de Fortaleza - Tenho mantido um envolvimento com o universo da cultura do maracatu do Ceará desde 1990 quando criei a canção Maculelê, acho que o livro traduz um pouco todo o meu aprendizado neste segmento e revela através da história do Maracatu Az de Ouro que ainda precisamos de muitos registros para reconhecer profundamente à rica e significativa presença do maracatu na cidade de Fortaleza.

Alexandre Lucas – Além de pesquisador, você é brincante de Maracatu. Isso possibilitou um olhar diferenciado para produção do seu livro?

Pingo de Fortaleza - Ser brincante me deu mais felicidade em conseguir produzir este trabalho, pois vivo este universo e procuro recriá-lo sempre.

Alexandre Lucas – você é um dos fundadores do Maracatu Solar. Como vem sendo desenvolvido esse trabalho?

Pingo de Fortaleza - O Maracatu SOLAR é um Programa de Formação Cultural Continuada da ONG SOLAR (ONG criada por mim e alguns parceiros em 2005) e de certa forma essa atividade deu mais visibilidade e articulação a SOLAR e também nos possibilitou uma prática mais livre desta manifestação.

Alexandre Lucas – Você agrega na sua musicalidade o popular e o contemporâneo?

Pingo de Fortaleza - Em minha arte agrego sempre aquilo que me vem de inspiração e atualmente tenho usado pouco essas nomeclaturas, por compreender que todas os gêneros estão de certa forma conjugados e que está cada fez mais é difícil e perigoso usar estas compartimentações no campo da cultura e da arte.

Alexandre Lucas – Como você ver a relação em entre arte e política?

Pingo de Fortaleza - Acho que no campo filosófico a arte é parte integrante das relações humanas na sociedade, portanto qualquer fazer artístico é uma ação política, contudo não me refiro à política de estado ou governo.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos.

Pingo de Fortaleza - Depois dos cds Prata 950 (2009), Ressonância Instrumental (2010) e Axé de Luz(2011), pretendo lançar um novo livro sobre os universo rítmico do maracatu do Ceará e estou trabalhando num projeto intitulado "Pérolas do Centauro - 40 Anos da Música Cearense e 30 Anos da Musicalidade de Pingo de Fortaleza (1972-2012, Compositores e Intérpretes)

"Consignados" - José Nilton Mariano Saraiva

De acordo com o divulgado pelo Deputado Heitor Férrer, o arrecadado ( SÓ EM “COMISSÕES” ) pela empresa Promus, de propriedade do senhor Luis Antonio Valadares, genro do Chefe da Casa Civil do Governo do Estado, senhor Arialdo Pinho, no período de novembro/2009 a começo de 2012 (cerca de 27 meses), bateu em estratosféricos R$ 101.500.000,00 (cento e hum milhões e quinhentos mil reais). É uma montanha de dinheiro, aqui, na China ou no Haiti.
Assim, uma simplória e prosaica operação aritmética – R$ 101.500.000,00 / 27 - (meses) nos dá como resultado final o valor de R$ 3.759.260,00 (“comissão” mensal ao longo dos 27 meses) ou R$ 125.308,64 (faturamento diário no mesmo período) ou ainda R$ 5.221,20 (faturamento por hora). Não, você não leu errado: em CADA UMA MÍSERA HORA, no decorrer de 27 meses (incluindo sábados, domingos e feriados), a empresa do senhor Valadares arrecadou – SÓ DE “COMISSÃO” - o corresponde a 8,39 salários mínimos (hoje em R$ 622,00).
Apesar dos números impressionantes, o Governador do Estado, Cid Gomes (certamente que orientado pelo irmão Ciro Gomes, ex-empregado do senhor Arialdo Pinho) já “decretou” que não houve qualquer “tráfico de influência” do sogro (atual poderoso Chefe da Casa Civil) em benefício do genro querido.
Como a tendência, lamentavelmente, é o assunto esfriar ou arrefecer (ou passar por um providencial “esquecimento”) por parte dos meios de comunicação, espera-se que pelo menos o Ministério Público Federal não deixe pedra sobre pedra e vá fundo na investigação, visando debelar a fedentina que exala dos corredores e salas   que abrigam a cúpula do Governo Estadual.
De outra parte, matreiramente, a empresa Promus, querendo desviar o foco da questão principal, (se houve ou não tráfico de influência e o porquê dos juros exorbitantes cobrados) saiu com uma extensa e risível matéria paga nos principais jornais de Fortaleza, desafiando o Deputado Estadual Heitor Ferrer a abrir mão da sua imunidade parlamentar, sem, contudo, apresentar quaisquer provas que sirvam para descredenciar as denúncias levantadas pelo parlamentar ou, sequer, dispondo-se a abrir mão do seu sigilo bancário.

As plantas da varanda
Amanheceram dançantes
Ordenam que eu relaxe
E traga-lhes flores do campo
Horas que se arrastam...
Meu coração em sobressalto
Solfeja uma canção...

Parece tão perto do ontem
Parece tão longe das construções
Que entremearam vidas...

socorro moreira

Na Rádio Azul



terça-feira, 24 de abril de 2012

Carybé - Emerson Monteiro


Hector Julio Páride Bernabó, conhecido por Carybé, foi um artista plástico argentino que viveu na Bahia, marcando presença com trabalhos de desenhista, ilustrador de livros, pintor, escultor, gravador, nome expressivo da arte baiana do seéulo XX, ligado à elite que assinalou fase marcante e trouxe fama internacional ao ricopanorama cultural da Boa Terra.
Conheci  Carybé nos inícios dos anos 70, ao desenvolver um programa do Banco do Brasil para divulgação do Cheque Ouro junto  aos artistas e intelectuais. Abri sua conta no banco e cuidei do acompanhamento desse novo cliente. Sempre que precisava de resolver algum assunto na agência, ele subia ao terceiro andar, indo me encontrar na Secretaria da Gerência.
Tipo alto, magro, de tez clara, olhos acesos, roupas folgadas de características irreverentes, por vezes manchadas de tinta ou cimento, isto quando produzia o célebre painel que existe na confluência da Avenida Sete com a Rua Chile, em frente à Praca Castro Alves. Usava sandálias japonesas ou andava de pés descalços, alegre, simpático; merecia dos baianos afetivo carinho e continuado respeito; amigo de Jorge Amado, de quem ilustrou o livro Gabriela, Cravo e Canela; de Floriano Teixeira, Mário Cravo Júnior , Dorival Caymmi, doseleto clã no qual fulgurava nos encontros da boemia consagrada de seu tempo.
Já no Cariri, época do Navegarte, em Crato, na década de 90, eu visitei exposição do artista, promovida pelo País atrravés da Fundação Banco do Brasil, com desenhos retratanto os costumes e pessoas representativos do povo da Bahia, com destaque para as dancas, a música, a religiosidade, a capoeira, a pesca e as mulatas, fixação constante da obra de Carybé, nas imagens pitorescas com que perenizou a vida comunitária rica em cores e movimentos, tema bem próprioao talento dos gênios de seu porte.
Assim, paro e revejo de memória a produção eclética de Hector Barnabó, Carybé, argentino de nascimento e baiano de coração, um marco indelével das belas artes no Brasil da segunda metade do séculoque passou.

Por socorro moreira


Existia um teclado imaginário
Uma voz aveludada
Cantarolando canções de amor
Que eu já sonhara

Existia um viver intenso
Num pequeno espaço
Onde uma vitrola de brinquedo
Era um convite ao enlace...

Paulinho da Viola implicava
Em lindos versos
Numa música que obrigava
entregar aos céus
Sorrisos de felicidade
Entre cerejas e luar
Bebíamos a madrugada.

Faltava algo?
Algo parecia incompleto?
Quem entende os desígnios da alma?
- Faltava um tempo paralelo
Para um fechamento no final dos tempos

Final?
Hoje é recomeço...
Os olhos saem da opacidade,
E se rendem...
Fazendo a teia da mulher rendeira
Quando o amor volta e se achega pro seu lado.




Nota!

Amigos queridos,

Vou ficar afastada por uns  dias. Volto em breve e com  saudades. Aqui faço a alegria do meu dia a dia.
Solicito aos colaboradores que não descuidem da manutenção deste nosso cantinho.

UM GRANDE ABRAÇO, E ATÉ  A VOLTA!

Por Socorro Moreira - Faz de conta...



Que hoje é um dia qualquer da minha vida
foi recortado do passado
ou chegou do futuro, ainda novinho

Faz de conta que o meu presente é esse dia
E nele eu reponho a poesia, o verde, a minha alegria.

Faz de conta que você contracena comigo
Que sorri, e me fala num carinho.

Faz de conta que contigo sou fada sem varinha
Que tu és mago com cajado, e lanterninha
Que a água está gelada, que a fonte de mim
É você quem mina e mima!

Pára um só minuto...
Abraça-me com todos os beijos que eu perdi
Como certo dia,
em que eu vi teus olhos,
e nem versos , fiz!

Hoje malhei em ferro frio
viajei na maionese
conversei fiado
passeei no futuro
reencontrei o passado

O presente foi longo
mas não vi resultados
vou dormir sem
escrever nas estrelas,
colhendo na lua
um verso extraviado.

Hoje pairou uma dúvida ...
Mas, que importa ,
se às vezes sonho errado?

Amanhã eu acerto o passo
reforço a cura
de uma inquietação
que virou paz !

Daqui a pouco
quando o dia amanhecer
eu te acho
em meus guardados !


socorro moreira

Meu coração é um deserto, mapeado por oásis insondáveis.
Um dia você chegou...
Chegou num verso, e assentou a rima do meu lado.
Ainda vivo esse encanto, aos pedaços.
Nem foi preciso beijar um sapo...
 Ele se transmuta em todos os personagens
idealizados pela incompletude da minha alma.
Fique quietinho...
Não escape pela porta dos fundos...
A porta da entrada está selada !

socorro moreira

Amar Verbo Incondicional- José do Vale Pinheiro Feitosa





eu amo teu olhos baços,

não como lembrança do brilho de outrora,

amo as luzes finas,

penumbras que traduzem detalhes,

pupilas que escondem universos,

pálpebras pregueadas de resguardos,

amo teu olhar lento,

penetrando o irrevelado,

e assim me deixa leve,

leve de palavras não ditas.

como amo tuas rugas universais,

cada trajeto de tuas veias tortas,

as vigas musculares de tuas mãos,

as manchas solares de teu corpo,

amo a trajetória no tempo,

a longa espera dos espaços,

amo a delicadeza de tua pele frágil,

cada detalhe da superfície de teu mundo,

este mundo ao qual gravito.


amo teus cabelos opacos,

a rebeldia dos fios esquecidos da cor,

cada mecha que diz até aqui vivi,

o modo displicente que parece pouco,

quando na verdade foram muitos anos,

e tantos que parecem evocativo sésamo,

sobre os ombros como se nunca houvesse fim.

amo tua coragem de viver,

pois a beleza não é estética plástica,

é um pouco de forma, um tanto conteúdo,

como uma fera que teima sobreviver,

uma criança que se deita no colo para sonhar,





amo tua virtude de envelhecer,

sendo outra a cada passo e a mesma no horizonte,


amo teu ardor de viver,

pois a beleza não é grade de juventude,

ela é o que meus olhos amam,

como amo teu olhos baços,

tuas rugas universais,

teus cabelos opacos,


subterfúgio para amar tua coragem.


brilham na mesma direção

olhos que se cruzam ?
Uma é bela
a outra é lua !
Energia amorosa
que se espalha
envolve caras
invade corações
Até os mais distantes !
Acho que vou morrer me apaixonando
Embora a minha paixão tenha mudado de cor...
É prata , querendo ser ouro !

socorro moreira

Na Rádio Azul


Pássaro na Vidraça - por Everardo Norões




súbita pulsação
na vidraça
luz
na lágrima parada
entre espaços
onde tudo se dissolve
(ínfima poeira
nas Galaxias)
uma
vertiginosa lor
explodida
dntro
de si
mesma

Saudade
Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo

em dicionários antigos e poeirentos

e noutros livros onde não achei o sentido

desta doce palavra de perfis ambíguos.



Dizem que azuis são as montanhas como ela,

que nela se obscurecem os amores longínquos,

e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)

a nomeia num tremor de cabelos e mãos.



Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,

seu segredo se evade, sua doçura me obceca

como uma mariposa de estranho e fino corpo

sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.



Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado

desta palavra branca que se evade como um peixe?

Não... e me treme na boca seu tremor delicado...

Saudade...




Pablo Neruda, in "Crepusculário"


Tradução de Rui Lage

Por Socorro Moreira






E o espinho disse pra flor:
De ti aspiro o perfume,
a sombra da tua cor
Existo porque te protejo
Sou teu ponto fálico
Sou teu amor!
Se te amar
Marca-me de solidão
Aquieto minha alma
No vazio da tua mão !


Olhos atentos te descobrem
E não adiantam todas as voltas
As meias, as teias...
Nem o decote, que decora
Lá fora a lua some,
engolida por um dia.
Adormeço dos meus olhos,
E sinto que estou sozinha!

Poema de Adélia Prado


Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.


O texto acima foi extraído do livro “Poesia Reunida”, Editora Siciliano – São Paulo, 1991, pág.99.